Professores: a partir de janeiro e até que nos respeitem

Tudo isto por Portugal e sem indemnizações multimilionárias

Professores: a partir de janeiro e até que nos respeitem

Escrevo este texto na primeira pessoa, porque assim o sinto. Porque sou professora há mais de trinta anos por vocação e embora lecione perto de minha casa, assisto ao flagelo que se vive nesta carreira. Porque dou por mim a ponderar mudar de profissão. Porque estou farta da falta de respeito a todos os níveis e por parte de toda a gente, a começar pelos nossos governantes. Porque mora em mim um sentimento de injustiça tremenda, quase tocando a raiva, um sentimento com o qual não estou habituada a conviver.

E tudo isso se agravou nestes últimos dias, ao saber que nunca há dinheiro para os professores, nunca há dinheiro para a educação. Ao saber que nunca há dinheiro para ensinar valores: a honestidade, o respeito pelo próximo, a dignidade. Nunca há dinheiro para nada que seja importante. Ao saber que há dinheiro, sim, para indemnizações milionárias de que dizem não ter conhecimento. Ao dar conta de que se gastam milhões como se fôssemos muito ricos, de que se pagam salários multimilionários a pessoas que nem aquecem os lugares e, em seguida, são indemnizadas para sair. Ao saber (oh! felizes são os loucos, que nada sabem) que se gasta o dinheiro que não lhes pertence e que esse dinheiro é do povo português.

Se é do povo português, ele que decida onde deve ser gasto.

Se os governantes não sabem governar, talvez precisem de regressar à escola.

Meus compatriotas, meus queridos portugueses, todos vós, bem sabeis que é na escola que tudo se aprende. Que seria de nós se não tivéssemos tido professores? Que será dos nossos filhos, netos quando não os tiverem?

É na escola que a sociedade se engrandece. É a educação que nos torna mais fortes, mais civilizados, mais sensíveis ao mundo e aos outros!

Nós, professores, estamos cansados. Muito cansados. E a nossa corda rebentou.

Em janeiro, Portugal irá assistir a uma revolução: os professores já não têm nada a perder. Aquilo que ganham podem ganhá-lo facilmente a trabalhar numa outra profissão qualquer e, com certeza, não serão tão maltratados.

Em janeiro, os professores estão disponíveis para explicar a todos vós por que razão estão tão revoltados.

A partir de janeiro e até que os compreendam.

A partir de janeiro e até que os respeitem.

A partir de janeiro e até que a carreira de professor seja, novamente, uma profissão que as nossas crianças pretendam dar continuidade.

Tudo isto por Portugal e sem indemnizações multimilionárias.

 

Lúcia Vaz  Pedro

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8 comentários

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  1. Cansados, ou não, que a luta não esmoreça.
    Dezembro, janeiro…, até sempre, se for preciso.

  2. O que é que vai acontecer em Janeiro ou a partir de Janeiro? Alguma greve que pare as escolas ou mais grevitas?
    Estou cansado desta retórica de montanhas que só sabem parir ratos.

      • Spartacus on 1 de Janeiro de 2023 at 18:38
      • Responder

      Aconselho-te a procurar uma vidente, daquelas sérias, com um historial comprovado de contactos bem sucedidos com o além para lhe pedires que invoque o espírito da Rosa Luxemburgo.Pode ser que a Rosa esteja disposta a ouvir-te e assim consigas desabafar com alguém que te entenda! Se isso não resultar, sugiro-te que procures outro trabalho, onde te sintas menos revoltado, e que deixes de fazer figura de idiota, sozinho na escola a dar rendimentos extra ao governo do PS durante uma semana inteira!

    • Lucinda Pereira on 1 de Janeiro de 2023 at 16:33
    • Responder

    Muito bem, a força da revolta faz-se sentir nestas palavras. É revoltante ao que se assiste nesta sociedade face às legítimas e justíssimas contestações dos professores, constantemente, desconsiderados, humilhados e desrespeitados. De Janeiro em diante e até que se faça justiça nesta classe profissional onde a corrupção e as indemnizações vergonhosas nunca tiveram, não têm e nunca terão lugar. Simplesmente, porque é a única classe profissional mais digna desta sociedade e com um grande sentido do dever a cumprir, apesar das contrariedades que, vergonhosamente, lhe são constantemente impostas de há 18 anos a esta parte.

    • Lucinda Pereira on 1 de Janeiro de 2023 at 16:39
    • Responder

    Muito bem, a força da revolta faz-se sentir nestas palavras. É revoltante ao que se assiste nesta sociedade face às legítimas e justíssimas contestações dos professores, constantemente, desconsiderados, humilhados e desrespeitados. De Janeiro em diante e até que se faça justiça nesta classe profissional onde a corrupção e as indemnizações vergonhosas nunca tiveram, não têm e nunca terão lugar. Simplesmente, porque é a única classe profissional mais digna desta sociedade e com um grande sentido do dever a cumprir, apesar das contrariedades que, vergonhosamente, lhe são constantemente impostas de há 18 anos a esta parte.
    O respeito não tem preço e, mesmo de borla é precioso, porque é reconhecido!

    • Maliliex on 2 de Janeiro de 2023 at 17:12
    • Responder

    Grande texto! ♥️
    Em fins de carreira, muito roubada, muito espezinhada. Num 8° e donde não irei sair. 😞😞 Por pais, alunos do pré escolar, (pais uns fedelhos, filhos destes, de 3/ 4 anos, que gozam comigo diariamente. 😞
    Já me dói a cabeça, só de me lembrar, que, por dar e tentar e dar o meu melhor com 41 anos de serviço completos, vou ter ali, não uma turma de um jardim de infância, diria antes, um “ringue de boxe”. 😪 AMANHÃ! 😞😞
    Sei o que me apetecer já fazer .. mas não posso! 😞
    Já falta pouco tempo. Pouco tempo??? 😪 Este ano letivo, mais um, dois trimestres.😪😪
    Estou cansada! 😪
    Quero ver-me livre disto tudo e dizer:
    – Finalmente saí desta podridão! 😡😡

    Serei, finalmente feliz! 🙏

  3. Há mil profisões mais mal pagas. Quantas pessoas tiram cursos superiores para ganhar uma miséria. Andam uma vida inteira e não chegam a ganhar metade do que ganha um professor no final da carreira. Srs. Professores, com todo o respeito olhem para trás, tenham também respeito pelos outros…

    • Malililex on 14 de Janeiro de 2023 at 0:09
    • Responder

    Falo pelos meus! 😞😞😞

    Filho e nora médicos! Dois carros, gasóleo, portagens e uma renda de um apartamento para pagar, uma média de 1800€. 😞😞
    Eles ganham menos que eu! Num 8°! Em fins de carreira! Longe vão as rosas…agora só cardos! 😞😞

    Um trabalhador na construção civil ganha uma média de 60€ diários. Ao fim de 20 dias= 1200€. E não queimaram as pestanas como os meus durante ( 6+1+ 5 de especialidade)= 12 anos! 😞😞

    Vale a pena tirar um curso superior??? 😞😞
    Mas tenho colegas a ganhar dois mil e tal … líquidos! 😞😞
    E outros …quotas … 8°! Fim de carreira.😞

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