A barreia psicológica nas mesas duplas e muito mais na terra do ministro

 

Na terra do ministro, regresso às aulas com dúvidas e fita métrica na mão

“Sei que tenho o meu lugar na sociedade, mas considero-me uma pessoa informada e com acesso a informação como poucos pais. E hoje [segunda-feira, 14 de setembro], a três dias do arranque das aulas, sei o horário, porque no 1.º ciclo é das 09.00 às 17.00, embora haja exceções como das 08.45 às 16.45, mas não sei mais nada. Nem planos de contingência nem regras, nada. E digo-o despindo os meus papéis nas instituições que ocupo na comunidade e falando como mãe. Acho que deveria ter mais informação”, conta ao DN Carla Silva, mãe de um rapaz de 7 anos que vai para o 2.º ano, mas também representante dos pais da turma do filho, diretora da associação de pais da escola onde este estuda (“prefiro não dizer qual é”) e, razão principal pela qual foi abordada nesta reportagem, membro da direção da Federação das Associações de Pais (FAP) de Braga – organicamente, entronca na CONFAP – Confederação das Associações de Pais, que se senta à mesa com o Ministério da Educação (ME) na discussão dos grandes temas do setor.

O diretor do Agrupamento Escolar D. Maria II anda de fita métrica na mão a falar de contraturnos, bolhas de segurança e centímetros – porque se há algo que funciona na prevenção contra a infeção de covid-19 é o distanciamento. E todos os centímetros contam, mesmo que as escolas sejam as mesmas que são apresentadas como emblemas do ensino no último meio século, em que Portugal viveu sob o Estado Novo e em democracia. “A história do D. Maria II está assim intimamente ligada à história dos últimos 50 anos do sistema educativo português, com três etapas: a primeira, marcada pelo Estado Novo, em que a referência era o “liceu”; a segunda, acompanhando toda a evolução da transformação democrática iniciada em abril de 1974, abrindo-se a novos públicos e a novas ofertas; a terceira, que coincide com a entrada em funcionamento das novas instalações, em consequência da profunda requalificação levada a cabo pela Parque Escolar”, pode ler-se no site do agrupamento sobre o Dona Maria, fundado em 1964 com o liceu feminino, que Veiga Simão estendeu a frequência mista em 1973 (na designação binária feminino e masculino, pelo menos).

“Aqui, na secundária, existe outro problema. O contraturno. Temos um grande bloco de manhã e um tempo de tarde. Ou seja, dos seis tempos [aulas] diários, cinco de manhã e um de tarde. E esse será para educação física, que será o grande calcanhar de Aquiles, por causa dos balneários. É impossível que 14 alunos tomem banho em simultâneo, pelo rácio, apenas poderão três”, partilha o professor em funções de gestão administrativa no “liceu” homónimo no centro de Braga, correndo a Rua 25 de Abril defronte das duas portas de entrada do liceu (3.º ciclo e secundário, portanto, turmas do 7.º ao 12.º anos), que depois desemboca na Rua Beato Miguel de Carvalho, onde uns 1500 metros adiante se encontra a Escola Secundária de Carlos Amarante, onde Tiago Brandão Rodrigues, nascido em Braga em 1977, fez o secundário.

“A nossa esperança é que como temos semanalmente 30 tempos de manhã e dois de tarde, os alunos possam ir tomar banho a casa”, diz, mostrando que todo o plano de contingência e as regras de convivência estão a ser trabalhadas como num estaleiro crítico: com um projeto a ser alterado pela vida invisível, e suas consequências, do vírus. Mas o espírito de João Dantas está no modo de fazer “das tripas, coração” – como o Presidente da República desejou que os atores do ensino abordassem este ano letivo.

“Nas outras escolas, as carteiras são duplas e com muitos alunos. Resolvemos criar uma barreira psicológica. Quer ver?”, e mostra imagens de carteira de dois lugares com uma linha colorida a dividir o espaço, como as linhas invisíveis que quem passou por esta tipologia escolar conhece bem. A pequena luta pelo território entre colegas de carteira e ritos associados aos estados emocionais da relação – mais ou menos possessiva consoante o entendimento entre os parceiros. “É, vai dar para alguma diversão”, consente com humor o professor.

E prossegue no processo de planeamento em curso. “Os bares para alunos e professores estarão fechados e as máquinas de vending desligadas. Temos falta de assistentes operacionais e precisamos deles no acompanhamento, gestão, limpeza e desinfeção de espaços e materiais”, junta João Dantas.

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7 comentários

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    • .... on 16 de Setembro de 2020 at 11:07
    • Responder

    Barreira psicológica para deter o vírus!!!!!
    Sr diretor não tem vergonha?!
    Se lhe falta coragem para exigir condições, demita-se, reforme-se, em detrimento de mandar os alunos (e professores) para câmaras de gás do sec XXl.
    Nota: nestas condições alegarei, enquanto EE, objeção de saúde, para não mandar a minha educanda à escola.
    O resto seguirá em tribunal.

    • Luís on 16 de Setembro de 2020 at 11:18
    • Responder

    “…vai dar para alguma diversão”!!!!!!!
    Onde anda o ME e a igec?
    Diversão com a saúde e a vida de alunos e professores, quando ele está bem fechado numa bolha com ar condicionado ????!!!!
    São estes os diretores que temos?
    Isto não será crime?

    • Prof Possível (aka Maria Indignada) on 16 de Setembro de 2020 at 13:44
    • Responder

    Na minha escola a barreira entre os 2 alunos sentados em cada mesa tb é uma fita autocolante colorida colada na própria mesa, ficando cada aluno com cerca de 50cm de mesa.

    Nem sequer dará para escrever sem colocar o braço/cotovelo do lado do colega, isto para o(a) aluno(a) que estiver sentado(a) à esquerda.

    Enfim, já nem me ralo muito, já não há tempo, agora é tentar manter a sanidade mental e física o melhor “possível”, cabendo a cada família e profissional da educação adotar a estratégia que considera mais adequada, tendo em conta as suas prioridades e condições pessoais de vida.

    Vamos entrar numa situação de rotura sanitária e social, e mais uma vez as desigualdades de oportunidades serão incrementadas e não atenuadas como nos querem fazer acreditar.

    • Matilde on 16 de Setembro de 2020 at 18:38
    • Responder

    Não se percebe se algumas almas tem ou não noção do que é cair no ridículo… Acreditarão mesmo no que afirmam?

    Crê-se que a dita “barreira psicóloga” impedirá exactamente o quê? A propagação do vírus é travada com uma linha de 5 ou 10 cm de largura a “separar” os alunos?

    Se acreditam mesmo no que afirmam: tenhamos medo, muito medo!

    Como aceitam submeter-se desta forma?…

    • Eu on 16 de Setembro de 2020 at 19:47
    • Responder

    Sugiro o artigo abaixo porque é verdadeiramente importante: Grande parte das medidas da pandemia não passam de uma encenação… A propagação principal do vírus faz-se por aerossóis… A questão do metro ou do metro e meio é absolutamente irrelevante numa sala sobrelotada e com máscaras de qualidade quase nula… O problema é que poucos lêem artigos científicos e são manipulados pela política…

    https://observador.pt/opiniao/sera-o-regresso-as-escolas-uma-bomba-relogio-pandemica/

    • Prof Possível (aka Maria Indignada) on 16 de Setembro de 2020 at 21:22
    • Responder

    Falso, se há coisa que tenho feito recorrentemente nos últimos meses é ler os artigos científicos que surgem, o próprio artigo, e nunca a sua divulgação em nenhuma meio de comunicação social, onde as informações prestadas são sempre escassas e muitas vezes pouco contextualizadas.

    E se há algo que já está razoavelmente comprovado, é que o vírus propaga-se com bastante facilidade por via aérea, sobretudo em ambientes fechados, com maior concentração de pessoas.

    Por isso mesmo, é fulcral distanciamento social, máscaras, ambientes fechados com arejamento frequente e com baixa concentração de pessoas. Destas condições, na esmagadora maioria das salas das escolas portuguesas só se vai verificar uma destas recomendações, a máscara.

    E apesar da Drª Graça afirmar, e re-afirmar que Portugal está a acompanhar a literatura científica e as recomendações dos especialistas, decidiu ignorar por completo a recomendação da OMS no que concerne à utilização de máscaras em crianças a partir dos 6 anos.

    O contacto por toque em superfícies infetadas ainda não está aferido com rigor, mas por outro lado, já está aferido que o vírus é capaz de sobreviver (manter habilidade infecciosa) durante vários dias, dependendo da superfície e das condições ambientais. Por isso, para já, manter as superfícies desinfectadas é uma medida a considerar e a implementar, até existirem estudos que descartem a contaminação por toque em superfícies contaminadas.

    • Mónica on 17 de Setembro de 2020 at 9:55
    • Responder

    E o bar?? Porque fecham algumas escolas o acesso dos alunos ao bar???? Isto é legal?

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