Se dermos a uma classe profissional, temos que dar a todas.
Out 29 2023
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Out 29 2023
Ainda não passaram dois meses desde o início das aulas na Escola Pública e, neste momento, o ambiente geral parece ser, mais ou menos, este:
(Roubado do Pinterest-Brasil, de autor desconhecido).
O entusiasmo inicial, típico do recomeço das aulas, vai dando lugar à instalação progressiva de uma certa letargia entorpecedora, difícil de combater e de contrariar…
O cansaço vê-se e sente-se…
A desmotivação vê-se e sente-se…
Para muitos, todos os dias parecem “Segundas-Feiras”…
Sobretudo nos últimos dois anos, o cansaço e a desmotivação parecem ter aumentado exponencialmente, acumulando-se e apoderando-se de muitos Alunos e profissionais de Educação…
E começa a ser muito difícil reverter esse mal-estar, traduzido por um quase permanente “enjoo de escola”, algumas vezes expresso sob a forma de intolerância, frustração ou desânimo…
Estar “enjoado de escola” é estar saturado de escola, é estar assoberbado e asfixiado com os problemas intermináveis da escola…
O trabalho insano, os procedimentos e as tarefas replicam-se, repetem-se num círculo vicioso, num movimento ininterrupto, praticamente impossível de quebrar, sem consciência, sem senso e sem pensamento crítico, sem fim à vista e, muitas vezes, sem um propósito claro ou definido…
O “frenesim” do excesso de estímulos e os vícios de funcionamento anulam qualquer réstia de serenidade e de silêncio, imprescindíveis à reflexão individual ou colectiva…
Age-se, frequentemente, em modo de “piloto automático”, o mais importante é cumprir todas as ordens, mesmo as mais estapafúrdias…
Quem nunca se sentiu “enjoado de escola” que atire a primeira pedra…
Os Psicólogos também não estão isentos de se sentirem “enjoados de escola”, cansados e desmotivados… Contrariamente a alguns mitos e crenças utópicas, os Psicólogos não são criaturas “assépticas”, a quem está vedada a expressão de sentimentos, emoções ou estados de alma…
Os Psicólogos também choram, também riem, também se indignam, não são sempre serenos e tranquilos, também se irritam e também se enfurecem, e até vociferam impropérios, apesar de, por vezes, subsistir a ideia de que “o Psicólogo não é gente, é estado de espírito” (afirmação roubada da Internet, de autor desconhecido)…
Os Psicólogos não têm que ter a paciência de um Santo, nem aspirar à perfeição de um Anjo… Em suma, os Psicólogos também são gente…
Em forma de anedota, e em tom jocoso, o resumo da vida profissional de um Psicólogo talvez possa ser ilustrado desta forma:
– Quantos Psicólogos são necessários para mudar uma lâmpada?
– Apenas um, mas a lâmpada tem que querer mudar…
Nas escolas, há, frequentemente, “lâmpadas que não querem mudar”…
Agora, um pouco mais a sério e em jeito de “paleio” de Psicólogo:
– Não nos esqueçamos que o Humor beneficia a Saúde Mental, na medida em que nos permite lidar melhor com experiências negativas e até com situações de vida eventualmente traumáticas…
Sejam Alunos, Professores ou Psicólogos, rir faz bem à Saúde Mental, assim como ter a capacidade de gracejar com a própria “desgraça”…
(Evidentemente que também estou a antecipar a minha defesa, antes que me caia em cima o “Carmo e a Trindade”)…
À luz do que acontece com muitos dos que passam a maior parte do seu dia nas escolas, neste momento, haverá também, nesse contexto, muitos Psicólogos à beira da exaustão, sobretudo pelas inúmeras solicitações que lhes são endereçadas…
Como pano de fundo de tudo o anterior, temos uma Tutela que, de forma reiterada, não encara a realidade, que a nega ou que a tenta mascarar ostensivamente…
Uma Tutela que teima em passar a mensagem enganadora de que nas escolas tudo está bem e que tudo funciona sem perturbações, nunca se preocupará com a melhoria das condições aí existentes…
Uma Tutela que ignora o estado real em que se encontram os Alunos e as suas aprendizagens e que despreza os aspectos motivacionais que impedem o apaziguamento dos profissionais de Educação, nunca contribuirá para o sucesso e para o bem-estar de uns e de outros, nem para a satisfação de determinadas pretensões…
A actual Tutela parece uma lâmpada fundida, estragada, que não emite qualquer luz, enroscada num casquilho carcomido, que ninguém consegue mudar sem partir…
E uma lâmpada que não emite luz não serve para nada…
Paradoxalmente, a própria Tutela constitui-se como o principal foco de insanáveis disfunções, plausivelmente assentes em crenças incompatíveis com a realidade e em percepções alteradas da realidade, que dificultam a produtividade no ambiente de trabalho e que contribuem fortemente para o aumento do stress diário em contexto escolar…
“É difícil imaginar uma maneira mais perigosa de tomar decisões do que deixá-las nas mãos de pessoas que não pagam o preço por estarem erradas.” (Thomas Sowell)…
Decisões erradas e péssimos exemplos institucionais há em catadupa, quem paga por tais desvarios?
Como estamos em Portugal, aquele país onde é praticamente impossível que algum Governante se responsabilize, ou seja responsabilizado, pelos actos que pratica, e em particular pelos erros cometidos, adivinha-se a resposta à pergunta anterior:
– Como não existirão culpados, a insensatez poderá continuar…
– Outros sofrerão as consequências da insensatez alheia, todos os dias, em cada escola…
A Escola não é isto. A Escola não pode ser isto.
(Paula Dias)
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