4 de Janeiro de 2023 archive

É Agora ou Nunca…

O S.T.O.P. auto-intitula-se como um Sindicato de todos os profissionais de Educação e não apenas de todos os Professores…

Agrada-me essa designação e confio nela…

Apesar de ser sindicalizada há vários anos no Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado e de ser Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses, sinto-me acolhida pelo Sindicato S.T.O.P., enquanto profissional de Educação…

Acredito que outros profissionais de Educação também possam sentir algo semelhante em relação a esse Sindicato, apesar de não serem Professores…

Porque, por vezes, é preciso “dulcificar” algumas coisas sérias como a Saúde Mental, talvez eu seja uma Psicóloga com um plausível “complexo de Professor”, “transtorno psicológico” inventado por mim, não reconhecido no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 5ª edição, da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5)…

Mas quando se trabalha há mais de 26 anos, todos os dias, directamente com Professores, como é o meu caso, além de se “sentir na pele” alguns dos problemas também experienciados por esses profissionais, acaba por se desenvolver uma certa identificação com os mesmos…

No fim de tantos anos de convivência, criam-se, inevitavelmente, empatias, estabelecem-se relações de reciprocidade e (re)conhecem-se bem “as dores” de muitos Professores, ainda que as respectivas atribuições e responsabilidades sejam distintas…

Aos 53 anos de idade, já se “viraram muitos frangos”, já se observaram muitas pessoas e situações, já se viu e ouviu praticamente tudo e dificilmente alguma coisa ou alguém poderá ainda “chocar”…

Porque os Psicólogos também têm o direito inalienável à indignação e à exteriorização das suas emoções, incluindo as negativas, também se encetaram (e ganharam) algumas “batalhas bravias” contra um certo Poder discricionário e autoritário, eivado por atitudes persecutórias e retaliativas…

Mas, e sem outras delongas, a minha perspectiva neste momento é tão simplesmente esta:

– O actual Governo e, em particular, o Ministro da Educação, não podem continuar “a brincar” com os profissionais de Educação, fazendo deles “gato-sapato”, tratando-os como se fossem imbecis…

E apesar de não ser Docente, tal condição nunca me impediu de participar em várias Manifestações convocadas por Sindicatos de Professores, pelo que estive presente, entre outras, nas que se realizaram em 8 de Março e em 8 de Novembro de 2008, promovidas pela Fenprof, e na que se realizou no passado dia 17 de Dezembro, dinamizada pelo S.T.O.P.…

E apesar de não ser Docente, também subscrevi várias Petições Públicas, relativas a alguns aspectos específicos que afectam os Professores, entre as quais: “Pelo fim das vagas no acesso ao 5º e 7º escalão da Carreira Docente”; “Pela transparência no processo de avaliação de desempenho docente” ou “Todos, professores e sindicatos, a uma só voz!”…

Muitos textos, gentilmente publicados pelo Arlindo Ferreira e pelo Rui Cardoso, assinados sob o pseudónimo de Matilde ou com o nome próprio, a partir da Candidatura da Lista D ao Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, têm mostrado, assim creio, de forma explícita, o meu descontentamento e indignação face ao estado actual da Educação e aos sucessivos atropelos da Tutela aos profissionais de Educação…

De resto, essa insatisfação já se fazia notar em 26 de Outubro de 2020, data em que o Blog DeAr Lindo publicou pela primeira vez um texto assinado pela Matilde, intitulado: Nas escolas não se vive, funciona-se e nem sempre se sobrevive…

 Em coerência com tudo o anterior, defendo, obviamente, que a responsabilidade da presente luta no sector da Educação não pode ser remetida apenas aos Professores, mas antes deve ser endereçada a todos os profissionais de Educação…

O actual movimento de protesto dos Professores, corajosamente encetado pelo Sindicato S.T.O.P., não pode deixar de ser partilhado por todos os profissionais de Educação…

E convirá ter a consciência de que nenhuma acção reivindicativa sobreviverá ou vencerá sem que se verifique uma adesão significativa de todos os profissionais de Educação a tais contestações…

O Sindicato S.T.O.P. conseguiu fazer “renascer das cinzas” os profissionais de Educação que, nos últimos anos, foram ficando à mercê do Velho Sindicalismo, plausivelmente vinculado a inultrapassáveis agendas e fretes partidários, mostrando-se incapaz de suscitar credibilidade e aceitação consensual…

Até agora, o Ministro da Educação não deu qualquer sinal de que estará disposto a alterar a conduta do Ministério que tutela, no sentido da valorização e do respeito pelos profissionais de Educação, nem reconheceu qualquer erro ao nível das decisões por si tomadas, procedendo à respectiva revogação em conformidade com essa admissão…

Assim sendo, restará aos Docentes e Não Docentes aderirem de forma expressiva às iniciativas que visem a defesa dos seus interesses profissionais, interesses esses, que também não poderão deixar de ser entendidos como fundamentais para a salvaguarda de uma Escola Pública honesta, realista e com qualidade…

Para que não suceda algo semelhante a isto: “Agora levaram-me a mim, mas já é tarde, como não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo” (afirmação atribuída a Bertolt Brecht), estará na hora de unir esforços, sem olhar para trás, e de demonstrar que estamos vivos…

É agora ou nunca…

O silêncio dos que se abstêm, optando por não lutar, submetendo-se à cobardia da inacção, enfraquece a própria Democracia e retira legitimidade a reclamações posteriores…

E, sim, bem sei que, nos tempos que correm, a Democracia se encontra visivelmente anémica, mas essa debilidade não pode deixar de ser contrariada…

Uma maioria absoluta parlamentar não é uma Ditadura, pelo menos em termos formais, e ainda o será menos se cada um de nós exercer os seus direitos e deveres de Cidadania…

E isso poderá ser considerado como um pensamento “ingénuo”? Pois, até poderá, mas não me demoverá de continuar a lutar por aquilo em que genuinamente acredito…

 

(Paula Dias)

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De 30% de professores no topo da carreira para 16%…

 

João Costa corrigiu hoje a percentagem de professores, que atualmente, se encontram no topo da carreira docente.

Em entrevista ao jornal “Expresso” (edição de 20 de maio), o ministro da Educação, João Costa, respondeu da seguinte forma:

“Pode não ser o mais estimulante, mas quando comparamos com outras carreiras ou com a carreira de professor sem ser na escola pública não é a pior. E vai dando saltos mais rápidos do que um técnico superior com habilitações semelhantes. A carreira esteve parada muitos anos e só descongelou em 2018. Mas, neste momento, quem entra tem uma carreira à sua frente. Em 2018 tínhamos apenas 4% dos professores no topo e hoje temos 30%.”

Hoje, no Parlamento, na Audição que está no post anterior. durante a declaração inicial, João Costa afirmou que 16% dos professores se encontram no topo da carreira docente. Será que é desta que lhe deram a percentagem certa?

Não sei quem faz estas contas, mas não deve ser nenhum Professor de Matemática…

 

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Audição do Ministro da Educação sobre política geral do Ministério

“Nada está fechado enquanto a negociação decorre…”

 

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Ministro deixa cair intenção de escolas recrutarem 30% dos seus professores

A criação de conselhos locais de diretores ainda não está a ser negociada e o objetivo, garantiu esta quarta-feira o ministro da Educação, no Parlamento, não é passar para este órgão a possibilidade de recrutamento de professores. A intenção de as escolas recrutarem 30% dos seus docentes foi abandonada. “Sabemos ouvir”, garantiu João Costa, referindo-se à contestação.

Ministro deixa cair intenção de escolas recrutarem 30% dos seus professores 

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Moção contra a falta de respeito pela Educação em Portugal no Agrupamento de Escolas da Abelheira

A Educação em Portugal, os seus profissionais e, mais ainda, os seus beneficiários (alunos, suas famílias e todo o País) são vítimas de falta de respeito há anos demais.

É falta de respeito não pagar salários dignos a quem trabalha em Educação.

É falta de respeito que o salário recebido não corresponda às exigências do tempo ocupado e do trabalho realizado.

É falta de respeito não prever uma carreira com segurança laboral e perspetivas de evolução, para todos aqueles que constroem a Escola todos os dias.

É falta de respeito ser o primeiro setor onde se corta (e onde mais se corta), quando é preciso pagar devaneios e erros políticos de gestão de outros setores.

É falta de respeito ter professores a trabalhar, precários, até sem os devidos descontos para a segurança social e sem qualquer perspetiva de estabilidade do posto de trabalho, a centenas de quilómetros dos seus locais de origem.

É falta de respeito não lhes pagar qualquer compensação pela deslocação, quer em transportes, quer em alojamento, como acontece noutros setores, por vezes, com grandes montantes.

É falta de respeito avaliar os professores com quotas, que excluem a real valorização da qualidade do trabalho, que geram injustiças miseráveis e que se reforçam com vagas de acesso limitado na progressão futura da carreira.

É falta de respeito criar um sistema de progressão que provoca um congelamento encapotado quando os docentes atingem o 4º e o 6º escalão.

É falta de respeito cortar os efeitos na carreira profissional do tempo de serviço de 6 anos, realmente trabalhados e em condições difíceis (então também com cortes de salários e subsídios acumulados).

É falta de respeito o governo não aceitar negociar isso, quando há milhões de euros em excedentes orçamentais ou disponíveis para pagar o próximo buraco de banco e de qualquer empresa pública, com gestores principescamente remunerados.

É falta de respeito desproteger os professores na doença, não cuidar dos problemas de stress e burnout e tornar cada vez mais tardia a idade de reforma, sem atender às circunstâncias particulares de exercício profissional.

É falta de respeito não entender que a Democracia na gestão escolar é a essência de educar para a Democracia, porque ela não se pode aprender em escolas em que, os que nela trabalham e estudam, não sintam a Democracia acontecer.

É falta de respeito desviar energia dos professores e educadores do trabalho pedagógico, para a condicionar a projetos e ideias irrealistas, saídas da cabeça de burocratas distantes das escolas e que não as conhecem no seu funcionamento real, que perturbam o trabalho autónomo e criativo dos professores, sem respeito pela sua profissionalidade.

É falta de respeito fazerem as escolas viverem inundadas de burocracias redundantes e inúteis, sempre pressionadas para a próxima plataforma e para a próxima grelha.

É falta de respeito dizer que se quer uma escola inclusiva e cortar nas pessoas, recursos materiais e verbas para realmente a construir.

É falta de respeito haver falta de professores, gerando alunos sem aulas, e não se atenderem as queixas dos que o são, para perceber porque os jovens já não o querem ser.

É falta de respeito destruir a autonomia da escola, como instituição de serviço público, em nome do dogma político da municipalização.

É falta de respeito sequer sugerir que possa haver seleção de professores com base em perfis subjetivos, à vontade discricionária de burocratas e nomeados políticos.

É falta de respeito destruir de vez um modelo de concurso que tem princípios justos e transparentes, que serviram bem o país durante décadas (mas que foi destruído pela intervenção de políticos que, na obsessão de não gastar, esqueceram a justiça).

É falta de respeito os membros do Governo não serem solidários, como acontece noutros setores, com os profissionais de educação de todas as categorias (professores, educadores, técnicos e assistentes) que são agredidos e ofendidos no dia-a-dia das escolas.

É falta de respeito não serem sequer apoiados psicológica ou juridicamente, para fazer valer os seus direitos.

É falta de respeito os governos fazerem propaganda a dizer que tudo vai bem na Educação, quando todos os dias vivemos os problemas e vemos que não são resolvidos.

É falta de respeito, para fazer essa propaganda, os governos e forças políticas desvalorizarem, até manipulando a opinião pública, o profissionalismo e qualidade de quem trabalha na Educação e que deu boas provas de si em momentos críticos recentes (em que foi a iniciativa e dedicação ao serviço público dos professores que também manteve o país a funcionar).

É falta de respeito não ouvir as nossas queixas.

É falta de respeito não negociar para encontrar soluções para elas.

E é falta de respeito pelos professores, pelos restantes trabalhadores das escolas, mas, mais ainda, pelos alunos e pelas suas famílias.

As nossas greves e protestos não são um desejo nosso.

São uma necessidade, face às queixas ignoradas e nunca resolvidas (até mesmo desprezadas) mesmo se existem já há largos anos. Se estamos a causar transtorno a tantos nossos concidadãos também é por eles
que lutamos.

A Educação é assunto de todos.

E deve ser respeitada, não só por nossa causa, mas pelos jovens, pelo País e pelo seu futuro.

Moção aprovada por unanimidade em plenário no Agrupamento de Escolas da Abelheira em
4.01.2023 (com a presença de 117 trabalhadores docentes e não docentes)

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Eles estão em guerra #lutarcantando

 

 

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A luta dos professores contra um governo poluto – Santana Castilho

“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”.
Bertolt Brecht

Em nove meses de governo, o resultado de uma maioria absoluta poluta e nepotista é uma pazada de demissões pelos mais escabrosos motivos e um ano lectivo que recomeçou num clima de conflitualidade como há muito não se vivia. Com efeito, na educação, o ambiente é de um profundo mal-estar, gerado por ondas de desorientação e deslumbramentos vazios de racionalidade, assentes em sucessivas torrentes de solicitações asfixiantes, sob nomes pomposamente modernos mas substantivamente inúteis, que tornaram num suplício o nobre acto de ensinar.
Na acção deste governo é possível identificar padrões de comportamento político: quando as escolhas se revelam imprudentes, os autores não assumem a responsabilidade; quando as situações configuram escândalos, os responsáveis políticos rasgam as vestes para garantir que as desconheciam; quando os casos se acumulam, o líder da casta vocifera: habituem-se!
Sem subtilezas linguísticas, António Costa é o verdadeiro responsável por um governo poluto, que tem reduzido os professores a simples funcionários, cada vez mais desautorizados e despromovidos socialmente.
António Costa deu campo aberto ao narcisismo político de aventureiros irresponsáveis e fez ouvidos de mercador ao que pensa a maioria dos professores de sala de aula sobre as madraças da flexibilidade e da inclusão, criadas para pastorear incautos e transformar velharias falhadas em tendências pedagógicas novas.
António Costa é o verdadeiro responsável por, de modo cruel e perverso, ter posto a sociedade e a opinião pública contra os professores, para lhes retirar o direito à greve, para lhes retirar força salarial, para lhes roubar o tempo de trabalho cumprido. Com o seu cínico jeito, nomeou mordomos, que odeiam os docentes, em lugar de ministros, sem perceber que morre lentamente uma sociedade que não acarinha os seus professores. Agora, finalmente, tem os docentes na rua a lutar contra diversas fidalguias partidárias (sindicalismo tradicional incluído) e a reclamar o direito de ensinar em paz, antes que acabem, definitivamente, abandonados num país onde o acto pedagógico livre se transforme em prática administrativa ou obediência doutrinária.
O que, na senda dos anteriores, reconheçamos, os governos de António Costa fizeram foi tão miserável e tirânico que os professores se sentiram, finalmente, convocados para dizer não a anos de decisões catastróficas para o ensino público. Agora, das duas, uma: ou os professores ganham ou o país perde. Porque o Costa, João, autor material, com o alheamento do Costa, António, autor moral, têm vindo a promover o lento homicídio do ensino público e a pôr em causa o futuro das crianças e dos jovens alunos portugueses. Porque a pedagogia e as didácticas assentes na ciência são distintas das proclamações de João Costa e prosélitos, assentes em dogmas fanáticos.
Muitas críticas à greve dos professores parecem não lhes reconhecer o direito à luta por melhores condições de trabalho e pela retoma da dignidade profissional e esquecer que a greve é um instituto de manifestação de descontentamento, constitucionalmente consagrado na nossa democracia representativa. Por outro lado, para que a democracia seja mais do que apenas formalmente representativa, qualquer governo deve permanecer aberto e atento à expressividade das greves. Só assim o exercício da apregoada “soberania do povo” ganha sentido durante os quatro anos que separam os ciclos eleitorais.
Por tudo isto, os professores precisam hoje da solidariedade dos pais. Porque não há futuro para os seus filhos sem educação, não há educação sem ensino público e não há ensino público sem professores dignificados. Por tudo isto, os pais não podem deixar os professores a lutar sozinhos. Todavia, temos uma comunidade parental que tem ficado passiva perante o rasto de destruição do ensino público, porque ainda não compreendeu como tem sido gerida a educação, particularmente na esfera pública. Espero bem que sejam agora muitos os pais portugueses que passem a compreender como a luta dos professores é, também, uma luta pelo futuro dos seus filhos.

In “Público” de 4.1.23

 

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