Com a atual queda dos níveis de contágio, a avaliação de risco/benefício justifica a reabertura gradual das escolas, a partir do início de março, começando pelas creches, pré-escolar e 1º ciclo do básico. Porquê? Porque o dano social de manter as escolas fechadas tornou-se maior do que o contributo dessa medida para a contenção da pandemia.
Os benefícios da reabertura são conhecidos: o ensino presencial devolve a oportunidade de aprendizagem e desenvolvimento a centenas de milhares de crianças. Não é exagero — um ano depois, conhecemos os efeitos do confinamento e do ensino a distância. Primeiro, como aceleradores de desigualdades sociais e educativas: a aprendizagem fica pior para todos, muito pior para os alunos mais novos e muitíssimo pior para aqueles em risco de insucesso escolar ou oriundos de contextos sociais desfavorecidos. Segundo, como desestabilizadores do desenvolvimento físico, mental e social das crianças — há sinais do deteriorar da sua saúde. Terceiro, porque os alunos do ensino básico já sofreram um longo período sem ensino presencial em 2020 (dos mais longos na UE), que acumula com o atual.
Ninguém quer desconfinar à pressa e depois pagar o preço. Por isso, a questão é se é possível minimizar os riscos de reabertura das escolas através de planeamento adequado. E, como eu, são muitos os professores, diretores escolares, epidemiologistas, médicos e peritos que argumentam que sim — com condições.
Pela experiência do 1º período, é possível conciliar a contenção da pandemia com o ensino presencial
Há que ser claro no discurso: reabrir escolas não pode ser sinónimo de desconfinamento geral. Ou seja, não pode ser um passo rumo à reabertura do comércio ou da restauração, nem um incentivo à suspensão do teletrabalho. Reabrir gradualmente as escolas a partir de março tem de ser apenas isso: reabrir gradualmente as escolas.
Pela experiência do 1º período de aulas, sabe-se que é possível conciliar a contenção da pandemia com o ensino presencial. O cumprimento dos protocolos sanitários tornou as escolas espaços controlados e com baixa incidência de contágio, sobretudo para os mais novos. Mas mesmo esses protocolos devem agora ser reforçados — por exemplo, com testes regulares para detetar assintomáticos.
A reabertura gradual tem a tripla vantagem de restringir o ensino presencial aos alunos mais novos. Porque são esses os mais prejudicados pelo ensino à distância. Porque a faixa etária até aos 10 anos é a que revela menores riscos para a sua saúde e a dos outros. E porque assim se limitaria o número de alunos que voltaria às rotinas do ensino presencial, mantendo-o reduzido.
Externo às escolas, não ignoro o risco de a reabertura incentivar maior circulação da população. É um risco reduzido com o comércio encerrado, mas efetivo quanto ao cumprimento do teletrabalho. Mas, se afinal tudo se resumir a esta questão instrumental, lamente-se que a paixão pela Educação seja derrotada pela inércia: triste o país que sacrifica as crianças, os jovens, os mais frágeis do seu tecido social porque, afinal, de outra forma não consegue segurar os adultos em casa.
Subscritor do abaixo-assinado ‘Prioridade à Escola’
NÃO (RUI GUALDINO CARDOSO)
Os números da covid-19 baixaram e as vozes levantam-se para que as escolas abram. Ora bem, a pressa sempre foi inimiga da perfeição.
As escolas, embora não sejam um local primordial de transmissão da doença, são um vetor a ter em conta. A mensagem que se tem passado é de que as escolas são um lugar seguro. São tão seguras como qualquer outro lugar.
As escolas prepararam este ano letivo tendo em conta os cenários que poderiam ser despoletados pelo evoluir da pandemia no país. Tudo o que estava ao alcance das escolas foi cumprido ao detalhe. Mas tudo não chegou. A escola não falhou, foi a sociedade e a prevenção que falharam.
As escolas voltaram a fechar porque o SNS não aguentava a pressão de ter toda uma sociedade em movimento.
Qualquer professor de História ensina aos seus alunos que necessitamos conhecer o passado para enfrentar o futuro. Esta é a primeira razão pela qual as escolas não deverão reabrir antes de uma avaliação dos riscos e da elaboração de um plano para a sua reabertura baseado em dados científicos.
O regresso à escola é uma luz no fundo do túnel, mas para atravessar este caminho ainda faltarão mais umas semanas
Outro dos fatores preponderantes para a não reabertura das escolas é a capacidade de organização da testagem em massa que se quer implementar.
O regresso às atividades letivas presenciais deverá ser realizado, unicamente, quando as condições sanitárias deem um sinal de confiança à sociedade. Dados das duas últimas semanas são animadores, mas os especialistas avisam de que nada está garantido.
As escolas só deverão reabrir quando a comunidade científica assegure que estão reunidas as condições sanitárias. O regresso neste momento iria transmitir à sociedade uma falsa sensação de segurança.
As escolas irão reabrir, mas as condições têm que ser asseguradas, e para isso é necessário um plano. Esse plano não pode falhar.
O faseamento do regresso às aulas presenciais é um fator que pode permitir uma avaliação entre a reentrada de um nível de ensino e outro. A reabertura das escolas por ciclos de ensino, intervalados por 15 dias, para permitir uma análise da evolução, seria o ideal para uma atuação atempada. O ensino secundário poderia recomeçar as atividades presenciais pelo último ano, ficando os 10º e 11º anos em regime misto durante 15 dias.
Muitos selecionam a perda de aprendizagens e a evolução a várias velocidades dos alunos nas suas aprendizagens como uma das razões para o imediato regresso ao regime presencial. Mas os professores fazem ajustes à avaliação e ajustam os conteúdos ao ponto de entrada dos alunos. Assim sendo, a recuperação das aprendizagens dos alunos está protegida.
O regresso ao ensino presencial é um objetivo pretendido por todos. Os professores sentem-se muito mais realizados profissionalmente, os alunos aprendem e consolidam conhecimentos com mais facilidade.
O regresso à escola é uma luz no fundo do túnel, mas para atravessar este caminho ainda faltarão mais umas semanas.
Professor do 1º ciclo no Agrupamento de Escolas do Viso
In Expresso
6 comentários
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Vou pelo NÃO. Os argumentos do SIM não me convencem!!! E a saúde pública é o que deve de estar no 1.º lugar do pódio. Só quem não sentiu e viu o “locus horrendus” dos hospitais, das ambulâncias, das famílias a perder entes queridos. Do sofrimento da não conseguir respirar. Isto há 15 dias atrás.
NÃO!
Fossos sociais já existem há muito tempo e ninguém falava deles!!!!
Também subscrevo o Não.
os fossos sociais não sao nas escolas que se resolvem
governo, SegSocial, CPCJ, assistencia social é que tem de meter maos á obra
“Pela experiência do 1º período, é possível conciliar a contenção da pandemia com o ensino presencial”. Mentiroso.
No primeiro período não houve surtos nas escolas porque os cães-de-fila do ME, vulgo diretor@s ocultaram e mentiram.
Eu conheço vários…
Deviam ser criminalmente responsabilizados por esse comportamento. Morreram muitas pessoas que podiam não ter morrido.
A impunidade desses trastes é tal que até furaram a fila para a vacinação e nada lhes acontece !!!! São ainda mais impunes que os políticos!!!!!
NÃO.
Não, ao início de mais uma catástrofe. Não brinquem com a saúde dos portugueses e não desrespeitem mais os profissionais de saúde e da educação. Não tornem, novamente, Portugal num país do 4º mundo.
Este (Alexandre Homem de Cristo) é mais um dos “istas” que populam pela comunicação social . São especialistas em educação, mais recentemente já o apelidam de “politólogo”.´Um dia destes aparece como treinador do Benfica. Enfim, gente que sentados numa secretaria têm uma visão completamente “virtual” da realidade das escolas portuguesas. As escolas nunca foram lugares seguros, pelas razões que se conhecem: o não distanciamento entre os alunos nas salas de aulas(substituídos por fitas adesivas coladas nas mesas a delimitar os lugares; fitas coladas pelos corredores, como se fosse uma barreira antivírica (para o próprio vírus respeitar; o gel e as mascarás a partir dos 12 anos (quase nunca utilizadas de modo a ter um efetivo efeito). A historia da “bolha” foi um história da carochinha que nos venderam, como se as crianças dormissem também na sala de aula e não fossem para casa conviver com pais e resto da família (os contactos diretos e indiretos de cada uma destas crianças eram “levados”, no dia seguinte, para a escola, levando muitas delas o “bichinho” para a respetiva sala de aula, muitas delas, assintomáticas que disseminaram o vírus pela comunidade educativa e pela família. Antes do último confinamento, apesar da politica da rolha de alguns diretores e da DGS/Governo, o números acabaram por vir dar razão àqueles que olhavam para os números divulgados pela DGS com alguma desconfiança, estes vieram demonstrar que o números de casos divulgados eram manipulados. A pressão foi aumentando pelos sindicatos e por professores que foram divulgando casos de contágios em escolas, onde o Ministério da Educação/DGS, os nitidamente ocultava. A partir dai a DGS teve que rever as suas normas de atuação e os verdadeiros números começaram a aparecer, ou seja, a faixa etária, onde ultimamente se estavam a registar um aumento mais significativo de casos, era agora na faixa entre os 10 e os 19 anos. A não ser que esta gente já estivesse muito precocemente “reformada”, esta faixa etária naturalmente que é estudante.
Eu sou professor, e quero ir para a escola! Até porque o trabalho em ensino remoto é muito mais desgastante do que o trabalho (que já é muito) presencial. Entendo perfeitamente que as crianças precisam do contacto direto com os seus professores, bem como dos seus colegas e amigos. Naturalmente que estão mais ansiosas e a sua “saúde mental”, pode estar um pouco menos estabilizada. Quanto à teoria de que as crianças vão ficar irremediavelmente debilitadas quer na sua saúde mental quer quanto à recuperação de aprendizagens, isso é um não acreditar incompreensível e exagerado. Por um lado não acreditar no grau de resiliência e capacidade de recuperação destas crianças, desde que o nosso Ministério da Educação coloque recursos humanos e materiais para que essas dificuldades a vários níveis sejam recuperados.
Uma outra coisa completamente diferente é abrirmos as escolas numa altura em que apesar de os números de infetados estarem a baixar, os hospitais ainda estão cheios de doentes covid-19. Existem outras patologias que têm que ser recuperadas para tratamentos, etc, etc.
Ora, como conclusão diria entre ter crianças que possam estar a passar momentos menos agradáveis, menos propícios para o seu desenvolvimento, ao qual têm o pleno direito! Prefiro isso, pois é temporário, tenho consciência que pode ser recuperável. Ou em oposição a este facto, ter ainda algumas dezena de pessoas a morrer por covid-19, todos os dias. Não esquecer que infelizmente, poucas é certo, e ainda bem! Mas algumas crianças também faleceram de covid-19!
Conclusão, quando se vive há espaço e tempo para se resolver os problemas que afetam os vivos, neste caso as crianças. Para aqueles que morrem, não há qualquer solução. Poderia haver….mas parece que os “istas”, tal como o senhor Alexandre Homem de Cristo (até o nome dele lhe deveria trazer mais alguma seriedade e bom senso). Bom… parece que não, e também não aprendeu nada daquilo que aconteceu no país a partir do início de janeiro. Parece que quer voltar a ter um déjà-vu, e voltar, mais uma vez a mudar de opinião. Primeiro não queria as escolas fechadas, em Fevereiro admitiu que as escolas deveriam fechar e agora volta a querer abrir as escolas quando ouve o primeiro galo madrugador cantar.
É caso para dizer vai pentear macacos, mas leva a máscara e o gel.