O Ministro da Educação acha que esta onda de protestos se deve a um plano de um qualquer sindicato e que os professores são mentecaptos incapazes de perceber o que se passa no terreno. Pela primeira vez desde há muito tempo, vejo um movimento real, com professores reais (aqueles que trabalham mesmo com alunos), cansados de esperar por uma mudança que nunca chega. Assistimos durante os últimos 15 anos a uma degradação sem precedentes da escola pública de onde muitos saíram desiludidos.
Como o Ministro não valoriza as palavras dos professores, talvez os números seguintes clarifiquem o que se passa no terreno e sirvam para entender o abismo que temos pela frente. Estes números deviam estar bem presentes na mente de quem coordena os desígnios da Educação em Portugal.
Analisando as listas de professores por colocar, percebemos que as 13171 candidaturas correspondem a 9533 professores disponíveis. Desses, perto de 9100 estão distribuídos pelos grupos 100, 110, 260 e 620. Sobram perto de 400 professores para os restantes 30 grupos.
Olhando para estes professores por colocar e cruzando esses dados com o n.º de ordem do último colocado num horário completo, temos uma ideia bastante precisa do número real de professores disponíveis para cada QZP.
A conclusão é óbvia; não há professores! A região de Lisboa não tem professores disponíveis em praticamente nenhum grupo de recrutamento! E falo só de horários completos… para incompletos a coisa é ainda pior.
Nesta região, se eliminarmos da equação os grupos de Educação Pré-Escolar e Educação Física (100, 260 e 620), percebemos sobram cerca de 100 professores para mais de 30 grupos de recrutamento. Imagino a ginástica feita para preencher os horários que vão aparecendo.
Mas se o panorama é negro nessas zonas, o cenário não é muito melhor no restante país: na maioria dos grupos há meia dúzia de professores e até no QZP 1 há grupos onde não existe nenhum professor.
No quadro apresento os números dos QZP’s 1, 7 e 10, mas se clicarem na imagem terão acesso a um PDF com os números de todas as zonas.
E os pais/EE aceitam tranquilamente esta situação? Não seria a altura da CONFAP mostrar que se preocupa com o estado a que isto chegou? Os milhares de alunos sem professor não são uma preocupação destes dirigentes?
Esta situação verdadeiramente dramática não se pode separar das condições de trabalho dos professores: precariedade, fracos vencimentos, quotas na avaliação, vagas de acesso, falta de respeito, burocracia,… tenho amigos professores que abandonaram a profissão (alguns eram do quadro). Tenho a certeza que NENHUM deles pensa regressar!
A mudança necessária é gigantesca: inverter este cenário implica mostrar à sociedade que os professores são reconhecidos, valorizados e respeitados… com ações concretas e sem palmadinhas nas costas.
Estará o ministro João Costa preparado para este desafio?