Dirijo-me a ti que possuis um diploma de curso superior. Sabes o que significa ‘superior’? Significa que o curso está obrigado a garantir superioridade não apenas da quantidade, da qualidade e da solidez científica dos conhecimentos transmitidos, mas também da formação axiológica e ética de quem o frequenta. A axiologia diz respeito aos princípios e valores; e a ética implica as regras do jogo inerente ao facto de vivermos em sociedade. Tens a sensibilidade axiológica e ética apurada e acordada ou em estado de rudeza e sonolência? Dizem-te ou não respeito, causam-te ou não indignação as notícias da inauguração de residências para estudantes com quartos a custar entre setecentos e mil e cem euros mensais? E as que referem a existência galopante de milhares de famílias com dificuldade para pôr pão na mesa? E o crescendo ameaçador do número de pessoas condenadas à pobreza e à miséria? E os idosos, os doentes e as crianças ao abandono? Isto não te incomoda? Não tens vergonha de votar em energúmenos que advogam a abolição do estado social, da assistência e do apoio na desgraça, no desemprego e na infelicidade, bem como do Serviço Nacional de Saúde? Quem és, afinal? Tiraste o curso para quê? Para seres um calhau com olhos, mas sem alma e consciência.
E tu, professor, que andas envolvido numa dura luta pelos teus legítimos direitos e pela valorização da carreira? Obviamente, assistem-te razões bastantes para lutar e defender a dignidade. Mas… contentas-te em ‘ser profissional do ensinar? ‘Ser professor’ não inclui outros ofícios? Que compromissos te ligam à escola? Qual a noção de educação que inspira e move a tua ação? Que sentimentos procuras despertar nos alunos? Que cumplicidades assumes no tocante às tragédias da comunidade e do mundo? Mais, és professor na escola pública e apoias partidos que a querem destruir e substituir por entidades privadas. E recusas ver que nestas os docentes são explorados até ao tutano como bestas de carga e não lhes é consentido fazer greves, apesar de ganharem mal e porcamente e terem o cutelo do despedimento sempre em cima do pescoço. Será pedir muito que te definas e sejas coerente?! Sei que não gostas destas indagações. Se julgas que me enganas, estás redondamente enganado; conheço-te de ginjeira.
8 comentários
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Jorge Bento (pintainho da Ariana Cosme), já que sabes tanto sobre os zecos do não-superior, então vem cá “abaixo” dar aulas para nos explicares como é se se faz e para perceberes o que fazemos diariamente e não entra em grelha MAIA nem nas evidências.
Jorge, peço desculpa, mas quando vi Bento fiquei com o raciocínio toldado e só pensei no Marco Bento.
As palavras que dirigi não são para si. Contudo, se este Jorge Bento também é o professor, então muito do que ali digo pode aplicar-se.
professor do Ensino Superior, diga-se.
Tão superior e não sabe que a expressão correta é “mal e parcamente” e não “mal e porcamente”.
Deve ser porque o “curso superior está
obrigado a garantir superioridade não apenas da quantidade, da qualidade e da solidez científica dos conhecimentos transmitidos, mas também da formação axiológica e ética de quem o frequenta”, mas já quanto ao uso da língua, parece não ter obrigações…
“Porcamente” também existe, ou não??!
Confesso que não sei quem é o Jorge Bento, mas vejo ali muito do que levou a 3 anos de reflexão dolorosa (mas agora consciente!) de abandonar o ensino (sem dizer “nunca mais”, mas nos próximo anos, seguramente!). A 1 de Setembro entrego, oficialmente, a minha carta de exoneração que acabará com o meu vínculo ao Estado, conseguido ao fim 26 anos como contratado. Não deixo de ser Professor. Mas deixo, após 2 anos de agonia, de ser dos quadros do ME…. Vamos passar os salários, as carreiras, os escalões e recuperações de tempo de serviço, perfeitamente legítimas, e vou já ao busílis da questão….o professor é uma figura apagada, a que ninguém dá importância (excepto os meus alunos, seguramente), com má fama entre a opinião pública, é alguém que andas há década a cumprir TUDO o que o ME tem inventado para acabar de vez com um ensino de qualidade e que privilegie o mérito e a exigência., é alguém que, rapidamente e em força, se deixou substituir pega tecnologia e perdeu o cariz mágico de indivíduo transformador na sala de aula, onde não passa de uma máquina de debitar o que passa na escola virtual e nos power points de que supostamente, é autor. Demitiu – se de qualquer papel interventivo na sala de aula e convenceu-se de que descendo o nível de exigência na avaliação e comportando-se como um desgraçado do privado, deve exigir o mínimo, invocando que os alunos, pobrezinhos, não conseguem mais…. Portanto, o professor é um morto vivo que, neste momento, está a pagar todos os tiros nos pés que deu e deu consentimento às sucessivas violações de que foi sendo alvo. Em suma, o maior responsável pelo estado de degradação a que isto chegou. Tenho vergonha de dizer que sou professor, mas vou deixar de o ser (temporariamente ou não, a partir de 1 de Setembro deste ano). Saio de cabeça erguida sempre que um aluno meu diz “o professor é muito exigente”. Como se sabe, a exigência eva disciplina passaram a ser anátemas em educação, até porque, quando um ministro da educação, diaboliza a palavra “mérito”, estamos a caminho de um abismo. Não sabendo quem é o Bento, viva o Bento 👍
Não tem a ver com o artigo, mas a publicidade neste blogue está cada vez pior. Um pessoa perde logo a vontade de ler tal é a quantidade de anúncios. Ó Arlindo é necessário?
De acordo! 😱😱😱