25 de Fevereiro de 2021 archive

Professores, queremos regressar ao ensino presencial? – Alberto Veronesi

 

Professores, queremos regressar ao ensino presencial?

A partir da segunda metade do mês de fevereiro, começámos a ler e a ouvir mais sobre o possível regresso ao ensino presencial e a consequente reabertura das escolas. Uns contra outros a favor. O tema é de facto fraturante e tem sido difícil reunir consenso na forma de atuar em relação às escolas. No início desta semana, a comunicação social deu conta de uma carta aberta com mais de cem subscritores iniciais, com o intuito de fazer com que, quem de direito, priorize a reabertura das escolas e que seja por elas que se comece a desconfinar. Dizem os subscritores que é possível conciliar o direito à educação não descurando a saúde pública. Concordo, mas…

Na carta são expostos alguns argumentos que os autores consideram importantes para explicar que as escolas podem e devem ser reabertas. E consigo estar de acordo com alguns, como o que diz que “O sucesso de uma política não se mede apenas contando o número de infeções hoje, mas levando em consideração muitos outros fatores socioeconómicos e psicológicos, mas também consequências de saúde, física e mental, no presente e no futuro”. Não posso concordar com outros que demonstram sobretudo desconhecimento de causa, ou seja, é proferido por quem terá pouca noção da realidade global das escolas do país.

Logo no segundo ponto surge o seguinte: “Nas escolas são aplicados rígidos protocolos sanitários, que garantem o uso correto dos dispositivos de segurança individuais durante grande parte do dia e que evitam a formação de agrupamentos nesses espaços (ao contrário do que acontecia nas famílias, por exemplo).” Obviamente que quem por lá anda saberá que os rígidos protocolos sanitários esbarraram muitas vezes na falta de espaço físico num dia de chuva, por exemplo. Na literatura dos planos de contingência é provável que se possa ler e idealizar os rígidos, mas a realidade esteve distante.

De seguida, referem os autores que: “Durante o primeiro período, as medidas sanitárias nas escolas impediriam numerosos casos e clusters (só houve 800 turmas que tiveram que fechar em todo o país neste período).” Isto dito desta forma até pode iludir. Mas se referirmos que além dos números oficiais, que só foram divulgados pelo Ministério da Educação aqui há dias e só depois de serem intimados pelo tribunal, indicarem que mais de metade das escolas apresentaram casos de infeção, acrescentarmos que durante todo o primeiro período houve uma verdadeira imposição por parte de muitas direções de agrupamento, informal é certo, da lei da rolha, chegamos à conclusão que o cenário não é tão rosa como querem fazer parecer.

Sobre a correlação que as escolas abertas têm com o aumento de casos, parece-me imperativo que se esclareça que o que provoca esse aumento são as movimentações. Estima-se que será um quarto da população em movimento, diariamente, só pelo facto de as escolas estarem abertas. Claro que terá implicações!

O argumento de que há outras medidas igualmente eficazes ao fecho das escolas pode até ser verdadeiro. Mas relembro que foi esse argumento que manteve as escolas abertas até ao final de janeiro com os resultados que são conhecidos. Rastrear, dizem. Rastrear contacto funciona na Alemanha. Estive mais de 30 minutos numa sala com um caso positivo, com máscara, mas não foi sequer considerado para rastreio. Entende-se por que razão este argumento não serve.

Outros pontos com os quais concordo são aqueles que se referem à proteção da saúde mental dos mais novos, ao desenvolvimento harmonioso da criança/jovem, as desigualdades de acesso aos meios digitais, à eficácia do ensino à distância, às condições que a generalidade dos portugueses tem nas habitações. Sobre este assunto é importante que se esclareça cabalmente que não é pelo facto de as escolas abrirem que esses problemas desaparecem. Eles lá continuam, deixam é de ser notados e com isso deixa de haver necessidade de os resolver. Será? Não me recordo de ter visto nenhuma carta aberta para se acabar com a pobreza… Talvez tenha estado desatento.

Na segunda parte da carta, os autores partem para as propostas que, se cumpridas, poderão traduzir-se na reabertura das escolas.

Entre o conjunto de propostas apresentadas, poderemos dizer que temos dois grupos. Um em que as propostas não sendo novas são de elementar bom senso. Como por exemplo: manter e reforçar as medidas existentes; tornar a máscara cirúrgica obrigatória desde os seis anos; o uso de meios de transporte alternativos; o rastreio periódico da infeção em amostras da população escolar; incluir professores e auxiliares de ação educativa nos grupos prioritários de vacinação; professores de alto risco sejam substituídos por outros ou deem aulas remotamente.

O outro conjunto de propostas parece dependente de algo sobrenatural se não vejamos: espaço específico em cada escola ou agrupamento de escolas para aplicar testes rápidos de antigénio e iniciar os procedimentos de isolamento e quarentena – como se desde de novembro não tivessem sido disponibilizados 500 mil testes para se fazer precisamente isso. Só que não nada foi feito.

Outro: Fazer a vigilância de contágios nas escolas, publicitando regularmente a sua frequência e tomar atitudes com base nesses e outros dados – sobre o publicitando, acho que já disse tudo.

Em jeito de conclusão, referem os autores, que têm “a convicção de que essas medidas estão ao alcance do Governo e que o seu custo é infinitamente menor que o retorno no curto, médio, e, principalmente, no longo prazo”. Eu acrescento, essas medidas e muitas outras relativas à Educação e as escolas estarão bem ao alcance do Governo. Mas também sabemos que enquanto não houver vontade política nenhuma delas será cumprida.

Recordo que muitas vozes houve, daqueles que estão no terreno, a sugerir, por diversas vezes, variadíssimas medidas que poderiam ter mitigado muitos destes problemas. Desdobramento de turmas, regressos faseados, ensino à distância ou misto para 3.º ciclos e secundário entre outros, que careciam de vontade governativa e investimento. O mais fácil pois claro é reagir esperando sempre que nem isso seja preciso fazer!

 

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Desmentido sobre imagem posta a circular sobre o plano de desconfinamento

DESMENTIDO SOBRE IMAGEM POSTA A CIRCULAR

O gabinete do Primeiro-Ministro acaba de divulgar a seguinte nota:
Encontra-se a circular um documento falso que apresenta um suposto plano de desconfinamento, imputado ao Governo, o qual consiste numa adulteração abusiva da tabela de desconfinamento divulgada em abril do ano passado.
Este documento não tem qualquer veracidade, não é da autoria do Governo, nem se baseia em qualquer trabalho preparatório, pelo que às informações constantes do mesmo não deve ser atribuída qualquer credibilidade. Pela desinformação e falsas expectativas que tal documento pode gerar, com o inerente risco para a saúde pública, esta falsificação será objeto de comunicação ao Ministério Público.
Tal como fez no ano passado, o Governo encontra-se a preparar os futuros passos de desconfinamento, que serão dados em devido tempo, em articulação com a estratégia de testagem e o plano de vacinação. No entanto, o Governo considera que é inoportuno proceder nesta fase a qualquer apresentação ou discussão pública sobre o tema. Este não é ainda o momento do desconfinamento. Pelo contrário, tal como referido no projeto de decreto de Sua Excelência o Presidente da República, não é recomendado pelos peritos reduzir ou suspender, neste contexto, as medidas de restrição dos contactos.

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Manifesto “Avaliar à distância”

 

Excelentíssimos Senhores,

Face ao incompreensível silêncio por parte do Ministério da Educação relativamente ao processo de avaliação, matéria que tem sido tão entronizada nos últimos anos, de um período em que tudo indica que se reduzirá a três semanas de aulas presenciais, é expectável que os professores se sintam profundamente preocupados com as tremendas dificuldades que uma avaliação à distância comporta.

Atendendo a que presidem a organizações e instituições com responsabilidades no âmbito das políticas educativas, e atendendo também à situação extraordinária (não lhe chamamos atípica) que estamos a viver, com seriíssimas implicações no processo de ensino-aprendizagem, vimos, na qualidade de professores do ensino secundário, com carreiras profissionais já longas, transmitir as nossas profundas preocupações, senão angústias, relativamente ao processo de avaliação dos alunos no segundo período, quando se afigura uma situação de confinamento, no mínimo, até à interrupção da Páscoa.

Quanto às aulas à distância, nada temos a dizer, não só porque não existe outra alternativa, mas porque francamente consideramos que podem funcionar com considerável eficácia, desde que haja colaboração e disponibilidade dos alunos, o que nem sempre acontece, e que todos possam dispor das tecnologias e outras condições exigidas para o efeito. Mas a questão da avaliação coloca problemas muito sérios, como todos nós sabemos, salvo aqueles que teimam em achar “que o rei não vai nu”. Efetivamente, e sem entrar em pormenores, tanto desnecessários quanto óbvios, uma avaliação feita por plataformas, por mais sofisticadas que sejam, abre sempre muitas possibilidades de fraudes que, cada vez mais comentadas por pais e encarregados de educação e por muitos outros da esfera pública, até por setores que não se situam no âmbito do ensino, mas que têm de recorrer e estas ferramentas , constituem um atentado muito grave à equidade e rigor que deve escrupulosamente nortear o processo de avaliação, princípios que serão ainda mais atingidos se pensarmos na discricionariedade de critérios de avaliação que variam de escola para escola.

Poupando- vos a delongas que envolvem toda esta situação tão precária e melindrosa e que  tão bem conhecem, sobretudo potenciadora do fosso social que já é tão preocupante e que tão demagogicamente é invocado, parece-nos que seria oportuno sugerir-vos uma reflexão sobre a pertinência de se encontrar uma alternativa à avaliação neste segundo período, transformando os dois períodos num semestre, situação que já existe em muitas escolas, portanto nada de inédito, e que permitiria não só uma lecionação mais tranquila, mas sobretudo uma avaliação mais justa  e transparente, tanto mais que o calendário escolar foi prolongado.

Cientes de que o destinatário deste comunicado deveria ser um órgão deliberativo, parece-nos que outros há com o dever de refletir e questionar esta situação. Agradecíamos que ponderassem uma intervenção neste domínio.

 

Com os mais respeitosos cumprimentos.

Um grupo de docentes da Escola Secundária Martins Sarmento,

 

António João Leite de Castro

Helena Sofia Barroso Nogueira Ribeiro de Carvalho

Glória Manuela de Freitas Machado

Maria da Conceição Freitas Ferreira

José Manuel de Magalhães Teixeira

Manuela da Conceição Ferreira da Costa

Carmen da Soledade de Castro Anjos

Maria do Rosário Novais de Almeida

Manuel Fonseca Fontão

Ana Amélia Mota Guimarães

Maria da Graça de Sousa Meneses Pacheco

Maria de Fátima Fernandes Rodrigues Caldas

Fernando Paulo de Mota Pinto dos Santos

Paulo Jorge Ribeiro Menezes

 

 

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Apagão pela educação. Professores desligam computadores em protesto

 

Apagão pela educação. Professores desligam computadores em protesto

“O ministro mente ao dizer que tudo corre bem e tudo estava preparado”, veicula o movimento.

“Apagão pela educação” é o nome da iniciativa segundo a qual os professores desligam os computadores durante alguns minutos por dia como forma de protesto.

Esta semana, o objetivo passa por desligamentos diários de 30 minutos, mais 15 minutos que na semana passada, “sendo 15 minutos a soma de nove com quatro com dois, números com forte simbolismo para os professores portugueses”, pode ler-se no comunicado enviado pelo movimento, aludindo assim aos nove anos, quatro meses e dois dias em que a carreira dos docentes esteve congelada.

Segundo os proponentes do apelo, o protesto deve manter-se e será alargado enquanto o Governo não abordar com todas as organizações sindicais, em conjunto, os problemas que preocupam os professores “e que se agravam de há 15 anos para cá”, ou seja, as questões de salário e de respeito pela carreira (vagas em certos escalões ou congelamento de tempo de serviço, etc.), condições de trabalho, horários, aposentação, concursos, tratamento dos contratados, avaliação, imagem pública da classe e sua degradação pelas mentiras junto da opinião pública.

É de sublinhar que o apagão começou, na semana passada, com dois apagões de 15 minutos que suscitaram larga adesão entre os professores, “patente quer no número de professores que adotaram o logótipo da iniciativa ou as suas hashtags, quer no número de docentes que comunicaram publicamente a sua adesão e apoio ao #apagãopelaeducação”, é possível ler.

O grupo que lançou a ideia mantém o apelo aos restantes profissionais de educação que estão em sua casa, a usar o seu próprio equipamento e condições técnicas para realizar ensino à distância, “para que adiram ao protesto, por agora, ainda só simbólico, e suspendam nesse período diário de 30 minutos a colaboração com o disfarce de falta de preparação que vinha impedindo a opinião pública de perceber que o ministro Tiago Brandão Rodrigues mente ao dizer que tudo corre bem e tudo estava preparado”.

“As mentiras e desconsideração atingiram um nível insuportável”, escreveram, adicionando que este protesto, “que é simbólico e visa evitar o custo para os alunos do desligar total, pelos seus donos, num ato legal e legítimo, da infraestrutura digital do ensino à distância, também serve para que a comunicação social fale dos problemas, num ângulo mais realista e menos desfocado pela propaganda frenética do ministro”.

No documento enviado em anexo pelo movimento são sugeridas datas e horas para os apagões em concordância com determinadas queixas de condições laborais. A título de exemplo, verificam-se as propostas “Trabalhaste anos e anos e não te contaram o tempo de serviço? Apaga 15 minutos no dia 18-2- -2021 às 9h15” ou “Foste tu que pagaste o computador que estás a usar para trabalhar? Apaga 15 minutos no dia 18-2-2021 às 9h15”.

 

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Escolas só devem abrir se não fizerem aumentar taxa de transmissão para cima de 1

 

Escolas só devem abrir se não fizerem aumentar taxa de transmissão para cima de 1

Especialista diz que, em setembro, o regresso às aulas teve impacto de 20% a 25% no aumento das infeções em seis dias.

O regresso às aulas só deve ser equacionado quando a taxa de transmissão (RT) da covid-19 for de tal maneira baixa que o impacto da medida não provoque o seu aumento para um valor acima de 1.

O patamar foi defendido esta tarde de quarta-feira, na Assembleia da República, pelo professor de matemática, da Universidade de Lisboa, Jorge Buescu.

O matemático explicou que só nos primeiros seis a 15 dias após o novo ano escolar, que arrancou em setembro, se verificou um aumento de 20% a 25% na taxa de transmissão. E que, por isso, para que os alunos possam voltar a ter aulas presenciais, a taxa de transmissão terá de comportar esse aumento e permanecer abaixo de 1.

O especialista revelou ainda que um Rt acima de 1.2 antecipa a chegada de uma nova vaga da pandemia de covid-19 e que por essa razão este valor deve ser evitado a todo o custo.

Ouvido na Comissão Eventual para o Acompanhamento da Aplicação das Medidas de Resposta à Pandemia, Jorge Buesco frisou que “muito rapidamente se perde o controlo” e que as medidas de contenção da segunda vaga, no outono passado, demoraram um mês e meio a produzir resultados.

A 1 de dezembro, revelou, a taxa de transmissão era inferior a 1. No último dia do ano estava nos 1.4. “Naquele momento percebi que as coisas iam correr muito mal” sublinhou.

 

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