Aos professores e a todos os trabalhadores que lutam pelos seus direitos, o texto que fiz e que foi lido pelo professor Ricardo Silva.
Não posso estar convosco hoje e desfilar, como faço sempre, a celebrar a revolução. Na verdade, tirei o dia para ir passear com a minha mãe, que se reformou cheia de vida aos 62 anos, continua a trabalhar no que gosta voluntariamente e tem hoje saúde e bem-estar para aos 72 anos passearmos juntas, em programas culturais, que – de quando em quando – fazemos, juntas. Nunca deixo de estar na Av. da Liberdade, mas a minha mãe é, como diz um adágio anarquista, a “única autoridade a que me submeto”.
Queria que todos os professores, a maioria são professoras, tivessem a vida que ela teve. Acesso à cultura, trabalho com prazer, respeito dos colegas, e direito a reformar-se numa idade que pode usufruir do lazer ou continuar a trabalhar a um ritmo autodefinido, e com autonomia.
Os professores, as professoras, juntos, de todas as idades e sexos, nacionalidades, e áreas distintas, têm protagonizado lutas nestes 6 meses que são um exemplo para o país. Com um movimento de base, democrático, nas escolas, que exige “parar de mentir” sobre os critérios de avaliação de docentes e de alunos, que exige uma escola de cooperação, escrupulosa e exigente, que forma conhecimento crítico, em vez de competências aligeiradas.
Na luta tiveram a cooperação que no dia a dia lhes é vedada com critérios kafkianos de avaliações, que só avaliam de facto os gestores que as criaram numa “governação por números” que tem feito da escola – um lugar maravilhoso – um espaço de tortura onde se prolongam os horários de trabalho, e se esvazia o sentido da educação.
Riram mais em greves e manifestações, onde ergueram as suas vozes em defesa da educação, do que em anos em salas de professores vazias, sem alma, onde se afogam mágoas, queixas e injustiças. De vítimas passaram a sujeitos de luta.
O salário não é dado – os trabalhadores quando trabalham pagam o seu próprio salário. É-lhes devido o que trabalharam bem como, no mínimo, os aumentos para fazer face à inflação.
É com os professores – e com os médicos, enfermeiros, funcionários judiciais, maquinistas – que temos um compromisso assumidos. Não é com a obscena riqueza que circula entre a dívida “pública” e os bancos.
Os professores lutam contra a precariedade e uma lei que os coloca, mesmo aos que estão fixos em escolas, na mão arbitrária de diretores não eleitos, que os podem alocar a outras escolas de mega agrupamentos, com custos de deslocação, como forma de retaliação ou simplesmente porque “podem, querem e mandam”.
Ao mesmo tempo, nestes meses, os professores deram uma lição de democracia e solidariedade – ao manterem as lutas contras as tentativas de lhes retirar o direito à greve, e ao fazerem fundos de greve entre profissões. Falta-lhes, porém, a solidariedade – efetiva, com gestos – dos outros trabalhadores do país.
Pese embora a relativa solidão com que têm lutado é impressionante o apoio público que têm, é exemplar que não baixem os braços, com coragem, e nos vão dando a “aula mais importante” – só há democracia real quando nos locais de trabalho há democracia e dela brota a solidariedade.
São um exemplo, para todos os outros trabalhadores dos serviços públicos e das empresas. Sou grata pela lição. Estou ao vosso lado. Para que possam trabalhar com prazer, deixar de trabalhar com saúde, trabalhar para viver. 25 de Abril sempre!