Está nas ruas um cartaz “publicitário” de propaganda do governo, no qual se pode ler “Governar a pensar nas pessoas”. Suponho que esta frase e o cartaz, sem dúvida sugeridos pelos seus “assessores de imprensa”, surgiram como tentativa de contrariar uma evidência: este governo desistiu, há muito, de governar para as pessoas e está apenas a governar para as estatísticas económicas. António Costa e Medina querem ultrapassar Salazar na sua preocupação com as “contas certas”, nem que para isso tenham de destruir o Serviço Nacional de Saúde, o sistema público de ensino, o sistema de justiça e a classe média. Com uma hipocrisia política inqualificável, este governo adota políticas contra as pessoas e manda colocar cartazes nas ruas para as tentar convencer do contrário.
Podia apresentar, agora, alguns parágrafos com argumentos que sustentassem o que acabei de afirmar. No entanto, mais do que em fundamentos ou argumentos, as políticas e a propaganda de António Costa e de Medina esbarram de frente com a REALIDADE.
Aqui ficam alguns factos noticiados nos últimos meses em Portugal, com indicação das respetivas fontes:
“Grávida enviada para casa com bebé morto na barriga por falta de vaga no Beatriz Ângelo” – CNN Portugal, ontem, às 14:27
“Segundo o portal da transparência do SNS, em abril de 2022 um total de 1.299.016 milhões utentes não tinham médico de família atribuído, número que aumentou para 1.678.226 um ano depois. Perante isso, o número de utentes acompanhados por esses especialistas de medicina geral e familiar baixou de cerca de 9,1 milhões para pouco mais de 8,8 milhões no mesmo período, indicam os dados oficiais.” – Lusa/DN, 18 Maio, 2023, 07:44
“As cativações finais em 2022 ascenderam a 444 milhões de euros, o valor mais alto desde 2019, segundo um relatório do Conselho das Finanças Públicas (CFP) publicado esta quinta-feira. De acordo com o relatório “Evolução Orçamental das Administrações Públicas em 2022” do CFP, as cativações iniciais sobre a despesa na administração central ascenderam a 1.017 milhões de euros no ano passado, às quais acresceram cativações realizadas durante a execução orçamental de 67 milhões de euros, totalizando 1.084 milhões de euros.” – Lusa/ECO, 11 Maio, 2023
“Os lucros agregados dos cinco maiores bancos que operam em Portugal somaram 1.994 milhões de euros no primeiro semestre, num aumento de 58,4% em termos homólogos, segundo contas da Lusa. Assim, a soma dos resultados líquidos destes bancos foi superior à registada no final dos primeiros seis meses de 2022 em 735 milhões de euros, continuando estes a serem impulsionados pelo aumento das taxas de juro nos créditos.” – Lusa/Observador, 28 jul., 2023, 21:33
“O ano de 2022 fica marcado pela crise e subida galopante dos preços dos alimentos, mas os dois grandes grupos nacionais de retalho alimentar – Jerónimo Martins e MC – registaram resultados positivos. Em conjunto, as empresas detentoras dos supermercados Pingo Doce e Continente somaram lucros de 769 milhões de euros no ano passado.” – DinheiroVivo, 23 março, 2023, 07:00
“Aulas começam com cerca de 80 mil estudantes sem professor a uma ou mais disciplinas. Zona sul do país é a mais afetada com falta de docentes, mas o problema alastra-se a todas as regiões. Entre setembro e outubro, mais 726 docentes vão aposentar-se.” – DN, 12 Setembro, 2023, 01:34
“Falta de professores: Matemática e Português são casos mais críticos. A realidade mostra que a profissão de professor está em declínio, sobretudo em disciplinas centrais. Matemática perdeu mais docentes, enquanto Português tem os mais envelhecidos.” – SIC NOTÍCIAS, 02 out., 2023, 14:08
“Zona euro registou um défice de 3,3% do PIB, no terceiro trimestre de 2022, com Portugal a apresentar o segundo maior excedente das contas públicas (1,2%). A zona euro registou um défice de 3,3% do PIB, no terceiro trimestre de 2022, e a União Europeia (UE) de 3,2%, com Portugal a apresentar o segundo maior excedente das contas públicas (1,2%), divulga o Eurostat.” – Lusa/Observador, 23 jan., 2023, 10:09
“As classes médias portuguesas estão entre as que têm menor poder de compra dentro da União Europeia (UE), revela um estudo do EconPol, uma rede europeia de universidades e centros de investigação que avaliou os rendimentos, o custo de vida e os impostos de 28 países. A classe média alta portuguesa seria média baixa em Espanha ou Itália.” – JN, 08 outubro, 2023, às 08:03
“O Ministério das Finanças ainda controla a grande fatia das cativações, conclui a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) no relatório de apreciação à proposta do Orçamento do Estado (OE) para 2024, publicado esta quarta-feira. Os instrumentos de controlo de despesa totalizam 2.521 milhões de euros no OE, dos quais mais de dois terços, isto é, 1.697 milhões, ainda estão dependentes do “ok” de Fernando Medina para serem libertados, de acordo com o mesmo documento.” – CNN Portugal, 25 de outubro 2023, às 15.42
“Em diversos pontos do país, o défice crónico de oficiais de justiça agudizou-se em 2021, revelam os mais recentes relatórios das 23 comarcas judiciais portuguesas. Para além disso, não abrem concursos para esta carreira há vários anos. “Se a administração central mantiver a não-contratação de novos funcionários e a não promoção a cargos de chefia, a curto prazo assistiremos a um colapso dos serviços”, escreve no seu relatório o juiz que dirige a comarca de Braga, João Paulo Dias Pereira.” – Expresso, 21 março, 2022, 07:58
RESUMINDO E CONCLUINDO: segundo os meios de comunicação social portugueses, não há médicos suficientes no SNS, nem professores suficientes nas escolas públicas, nem profissionais suficientes nos tribunais para atender os mais pobres ou para atender a classe média, mas as contas públicas do país revelam um excedente, à custa de cativações, e as grandes empresas e os grandes bancos, em alguns casos dominados por grupos financeiros internacionais, estão a aumentar consideravelmente os seus lucros nos últimos anos. E um governo que não resolve os problemas na Saúde, nem na Educação, nem na Justiça, apesar de ter disponibilidade de verbas públicas para isso e que, ao mesmo tempo, permite a concentração da riqueza produzida no país nas mãos de meia dúzia de multimilionários nacionais e estrangeiros, é o mesmo governo que quer que nós acreditemos que está a “governar a pensar nas pessoas”?!?! Eles estão é a governar a pensar (no futuro de algumas) pessoas, por exemplo, no de António Costa e no de Medina. Ainda se arriscam os dois a ganhar uma “medalha europeia”, nem que para isso tenham de destruir o que o socialismo e a social-democracia construíram em Portugal nos últimos 50 anos…