29 de Maio de 2022 archive

João Costa Desmontado – Parte 5

Rectificações – O Meu Quintal

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7% os professores em mobilidade por doença

 

São cerca de 7% os professores em mobilidade por doença. Ou seja, estimam os líderes da Federação Nacional de Professores (Fenprof) e da Federação Nacional da Educação (FNE) com base na informação divulgada nas reuniões no Ministério da Educação, são “cerca de oito mil docentes”. Há agrupamentos com mais de cem docentes com destacamento. A maior concentração encontra-se em escolas dos distritos de Braga, Viseu, Vila Real e Bragança.

“Se o ministério desconfia de casos fraudulentos, reforce as juntas médicas nestes quatro distritos”, insiste Mário Nogueira. Para o líder da Fenprof, se o Governo não ceder em algumas das propostas, as baixas médicas podem aumentar porque os casos mais graves serão os que não podem aceitar as novas regras, garante.

Recorde-se que na proposta entregue às organizações o Governo defende que todos estes docentes, em mobilidade, tenham no mínimo seis horas letivas por semana. E que o requerimento só possa ser feito se os docentes estiverem colocados a mais de 25 quilómetros da sede do agrupamento e sujeito às quotas por agrupamento, cujo sistema também será criado.

 

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E quem avalia o desempenho dos pais?

Naturalmente, sem generalizar, os pais e encarregados de educação são uns seres perfeitos, que sabem tudo e são melhores do que todos os professores (os quais têm imensos defeitos), mas que, por algum motivo, não sabem educar a sua prole (embora a maioria não o reconheça).
A coisa até estava a ir muito bem, seguindo o plano divino com o principezinho, até aparecer a escola e os professores para estragarem tudo.
Mas já que os pais gostam tanto de avaliar a prestação dos professores, vamos lá, então, falar sobre Avaliação de desempenho (não dos professores que passam a vida a serem avaliados, inclusivamente pelos pais). O que urge questionar é quem avalia o desempenho dos pais.
Na meninice dos nossos pais, estudar era inacessível. No nosso tempo estudávamos, ajudávamos os nossos pais e, passar o ano e tirar boas notas, era uma obrigação nossa. Na geração dos pais dos nossos alunos, os seus pais prometiam-lhes uma prenda se passassem o ano ou tirassem boas notas. Atualmente, a coisa deu uma reviravolta e são os meninos a impor as regras aos pais. Então estes dão-lhes adiantado os tabletes, os smartphone ou as consolas de jogos antes da chegada do velhote de barbas brancas, da Páscoa e do final do ano, se os meninos prometerem estudar e tirar notas decentes. E este comportamento invertido passou a fazer parte do relacionamento de pais que já têm dificuldades em relacionarem-se com os filhos de uma outra forma que não seja aceitarem a chantagem mercantilista dos rebentos. Uma inversão de papéis em que o adulto se submete à chantagem da criança que é quem manda e manipula.

Os encarregados de educação (expressão ainda incompreensível por quem tutela a educação dos filhos) não se apercebem de que a obediência e o respeito mútuos, mas sobretudo da criança para com os adultos, conquista-se com diálogo para que estas compreendam a razão das atitudes. A falta de diálogo é a principal fonte da disfuncionalidade familiar que acaba por desembocar na escola com o aparecimento de cada vez mais crianças mal-educadas e indisciplinadas que não sabem respeitar regras, adultos e colegas.
Um estudo recente que revelou que as crianças passam, em média, mais de 3 horas e meia por dia em frente de ecrãs – a maior parte delas sem nenhum acompanhamento o controlo por parte de um adulto por perto – só vem comprovar que grande parte delas estão abandonadas dentro das próprias casas com as famílias perto, mas longe do olhar.

Então, naturalmente, vão surgindo palavras malditas. “NÃO” é a palavra que a maioria das nossas crianças não estão habituadas a ouvir. Mas, embora seja uma palavra que não estejam acostumadas a escutar, as crianças usam-na com frequência numa relação invertida que estabelecem com os pais, na qual vestem a pele do adulto, sendo elas quem manda e encerra qualquer conversa ou pedido dos pais sentenciando com o terminante argumento “não”. Sem se darem conta, demitindo-se das suas obrigações parentais, vários pais estão a criar pequenos tiranos.

Daí o embate que sofrem quando chegam à escola e começam a escutar os primeiros “Nãos”. Sentem uma enorme frustração quando, pela primeira vez sentem que nem tudo é feito segundo a sua vontade pois, muitas delas não têm o hábito de serem contrariadas. Os pais nunca quiseram contrariar os filhos para não criarem neles o sentimento de frustração. “Frustração” essa outra palavra que os pais evitam a todo o custo que chegue até aos filhotes, dando-lhes tudo o que pedem e no imediato, não os habituando ao mundo real onde a frustração fará parte da vida. Resultado: acabará por gerar mais um conflito com os professores na escola. Depois surgem miúdos com problemas comportamentais e um rol de psicólogos que não conseguem descobrir de onde vêm tantas crianças e jovens deprimidos, frustrados e revoltados. Culpa dos pais que não querem que os filhos embirrem com eles preferindo o jogo fácil de os comprar com bens materiais, não lhes dando o essencial, a educação. Crianças que aprendem que o importante é o «ter» acima do «ser» e que tudo na vida lhes irá ter às mãos de maneira fácil. Nada mais errado e nocivo.
Pais que não sabem ensinar as crianças a lidar com a frustração, a saber esperar, a ceder e a respeitar. Então, além de “gastadora”, a criança torna-se teimosa, depressiva e intolerante.
Mas sempre é mais fácil comprar os filhos com bens materiais do que gastar tempo a conversar sobre assuntos relevantes. Não há diálogo, logo não há espaço para haver educação. Os miúdos estão com o tablet ou smartphone no quarto, à mesa e até, logo de manhã, no carro onde não os largam, enquanto os pais lhes colocam a mochila às costas ou lhe apertam os atacadores.

Quantas vezes se escuta da boca de um aluno expressões tão simples como “bom dia”, “posso entrar?”, “obrigado”, com licença”, “se faz favor”, “desculpe”,…? Mas isso seria uma exigência de requinte excêntrico numa sociedade onde, impunemente, os pais vão à escola pressionar, ameaçar e agredir professores e funcionários. Se a lei caísse logo em cima com punições judiciais severas e céleres, não teríamos uma sociedade degradante onde grassa o desrespeito e a violência. Perante o número crescente destas intoleráveis situações de brutalidade, será de estranhar que os seus rebentos, pelo exemplo, também não tentem fazer o mesmo? Por algum motivo é vulgar os professores dizerem “basta vermos os filhos para imaginarmos como são os pais”.
Pais que à porta da escola deseducam pelo mau exemplo cuspindo, deitando beatas e lixo para o chão, usando linguagem imprópria, quando não estão a estacionar em locais proibidos, em segunda fila, em cima dos passeios ou de passadeiras, ou a fumarem dentro das viaturas com as crianças lá dentro, fazendo precisamente o oposto daquilo que nós, professores, ensinamos aos seus filhos na escola.
Todavia, se os pais fossem responsabilizados pelos atos dos seus filhos e obrigados a cumprir serviço comunitário na escola sempre que o filho apresentasse mau comportamento, talvez as coisas não tivessem chegado a este ponto tão degradante.

Pais que se escudam atrás da falta de tempo para educar o filho, mas que acham que os professores são obrigados a ensinar os conteúdos escolares e ainda educar mais de vinte de cada vez. Não têm tempo para educar o filho ou para ir à escola colaborar na sua educação, mas têm tempo para o futebol, reality shows e novelas e para criar grupos no WhatsApp ou Facebook para difamarem a escola e os professores.
Mas, pais que não são um bom exemplo para os filhos, quer pelas atitudes, quer pela linguagem usada, não se apercebendo da importância que têm na vida dos mais novos com carácter ainda em formação, estão a transmitir uma deficiente educação. Muitos erros cometidos a que se somam a falta de acompanhamento, criando crianças malformadas e sem figuras de referência em casa. E era tão simples, bastava educar pelo exemplo.

Contudo, não creio que todos os pais compreendam que a educação vem de casa. Que os principais responsáveis pela educação dos filhos são os pais e não a escola. Que o papel da escola é o de informar, formar, complementar e reforçar a educação que deve vir de casa, mas, principalmente, o de transmitir conhecimentos. Quem cria é a família a quem cabe assumir as responsabilidades educativas.
Lamento que, neste nosso país de fachadas, os pais não vejam a educação dos filhos como uma prioridade. Um bom carro à porta, dinheiro para a “bola”, para umas boas férias e outros devaneios, são sempre mais importantes do que o parente pobre – a educação dos filhos. Noutros países, assim que o bebé vem ao mundo, é hábito os pais abrirem uma conta onde se vai acumulando um pé-de-meia para quando, um dia mais tarde, o filho for para a universidade. Por cá falar disso é motivo de riso.
Certamente que a classe docente está convencida que não é só importante a educação dos filhos, mas também a educação dos pais, muitos deles nunca tendo saído do papel de progenitores para assumirem verdadeiramente a função de pais.

Que se deixe de andar constantemente a avaliar o desempenho dos professores e se comece a avaliar o desempenho e a responsabilidade dos pais e, certamente, não só ficará a ganhar o ensino, mas também a sociedade.

(aos excelentes pais que foram obrigados a ler o texto, as minhas mais sinceras desculpas; àqueles a quem assentou a carapuça, têm bom remédio, há bons fármacos para a azia)

Carlos Santos

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O espírito de missão dos professores não compensa

“Um dia irei acordar a meio da noite
invadid@ de profunda tristeza e,
só então irei dar-me conta do que é
estar deitad@ ao lado da solidão
a um mundo de distância de ti…”

Ainda povoa o meu pensamento aquele dia em que muitos foram torturados por aqueles que convidavam os professores a saírem da sua «zona de conforto» e emigrarem. Hoje, como sempre, prevalece a ideia de que eles têm de ter um espírito de missão e aceitar ir para escolas a dezenas ou centenas de quilómetros dos seus lares durante os anos que forem necessários à causa pública.
A todas essas pessoas da nossa sociedade que invejam uma vida de professor que consideram pouco exigente, bem paga, com muitos benefícios, que tirem o curso e se candidatem à profissão para também poderem usufruir dessas tais facilidades de que falam. Que se sujeitem a esses confortos com “a casa às costas”, com os filhos atrás ou compelidos a abandonar a família. Por algum motivo existe um reduzido número de novos candidatos à profissão, demonstrando o desinteresse das pessoas em “calçar os sapatos dos docentes”.

Muitos daqueles que tanto esquadrinham as suas vidas e os expõem a uma infinita galeria de censura, nunca se deram ao trabalho de tirar um curso e os que tiraram uma formação superior não se submetem aos sacrifícios por que têm de passar os professores. Não o fazem nem querem fazer, pois muitos são os que não aceitam ofertas de emprego longe de sua casa e, muitos outros, nem sequer emprego que não lhe interesse por ser mais rentável e cómodo ficar em casa. Não creio que seja necessário dar muito crédito às palavras de quantos criticam a classe docente, mas que a sua zona de conforto é a sua terra e, de preferência, sem necessidade de percorrer uma grande distância para ir para o trabalho, enquanto não se escandalizam com o facto de a zona de conforto dos professores se estender de norte a sul do país até às ilhas.
Todos lhes apontam o dedo, mas ninguém quer a sua profissão, nem o árduo trabalho, nem fazer sacríficos que os prejudiquem a si e às suas famílias. Nesta terra, toda a gente tem direito a uma zona de conforto que propicie o tão necessário aumento da natalidade, menos os professores.

Quanto à classe política, assim que são eleitos, são imediatamente recompensados com diversificadas ajudas de custo, de alojamento e de deslocação (já para não falar daqueles que mentem sobre o seu local de residência para extorquir numerário ao erário público). Só aos docentes lhes é exigido que tenham viatura própria para se deslocarem diariamente para poderem trabalhar ou a arrendem casa a centenas de quilómetros do seu domicílio não tendo direito a nenhum subsídio nem apoio. Mas para que a classe política possa ter a sua zona de conforto, corta-se nas verbas para a Educação.

Na realidade, o que sabem eles deste e de outros desconfortos dos profissionais da educação?
O que sabem sobre tantos sacrifícios e incómodos pelos quais têm de passar para exercerem a sua profissão?
O que sabem eles dos horários de trabalho que não têm um lugar, um dia ou hora para cumprir, pois invadem constantemente a privacidade do seu lar?
O que sabem eles de todas essas zonas de conforto reservadas aos professores que mais ninguém quer?
O que sabem eles, afinal, do que é ser professor?
Só mesmo a ignorância e o hábito da maledicência os leva a que tanto asneirem; e o insinuam porque não sabem do que falam, uma vez que não o sentem na pele.

“Ao fim do dia, ao regressar à noite àquela cela onde vou cumprindo esta pena, a este quarto, este refúgio, esta alcova, a esta jaula invisível que se transformou num leito de solidões, prova viva de vidas desconjuntadas, encontro-me desprovid@ de tudo o que mais prezo.
Nas ocasiões em que me sinto tão só que me é impossível pôr sentimentos nas palavras, deixo-me levar por esse rio de lágrimas e deixo as palavras escorregarem dos sentimentos.
Então, um dia, talvez um dia…
Um dia irei acordar a meio da noite
e não estarei sozinh@.
Não te enviarei mais mensagens ou telefonemas
nem sentirei a tua falta ou vontade de chorar.
Porque nesse dia irei acordar a meio da noite
e estarás deitad@ a meu lado
e não a um mundo de distância.”

Carlos Santos

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