Para onde vai a presente Luta?
Dentro da Classe Docente, existe, há muitos anos, uma certa predisposição para a desagregação e para a fragmentação, plausivelmente originadas pelas diversas situações profissionais aí presentes…
Dentro da Classe Docente parecem coexistir muitas “formas de sentir” e profusas “facções”, que frequentemente desencadeiam “explosões de susceptibilidades”, pródigas amofinações, discórdias e conflitos de interesses, todos culminando na ausência de consensos…
O resultado mais óbvio do anterior, tem sido uma divisão insanável e permanente da Classe Docente…
A presente luta não conseguiu abolir essa falta de coesão, ainda que, aparentemente, a possa ter atenuado…
A solidariedade entre as partes que compõem a Classe Docente parece ser algo inalcançável, tal como também o será o acordo e a convergência de acções entre todas as estruturas sindicais que representam os Professores…
A presente luta parece ter chegado ao “ponto de marasmo” e a prova disso é o facto de, neste momento, ser muito difícil conseguir indicar uma escola ou um agrupamento onde sejam visíveis, ou se façam sentir, inequívocos efeitos de uma genuína contestação de Professores…
E quando alguma escola ou agrupamento sobressai por via de determinada forma de protesto, isso é invariavelmente interpretado como uma excepção e não como uma regra…
Como excepções também têm sido vistos os Professores que têm ousado desobedecer…
– As Greves parecem ter perdido adesão…
– As Manifestações, em número elevado, têm juntado milhares de Professores que, nesse contexto, dão visibilidade ao seu descontentamento, mas que no dia seguinte entram na sua escola e se mostram incapazes de desobedecer ao que quer que seja…
– Participa-se nas Manifestações, convive-se com os pares, registam-se esses momentos, publicando-se muitas fotografias nas redes sociais, e no dia seguinte volta-se à escola para obedecer escrupulosamente a todas as ordens e, até, em alguns casos, para voluntariamente, ir além das mesmas…
– No dia seguinte ao da Manifestação estarão todos novamente disponíveis para aceitar a infernal rotina, que consome e aprisiona, repetindo-se todos os automatismos comportamentais e todos os vícios de funcionamento…
– No dia seguinte ao da Manifestação, quando se entra na escola, recalca-se o pensamento crítico e a contestação, que darão novamente lugar à obediência e ao conformismo…
Que impacto terão essas Manifestações no alcance das pretensões docentes? Afinal, para que servem essas Manifestações?
Talvez sirvam como potenciais “catarses colectivas” ou como forma de “lavar as Almas”, partindo do princípio de que o espírito de comunhão ajudará a aliviar algumas tensões…
Mas depois das Manifestações tem sido assim:
– A Classe Docente parece continuar a acreditar que os resultados desejados por si aparecerão sem custos e sem sacrifícios pessoais, atribuindo a outros a responsabilidade por uma “solução mágica” dos seus problemas…
Mas esta luta só se tornará realmente séria e consequente quando cada um for capaz de assumir a sua quota-parte de responsabilidade pelas soluções dos problemas e os necessários sacrifícios pessoais e se acabarem com as “desculpas” para não desobedecer…
Para que alguma coisa, efectivamente, mude será necessária a coragem dos destemidos…
Cada Professor parece continuar a defender, primordialmente, os seus próprios interesses e só depois, muito depois, o bem comum…
Enquanto a visão for sectarista, assente no individualismo de pensar apenas em si próprio, não se chegará a lado nenhum…
E bastou, há pouco tempo atrás, o Governo ter anunciado o Diploma do novo regime de gestão e recrutamento de Professores, para se constactar de imediato essa desunião confrangedora..
(Imagem roubada da Internet, de autor desconhecido).
Estará esta luta perdida?
Com toda a honestidade, não sei se estará perdida, mas seguramente estará muito longe de ser ganha…
As principais estruturas sindicais, que supostamente representam os Professores, e que deveriam ter um papel decisivo na presente luta, parecem preferir continuar a acreditar e a defender que a “Terra é plana”:
– Supostamente, o próximo dia 6 de Junho “será um dia histórico, exceto se o governo não quiser que a tranquilidade volte às escolas”, pode ler-se no site oficial da FENPROF…
Mas alguém ainda acreditará que, até ao próximo dia 6 de Junho, o Governo possa ser acometido por uma epifania e retroceder nas suas perversas intenções?
Por outras palavras, e de modo absurdo, 6 de Junho de 2023 “será um dia histórico”, que antes de o ser já não o era…
Ou, então, a afirmação da FENPROF anteriormente citada, destina-se apenas ao “consumo interno” dessa estrutura sindical e não é para ser levada a sério, nem tida em consideração, pelos restantes receptores dessa mensagem…
No momento, dos últimos anos, em que a Classe Docente mais precisava de Sindicatos consentâneos com acções competentes e impávidas, as principais estruturas sindicais têm tido uma prestação lastimável, mostrando-se incapazes de corresponder às expectativas daqueles que representam…
Depois do fracasso evidente relativo às “rondas negociais” com a Tutela, incentivo e apoio jurídico disponibilizado aos Professores que pretendam desobedecer às insanidades e às injustiças decretadas pelo Ministério da Educação? Nada. Silêncio absoluto…
Muito “folclore”, presenças em simulacros de negociações e requerimentos, junto do Ministério da Educação, para novos simulacros de negociação, que não levam a lado nenhum? Com certeza. Muitos…
Parece que há, de facto, estruturas sindicais tão “convencionais”, tão “responsáveis” e tão “moderadas”, que jamais incentivarão ou praticarão qualquer desobediência ou ruptura face à Tutela…
E assim vai a luta…
(Paula Dias)