25 de Maio de 2022 archive

Portugal está entre os “Rolls-Royce” da educação mundial

A especialista em currículos escolares Amapola Alama, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), comparou esta quarta-feira Portugal a um Rolls-Royce pela qualidade do seu sistema educativo, incluindo-o entre os 40 melhores do mundo.

Portugal está entre os “Rolls-Royce” da educação mundial

As declarações da directora da Unidade de Assistência Técnica aos Estados-membros da UNESCO no Bureau Internacional da Educação foram proferidas no 2.º Encontro Nacional de Autonomia e Flexibilidade Curricular, que a Direcção-Geral de Educação tem a decorrer desde terça-feira no centro de congressos Europarque, em Santa Maria da Feira, e que esta manhã reuniu cerca de 800 participantes nesse auditório do distrito de Aveiro.

Acumulando mais de 30 anos de experiência no apoio a países em processos de reforma educativa, sempre com o objectivo de melhorar a qualidade e relevância dos respectivos currículos, Amapola Alama fez a comparação entre o sistema português e o automóvel de luxo ainda antes de ouvir a síntese do ministro português da Educação sobre a transformação curricular em curso desde 2015 nas escolas nacionais e os modelos de monitorização implementados para avaliar as respectivas mudanças.

“Vocês são o Rolls-Royce dos sistemas de educação. Estão entre os 40 países de topo no mundo da educação”, disse a especialista à plateia, constituída sobretudo por directores de agrupamentos escolares e centros de formação, representantes dos organismos da tutela e outros profissionais e agentes do sector.

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/05/portugal-esta-entre-os-rolls-royce-da-educacao-mundial/

Fidalguia sem comedoria é gaita que não assobia

O mínimo que se deveria fazer seria atualizar para valores mais coincidentes com a realidade atual, mesmo que ainda não considerando a inflação imposta pela guerra no Leste europeu.

Fidalguia sem comedoria é gaita que não assobia

A Comissão Europeia, no “Relatório do Pacote de Primavera do Semestre Europeu”, alertou: a pequena diferença entre o valor do salário médio e o valor do salário mínimo poderá desencorajar os portugueses a investirem na educação. E sublinhou, ainda, que “embora os recentes aumentos do salário mínimo possam reduzir a pobreza daqueles que trabalham, também podem desencorajar os indivíduos a investirem na sua educação, devido à pequena diferença relativa entre os salários dos pouco e dos altamente qualificados”.

 

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/05/fidalguia-sem-comedoria-e-gaita-que-nao-assobia/

A Escola Resolve – Carlos Santos

Na nossa sociedade a responsabilidade está defunta. Todos acham que os problemas sociais podem e devem ser resolvidos pelas escolas. Menino bate no pai, a escola resolve com acompanhamento psicológico; meninos batem insistentemente nos colegas, a culpa não é dos pais que moram debaixo do mesmo teto e são um mau exemplo ou nem repararam estar a criar uma pestinha mesmo ali ao lado, fechado no quarto, horas intermináveis atrás de um televisor, de um telemóvel ou de uma consola de jogos violentos, porque a responsabilidade nunca é deles, é do Diretor de Turma que não viu o que estava a acontecer mesmo debaixo do seu nariz, ali ao lado no recreio ou fora dos portões da escola; pais não prestam atenção aos filhos nem os educam, mais Cidadania nas escolas; o PIB desce porque o país está cheio de corruptos que enchem os noticiários com processos judiciais que no fim não dão em nada porque, no fim do dia ficam todos em liberdade ou fogem com o saque, mete-se mais educação financeira e a escola resolve; os acidentes nas estradas aumentam e os carros dos ministros ultrapassam largamente os limites de velocidade e matam pessoas, mais educação rodoviária; pai bate na mãe e nos filhos, maridos matam as suas mulheres, mais educação de igualdade de género; as florestas ardem devido a interesses dos madeireiros e às lixeiras a céu aberto de um povo incivilizado, mais educação ambiental; não chove, mais pressão sobre Religião e Moral para se fazerem rezas da chuva; jovem viola colega, padre viola criança, homem viola idosa, pastor viola ovelha, mais educação sexual; cai uma ponte, há uma inundação na baixa, um tremor de terra nas ilhas, tráfico de droga no algarve, fuga aos impostos ou há falta de água, não há problema, a escola resolve. Para todos os males sociais, a escola tem sempre de ter uma resposta.
Os professores vão onde ninguém quer ir, estão com quem ninguém quer estar, ouvem o que ninguém se deu ao trabalho de escutar e têm de resolver o que ninguém na sociedade conseguiu ou quis solucionar.
Muitos pais são negligentes na educação dos filhos, os políticos incompetentes na legislação impraticável que criam e a população irresponsável por falta de cumprimento cívico, moral e ético, mas culpam os professores pelos males que criam e não sabem resolver.
No meio de todo este laxismo e irresponsabilidade coletiva, os miúdos não rendem nas escolas e os resultados são fracos. Então, culpam-se os professores que não sabem ensinar. A solução é baixarem o grau de exigência e lá se vai nivelando por baixo ano após ano, os alunos passam todos, as escolas respiram de alívio, o ministério vangloria-se que os resultados escolares são bons, os pais ficam satisfeitos e a população vai ficando mais ignorante e, qualquer dia, para ter um diploma só é preciso preencher os exigentes requisitos de terem conseguido sentar o traseiro numa cadeira e levado uma caneta numa mão e um telemóvel na outra. Para quê complicar?! Nos últimos anos tem sido assim e tem dado excelentes resultados! Os chatos dos professores é que complicam! Se os professores não sabem como passar os alunos, então que tirem mais formação e se sujeitem ainda a mais avaliações. Que se lhes dê mais mais burocracia para terem como justificar a petulância de, sequer, pensarem em reprovar um aluno e que lhes caia a inspeção em cima caso não tenham preenchido um dos 33 documentos que fariam com que o rebento conseguisse passar de ano. Estes professores são uma praga que exigem demais dos miúdos. Passando-os (independentemente do que aprendam), eles ficam contentes e toda a gente fica feliz. Porque, quem é dono disto tudo e manda em tudo isto, no fundo do seu enorme coração, só quer uma população educada, bem informada e capaz de ter uma atitude crítica e de pensar pela própria cabeça, nada mais.
E quanto aos professores, quando se tornam incómodos, faz-se uma legislação apropriada e eles, supostamente letrados e dificilmente manipuláveis, facilmente se viram uns contra os outros e ficam por mais uns tempos entretidos a tentar salvar a própria pele. O truque é precisamente esse – mantê-los ocupados, distraídos com inutilidades e encherem-nos de preocupações para não importunarem. Absorvidos num trabalho cada vez mais reduzido ao inútil preenchimento de papeladas, mais burocracia, constantes mudanças no sistema, mais responsabilidades, mais reuniões inúteis, menos estabilidade, ordenados progressivamente mais baixos (relativamente à subida do custo de vida), mais horas de trabalho, menos benefícios, uma aposentação mais longínqua e uma reforma cada vez mais miserável, acaba por não sobrar tempo para pensarem e olharem em redor para se aperceberem como têm sido prejudicados (ia dizer “lixados”, mas não fica bem a um professor, só aos pais à porta das escolas que partilham com todos, incluindo as crianças, o mais belo do vernáculo da língua de Camões… isto quando não estão a cuspir e a deitar papeis para o chão ou a estacionar em cima dos passeios).
A informação artificial, que é distribuída gratuitamente por todos em toda a parte como se fosse fast-food, é absorvida avidamente por toda a sociedade dando-lhes a satisfação pelo facilitismo, porque é um descanso haver alguém que pensa por nós. Assim se mantém toda a gente feliz e sem problemas, pois a escola resolve!

Carlos Santos

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/05/a-escola-resolve-carlos-santos/

A uma só voz… – Carlos Santos

Perante o estado de desânimo total em que se encontram os profissionais de educação, o que faz o ministério que os tutela?
Nada que para o ministério não fosse considerado natural.
Tempos houve em que a palavra “natural” tinha um significado cómodo para uns e doloroso para outros. A escravatura era tão natural para os esclavagistas, como um tormento para os escravos, mas não foi pela injustiça sentida pelos segundos que os primeiros a deixaram de impor. Numa época em que sempre que surgia um escravo a protestar, ou achassem que um trabalhador agrilhoado não rendia o pretendido, amarravam-no a um poste e chicoteavam-no obrigando todos os outros a assistirem para dissuadir mais rebeliões, torná-los ainda mais submissos propiciando o aumento da produtividade. Fizeram-no até ao dia em que os escravos tomaram pelas suas próprias mãos e a uma só voz a sua liberdade.
Ora, de uma forma diferente, mas de metodologia semelhante, sem que o admita abertamente, este executivo pretende maltratar professores que estão doentes, pondo-os a trabalhar em sofrimento longe da sua residência indo contra as recomendações médicas, lançando suspeitas de carácter e honestidade sobre todos, desmoralizando de forma exemplar toda uma classe que já foi tão humilhada. Um ato que serve de aviso a todos os outros.
Não satisfeito com tanto de mal que tem dito e feito em tão pouco tempo, o ministro João Costa, hábil nas palavras expeliu a observação cínica “Os professores foram formados para dar aulas só a bons alunos”, passando mais um atestado de incompetência à classe docente, conotando-a de impreparada e, sobretudo, de preguiçosa.
Esta continua a ser a política preferida, a nauseante política do medo, tão arraigada que está num país com uma longa história de autoritarismo.
Em vez de motivarem os professores para melhorarem o desempenho, continuam com uma certa afeição por denegrir publicamente a sua imagem, a desvalorizar o imenso trabalho que efetuam e a passar a mensagem exemplar de que são uns incapazes e de confiança duvidosa, para os tentar quebrar através do ataque vil à sua já baixa autoestima, para silenciá-los e torná-los mais submissos e resignados.
Longe do vergonhoso período da escravatura, os atos e as palavras na boca do MEC têm funcionado como um chicote no ânimo e na vida dos professores.
Mas só o irão fazer até onde e quando os docentes deixarem; até ao dia em que os professores compreenderem ser absolutamente necessário tomarem pelas suas próprias mãos a liberdade dos seus próprios destinos, lutando a uma só voz pela sua dignidade.
Carlos Santos

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/05/a-uma-so-voz-carlos-santos/

Morreu um colega do 1° ciclo da Abelheira (Viana do Castelo), escola do Calvário – Luis Caçador

Hoje foi a enterrar um professor do meu agrupamento. 

Muitas flores e a tristeza profunda de uma comunidade. Eu coloco aqui esta, que arranquei de uma trepadeira na rua.
A flor da paixão, do maracujá.
Num destes dias iremos fazer uma homenagem ao nosso colega, Filipe Caçador, com os alunos e família na escola do Calvário onde exerceu a paixão de ensinar.
Pouco mais novo que eu, a vida falhou-lhe e vai faltar-nos a nós. Não era próximo. Trabalhava no 1º ciclo e era mais novo, mas estivemos há anos juntos nesse projeto bonito que é o TEIP de Darque. Muito elogiado pelo seu trabalho por alunos, pais e colegas.
O funeral teve o conforto de alma que tem para os professores os enterros de professores. Alunos e alunas a lembrar o seu professor, que vai viver um pouco enquanto houver um aluno que se lembre. Podemos ser uma profissão cheia de problemas mas os miúdos de 6 anos que começaram a ler com alguém vão ter memória disso, se viverem ainda no século XXII.
Os políticos medíocres vão ser esquecidos, mas a memória do prazo longo da vida é nossa. E creio que vai ser do Filipe em muitas vidas dos seus alunos.

texto de Luis Sottomaior Braga

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/05/morreu-um-colega-do-1-ciclo-de-darque-viana-do-castelo-escola-do-calvario-luis-cacador/

O pensamento deplorável do ministro da Educação – Santana Castilho

A entrevista que João Costa deu ao Expresso da passada semana é um desfile de imprecisões, manipulações e falsidades. É um apontar de dedo a outrem, como se ele não fosse corresponsável pelos danos que a Educação sofreu nos últimos seis anos.
Perguntado sobre se o ministério não teria acordado tarde para o problema da falta de professores, João Costa respondeu que “esta equipa chegou e começou a tomar medidas, como permitir completar horários…”. Ora “esta equipa” é ele e outro, que promoveram as iniciativas trapalhonas, transbordantes de ilegalidades, que abordei no meu último artigo, para ultrapassar as maldades perpetradas pelas duas equipas anteriores … de que ele foi parte integrante. Querem maior cinismo e manipulação? E logo a seguir gabou-se de ter feito “um recenseamento do problema”. Como assim? Se há coisa que não falta são recenseamentos sucessivos, feitos por muitos, há anos e em areópagos diversos.
Mais à frente, confrontaram-no com a ideia de que a docência é pouco valorizada e perguntaram-lhe como se recupera o prestígio perdido. Não respondeu e optou, hipocritamente, por contribuir ainda mais para a degradação em análise, dizendo que “a formação [dos professores] tem de ser reconfigurada” porque “foram formados para serem professores de bons alunos”. E para que ficasse bem explícita a enormidade da acusação que acabava de fazer, complementou-a assim: “Era como formar médicos para verem só pessoas saudáveis”.
Naturalmente que a remuneração dos professores foi abordada. E o que é que está implícito na resposta e na metáfora (“… a carreira esteve parada muitos anos e só descongelou em 2018…”) que o ministro usou para referir o roubo do tempo de serviço com que foi conivente? Que um salário de 1000 euros no início da carreira ou de 1400 a meio não são maus, quiçá mais do que merecem professores impreparados para lidar com os problemas sociais das escolas e dos alunos, impreparação que levianamente lhes atribuiu no decurso da entrevista.
Surpreenderam-me estes nacos de pensamento do ministro? Não, porque já recentemente, na Sala do Senado, na sessão nacional do Ensino Básico do Parlamento Jovem, se havia referido a uma escola como espaço de silêncio e a um ensino que visa formar “enciclopédias com pernas”. Como se tais clichés pudessem caracterizar a escola e o trabalho dos professores que, em má hora, passou a tutelar. Como se a sua missão fosse vilipendiar professores diante de uma assembleia de alunos. Simplesmente sórdida tal intervenção!
E não ainda porque, numa abordagem meramente administrativa, igualmente recente, relativa à revisão do regime de mobilidade dos professores doentes, o Ministério da Educação propôs um sistema por quotas e quis que a graduação profissional fosse critério de desempate. Na prática, queria isto dizer que as doenças passariam a ter a gravidade indexada ao tempo de serviço. Eu sei que foram apenas propostas e que já foram abandonadas. Mas foram feitas e por isso ficaram sujeitas à crítica pública. Sobretudo porque indiciaram uma pulsão por comportamentos humanamente inaceitáveis e eticamente relevantes, de quem quer chegar a fins sem olhar a meios.

Em resumo, umas vezes em modo explícito, outras em registo cínico, este homem não se tem poupado a esforços para cavar um fosso entre os interesses dos alunos e os interesses dos professores. Mas é em defesa dos primeiros, apenas divergentes dos interesses dos professores na escola anticonhecimento científico, beata e patética que criou, que se prepara para desregular, ainda mais, a vida dos segundos.
Com despudor, difundiu a “verdade” que melhor desculpa as suas responsabilidades anteriores e melhor serve os seus interesses futuros. Com arrogância, escolheu começar funções ofendendo os professores.
Quantas voltas já terá Baden-Powell dado no túmulo, ante um seguidor deste calibre?

In “Público” de 25.5.22

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/05/o-pensamento-deploravel-do-ministro-da-educacao-santana-castilho/

WP2Social Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
Seguir

Recebe os novos artigos no teu email

Junta-te a outros seguidores: