22 de Maio de 2022 archive

Um Ano sem Testes. Que professor se atreveria a faze-lo?

Remover avaliações sumativas da prática instrutiva pode tornar as aulas mais interessantes, envolventes e sem stress para os alunos.

Um Ano sem Testes

Durante a primeira semana de aulas deste ano, pedi aos meus filhos que escrevessem num cartaz e terminassem a frase, “Espero que nós…” Alguém escreveu “não haver testes”. Nunca gostei de testes. Enquanto estudante, senti que não mostravam o que eu sabia, porque estava nervoso com perguntas com truques ou que interpretaria mal o que me estava a ser pedido. Então decidi, por que não, vamos tentar – um ano sem testes.

Pensei que depois de um ano de quarentena e aprendizagem híbrida, seria uma boa altura para misturar as coisas um pouco mais do que o normal. Quando disse nas minhas aulas que não lhes ia fazer testes este ano, eles legitimamente não acreditaram em mim: “Qual é o problema, Sra. Deinhammer?” Disse-lhes que as minhas expectativas eram que eles tentassem o seu melhor e se concentrassem em aprender em vez de memorizar, embalar ou fazer batota. Eu disse-lhes que queria que eles aprendessem a aprender, como ser curioso, e como questionar.

Tenho muitas formas de analisar a compreensão e o crescimento nos meus alunos — faço avaliações formativas quase todos os dias. Às vezes revejo os dados da avaliação, e às vezes não. Dependendo do que a aula necessita, uso os dados para guiar onde vamos a seguir, ou os alunos apenas usá-los-ão para ver onde estão com o conteúdo. Alguns dias usamos jogos divertidos como Gimkit, Blooket, ou Quizlet, outros dias fazemos várias atividades de despejo cerebral ou fazemos práticas de laboratório falsos, mas nunca por uma nota. Um dos métodos mais fáceis que usei, é apenas um simples questionário do Google Form com quatro a cinco perguntas relacionadas com o verdadeiro objetivo de aprendizagem.

Eles vêem instantaneamente os resultados e “pontuação”, mas eu não o registo. Temos uma discussão imediata como turma e esclarecemos quaisquer equívocos que possam ter. Podem explicar a sua linha de pensamento e como chegaram à resposta a uma pergunta específica. Ter os alunos a explicar o seu raciocínio uns aos outros é uma grande oportunidade para eles ouvirem perspetivas únicas. O que tenho observado até agora é que as crianças realmente experimentam coisas que não são classificadas se não são longas e se recebem feedback imediato. Querem saber qual é a sua posição.

A cada duas semanas, fazemos uma verificação rápida de entendimento (CFU), em qualquer lugar de 10 a 12 perguntas. Isto conta como uma “nota diária”. O CFU é criado na LMS, Schoology da nossa escola, e os alunos têm duas tentativas. A primeira tentativa é estritamente de memória, como um teste de falso. Eles vêem instantaneamente a pontuação quando completam o CFU. Se não estiverem satisfeitos com a nota, podem retomar o CFU imediatamente e usar os seus apontamentos das aulas.

Quando revejo os resultados, tenho os dados que preciso de saber quem precisa de ajuda adicional, mas isso não prejudica a nota geral. Algumas crianças estudam para os CFUs e outras não. A maioria das crianças usa ambas as tentativas, mesmo que a primeira tentativa lhes tenha marcado um 94 ou 95. Analisam criticamente cada pergunta para ver se conseguem descobrir qual delas falharam. Fazem perguntas esclarecedoras e querem discuti-la depois. Os estudantes estão a tirar muito mais disto do que eu esperava inicialmente. No passado, quando um teste era dado, eles faziam-no uma vez e seguiram em frente com as suas vidas, normalmente não pensando mais nele.

Para avaliar os laboratórios de ciências, atribuo um teste pós-laboratório a um grupo. Os alunos submetem as suas próprias respostas à Escola, mas discutem as perguntas em conjunto. Isto levou a algumas das discussões de turma mais enriquecedoras que já vivi como professora. Ouvir crianças defendendo por que sentem que uma resposta é certa ou errada é muito valioso para mim. Adoro ouvi-los tentar convencer o grupo deles, porque estão certos e apoiar o seu pensamento com provas. Também sou capaz de identificar equívocos enquanto ouço a sua opinião.

Peço regularmente feedback aos meus alunos e recebo algumas das minhas melhores ideias do processo. Faço levantamentos reflexivos no final de um período de marcação e depois de grandes projetos, fazendo perguntas como “Do que mais gostou?” “O que aprendeu?” “Como posso melhorar esta aula para os alunos do próximo ano?” No final do primeiro semestre, os meus alunos partilharam os seus pensamentos gerais sobre a aula. Eis alguns dos comentários que recebi:

“Adoro que não tenhamos testes aqui. Adoro não me sentir nervoso e preocupado por estar a perder um detalhe crítico que será pedido num teste mais tarde.”

“Quem me dera que todas as minhas aulas tivessem a política de não teste. Aprendi mais nesta disciplina este ano do que em qualquer disciplina que tive no ano passado. Acho que a liberdade de aprender ao meu ritmo é tão grande.”

“É muito divertido aprender quando não tenho de me preocupar com as boas notas e as más notas. Você é tão paciente, e eu aprecio a atmosfera descontraída desta disciplina.

É muito gratificante saber que os meus alunos não se sentem nervosos na minha aula e que simplesmente remover o fardo dos testes tornou a aprendizagem mais interessante e agradável para eles.

 

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O caminho para o desastre – Carlos Santos

Sem rodeios nem romances, vamos a factos.
Parece-me perverso o atual Ministro da Educação, João Costa, estar a encapotar as suas responsabilidades políticas relativamente à falta de professores escudando-se atrás do pressuposto de só recentemente estar a ocupar o cargo de ministro. Longe de estar inocente, o que esteve a fazer durante 7 anos como Secretário de Estado da Educação?
Quando há 4 anos, no programa Prós e Contras, de 17 de setembro de 2018, comparando com a realidade de outros países, João Costa assumia que “Nós temos um problema sério de envelhecimento do corpo docente” e nada fez para o resolver, como poderemos acreditar que o irá resolver de forma eficaz e justa nos próximos 4 anos?
A única maneira de resolver o problema passa pela valorização da profissão valorizando os seus profissionais. E isso só se faz melhorando carreiras e salários.
Mas o que é que este ministro optou por fazer? Precisamente o oposto. Como ficou logo claro, é tal a sede de a curto prazo tapar o “buraco” da falta de professores que optou por um rude ataque aos docentes. À imagem de outros antecessores de má memória, optou por atormentar os docentes, começando por lançar no ar a suspeita sobre a postura ética e moral da classe, criando mecanismos para mandar para longe das suas residências e locais de tratamento professores em mobilidade por doença. Alterou regras dos concursos nas reservas de recrutamento prejudicando imensos professores. Prepara-se para alterar regulamentos conscursais para fazer dos professores “pau para toda a colher” com o intuito de fazer face à falta de professores da qual são eles os responsáveis por inépcia. Mas quanto aos reais problemas que afastam os professores da profissão e os prejudicam na sua vida pessoal e profissional, nada é feito, optando por se manter no caminho para o desastre.
Morta à nascença, perante este quadro intimidador, cai por terra qualquer esperança de uma gestão da pasta da educação diferente do que temos vindo a assistir.

Como é que um jovem poderá sentir-se aliciado a optar por uma profissão que lhe irá trazer tanta instabilidade, trabalho excessivo, insegurança e baixos salários? Por mais criativo que o ministério seja, haverá algum aliciamento que seja eficaz quando um jovem olha para aqueles que estão na profissão e vê o desânimo e revolta pela forma como são tratados?
Será, porventura, estúpido ou cego que não veja constantemente nas notícias o enorme descontentamento dos professores que se queixam, manifestam e fazem greves? Sendo alunos, não serão eles conhecedores daquilo que os professores passam? São eles próprios que nos dizem “ser professor? Nem pensar!”.
A tratar os professores com tamanha desumanidade, este executivo nunca irá conseguir resolver o problema da falta de professores; bem pelo contrário, o arrastar dos maus-tratos àqueles que estão no ensino, só irá afastar ainda mais os possíveis candidatos e daqui por 4/5 anos, em vez de estar a sair para o mercado de trabalho um reforço de novos professores, o problema terá sido muito mais agravado, pois não entrou sangue novo enquanto muitos dos mais velhos já se terão aposentado e outros, não suportando tanta exigência e péssimas condições de trabalho, terão abandonado a profissão. Isto para não falar do aumento dos níveis de absentismo por baixa médica. Este governo é responsável por, durante 7 anos nada ter feito para resolver o problema e, olhando a nível estatístico para o que fez (ou não fez e deveria ter feito), a previsibilidade será termos mais do mesmo.

Então, o que fazer?
É muito simples e todos os professores o sabem, assim como o ministério, só que não o quer fazer. Em essência, a única maneira de evitar o abandono da profissão, reformas antecipadas e a enorme dificuldade de atrair jovens para a formação de novos professores, passa pela dignificação da profissão. E temos de começar a “chamar os bois pelos nomes”. Desde 2005 com o governo PS de Maria de Lurdes Rodrigues, passando pelo governo passista social-democrata, com Nuno Crato, terminando com os socialistas, com Tiago Brandão Rodrigues e João Costa, o caminho foi o do desprezo pela escola pública e destruição da carreira docente.
Gente pouco responsável que julgava ser possível construir uma educação sem professores ou sem professores motivados, decentemente remunerados. Quem não se lembra da ministra da má memória que, na sua insensatez, veio a público dizer “Perdi os professores, mas ganhei a população”?
A solução de valorização da profissão, não pode passar por outro caminho que não seja o da dignificação da carreira docente. E isso passa por:
-(não há que ter medo de o dizer) Aumento notório e dignificante dos salários (de todos os profissionais de educação, incluindo técnicos, assistentes operacionais e administrativos). Nos últimos 15/17 anos o salário mínimo duplicou (e bem), mas o vencimento dos professores manteve-se inalterado. Pior, as rendas e os combustíveis, onde os professores deixam grande parte do vencimento, conheceram aumentos na ordem dos 100% e os salários ficaram na mesma. O custo médio de vida (fruto da inflação) sofreu um aumento próximo dos 30% e os professores, sem aumentos desde 2009, viram ser-lhes agora dada uma migalha de 0,9%, quando se prevê uma inflação de 4,4%, somando-se assim ainda mais 3,5% de perda do poder de compra.
Olhando ao exemplo de um professor em início de carreira que tenha de alugar um mero quartinho na ordem dos 400/500€, acrescentando despesas de água, eletricidade, gás e deslocações à terra para visitar a sua família (oficina, seguros, revisões, inspeções e avarias), sobram-lhe meros 300€ para se governar. Então, se for um professor contratado e com horário incompleto com um rendimento mensal de 500 a 800€, fica condenado a passar fome. E quando se trata de um casal de professores a ficarem em cidades diferentes e a pagar casa ao banco, ficam a pagar três residências (sim, somos uns excelentes clientes do mercado de arrendamento, das gasolineiras e oficinas!). Sem desprimor para com a profissão que aleatoriamente escolho para comparação, mas uma pessoa que esteja a passar códigos de barras na caixa de um supermercado recebe um salário mínimo acima dos 700€ + desconto nas compras e não tem o trabalho acrescido que um professor leva para casa nem a mesma responsabilidade, além das despesas de deslocação/estadia longe da sua residência. Não admira que os professores, altamente qualificados e em contínua formação profissional, considerem serem muito mal pagos.

-Estabilização do corpo docente perto da sua residência (e família) e não o contrário, como se propõe o governo, pretendendo que os professores fixem a sua residência perto do seu local de trabalho, nem que seja em lugar ermo onde Judas perdeu as botas.

-Diminuir o número de alunos por turma, a burocracia e excesso de trabalho exigido aos professores, incluindo trabalho levado para casa num total superior a 46 horas semanais (agravado nos finais de período/semestre).

-Eliminar cotas e entraves à progressão na carreira e devolver o tempo de serviço prestado pelos professores e injustamente roubado pelo poder político.

-Investimento na melhoria das condições de trabalho nas escolas, com mais meios materiais e humanos deixando de ser o parente pobre do país com um enorme desinvestimento do PIB. Hoje em dia, um professor é obrigado a ter viatura própria para ir trabalhar (mesmo entre escolas do mesmo agrupamento), é obrigado a ter computador, impressora e internet e, muitas vezes, materiais didáticos para suprir a falta destes nas escolas (isto quando não acontece de terem de levar até papel higiénico de suas casas).

E a levada fatura que os professores pagam ao terem de assistir à distância ao crescimento dos filhos em famílias completamente desmembradas?
E porque será que a menor taxa de natalidade reside na classe docente? Quantos casais vão adiando constituir família até que tenham uma estabilidade profissional que acabou por nunca chegar?
E como é possível que a taxa de divórcios e separações na profissão não seja a mais alta quando as famílias vivem separadas durante décadas?
E o elevado nível de acidentes em serviço de uma classe que passa décadas diariamente a percorrer estradas debaixo de grande stress numa profissão em que bastam uns minutos de atraso para se ter falta ao trabalho?
E o desgaste psicológico que leva a que metade dos pacientes em consultórios de psicologia e psiquiatria sejam professores, representando uma descomunal incidência 300 vezes superior à média da restante população! Isto sem contar com o número esmagador de milhares de docentes medicados com antidepressivos e ansiolíticos numa classe com números alarmantes de burnout.
E o que dizer de sermos a classe profissional com maiores problemas de garganta/voz e audição, ferramentas de trabalho essenciais para trabalharmos?
Será que há dinheiro que pague tudo isto?

Se a isto somarmos a enorme perda de estatuto da profissão, devido aos constantes ataques de que foram alvo da tutela e da comunicação social que contaminaram a opinião pública, bem visível nas agressões feitas aos professores e na falta de respeito como são tratados por pais, alunos e poder político, só me espanta como não houve mais professores a abandonar a profissão.

Sabemos perfeitamente que este género de informação não faz notícia em nenhum órgão de comunicação social e muito menos capa de jornal, num país onde só vende a má-língua e a inveja. Basta atentarmos para o número de professores que são agredidos e ameaçados diariamente e a comunicação social que, quase sempre, só noticia (alegadas) agressões de professores.

Sem estabilidade, salários e carreiras condignas e condições laborais decentes que permitam aos professores terem uma vida decente, condições de trabalho adequadas, rendimentos justos que permitam poderem pagar as suas contas e poderem ter um projeto de vida e constituírem família, torna-se claro que nunca teremos uma população bem qualificada, nem este país se irá desenvolver e acompanhar os restantes países europeus, nem haverá professores suficientes para o fazer.
Este cenário miserável e terrível para a vida dos professores, é razão mais do que suficiente para convencer qualquer jovem a fugir da carreira de professor.
O ME quer realmente resolver o problema?
Nada mais fácil – comecem por tratar condignamente os professores.
Carlos Santos

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UM MORTO PROFESSOR!

 

~Se lá chegar, brevemente farei 62 anos de idade e 42 a lecionar ininterruptamente, tendo desempenhado em cerca de uma dezena de escolas todas as funções possíveis, desde a faxina da limpeza, passando pelo alombamento do mobiliário/equipamento para lecionar, até à presidência de todos os órgãos escolares, chegando a permanecer nelas dias seguidos das 7.30 horas até depois das 24 horas (com ensino noturno), comendo pagando e tomando conta dos alunos nos refeitórios. E agora, frequentemente dias com manhãs, tardes e noites de trabalho seguidas. Família sempre em segundo ou terceiro plano. Até a formação esteve sempre depois das aulas e primeiro que a família. Em todo este tempo estive um dia de atestado médico.

~Descontei mais de 30 daqueles anos para a aposentação, com base em 100% do ordenado, na proporção de me aposentar sem penalização com 55 anos de idade e 36 anos de serviço (era assim considerado pelo desgaste da profissão e outros motivos). Assim foi durante muitos anos e ainda continua a ser para alguns  agora privilegiados. Se me aposentar um dia será com base em menos de 60% (simulação da CGA). Neste país, durante algum tempo a seguir ao 25 de abril de 74, havia carne e osso para todos, agora para os protetores do sistema vai a carne e para os trabalhadores vai o osso já rapado.Repetidamente o aumento dos ordenados nunca acompanhou de perto a inflação. Recebo menos vencimento líquido hoje do que há mais de 20 anos e dois escalões atrás.

~Nos últimos anos despediram milhares de professores, alguns com dezenas de anos de carreira, como por exemplo na disciplina prática que leciono em que reduziram para menos de metade os professores ao cortarem 50% da carga horária e ao atribuírem o dobro dos alunos a cada professor, colocando em risco permanente a segurança de alunos/professores e sem qualquer investimento em equipamentos/condições de trabalho que são completamente obsoletas. À balela da falta de professores crucificam-se os que já trabalharam uma vida.Para os iluminados que andam a propor bonificações aos professores que depois de aposentados queiram continuar a trabalhar devido à falta deles, pela minha parte nuncanem condecorado.

~Sem qualquer justificação, porque há dinheiro do Estado para estádios de futebol megalómanos sem qualquer utilidade, bancos falidos por ladrões, subsídios perdidos a empresas de empresários oportunistas, chorudas reformas sem para elas descontarem proporcionalmente para administradores e afins, favorecimentos por fora em tudo o que é administração pública, lei da autonomia para roubar/desviar verbas, etc., quase no fim da carreira foi-me imposto trabalhar e descontar pelo menos mais 12 anos para cobrir os desfalques facilitados/abafados por políticosou gestores corruptos. Nunca vi alguém estar perto de atingir um objetivo e imporem-lhe humanamente um outro incompreensível.

~Atualmente leciono a mais alunos do que no início da carreira, com a incomparável diferença entre respeito/reconhecimento àquela data e a agressividade/espezinhamento atual, por alunosencarregados de educação e administração educativa.

~Por considerar ser, pelo Estado e minha entidade patronal, enganado, aldrabado, vigarizado, manipulado, vilipendiado, explorado, roubado, abusado, violado, torturado, trucidado, agredido, enxovalhado, discriminado, desrespeitado, desprezado, humilhado, inferiorizado, achincalhado, despromovido, desvalorizado, etc..

~Obviamente, estou pessoal e profissionalmente exausto, saturado, desgastado, fragilizado, estoirado, deprimido, descontrolado, stressado, indignado, revoltado, sem qualquer motivação, assumidamente à beira do abismosujeito a arrastar comigo alguém próximo, etc..

~Fiquei no ensino, a troco de tudo de muito melhor, porque adorava lecionar e o trabalho complementar, mas atualmente detesto esta profissão que mata os que não querem guerra.

~Por isso, considero-me um professor morto a trabalhar/lecionar como nunca, fora do prazo de validadepara alunos com idade de serem meus bisnetos, em adiantado estado de decomposição sem que alguém note o cheiro nauseabundo que emano e com ar de parolo retrógrado por ter sido professor de informática dos primeiros engenheiros informáticos estando atualmente no grau zero das qualificações digitais, até porque recusei todas as vacinas e todos os testes covid-19 até hoje, devido ao primeiro-ministro atribuir exclusivamente aos professores uma marca de vacina que ele veio a considerar berbicacho e que eles cobardemente aceitaram. Até agoranão beneficiei de qualquer bónus para ter covid19.

~E como, com o horizonte de anos que ainda tenho para trabalhar e poder receber a aposentação sem penalização, só vejo a possibilidade de sair na HORIZONTAL pela porta das traseiras da Escola onde trabalho, talvez em resultado dum pressuposto enforcamento. Olho para o lado e vejo os colegas mais velhos ou da minha idade no meuestado e os próximos da minha idade quase como eu, a dizerem que já não aguentam mais. Transformaram-nos numa cambada de velhos transtornados prematuros. Os vacinados a terem todos covid19.

~Assim, os alunos vão ter um futuro risonho, com um ministro da educação competentíssimo, há mais de seis anos a governar os professores deste país e por pelo menos mais quatro anos e meio, para quem interessa é que tenham aulas (segundo ele, mas eu sinto precisamente o contrário), por professores no meu estado cadavérico-degenerativo. Com professores neste estado que ensino estão a/vão ter os alunos? Apenas aulas! Um morto professor dá aulas, mas não ensina. Ainda bem que os meus filhos não querem ter filhos para terem este futuro.

~Que fique bem claro. Estou morto, mas não morri. Fui simplesmente assassinado e muito lentamente com inqualificável sofrimento. Pena que neste país cavaquistasoarês os incógnitos bandidos doutorandos, seus discípulos e afins que me assassinaram continuem à solta e a viverem à minha custa, nomeados ou eleitos até com maiorias absolutas conquistadas sem o meu voto que deixei de o dar desde que me começaram a matar.

PARABÉNS SENHOR MINISTRO (ex-secretário)!Medalhável brevemente pelo presidente selfimarcelista digno descendente do pai que por mero acaso também foi ex-secretário de estado da educação do fachismarcelista ainda do meu tempo de lutador.

 

Carlos Tiago

(o assassinado professor)

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Os professores estão a caminho de serem pedintes

A crise da falta de professores vai continuar a agravar-se. A razão não será a falta de vocações, mas a falta de atractividade. Quando uma classe é obrigada a reinventar-se constantemente, lhe é acrescentado trabalho e mais trabalho, e não é valorizada com um salário digno do seu esforço e condições de trabalho, poucos são os loucos que nela ingressam.
Tudo aumenta, menos os salários da função pública…


É a guerra na Europa, é o aumento dos casos de infeção por covid-19, é agora a varíola dos macacos… parece que a bonança está a tardar a chegar.

O preço incerto

É que, mesmo que uma pessoa queira tirar a cabeça destas preocupações e acompanhar o Gonçalo Quinaz e o Nuno Homem de Sá, que não se entendem na casa do “Big Brother famosos”, não tem dinheiro para o pacote de pipocas, porque grande parte do milho que consumimos vem da Ucrânia.

Mas temos de ver o lado positivo. A guerra faz com que os cereais aumentem de preço, o que faz com que comecemos a fritar a solha em óleo de motores a dois tempos. O “Guia Michelin” vai ficar doido com esta nouvelle cuisine portugaise. O corte de relações com a Rússia compromete o gás, o que faz com que para nos aquecermos tenhamos de adoptar 17 gatos abandonados para se deitarem em cima de nós. O preço da energia é elevado, o que faz com que reacendamos literalmente a chama das nossas relações com mais jantares à luz das velas. O combustível está tão caro, que vamos começar a andar mais a pé. Férias de verão? Vou fazer uma peregrinação à costa amalfitana, chefe. Volto em novembro.

O preço dos alimentos continua a subir e o valor do cabaz de produtos básicos para uma família custa agora 193€ por mês. Faz-me lembrar aquele jogo do alpinista do “Preço certo”: sobe, sobe, sobe ao som do tirolês e no final catrapumba! Vamos ao charco. O próprio programa da RTP, que tanto anima aqueles autocarros de gentes trazida de várias parte do país, é cada vez mais perverso. Não porque o Fernando Mendes esteja com um bikini body melhor que o meu, mas porque hoje em dia perguntam “qual é o preço deste pacote de arroz Saludães? Ah, ninguém acertou. O preço certo era 87€” e toda a gente começa a chorar.

De repente, damos por nós no supermercado a pensar: levo meia dúzia de chicharros ou compro 23 pacotes de delícias do mar? Não sei que raio de goma é aquela e nos documentários do Discovery Chanel nunca vi um peixe cor-de-rosa daqueles sem barbatanas, mas como no rótulo diz que é do mar, está a valer. É que o atum em lata, aquele artigo que temos em casa para desenrascar uma refeição, também começa a ser considerado um artigo de luxo, por causa do aumento de 59% do óleo vegetal. Eu já comecei a investir em Bom Petisco. É que, comprar casa é cada vez mais um sonho e assim como assim deixo de herança aos meus filhos uma prateleira cheia de latinhas de peixe. Vão ser pouco mimados, vão. Lembram-se daquele anúncio dos relógios Patek Philipe cujo slogan era “Nunca somos verdadeiramente donos de um Patek Philippe. Apenas cuidamos dele para a próxima geração”? Hoje em dia, é mais “Nunca somos verdadeiramente donos de um Bom Petisco.”

Para termos uma ideia, o preço dos alimentos essenciais subiu três vezes mais depressa num mês do que os salários nacionais durante um ano. Eu não sei se Academia Sueca me está a ler, mas se estiver, queria aproveitar para sugerir que o Prémio Nobel da Economia deste ano fosse dado aos portugueses. Gostava que, em outubro, no anúncio dos vencedores, fosse dita a frase “e depois de, em 2021, ter ganho o economista David Card pelas suas contribuições empíricas para a economia do trabalho, este ano o Nobel da Economia vai para a dona Arlete, de Carrazeda de Ansiães, pela sua inovadora estratégia económica de conseguir aproveitar todas as promoções semanais de hipermercados e ainda utilizar todos os cupões e cartões de desconto para conseguir cuidar do seu agregado familiar com 600€ por mês”.

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Palavras de apreço não pagam hipotecas. -Jorge S. Braga

 

Os professores estão, neste momento, numa posição que nunca tiveram ao longo da sua história. Não os há e cada vez vai haver menos.

A carreira é miseravelmente mal paga.

O trabalho é muito complexo e burocrático.

As possibilidades de progressão salarial no interior da carreira estão severamente limitadas.

O professor é o recurso onde todos os problemas da sociedade caem.

A Escola é a entidade que tudo deve resolver, na opinião errada de muitos, especialmente dos que não estão na educação.

A sociedade precisa efetivamente de uma população altamente qualificada ou Portugal, nos próximos anos, não vai a lado nenhum.

Portugal precisa urgentemente de corrigir os enormes erros do passado. Este é o momento de investir seriamente em educação.

Investir em educação passa por investir nos profissionais de educação. Todos.

Investir em melhores salários.

Investir numa melhor carreira, desde o primeiro dia.

Investir em melhores condições de trabalho.

Chegou a altura de os professores lutarem. Se agora paralisarem, os professores perderão o comboio em detrimento de um avião, de uma estrada ou de uma qualquer entidade financeira em dificuldades.

O Ministério da Educação, como dizia um colega, transformou-se numa empresa de trabalho temporário. Não geriu com cuidado os seus parcos e altamente especializados recursos humanos.

Qualquer gestor de recursos humanos sabe que o bem-estar dos seus trabalhadores é o ponto fulcral para uma organização bem-sucedida neste século. O bem-estar começa (mas não acaba) numa remuneração justa.

Parafraseando o CEO da Microsoft Satya Nadella: “palavras de apreço não pagam hipotecas.”

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