Hoje vou contar uma história, a história da Sofia. Poderia ser a história de qualquer contratado que o é, ou o foi nos últimos anos.
Estagiei em 2004/ 2005, esse ano foi o último ano em que os estágios foram remunerados. Coitados, acharam que 600 e poucos euros nos iam deixar ricos.
Nos entretantos, já passei por diversos horários. Já dei AEC e hoje chego à conclusão que era feliz e não sabia, apesar de ter tido episódios de discriminação por parte de colegas titulares. Quem nunca?
Nas reservas de recrutamento já me saiu de tudo na rifa. E hoje, olho para trás e sinto-me indignada, já comi o pão que o diabo amassou para chegar aqui e hoje sinto que são permitidas cambalhotas de outras pessoas por cima de mim.
Tenho o direito de me sentir indignada e desrespeitada.
Já substitui uma Senhora que estava realmente doente e obrigaram-na a trabalhar a 15 de julho, mesmo doente. Essa Senhora, com letra maiúscula, meteu assistência por ascendente. A mãe tinha sido operada à mão, perdeu 15 dias de remuneração, fiquei até 31 de agosto. Há professores do quadro que são Senhores. É um ser humano que merece tudo de bom que a vida lhe pode dar. É tão bonito tentar perceber o que é ser contratado. Professores há muitos, Senhores e Senhoras há cada vez menos, já dizia o outro.
Lousada no ❤️
Uns tempos depois substituí uma colega em Paços de Ferreira, estava muito mal da cabeça, um esgotamento, não regressava tão cedo. Regressou passado duas semanas, porque lhe tinham ligado a dizer que tinha de ter aulas assistidas, naquele mês de fevereiro, para subir de escalão. É de rebolar a rir.
Tenho o direito de me sentir indignada e desrespeitada.
Há baixas fraudulentas e não devia haver. Há custa dessas baixas é que o meu marido, doente oncológico, foi mandado trabalhar a pesar 50 kg. Graças a Deus não é da área e trabalha para tio, se precisar de dormir um sono, no escritório, pode. No entanto, muitos de nós não podemos. E não me venham com a história de que à custa deles temos trabalho. Nunca, mas nunca vi ninguém criticar o regresso de um professor quando obrigado pela junta médica. Eles estão a começar a dar o ar da sua graça, em junho serão ao montes. Quem nunca ouviu: ai regressei porque já estava fart@ de estar em casa. What?!?
E é aqui, neste momento, que o contratado se sente género “cucaracha”.
E agora pergunto eu, porque podem os da rr32 e rr33 ficar até 31 de agosto e outros não?
Tenho o direito de me sentir indignada e desrespeitada.
Depois olho para as listas e vejo o tsunami do privado a chegar. E claro, sinto-me indignada. Não preciso de explicar muito porquê, todos sabem como eram geridas as colocações no privado há uns anos atrás. Se nós pudéssemos concorrer ao privado e amealhar ts, ninguém se sentiria indignado. É muito justo para quem andou de casa às costas, continente e ilhas… É muito justo para quem deixa os filhos com as avós e avôs…
Tenho o direito de me sentir indignada e desrespeitada.
Gostaria que percebessem que a minha e a indignação de muita gente não é contra ninguém em particular, é contra o sistema.
Ninguém pode mostrar indignação relativamente a estes assuntos no grupo, que fica tudo ofendido. Eu só me ofendo, se me atacar diretamente a mim. As pessoas ficam tão ofendidas que até descem de nível, já li cada… Eu mesma já fui ofendida por dizer o que penso.
Nestes grupos, é normal que muita gente pense diferente.
O sistema é podre, é normal que a gente fique revoltada, indignada e mais umas quantas coisas.
Quem não se sente, não é filho de boa gente.
Muitos de nós fomos e somos maltratados e desrespeitados por professores do quadro e direções. É normal que nos sintamos revoltados, já fizemos tanto pela escola, já engolimos tanto sapo… E agora isto… Já não chegava tudo o que mencionei, ainda fomos brindados com um leque de injustiças.
Estamos a ser atropelados é normal sentir revolta e indignação. E não é pelos colegas, é pelo sistema.
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