Cuidado com as provas de aferição!
O assunto (ainda) não fez agendamento mediático. Por isso, está adormecido na opinião pública. No entanto, as provas de aferição do 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade já estão marcadas e ficou estabelecido que seriam realizadas em suporte eletrónico. O problema é que, até agora, ninguém explicou o novo modelo e, por isso, a preparação ainda não arrancou.
Submeter, desde cedo, o aluno a uma experiência de exame é benéfico. Porque permite perceber o grau de aprendizagem atingido e vai, de certa forma, normalizando um momento que suscita sempre muita ansiedade. Olhando para o calendário proposto, que começa em início de maio e termina em final de junho, teria sido fácil criar mais distanciamento entre as provas. Não se percebe as razões que levam a que o 2.º ano faça o teste de Português a 15 de junho e o de Matemática a 20 de junho, acumulando num desses dias o de Estudo do Meio. O 5.º ano terá as provas com mais matéria, Português e História e Geografia, com apenas cinco dias de intervalo. Todavia, isso serão dificuldades pequenas, quando comparadas com o problema de fundo: o uso do computador.
É verdade que a pandemia impôs um ensino remoto que fez avançar (muito) os conhecimentos informáticos. Todavia, nem todos andaram ao mesmo ritmo, nem todos tiveram um computador para si… Também nem todas as escolas dispõem de recursos tecnológicos que habilitem os estudantes a manusear com desenvoltura um computador… E isso deveria ser ponderado no momento de pensar a passagem de provas escritas em papel para provas feitas em formato digital. Os estudantes não estão ao mesmo nível e só isso seria motivo para travar esta nova modalidade.
É inimaginável um aluno do 5.º ano fazer uma prova de aferição de Português ou de Geografia e História em computador. Por dois motivos: porque não tem treino e porque uma avaliação bem feita nestas disciplinas exige respostas com alguma extensão a fim de avaliar a articulação de conhecimentos e o domínio da língua, sobretudo na coesão textual, na sintaxe e na ortografia. Em Portugal, uma criança de 10 anos vem sendo treinada, desde os 6 anos, para escrever numa folha de papel. Não num ecrã de computador. E fazer uma coisa e outra implica treino. Que, até agora, não houve. Por isso, este ano, nenhuma escola portuguesa tem os seus alunos preparados para estas provas. Por isso, o Ministério da Educação, que ainda não forneceu qualquer modelo destas novas avaliações, tem de desistir do modelo informático. A bem da igualdade dos estudantes e de um ensino que promova a aprendizagem.
*Prof. associada com agregação da UMinho
DAQUI:
https://www.jn.pt/opiniao/felisbela-lopes/cuidado-com-as-provas-de-afericao-15770967.html
1 comentário
ja para nao falar das condições de ligação á internet e computadores
se existirem problemas informaticos durante as provas que fazer? como fazer? quem resolve? etc…