A Educação em Portugal, os seus profissionais e, mais ainda, os seus beneficiários (alunos, suas famílias e todo o País) são vítimas de falta de respeito há anos demais.
É falta de respeito não pagar salários dignos a quem trabalha em Educação.
É falta de respeito que o salário recebido não corresponda às exigências do tempo ocupado e do trabalho realizado.
É falta de respeito não prever uma carreira com segurança laboral e perspetivas de evolução, para todos aqueles que constroem a Escola todos os dias.
É falta de respeito ser o primeiro setor onde se corta (e onde mais se corta), quando é preciso pagar devaneios e erros políticos de gestão de outros setores.
É falta de respeito ter professores a trabalhar, precários, até sem os devidos descontos para a segurança social e sem qualquer perspetiva de estabilidade do posto de trabalho, a centenas de quilómetros dos seus locais de origem.
É falta de respeito não lhes pagar qualquer compensação pela deslocação, quer em transportes, quer em alojamento, como acontece noutros setores, por vezes, com grandes montantes.
É falta de respeito avaliar os professores com quotas, que excluem a real valorização da qualidade do trabalho, que geram injustiças miseráveis e que se reforçam com vagas de acesso limitado na progressão futura da carreira.
É falta de respeito criar um sistema de progressão que provoca um congelamento encapotado quando os docentes atingem o 4º e o 6º escalão.
É falta de respeito cortar os efeitos na carreira profissional do tempo de serviço de 6 anos, realmente trabalhados e em condições difíceis (então também com cortes de salários e subsídios acumulados).
É falta de respeito o governo não aceitar negociar isso, quando há milhões de euros em excedentes orçamentais ou disponíveis para pagar o próximo buraco de banco e de qualquer empresa pública, com gestores principescamente remunerados.
É falta de respeito desproteger os professores na doença, não cuidar dos problemas de stress e burnout e tornar cada vez mais tardia a idade de reforma, sem atender às circunstâncias particulares de exercício profissional.
É falta de respeito não entender que a Democracia na gestão escolar é a essência de educar para a Democracia, porque ela não se pode aprender em escolas em que, os que nela trabalham e estudam, não sintam a Democracia acontecer.
É falta de respeito desviar energia dos professores e educadores do trabalho pedagógico, para a condicionar a projetos e ideias irrealistas, saídas da cabeça de burocratas distantes das escolas e que não as conhecem no seu funcionamento real, que perturbam o trabalho autónomo e criativo dos professores, sem respeito pela sua profissionalidade.
É falta de respeito fazerem as escolas viverem inundadas de burocracias redundantes e inúteis, sempre pressionadas para a próxima plataforma e para a próxima grelha.
É falta de respeito dizer que se quer uma escola inclusiva e cortar nas pessoas, recursos materiais e verbas para realmente a construir.
É falta de respeito haver falta de professores, gerando alunos sem aulas, e não se atenderem as queixas dos que o são, para perceber porque os jovens já não o querem ser.
É falta de respeito destruir a autonomia da escola, como instituição de serviço público, em nome do dogma político da municipalização.
É falta de respeito sequer sugerir que possa haver seleção de professores com base em perfis subjetivos, à vontade discricionária de burocratas e nomeados políticos.
É falta de respeito destruir de vez um modelo de concurso que tem princípios justos e transparentes, que serviram bem o país durante décadas (mas que foi destruído pela intervenção de políticos que, na obsessão de não gastar, esqueceram a justiça).
É falta de respeito os membros do Governo não serem solidários, como acontece noutros setores, com os profissionais de educação de todas as categorias (professores, educadores, técnicos e assistentes) que são agredidos e ofendidos no dia-a-dia das escolas.
É falta de respeito não serem sequer apoiados psicológica ou juridicamente, para fazer valer os seus direitos.
É falta de respeito os governos fazerem propaganda a dizer que tudo vai bem na Educação, quando todos os dias vivemos os problemas e vemos que não são resolvidos.
É falta de respeito, para fazer essa propaganda, os governos e forças políticas desvalorizarem, até manipulando a opinião pública, o profissionalismo e qualidade de quem trabalha na Educação e que deu boas provas de si em momentos críticos recentes (em que foi a iniciativa e dedicação ao serviço público dos professores que também manteve o país a funcionar).
É falta de respeito não ouvir as nossas queixas.
É falta de respeito não negociar para encontrar soluções para elas.
E é falta de respeito pelos professores, pelos restantes trabalhadores das escolas, mas, mais ainda, pelos alunos e pelas suas famílias.
As nossas greves e protestos não são um desejo nosso.
São uma necessidade, face às queixas ignoradas e nunca resolvidas (até mesmo desprezadas) mesmo se existem já há largos anos. Se estamos a causar transtorno a tantos nossos concidadãos também é por eles
que lutamos.
A Educação é assunto de todos.
E deve ser respeitada, não só por nossa causa, mas pelos jovens, pelo País e pelo seu futuro.
Moção aprovada por unanimidade em plenário no Agrupamento de Escolas da Abelheira em
4.01.2023 (com a presença de 117 trabalhadores docentes e não docentes)
4 comentários
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Este texto mostra foco na identificação dos problemas que reconheço e que imagino que todos os professores reconheçam. Sem desvios, mas também sem dramatismos Parabéns.
Este texto demonstra a realidade de muitos professores!…
Quer o ME, PR e PM todos demonstram grande falta de respeito pelos professores!…
Sou professora na MPD, foi parar a um local longe da minha área de residência e tratamentos. Enviei todos relatórios médicos e exames a comprovar os meus problemas de saúde, por isso, não existem falsidades, para os três senhores referidos anteriormente. Não obtive respostas, como consequência estou de atestado!… Fui trabalhar até outubro, não conseguia conduzir, os senhores que refiro privam-me de um direito que está na constituição, “direito ao trabalho”. Além disso, os meus problemas de saúde aumentam, porque estou privada, de me sentir realizada profissionalmente!…
Os nossos governantes têm um lema, “quero, posso e mando”, mas são todos iguais!…Abraços e beijinhos não resolvem problemas!…
Quando são os próprios professores a não terem respeito uns pelos outros, onde a ciumeira também entra, como podem os políticos e os senhores dos gabinetes do ministério nos respeitar? Esses senhores não só não respeitam os professores como principalmente os cidadão comum, independente da profissão. ALTOS interesses SEMPRE falam mais ALTO!!! A ditadura camuflada de democracia ao seu melhor nível (cada vez mais astuta e desprezenta).
Muito bem: exposição realista, objetiva, sem apelar ao tenebroso choradinho emotivo da falácia ad misericordiam. Parabéns.