DISSERTANDO A ESCOLA PÚBLICA
O PARADIGMA PERDIDO
A Âncora, pedra de esquina e toque, alicerce e fundamentos que preparam, formam, informam, enformam e ensinam para a vida É/são, a Escola e a Educação. Toda e qualquer sociedade, país, nação e Estado, povo e governantes minimamente ajuizados e comprometidos com a legalidade, a justiça mínima básica e a verdade histórica, mimam, valorizam e exponenciam a Escola Pública como uma mais valia determinante para o futuro das presentes e futuras gerações de crianças e jovens.
Ao contrário e ao arrepio, em Portugal, a Educação e o Ensino, os seus trabalhadores e os profissionais docentes são muito mal tratados, humilhados e vilipendiados. Mesmo ignorados, ostracizados e pior, roubados nos seus mais elementares direitos: a sua força de trabalho e intelecto que tarda em ser-lhes/ser-nos reconhecida de direito, verdade, justiça e pago. O trato por parte da Tutela é ao nível de mentecaptos. A sucessão de (des)propostas e destrato inadmissíveis, são ofensa grave continuada e reiterada a todo o professorado. O absurdo de todo inaceitável e intolerável. A lógica simplória de dar a uns colegas e tirar a outros; a esperteza saloia de dividir para reinar. Lição: há uma diferença abissal entre a Inteligência e a esperteza “à chico esperto lusitano”.
Continuar a dissecar as pseudo, nada sérias propostas do Governo/ME, é dar importância ao acessório das migalhas e minudências, esquecendo a Tutela a centralidade dos direitos em dívida e em falta para com os protagonistas executantes que são os professores, vítimas discriminadas de um Roubo de Estado de “lesa Pátria”, ao afastar e desmotivar cada vez mais a docência, indo o sistema ficando ao abandono.
Dou/damos de barato, mas reconhecemos a criatividade de termos chiquérrimos como “ambientação gráfica”. Alta finesse, mesmo para casos em que o teclado, já ele só por si é caso paralisante de “desambientação gráfica”. Voilá! Categoricamente, sem qualquer dúvida e engano, serão multiplicantes os “casos” de/dos “desambiguados”. Digo eu, que não sou “illuminati”, nem sábio, nem muito à frente, com as minhas limitações intelectuais. Deixando a viagem dissertante, voltemos ao fogo à peça.
Não há futuro sem Educação. Não há futuro sem Ensino. Não há futuro sem professores e educadores. Não há futuro com massa crítica pensante sem uma Escola Pública de referência, exigente, de qualidade inclusiva e massificada, respondente aos fenómenos e desafios emergentes. A Escola Pública humanista é um local por excelência para a socialização, a interacção societal e a inter-sociabilidade.
Paulatinamente, a Escola Pública, tem vindo a perder importância, relevo, amesquinhada e sufocada pelo poder político ignaro, sem políticas educativas, nivelando por baixo, num deslumbramento pacóvio de ficção dos resultados escolares dos alunos, e em absoluto desfasados da realidade, da triste realidade. O caminho é mais importante que a meta final dos resultados. Vale o que se aprende no percurso, o que fica para a vida.
Donde, o modelo da Escola clássica da instrução, do ensino e aprendizagem standardizados, do cognitivo (aquisição, compreensão e aplicação de conhecimentos), comunicacional e avaliativo, de currículo único para todos, está em mudança mas, mas peca por excesso e pressa; explicando: há já algum tempo a esta parte que vimos assistindo à Desmaterialização da Escola. Um processo acelerado do modelo digital em que o PowerPoint banalizou, o Genially está na moda para a criação de conteúdos interactivos e animados (na perspectiva de conexão e motivação dos alunos), o Miro (plataforma digital interactiva) é que vai ser; pensar e falar em papel é pecado (eu confesso que gosto; um livro será sempre um livro; cheirar o papel, tocar e folhear, tem algo de mágico e sacrossanto). E claro está “as negociatas” do momento. Virá sempre a seguir o último grito da plataforma XPTO, com a aplicação do supra sumo da barbatana (…). Lembram-se dos computadores Magalhães? (…). Lembram-se da sucessão de quadros interactivos, de modas e modelos? Lembram-se dos (mesmos) protagonistas político-partidários? É gente mesmo modernaça. Acontece que a Educação está um caos. Nada se sabe(m) nem aprende(m), dizem os colegas; e dizem bem! Vivemos tempos de projectos em atropelamento. Tudo espremido, o sumo (…). Dizem as más línguas, alegadamente, que até dá/deu para negociar e vender computadores dados e oferecidos, pagos com dinheiros do erário público. Há algo de profundamente errado em tudo isto. É ver o mundo de patas para o ar. Falta planeamento, pensamento estratégico, controle, inspecção, e não apenas despejar dinheiro aos milhões para cima dos problemas; dar “brinquedos aos alunos” não resolve nada nem coisíssima nenhuma. Dinheiro que depois faz falta para tanta e tanta coisa, como pagar aos professores o que lhes é devido e figura como calote do Estado.
Temos de redireccionar a conjuntura e colocar o nosso foco e enfoque num currículo nacional base conciso, com as nuances locais direccionadas ad hoc. A Escola tem de ir ao encontro das realidades das comunidades educativas Q. B., mas sem desvirtuar. A bússola escolar diz-nos que em essência a Escola é assimilação e transmissão de conhecimentos. Também educa (missão referencial para a família). Esbate desigualdades. Porém, verificamos que o papel da Escola Pública como elevador social se tem vindo a degradar, a perder e mesmo a desaparecer. A Escola Pública não pode ser uma caricatura da sua função e essência. A Escola não pode ser um permanente jogo lúdico de facilitismo e “passagens administrativas”. A Escola é trabalho, dá trabalho, ocupa tempo e exige sacrifícios. Os professores actuais são fruto desta Escola. Ora preparados ora não preparados, passámos e chumbámos, sobrevivemos e estamos aqui.
Donde, justifica-se esta Escola mais cara das retenções quando absolutamente necessárias, ao invés de uma Escola muito mais barata que ensina a passar sem esforço, sem estudo e sem trabalho, que promove a injustiça relativa e ensina a “desaprendizagem”.
Na minha última crónica, alguém comentou ser “imbecilidade” não aproveitar as “lentilhas” dadas pelo ME (Ministério da Educação), sobre o Diploma/Regime dos concursos de/dos professores (talvez, um provável caso de umbiguismo; mas sem a visão lata do todo e sem a consciência de classe necessária à Dignidade e Respeito que reivindicamos na Luta).
Outro alguém, penso que colega, falava de “pontes” e abaixo as “paredes” do discurso mais cáustico, incisivo e contundente. Há sempre quem não entenda nem perceba o óbvio. Neste caso em concreto, que opõe Governo/ME e Professorado, o poder político só entende a linguagem da Determinação Inquebrantável dos Professores. Criticando a crítica (…).
Em ambos os casos, esqueceram que quando o interlocutor é uma parede, é de facto “imbecil” acreditar em criar e estabelecer pontes.
Curiosamente e evolutivamente, o discurso das “pontes”, dá agora lugar, ao epíteto à proposta mázinha do ME de “proposta atamancada, má e desconexa”, relativa à recuperação do tempo de serviço congelado dos professores.
Como não sou caniço ao vento, afirmo que a proposta “inicial/final” é indecentemente e rasteiramente má. A contagem/recuperação do tempo de serviço congelado dos professores e educadores, é todo para todos, faseado até 2026 (fim final desta legislatura de má memória para os trabalhadores da Educação).
O “problema” é político. É de fácil solução e facílima resolução. São apenas pouco mais de 300 milhões de despesa acrescida mas, mas, diluída e a diluir. Alegadamente, só para o rendimento social de inserção “voam” mais de 400 milhões por ano. Estamos conversados.
Sem superficialidade de análise, puro e duro, sem fretes e sem inocência e ingenuidade Naif. Sem “pontes”, mas com vontade política.
Disse.
Obrigado Professores!!!
Obrigado Portugal!!!
Carlos Calixto
A idade, o tempo e a experiência profissional e de vida, vão-nos transformando em “Velhos do Restelo” mais ou menos sábios. É imperativo haver na Escola o pensamento e o raciocínio críticos. Nada de formatações. É papel da Escola, enquanto instituição organizacional, ensinar a pensar, a criticar, a questionar, a duvidar. Tudo se tem vindo a perder. O modelo, o paradigma da Escola do conhecimento, cientificidade, pedagogia, didáctica e humanismo, e que transmite conhecimentos, saber, sabedoria e saberes-fazer, está moribundo, vai definhando e morrendo, dizem “os entendidos”. “Gurus” influencers que vaticinam o fim.
A jurassidade docente diz NÃO!!!
Está na ordem do dia a inteligência artificial. Fala-se e usa-se na Escola o Chat GPT, especializado em diálogo e que auto aprende. Também o plágio vai ficando “démodé”. Há quem delire com isto. Esquece porém que a criatividade humana é e será sempre a lavra do nosso punho e pensamento. A mão humana. Nunca, nada, substituirá a dimensão humana e humanista do professor, a pedagogia e as vivências de experiências axiológicas. Olhar o aluno, sentir o aluno, ter a palavra certa presente no momento exacto. Olhar e ver sentimentos, pessoas interagindo no acto único maior do processo de ensino aprendizagem. Professor e aluno, as partes do todo completo.
Por oposição, há os defensores do fim da Escola tal como a conhecemos.
Acontece porém, que a Escola sempre se adaptou, esteve à altura dos desafios e respondeu cabal e satisfatoriamente. Sem radicalismos, sem fundamentalismos, sem preconceitos ideológicos, e sem “revoluções” apressadas. Afinal de contas, não aconteceu nada assim de tão extraordinário à face da terra, nada assim de tão novo. Tudo e todas as coisas têm um tempo determinado. É facto!
“O que foi, é o que há-de ser; o que se fez, isso se tornará a fazer. Não há nada de novo debaixo do sol”. (Bíblia Sagrada, Livro do Eclesiastes ou Pregador, Capítulo 1, Verso 9). Já assim falava o rei Salomão de Israel há mais de 3000 anos atrás, considerado historicamente um dos homens mais sábios de sempre. É facto!
Vá-se lá entender, afinal não há nada de tão novo assim à face da terra. Apenas alguns visionários desfocados das vistas. Ideias, as ideias da mudança obrigatória e quiçá radical da Escola da qual somos filhos não vingam porque não têm fertilidade intelectual. A mudança leva tempo. A Escola é dinâmica e dialéctica. É preciso interiorizar e assimilar. Dispensam-se laboratórios permanentes e em permanência.
A abstracção de modelos de Escola mais ou menos visionários, é muito diferente da realidade concreta da vida em sociedade e do mercado de trabalho. A realidade da vida impõe-se ao estado de negação humano.
A prová-lo está o facto de pós pandemia Covid-19, se falar, na abordagem escolar sistémica, em “voltar à normalidade”. É facto!
Fazendo o contraditório, falamos agora de um novo paradigma para a Escola. Precisa-se? Justifica-se? Problematizando (…):
“Hoje, a sociedade das tecnologias digitais, dos computadores e da telemática, globalização e da pulverização das culturas locais, do genoma sequenciado, já não se compadece em esperar por uma instituição que, para prosseguir, tem que mudar de paradigma. Eu não sei se a futura escola dará lugar a uma e-escola, a uma escola.com, ou uma escola com outra designação qualquer, que esteja para além da minha imaginação momentânea. O que sei é que a escola de hoje, depois de lhe terem sido cometidas funções que têm pouco a ver com o desenvolvimento das sociedades (servir de depósito onde as famílias colocam os filhos enquanto os pais trabalham, ou de local onde os jovens vegetam o máximo possível de tempo antes de engrossarem a pressão dos que batem à porta das universidades ou do primeiro emprego), se encontra irremediavelmente ferida, e já nem é capaz de preparar para ao presente, quanto mais para um futuro que nenhum visionário consegue antecipar”.
“Eu nem sei se o futuro precisará de qualquer tipo de educação institucionalizada, à semelhança do que temos hoje, com escolarização compulsiva, destinada a reproduzir uma cultura estandardizada e imposta aos cidadãos, todos por igual, independentemente das suas características e das suas necessidades. A Humanidade foi capaz de sobreviver milénios sem precisar de uma escola de massas, controlada pelo Estado. Talvez, no futuro, reaprenda a prosseguir sem ela”.
(Carlos Nogueira Fino, Um novo paradigma para a escola precisa-se).
Mais do mesmo; algo de novo. Diferentes paradigmas. Crise e mudança. Reflexão e acção.
Talvez enfatizar a aprendizagem com uma permanência em mudança.
Reforçar a interpessoalidade entre professores e alunos.
A melhoria do sucesso educativo dos alunos resultar da plenitude da miscelânea e fusão de diferentes paradigmas, num trabalho de elaboração conjunta.
Recapitulando: O que é, já foi. E o que já foi, há-de voltar a ser. Teoria/mito do eterno retorno, do padrão cíclico, repetindo os mesmos eventos repetidamente. A sinopse da fundamentalidade da natureza humana. O pensamento e a sua incorporação.
“Alguns milénios serão necessários para o mais potente dos pensamentos”. (Nietzsche).
Nota: professor que escreve de acordo com a antiga ortografia.
CCX.
4 comentários
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Sem educação não há cultura e sem cultura não há desenvolvimento.É vital que a nossa classe se mantenha unida.
Alguém conseguirá ler este chorrilho prolixo de pretensiosismos?
Há sempre quem não entenda nem perceba.
Os Professores entendem e lêem. Todos os colegas que têm consciência de classe.
O contrário É a ignorância que Hiper abundância.
Explane e explique o seu pensamento e ideias.
Obrigado.
Lulu, não se esconda atrás da covardia do anonimato. Venha de lá, daí, de si, o contraditório.
Até parece “encomenda”.
Explique-se sff.
Muito obrigado.
Disse.