25 de Abril de 2023 archive

Aos professores e a todos os trabalhadores que lutam pelos seus direitos – Raquel Varela

Aos professores e a todos os trabalhadores que lutam pelos seus direitos, o texto que fiz e que foi lido pelo professor Ricardo Silva.

Não posso estar convosco hoje e desfilar, como faço sempre, a celebrar a revolução. Na verdade, tirei o dia para ir passear com a minha mãe, que se reformou cheia de vida aos 62 anos, continua a trabalhar no que gosta voluntariamente e tem hoje saúde e bem-estar para aos 72 anos passearmos juntas, em programas culturais, que – de quando em quando – fazemos, juntas. Nunca deixo de estar na Av. da Liberdade, mas a minha mãe é, como diz um adágio anarquista, a “única autoridade a que me submeto”.
Queria que todos os professores, a maioria são professoras, tivessem a vida que ela teve. Acesso à cultura, trabalho com prazer, respeito dos colegas, e direito a reformar-se numa idade que pode usufruir do lazer ou continuar a trabalhar a um ritmo autodefinido, e com autonomia.

Os professores, as professoras, juntos, de todas as idades e sexos, nacionalidades, e áreas distintas, têm protagonizado lutas nestes 6 meses que são um exemplo para o país. Com um movimento de base, democrático, nas escolas, que exige “parar de mentir” sobre os critérios de avaliação de docentes e de alunos, que exige uma escola de cooperação, escrupulosa e exigente, que forma conhecimento crítico, em vez de competências aligeiradas.

Na luta tiveram a cooperação que no dia a dia lhes é vedada com critérios kafkianos de avaliações, que só avaliam de facto os gestores que as criaram numa “governação por números” que tem feito da escola – um lugar maravilhoso – um espaço de tortura onde se prolongam os horários de trabalho, e se esvazia o sentido da educação.

Riram mais em greves e manifestações, onde ergueram as suas vozes em defesa da educação, do que em anos em salas de professores vazias, sem alma, onde se afogam mágoas, queixas e injustiças. De vítimas passaram a sujeitos de luta.

O salário não é dado – os trabalhadores quando trabalham pagam o seu próprio salário. É-lhes devido o que trabalharam bem como, no mínimo, os aumentos para fazer face à inflação.

É com os professores – e com os médicos, enfermeiros, funcionários judiciais, maquinistas – que temos um compromisso assumidos. Não é com a obscena riqueza que circula entre a dívida “pública” e os bancos.

Os professores lutam contra a precariedade e uma lei que os coloca, mesmo aos que estão fixos em escolas, na mão arbitrária de diretores não eleitos, que os podem alocar a outras escolas de mega agrupamentos, com custos de deslocação, como forma de retaliação ou simplesmente porque “podem, querem e mandam”.

Ao mesmo tempo, nestes meses, os professores deram uma lição de democracia e solidariedade – ao manterem as lutas contras as tentativas de lhes retirar o direito à greve, e ao fazerem fundos de greve entre profissões. Falta-lhes, porém, a solidariedade – efetiva, com gestos – dos outros trabalhadores do país.

Pese embora a relativa solidão com que têm lutado é impressionante o apoio público que têm, é exemplar que não baixem os braços, com coragem, e nos vão dando a “aula mais importante” – só há democracia real quando nos locais de trabalho há democracia e dela brota a solidariedade.

São um exemplo, para todos os outros trabalhadores dos serviços públicos e das empresas. Sou grata pela lição. Estou ao vosso lado. Para que possam trabalhar com prazer, deixar de trabalhar com saúde, trabalhar para viver. 25 de Abril sempre!

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Portugal livre e democrático? Sim, mas só quando La Famiglia quiser…

 

No passado Domingo, La Famiglia, ou seja, o Governo e os seus apoiantes, esteve reunida no Porto, a pretexto das comemorações dos 50 anos do Partido Socialista…

Terá havido uma grande festa, orquestrada por vários paladinos teóricos da Democracia, munidos de muitos discursos laudatórios, dirigidos ao líder do Partido Socialista António Costa…

 O Chefe de La Família”, de quem os respectivos devotos esperarão protecção e algumas benesses, terá sido agraciado com juramentos de obediência e lealdade, a lembrar um sistema semelhante ao da vassalagem, plausivelmente assente na recíproca prestação de serviços…

E teria sido a festa perfeita, não estivessem no exterior do Pavilhão, onde a mesma decorria, milhares de cidadãos em protesto contra as políticas do Governo…

O “Chefe de La Família”, certamente embevecido pela veneração e pela idolatria, fez por ignorar o confronto com o Povo e a festa lá continuou, imperturbável e completamente alheada do que se passava fora daquela redoma…

Mas fora da redoma, havia uma realidade visível e audível: um grande protesto, realizado por milhares de cidadãos, muitos deles profissionais de Educação, que se fez ver e ouvir durante várias horas…

La Famiglia, com uma postura cínica e hipócrita em relação aos protestos e às reivindicações, primou pelo desrespeito face aos seus concidadãos, brindando-os com obstinação, arrogância e prepotência política…

As agressões infligidas por esta Famiglia à Escola Pública, e em particular à Classe Docente, não têm sido metafóricas, como comprovam os factos:

 Em 2008 (instauração da Ditadura nas escolas) e em 2017 (subtracção de mais de 9 anos de tempo de serviço à Classe Docente) estavam em funções Governos apoiados pelo Partido Socialista;

– Em 2023, a saga do Partido Socialista contra os profissionais de Educação, em particular contra os Professores, continua, sem fim à vista;

– Nunca, como nesses Governos, a Classe Docente foi tão desprezada, vilipendiada ou acossada…

Quando esta Famiglia exerce funções governativas, o país tende a transformar-se num potencial Feudo, posto ao serviço do Partido Socialista…

E é nessa altura que também costumam emergir muitas “eminências pardas”, muitos “ungidos da intelligentsia (Thomas Sowell), muitos “compadres” e muitas “comadres”, todos à procura de poder usufruir de benefícios e proveitos pessoais, quase sempre obtidos à custa do erário público, ou seja, à custa dos contribuintes portugueses…

Esta Famiglia não tem tido qualquer pudor em usar o país em proveito próprio e exemplos disso são conhecidos praticamente todos os dias…

A propósito das comemorações dos 50 anos do Partido Socialista, o seu Secretário-Geral, António Costa, dirigiu aos Portugueses este convite:

Mas queremos que estas comemorações sejam abertas, motivadoras e participadas. Assim, saúdo as portuguesas e os portugueses, convidando-os a que se juntem a nós e que conheçam melhor o PS, a sua história e o seu papel fundamental na construção do Portugal livre, democrático, moderno e solidário. Um Portugal de todos e para todos”…

Palavras bonitas, mas integralmente contraditadas pelas acções…

No caso de António Costa, “o diabo não está nos detalhes ou nos pormenores”, o diabo costuma estar nas suas acções, frequentemente dominadas pela sobranceria e pela arrogância…

E à luz do que se passou no Porto, no passado Domingo, as afirmações anteriores de António Costa, não podem deixar de ser qualificadas desta forma:

– Mais cínicas e mais hipócritas deve ser praticamente impossível…

Portugal livre e democrático? Sim, mas só quando La Famiglia quiser…

Não foi, certamente, para isto que se fez o 25 de Abril de 1974…

Ainda assim, saúdo convictamente o 25 de Abril de 1974, sem ele não seria possível divulgar o presente texto, nem exercer o direito de expressar livremente opiniões, concordando ou discordando do mesmo…

Reafirmo, no presente, o que defendi em 12 de Março passado, num outro texto publicado pelo Blog DeAr Lindo, intitulado Resistir e Desobedecer, onde, pela primeira vez, falei na possibilidade de a presente luta se ver obrigada a enveredar pela Desobediência Civil, nomeadamente este parágrafo:

– Depois de esgotadas todas as vias possíveis de entendimento ou de negociação, a Desobediência Civil é uma transgressão da lei, no sentido em que se recusa obedecer-lhe e cumpri-la, mas é uma insubordinação legitimada pelo direito à insurgência contra determinadas normas jurídicas e medidas governamentais, consideradas como atentatórias às virtudes da Democracia…

Nessa altura, o texto em causa suscitou alguma estranheza, por parte de uns e o acordo e desacordo de outros, todos no pleno direito de expressarem livremente as suas opiniões…

Após a referida publicação, outros autores também abordaram a temática da Desobediência Civil, o que me leva a acreditar que esse assunto não pode ser visto, e não está a ser visto, como um tabu e que, afinal, a ideia de Desobediência talvez não seja tão excêntrica e despropositada, quanto inicialmente poderia parecer…

Perante todas as indubitáveis manigâncias do Ministério da Educação, praticadas em nome do Governo, já se percebeu que sem desobediência será praticamente impossível ganhar a presente luta…

Em homenagem à Liberdade conquistada pelo 25 de Abril de 1974, neste momento parece haver apenas um caminho:

– Resistir e Desobedecer…

Assim haja a coragem para o concretizar…

 

(Paula Dias)

 

 

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Em Abril eramos muitos mil – João Fernandes

Em Abril eramos muitos mil
Na madrugada da liberdade
Erguemos as vozes
Num ritual de libertação
Fomos cravos vermelhos
Choros de alegria
No Carmo fomos multidão
Fraternalmente irmãos solidários
Salgueiro Maia o nosso capitão
A voz de tantas vidas adiadas
A fala desta liberdade
Aprendemos palavras escondidas nas trevas
Perdemos os medos
Sentimos em nós a esperança a crescer

A história fez-se espontaneamente
Seremos sempre Abril

João Fernandes

 

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Os maus exemplos que os “democratas” seguem com orgulho…

A falta de professores é um problema crónico por toda a Europa. Mas não é por isso que o caminho da desvalorização da profissão não cessa.

Apesar de Portugal ter como exemplo outros países que seguiram o tenebroso caminho que o país está a seguir, em relação à profissão de professor, não é por isso que se desvia desse caminho.

O problema estrutural da formação de professores tem décadas e apesar da abertura de mais vagas no ensino superior  para candidatos a professores, demorariam décadas a resolve-lo.

A contratação de professores, em Portugal, é gerida como uma mercearia de bairro, à moda antiga e com um livro de calotes muito extenso.

Qualquer empresa sabe que se quer ter bons profissionais tem que os motivar e apresentar um conjunto de benefícios que os atraia. O estado não é uma empresa, mas para captar qualquer profissional já não basta o fator “emprego para a vida”. O segredo para resolver o problema de falta de profissionais está nas vantagens que o estado lhes pode oferecer, se o estado oferece piores condições de trabalho, ordenados mais baixos, uma carreira com cortes absurdos (balizada por uma avaliação baseada no desmérito) e os desloca da sua área de residência sem qualquer contrapartida financeira, está à espera de quê?

O problema é que o estado ainda se tem como o melhor dos empregadores e julga que todos o veem como tal.

Não tardará muito a termos os exemplos da notícia abaixo a acontecer nas nossas escolas, em números superiores ao que já temos (porque já temos). Quando isso for demasiado para  se esconder, talvez a sociedade acorde e se lembre que a democracia não trouxe só liberdade, a responsabilidade também veio acopulada.

 

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