22 de Outubro de 2023 archive

O OE para a Educação num minuto

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Fatalmente, excluiu-se da agenda os temas escolares incómodos

 

Fatalmente, excluiu-se da agenda os temas escolares incómodos

Na longa luta dos professores contra a sua proletarização, lembrei-me muitas vezes do aforismo de Ludwig Wittgenstein: “as relações humanas seriam muito diferentes se fosse transparente a relação entre dor e linguagem, se sentíssemos a dor do outro ao ouvi-lo enunciando a palavra dor”. Se assim fosse, se governantes e deputados sentissem as dores dos professores, talvez a profissão não estivesse tão proscrita e a queda do laboratório da democracia – a escola pública – não se relacionasse tanto com o aumento brutal das desigualdades educativas e com a radicalização de eleitores.

Aliás, ponha-se a seguinte questão a quem prescreve sobre salas de aula, professores ou escolas:

– Quando é que leccionou a última vez nesse grau de ensino? Se foi há mais de cinco ou seis anos, inscreva desactualização; se nunca o fez, pior ainda.

A propósito, coloque-se a mesma questão a quem está há um ano na mesa de negociações sem qualquer acordo ou avanço significativo; e acrescente-se, enviando-a também ao Parlamento:

– Qual é concretamente a agenda, para além do desespero com a falta de professores após anos a fio de negação?

É que a falta estrutural de professores não se resume à justíssima e viável recuperação do tempo de serviço. Esse afunilamento, revestido por uma sobre-dosagem mediática de falácias, interessa ao Governo e ao marketing político. Tenta virar a opinião pública contra os materialistas professores, permite que o Parlamento fuja a temas incómodos e disfarça a incapacidade do Ministério da Educação em simular futuros encargos financeiros.

O grande problema dos tacticismos na política real, é a própria realidade. O clima escolar caiu num estado tal, que a desorientação tornou incómoda a sua comprovada, e há muito documentada, falta de democracia. O estado de negação tem, como o da falta de professores, mais de uma década. O ambiente escolar radicalizou-se. É indisfarçável. Misturou-se a herança da União Nacional – até com sedes de agrupamento que tratam como colónias as restantes escolas – com os excessos do “processo revolucionário em curso”, como concluiu a OCDE: “a indisciplina coloca Portugal no primeiro lugar do tempo perdido para começar uma aula.”

Mas só se mediatizou a fuga a ser professor, porque estes explodiram em Novembro de 2022. A detonação deveu-se à ideia dos concursos nas escolas, com primazia para a farsa que os avalia. O grito de indignação arrastou os seus intermediários, os sindicatos, que progressivamente também afunilaram a agenda. É surreal o argumento de que professores são bem e devidamente avaliados e que o problema é a percentagem das quotas para tanta excelência. Desconhece-se se esta aberração resultou de outro acordo falhado de bastidores, e corrigir com a agenda das condições de trabalho é, concretamente, um conjunto vazio.

O estado pantanoso da mesa de negociações confere uma responsabilidade histórica aos grupos parlamentares do centro-esquerda e do centro-direita. Acima de tudo, recorde-se que a proletarizarão dos professores se efectivou (2006) em quatro eixos integrados: carreira, avaliação, burocracia e gestão. Dezassete anos decorridos, apenas na carreira houve uma mudança: caiu uma categoria – de professor titular – imposta pelo centro-esquerda, mas o centro-direita substitui-a por outra tragédia: vagas baseadas em quotas.

O clima escolar adoeceu e provocou, por mágoa, cansaço e revolta contida, a “desistência” de milhares de professores em funções e de milhares de qualificados que experimentaram. Note-se que os segundos foram alvo da avaliação com efeitos em concursos durante o congelamento (2011 a 2017), noutra perversidade acordada na mesa de negociações.

Mas também desistirão os que vão entrar numa selva de clientelismo e caudilhismo, e rotulados pela apressada e desorientada impreparação científica e pedagógica. Sublinhe-se que é mais um legado indecente da geração que governa, que concretiza o pecado original: a proletarização.

Em suma, ignorou-se, com hostilidade e arrogância, um estatuto social continuamente humilhado. Descongelou-se, e bem, as carreiras, mas também se accionou uma engrenagem diabólica que tritura a dignidade profissional. A inércia destes oito anos é historicamente inaceitável. Os míseros aceleradores – a hiper-burocracia digital é o único eixo que acelera, mas em sentido contrário -, e os novos índices remuneratórios e vinculações, escondem o essencial neste domínio: dos 130 mil professores da escola pública, já serão apenas 70 mil nos quadros de escolas ou agrupamentos. 

Reconheça-se humildemente os erros. O mundo mudou e é imperativo reconstruir a democracia na escola. Use-se o verbo reconstruir para o que é público e comum. Elimine-se a conjugação exclusiva dos verbos vigiar e fiscalizar. Não se receie as soluções democráticas com pesos e contrapesos. É inadmissível que o legado para um futuro tão incerto inclua a repressão da liberdade de ensinar e aprender e da autonomia dos professores de cada escola.

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O meu domingo incluiu violência escolar…. LSBraga

 

Quando um colega de outra escola nos telefona para contar que tem uma turma com alunos vários, maiores de idade, em que é ameaçado em muitas aulas e o mandam para o carxxho e que em “é filho da pxxa” …..

E que, há uns dias, um deles avançou para ele para bater e que só não aconteceu porque o docente era maior que o aluno….e uma AO veio socorrer.

E que nas outras aulas já toda a gente desistiu e que ele não consegue dar aulas, porque os alunos saem e entram quando querem e ninguém faz nada e as participações são ignoradas…..

O que se faz? Ouve-se é é-se solidário, certo?

Aconselha-se o que fazer, com base na experiência de quem já esteve ali.

O sítio solitário é triste de quem é agredido por gente que devia querer aprender, mas usa a escola para fazer dos professores alvo…

Porque em muitos sítios quem devia garantir a ordem interna quer apagar rastos.

E a única coisa que vale é a escola segura, mas há professores com medo de se queixar, porque são incomodados pela escola e pelos agressores.

Grave o que estou a dizer? Tenho consciência.

Mas nem seria difícil de provar se não houvesse tanto medo de falar.

No dia em que for apresentar a petição contra a violência no Parlamento gostava de ter histórias destas para contar aos deputados e picar o debate.

Esta de hoje vai ser uma delas.

Quem me puder contar mais, garanto anonimato.

Nem torturado identificarei quem não o quiser. Embora ache que os que são ou foram vítimas destas coisas deviam dar a cara.

E alguns diretores deviam ser pressionados e responsabilizados pela forma como gerem e até promovem por abstenção a apatia face à indisciplina.

Sabem que há sítios onde as participações disciplinares têm de ser aprovadas “superiormente”, antes de ser escritas, e não podem ir para as plataformas, para não sairem do circuito controlado das estatísticas marteladas.?

Isto não pode ser só ganhar o suplemento. É preciso agir.

No caso dos professores insultados ou agredidos deve ser sempre queixa para a polícia, mesmo que a escola queira varrer para debaixo do tapete.

Mesmo os menores de idade podem ser punidos (Lei tutelar educativa).

Deixar andar é que não pode ser.

A experiência de contacto com o sistema Prisional e 6 anos no MAI dizem-me que se a escola falha a “queda no sistema punitivo” é inevitável.

Parafraseando Vitor Hugo:

quem deixa andar na escola, abre a porta da prisão.

 

Luís Sottomaior Braga

 

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Professores consideram salários baixos e não recomendariam profissão a jovens

A quase totalidade dos professores e educadores considera o seu salário baixo e 84% não aconselhariam os jovens a seguir a carreira docente, revela um inquérito nacional realizado pela Federação Nacional de Educação (FNE).

Professores consideram salários baixos e não recomendariam profissão a jovens

Estes são alguns dos resultados preliminares da consulta nacional ‘online’ levada a cabo pela FNE, entre 13 e 20 de outubro, à qual responderam 2.138 educadores de infância e professores dos ensinos básico e secundário de todo o país.

“Como primeira análise, podemos avançar que as respostas a este inquérito revelaram um fortíssimo descontentamento em relação à remuneração”, sublinha a FNE, revelando que 97,1% dos inquiridos consideram que a sua remuneração não está ao nível das qualificações que são exigidas para o exercício profissional.

Nota-se um ligeiro aumento do descontentamento, quando se compara com os resultados da consulta realizada em 2022 pela FNE, em que 96,7% dos professores e educadores admitiram estar descontentes com o salário.

Questionados quanto às expectativas de carreira, 94% consideram que são “pouco” ou “nada atrativas”: “No ano passado, 56,5% diziam que eram dececionantes e 39,7% que eram pouco atrativas”, refere a FNE.

Numa altura em que as escolas continuam à procura de professores – a Fenprof apontava para 50 mil alunos sem todos os docentes atribuídos um mês após o início das aulas – a tutela tem levado a cabo várias iniciativas para atrair mais jovens para a profissão, mas parecem ser insuficientes na perspetiva de quem já está a dar aulas.

A grande maioria dos educadores e professores que respondeu ao inquérito (84,1%) não aconselharia um jovem a ser professor, sendo que a percentagem desceu ligeiramente em relação ao ano passado (menos 2,3 pontes percentuais).

A consulta revela ainda que mais de oito em cada dez educadores e professores (82,9) sente que o reconhecimento social pela profissão docente é negativo.

“Os respondentes desta consulta deixaram ainda de novo o alerta de reprovação relativamente às políticas deste governo, sendo muito críticos em relação às opções do atual governo em matéria educativa, sendo que 91,9% afirma que são insuficientes e muito insuficientes”, afirma a FNE.

O inquérito abordou outras questões, como por exemplo, a utilização dos telemóveis pelos alunos na sala de aula, com dois em cada três a concordar com o seu uso (67,9% contra 32,1% que discordam).

Sobre o arranque do ano letivo, os professores apontaram como principais preocupações o excesso de trabalho, a excessiva carga burocrática e o excesso de trabalho administrativo.

A maioria dos professores e educadores também deu nota negativa às medidas anunciadas pela tutela para simplificar as tarefas dos professores.

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E uma escola para pais? Francisco Pedro

Há pais com aplicações no telemóvel para controlar a posição dos filhos na escola

E uma escola para pais? 

Ainda não estamos na época do Natal, mas quando lá chegarmos já sabemos que vão chover as periódicas mensagens de apelo à solidariedade, aos valores morais, à doação de bens aos mais necessitados. Vão surgir as habituais denúncias de excesso de consumismo e as chamadas de atenção para “as criancinhas que passam fome em África” – este ano, provavelmente, com nuances também para as vítimas das novas guerras mais mediáticas, como as da Ucrânia e da Faixa de Gaza.

Será que todos aceitamos isto como normal? Será que quem tem a responsabilidade de educar se sente bem a transmitir e a alimentar esta aparente normalidade, onde os valores solidários, de cidadania e de respeito parecem ganhar importância apenas em determinada época do ano?

Ou será que o mais importante, antes de ajudar a cimentar estes valores, é equipar as crianças com telemóveis topo de gama, com computadores dotados de potentes placas gráficas para um melhor desempenho nos jogos virtuais; é colocá-las a praticar uma modalidade desportiva, com o válido argumento de que lhe faz bem o exercício físico, mas com o secreto desejo de as verem (e pressionarem) a despontar como um futuro Rolnado, Messi, Nadal ou Federer?

Os testemunhos que vos trazemos esta semana, em dois trabalhos distintos, levam a crer que é a segunda hipótese a prevalecer.

Num dos casos, ficámos a saber que há pais com aplicações no telemóvel para controlar a posição dos filhos na escola, chegando mesmo a questionar a direcção do estabelecimento o porquê do aluno estar sempre ao fundo do recreio.

Noutro, constatámos a existência de conflitos entre encarregados de educação e treinadores de futebol, apenas porque os pais entendiam que deviam ser os seus filhos a envergar a camisola com o número 10, um número associado aos craques, líderes e talentosos jogadores da bola.

Perante estes sinais dos tempos, não seria urgente pensar-se também na criação de uma escola para pais?

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