1. A Sonae tomou a iniciativa de discutir o impacto da tecnologia na educação, criando um tal Innovators Forum 23, cuja primeira edição aconteceu a 8 de Novembro, com dois oradores principais: David Kellermann, professor da Universidade de Nova Gales do Sul, que criou a chamada “sala de aulas mais avançada do mundo” (vá lá alguém perceber a validade do presunçoso epíteto) e o indiano Sugata Mitra, cientista de computação, cujo método de aprendizagem salvador assenta na ideia mirífica de que, porque as crianças são naturalmente curiosas, apenas precisam de um computador e acesso à Internet, para que aprendam. A estas sumidades internacionais juntaram-se sumidades nacionais da mesma linha de pensamento: José Pacheco, fundador da Escola da Ponte e criador da Open Learning School e os empresários Tim Vieira, da Brave Generation Academy e João Magalhães, da Academia de Código.
Pérolas proclamatórias principais: “O sistema de ensino está completamente fora do prazo de validade” (Sugata Mitra); “Não é possível medir o saber” (Sugata Mitra); “A sala de aula é algo maquiavélico” (José Pacheco).
Obrigado sumidades! No preciso momento em que os professores procuram a justiça a que têm direito, os vossos indicadores apontaram-nos como responsáveis por todos os males da escola. Humildemente vos digo que a vossa dissimulada entropia, a coberto de interesses outros, que não os da educação das massas, é simplesmente perigosa e preocupante.
Gostava de vos ver lidar com 83.431 alunos portugueses com necessidades educativas especiais e 143.688 alunos estrangeiros inscritos nas escolas públicas, que apenas falam as suas línguas maternas (nalgumas escolas coexistem mais de meia centena de línguas diferentes).
Por que razão instituições economicamente poderosas, cuja actividade está nos antípodas da Educação, dão tanto palco a gurus, que fazem carreira a dizer mal da escola pública, a única a que os pobres podem ter acesso?
2. Porque escolhi invocar grotescos, registo o segundo. João Costa, o mais desastrado e incompetente ministro da Educação desde que tenho memória, foi eleito presidente do Comité de Políticas Educativas da OCDE, órgão responsável por coordenar toda a sua atividade no sector da educação e contribuir para a definição das políticas públicas.
Recorde-se a propósito que, em Maio de 2022, no 2.º Encontro Nacional de Autonomia e Flexibilidade Curricular, uma patusca Amapola Alama, especialista da UNESCO, afirmou, pasme-se, que o nosso sistema educativo era “o Rolls-Royce dos sistemas de educação”. Parece assim natural que o motorista do Rolls-Royce, militante mercantilista e neoliberal, tenha sido eleito para o cargo em análise.
3. A embrulhada política que domina o país tem a forma de um pantanoso e fétido lodaçal e a substância de um verdadeiro desastre de mentiras, irresponsabilidades, traições e comportamentos indecorosos, em que são actores os mais altos representantes do Estado. Com efeito, temos: Costa a desmentir Marcelo e Marcelo a desmentir Costa; uma magistratura incapaz e liberta de qualquer controlo democrático, bem mais interessada em caçar políticos que em gerir a justiça; um inquérito do Ministério Público que originou a demissão do primeiro-ministro e um juiz de instrução que, escassos dias volvidos, garantiu não haver no processo indícios de corrupção ou de prevaricação; um primeiro-ministro demitido de um Governo que devia ser de gestão mas que ainda está com poderes plenos, porque o Presidente da República interpreta a seu modo a Constituição; escassa informação séria e abundante mediação de boa parte da imprensa e televisões sustentada por agendas nauseantes, que destratam a cada passo a inteligência dos leitores e espectadores.
A sombra deste polvo gigante, que asfixia a democracia e dentro do qual o sentido de Estado foi substituído pela arte manhosa de se servir do Estado, permite-me especular sobre um eventual terceiro acontecimento escabroso: e se António Costa, manipulador inato e decano do ardil político, simplesmente aproveitou o fatídico parágrafo de Lucília Gago para escapar ao atoleiro em que mergulhou o Governo, outorgando-se, do mesmo passo e habilmente, o estatuto de vítima da justiça, que regressará ilibada, daqui a pouco, para novos lances de apropriação do poder?
In “Público” de 22.11.23
9 comentários
Passar directamente para o formulário dos comentários,
Excelente! obrigado!
A ver se é desta que o subsecretário de estado Castilho que plagiou a tese de doutoramento vai a ministro. Anda há 50 anos a pôr-se em bicos de pés e ninguém lhe pega. E, por isso, vai ficando cada vez mais zangado com tudo o que mexe à sua volta.
O meu desafio para o Santana Castilho é quando é que escreve sobre o plágio do seu doutoramento.
O XUXUALISMO ESTÁ TÃO AFUNDADO EM CORRUPÇÃO QUE À FALTA DE ARGUMENTOS JÁ DESCARRILA PARA A OFENSA PESSOAL!!! OS XUXIALISTA CADA FEZ MAIS SE AFUNDANDO E QUERENDO LEVAR COM ELES, TUDO E TODOS!!!!
XUXIALIXOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO E XUXIALISTASSSSSSSSSSSSS SE AFUNDANDO E TENTANDO LEVAR TUDO E TODOS COM ELES
ESTE PAÍS CADA VEZ MAIS SE AFUNDA NO PANOMRAMA INTERNACIONAL… GRAÇAS AO XUXIALIXO E AQUELES QUE SOCIAIS DEMOCRATAS NÃO TÊM ABSOLUTAMENTE NADA!!!
E AQUELES QUE DE DEMOCRATAS SOCIAIS NÃO TÊM ABSOLUTAMENTE NADA!!!
Sou de Informática e não me revejo no que essas sumidades internacionais vociferam.
Nenhum aluno aprende nada de jeito apenas estando a olhar para o computador. Muito menos alunos do ensino básico e secundário. Nem sequer os da universidade.
Só mesmo gente louca defende isto.
O ensino da Informática não se confunde com a loucura parva que estas sumidades defendem, que, aliás, não é na Informática, mas em todas as áreas.
Colegas,
Ousar questionar um dos maiores educadores vivos do mundo é um erro crasso. Só por ignorância tuga. Leiam e ouçam o Professor José Pacheco, para perceberem que o Castilho nunca pisou o chão da escola, logo não se pode comparar ao grande pedagogo que mencionou.
Por acaso já foi feita essa experiência de deixar os alunos aprenderem pela respetiva curiosidade…e sabem o que observei? Pude observar os alunos a procurarem os seus jogos no computador e se divertirem a jogar. Não vi nenhum aluno da turma a querer aprender o que quer que fosse… só entretenimento. Assim, só posso dizer que me parece que esses senhores estão equivocadas….