Ceder ao Estado equipamento para aulas à distância. O que diz a Lei? – Luís Sottomaior Braga

 

Ceder ao Estado equipamento para aulas à distância. O que diz a Lei?

Um colega a quem muito agradeço, a diligência e a simpatia de me enviar a resposta, perguntou à ACT como encara a questão de saber, face à lei, quem tem a obrigação de fornecer o equipamento para ensino à distância. O texto é longo, mas a parte que interessa do raciocínio, que tem por base de partida a resolução do Conselho de Ministros, que define o que é ensino presencial, misto e não presencial, diz assim:

“Esta Resolução do Conselho de Ministro é omissa quanto a quem deve disponibilizar os equipamentos para a realização do trabalho. Contudo, tendo em atenção o Código do Trabalho, considera-se, ainda assim, que compete ao empregador disponibilizar os equipamentos de trabalho e de comunicação necessários à prestação de trabalho em regime não presencial. Quando tal disponibilização não seja possível e o trabalhador assim o consinta, o trabalho pode ser realizado através dos meios que o trabalhador detenha.”

O trabalhador tem portanto de consentir o uso da sua propriedade. Sem esse consentimento o problema é do empregador. É a diferença entre poder e ter de….

O uso que se dá à propriedade de cada um é um assunto de cada um, cujos critérios legais são só os da Lei e os MORAIS são de cada um.

Eu acho que nada tem de imoral, antes pelo contrário, não consentir. E tenho explicado com clareza porquê.

De resto, a lei ao implicar consentimento, obviamente, NÃO OBRIGA e o regime de direitos fundamentais, não permite, que alguém, que pode ou não consentir numa coisa, seja punido ou coagido conforme o que decidir (ex: arriscar a saúde a trabalhar fora do confinamento).

E, por muito que custe a aceitar a alguns, a moralidade individual pessoal de cada um não é o padrão da Lei, porque, exatamente, as concepções morais de cada um não podem ser o padrão moral social. Um dos princípios da liberdade é não impor os meus padrões de moralidade aos outros, através da Lei ou da coação.

E muitas das araras, catatuas e outra passarada falante, que me tentam dar lições de moral sobre colaboração, não articulam sequer raciocínios realmente morais sobre isto, mas expressa ou implicitamente, mostram grave ignorância do que é a Lei, a Moral e seu valor social.

E até confundem, quase sempre, moralidade e ética com palpitação emocional e motivação pelo medo ou, pior, comodidade.

Confusão muito comum nesta sociedade, mimada e pouco racional, que acha que Kant é música alentejana.

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2021/02/ceder-ao-estado-equipamento-para-aulas-a-distancia-o-que-diz-a-lei-luis-sottomaior-braga/

19 comentários

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    • Aníbal Cunha on 3 de Fevereiro de 2021 at 0:04
    • Responder

    “Araras, catatuas e outra passarada falante”? A forma como qualifica aqueles que discordam de si revela tudo sobre os seus conceitos de debate, moralidade e, até mesmo, democracia. Já agora, há muito bem quem conheça essa artimanha de por detrás de textos aparentemente muito elaborados (mas deficientemente pontuados), apenas se esconder o vazio de nada dizer. Deixe lá as críticas da razão de Kant e aproveite para revisitar Popper sobre a arte de bem escrever e argumentar.

      • José Pires on 3 de Fevereiro de 2021 at 14:31
      • Responder

      Se calhar quem passa à frente na vacinação tem o seu maior dos elogios. O dever do empregador é fornecer ao empregado as ferramentas necessárias para o teletrabalho. Mais, os nossos desgovernantes estão habituados a que os professores disponibilizem os seus meios em prol da entidade patronal. Mais, o vazio de não dizer nada ou pouco dizer é o o seu. Tem algum tacho a defender?

    • Presidente on 3 de Fevereiro de 2021 at 0:08
    • Responder

    Há sempre a possibilidade de ir para a Escola e usar a sua EDP e o seu equipamento. 😉

    • Eu on 3 de Fevereiro de 2021 at 0:59
    • Responder

    Grande discurso!
    Tal como os pais que recusam computadores perdem o direito de… se queixarem que não tem computadores, também os professores que reivindicam o direito de não usar os seus computadores, perdem o direito de estar em teletrabalho. Parece-lhe bem? De boa moral e tal e coisa? Será legal? Será que a lei, cega surda e estúpida, que nem sequer prevê uma pandemiazita, já será assim cumprida?
    Mandar bocas para o ar é fácil.

      • Prof Possível (aka Maria Indignada) on 3 de Fevereiro de 2021 at 17:15
      • Responder

      Eu proponho que nos desloquemos todos para as escolas para concretizar o E&D.

      Há decerto computadores, câmaras, microfones, boa ligação à net e telefones que cheguem para todos os professores e educadores.

        • Prof Possível (aka Maria Indignada) on 3 de Fevereiro de 2021 at 17:21
        • Responder

        Era um cenário hipotético.

        Óbvio que cedo os meus recursos para o concretizar, mas estou farta é da falta de respeito e da desonestidade da tutela.

    • Teresa* on 3 de Fevereiro de 2021 at 7:55
    • Responder

    Cedo a minha Internet e PC, mas quanto aos serviços de energia elétrica é revoltante o quanto se paga por esses serviços essenciais neste triste país. Desde o início da pandemia, não houve um pingo de solidariedade por parte destas grandes empresas. E o estado conivente, como sempre. Nem numa situação dramática como esta se altera este panorama escandaloso.

    • Leopoldo Manuel Madeira Carvalho on 3 de Fevereiro de 2021 at 8:55
    • Responder

    A si aplica-se mais a catatua. Não imponho os meus padrões morais a ninguém e vice-versa também. Cada um de nós tem a sua própria realidade e nunca lhe pedi para pagar as minhas contas. Não sei o que a música alentejana tem a ver com o assunto, se puder explicar?

    • Fernando Figueiredo on 3 de Fevereiro de 2021 at 9:24
    • Responder

    Estamos em “guerra”, parece-me tão pequenino que venhamos para aqui discutir o computador, que até já temos, a internet, que tanto custa se utilizarmos, como se não utilizarmos , ou a fatura da eletricidade que é mais impostos que consumo…mas adiante.
    Queria apenas deixar alguns aspetos para reflexão:
    O que seria se os profissionais de saúde (médicos, técnicos de diagnóstico, enfermeiros, assistentes operacionais…) fizessem questão, nesta altura, de gozar as suas férias na devida altura, os seus fins-de-semana, o seu descanso diário?
    O que seria se os bombeiros se recusassem a transportar durante horas, num espaço pequeno como uma ambulância, doentes que sabem estar infetados por COVID-19?
    O que seria se os profissionais dos lares se recusassem a prestar cuidados aos idosos porque eles estão infetados?

    Haja algum bom senso, solidariedade e espírito de missão… deixemos de aproveitar uma guerra que é do país para alimentar aquilo que mais me parecem guerrinhas pessoais ou de capelinhas locais e/ou políticas.

      • Manuel Silva on 3 de Fevereiro de 2021 at 18:42
      • Responder

      Ainda bem que existe na classe docente, à semelhança de outras classes profissionais, gente com empatia, carácter e espírito de missão, numa altura em que o país atravessa a sua maior crise sanitária, económica e social, a colaboração de todos é determinante. O autor deste post tem sempre a oportunidade de trabalhar na escola (e considere-se feliz porque tem trabalho à partida garantido…muitos já ficaram sem ele e cada vez mais será difícil arranjar outro) e não utilizar os seus pertences pessoais em prol dos alunos/estado. É vergonhoso e até ultrajante a insistente “guerrinha” que teima em fazer, cujo objectivo parece ser “angariar ovelhas” que o acompanhe no seu rebanho. Congratulo-me em saber que a grande maioria dos docentes não compartilha da sua opinião. Haja bom senso!

    • Rosa Cabaco on 3 de Fevereiro de 2021 at 10:38
    • Responder

    Esse indivíduo deveria explicar também quantas fotocópias e horas no pc da escola consumiu ao erário público em proveito próprio.
    Isso já não é ter opinião, é num tempo destes de sacrifícios para todos ser mesquinho e arrogante.
    Faz o teu trabalho com afinco e profissionalismo e deixa-te de tretas. Em último caso apresenta-te na escola. Mas isso não te dá jeito, já vimos.

    • JM on 3 de Fevereiro de 2021 at 11:02
    • Responder

    “Não sei o que a música alentejana tem a ver com o assunto, se puder explicar?”

    Eu faço o mesmo pedido.
    Obrigada

    • Pirilau on 3 de Fevereiro de 2021 at 11:23
    • Responder

    Gosto do Kant e do cante. Mas é pena haver quem os desconheça ou os confunda…

    • Zulmiro on 3 de Fevereiro de 2021 at 13:10
    • Responder

    Grande fogueira que fizeram aqui para queimar o homem…

    Uma coisa é certa, o Governo poderia ao menos deduzir no IRS do professores as despesas em equipamento informático e serviços de internet dos professores.

    • José Pires on 3 de Fevereiro de 2021 at 14:30
    • Responder

    Se calhar quem passa à frente na vacinação tem o seu maior dos elogios. O dever do empregador é fornecer ao empregado as ferramentas necessárias para o teletrabalho. Mais, os nossos desgovernantes estão habituados a que os professores disponibilizem os seus meios em prol da entidade patronal. Mais, o vazio de não dizer nada ou pouco dizer é o o seu. Tem algum tacho a defender?

    • lena@gmail.com on 3 de Fevereiro de 2021 at 14:43
    • Responder

    E eu fico sinceramente abismada com esta forma de pensar tão triste, tão pobrezinha. Ou seja, se um professor ganha 900 ou 1000 ou 1200 ou 1500 euros, pode comprar um computador e colocá-lo ao serviço do ME. E ainda pagar a banda larga para que tudo funcione. Pena que sejam pessoas a quem nunca vi questionar se o ministro Tiago não ganha o suficiente para pagar a estadia em Lisboa, em vez de receber um subsídio de deslocação, que nenhum professor recebe quando fica deslocado a dar aulas a centenas de quilómetros do seu domicílio.

    As promessas políticas feitas, para as garantias dadas sobre o que estaria disponível no início do ano letivo e, em suma, para o que diz a lei sobre o teletrabalho não foram cumpridas. Há dúvidas?

    O ME tem de garantir que a rede pública de E@D não volta a ser feita por meios privados e dependentes de uma infraestrutura (seja de computadores, seja de net) de que o Ministério da Educação parece ter alijado responsabilidades.

    Custa-me ver o palreio de umas e a falta de verticalidade vertebral de outros quando se trata de defender os mais básicos direitos da profissão docente.

      • Caça pardais on 3 de Fevereiro de 2021 at 16:52
      • Responder

      Concordo plenamente!

      • Paulo on 3 de Fevereiro de 2021 at 22:05
      • Responder

      Antes de ir votar, informa-te. Lê os programas eleitorais e a legislação que eles próprios criam. Está lá tudo, incluindo as regalias dos políticos com altos cargos. Mas já deves ter um pc e net em casa. Em vez do correio da manhã e o
      Programa da. Cristina, mandas umas coisinhas aos alunos.

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