A falácia da vinculação dinâmica dos Professores contratados

O tema da Educação e das condições dos Professores tem sido amplamente debatido, já todos percebemos que é inequívoca a falta de dignidade e reconhecimento pelo papel fundamental da classe docente desempenha na nossa sociedade.

Perante isto, vemos os sindicatos a insistirem vincadamente nas progressões de carreira e no tempo de serviço congelado, causas mais que justas e que carecem da reposição devida. Mas entretanto, parece que a situação dos milhares de Professores contratados vai de mal a pior.

A nova medida anunciada, a vinculação dinâmica, permitirá aos Professores contratados vincularem ao quadro já no próximo ano lectivo na Zona de Quadro Pedagógico onde actualmente estão colocados, mas em 2024 serão obrigados a concorrer a todo o País, ou seja, têm um “rebuçado envenenado”, pois daqui a dois anos vão continuar com a casa às costas por tempo indeterminado e se não aceitarem ficar longe das famílias e com mais encargos inerentes à distância de casa, têm como única solução o desemprego sem direito a subsídio.

Isto é a precaridade profissional elevada ao extremo, mas espanta-me que pouco se fale nesta medida inconcebível na comunicação social e temo que os sindicatos se contentem com as progressões de carreira dos Professores efectivos e não lutem pelos Professores contratados com tudo o que isso implica, nomeadamente mais docentes a desistir da carreira e cada menos jovens a escolherem esta profissão para futuro.

O governo não pode colocar em causa o futuro da Escola Pública, tomando medidas que apenas contribuem para a instabilidade dos Professores que ainda resistem em permanecer na carreira e afastando muitos outros, quando temos falta de docentes nas escolas.

Que moral tem um Estado que enquanto entidade patronal, obriga as suas pessoas a estarem anos deslocadas de casa e das suas famílias sem qualquer ajuda de custo e com remunerações baixas?

Qual a empresa que pode ter um funcionário a contrato durante 20 anos?

O que pode exigir o Estado às empresas quando é o pior exemplo?

É por estas e por outras que o País está à deriva rumo a um indesejável naufrágio.

Fernando Camelo de Almeida

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12 comentários

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    • Sophie on 27 de Março de 2023 at 12:37
    • Responder

    Colega Almeida
    Assino por baixo.

    • ProfET on 27 de Março de 2023 at 15:44
    • Responder

    Concordo plenamente… E para além disso, os contratados andam anos e anos com a casa às costas, numa precariedade abismal, por vezes em 2 e 3 escolas, a trabalhar no duro… É o meu caso, desde 1996, porque quase dizimaram o meu grupo e nunca tive hipótese de vincular. A única forma de acabar com as injustiças, seria uma lista única de graduação no acesso às vagas para todos os que servem o ensino público… os do quadro queixam-se por causa do tempo congelado, mas esquecem-se que os contratados estão congelados no 1º escalão desde sempre. Tenho muito mais tempo de serviço do que a maioria dos do quadro (de todos os grupos), e estive sempre no público. Para além disso, os contratados não têm hipótese de escolher a sua distribuição horária semanal nem de escolher as melhores escolas ou turmas, sujeitamo-nos às sobras que nos calham, E se não conseguirmos completar horário recebemos ainda abaixo do 1º escalão… já para não falar do tempo de serviço que perdemos para efeitos de aposentação. Isto é que é precariedade, isto é que é um verdadeiro roubo. Chega de casa às costas, estou farto de costas, dispenso esta vinculação dinâmica, ultraprecária.

    • Cristina Gonzalez on 27 de Março de 2023 at 17:35
    • Responder

    Plenamente de acordo!

    • Luluzinha! on 27 de Março de 2023 at 17:46
    • Responder

    Ao autor do texto: diz-se e grafa-se precariedade!

    • Amélia Rodrigues on 27 de Março de 2023 at 22:53
    • Responder

    Caro colega ET, que coisa mais linda falar dos do quadro!! Francamente! Era o que nos faltava! Sou do quadro e já em 1991 concorria a todo o país para pertencer a um quadro, coisa que não deve ter feito!! Os do quadro não se queixam só do tempo congelado, deve andar distraído ou a olhar apenas para o seu umbigo! Lutamos por muito mais e somos solidários com quem se encontra na sua situação! Espero que tenha lutado tanto como muitos do quadro têm lutado, situação que testemunho em cada ação de luta, e tenho participado em todas! Já agora, estou no nono escalão, serei em breve do décimo e jamais deixaria de lutar pela profissão que abraço e por todos os que dela fazem parte! Fique bem! Lute e reivindique!

      • ProfET on 27 de Março de 2023 at 23:57
      • Responder

      Falei a verdade. Como constato a colega vai atingir o 10º escalão e eu muito provavelmente nem sequer hei de ir ao 2º. Já passei por 30 escolas e já dei 30 disciplinas / áreas diferentes e andei por muitas localidades do país. A única graduação justa é a graduação tempo de serviço + classificação académica, sem prioridades. Os do quadro defendem prioridades, isso é que é olhar para o próprio umbigo,

      • PTC on 29 de Março de 2023 at 19:10
      • Responder

      Cara colega Amélia Rodrigues,
      Coisa mais linda é um pensamento simplista e retrógrado, que procura validar os critérios de hoje com aqueles do extinto mundo de 1991. O que denota algum desprezo pela qualidade de vida das pessoas. Neste caso de colegas de profissão.
      E sim, claro que é inegável que os professores tiveram responsabilidades na queda das escolas em ambientes de amiguismo e parcialidade, transformando-as em espaços da delação, da intriga e da inveja. Não todos, obviamente e longe disso: os concordantes que jogaram, com convicção, o jogo viciado da avaliação de desempenho.
      O texto de Fernando Almeida é vago e algo mal amanhado, contudo verdadeiro em dois pontos essenciais: a falácia do diploma de Concursos e a demissão dos sindicatos na representação dos Contratados.
      O Governo aprovou um normativo que só piora o que já estava em vigor, recuando 20 anos em matéria de Concursos.
      Na sua elaboração, com falta de lisura de processos e sem honestidade, prevaleceram duas ideias: fugir em última hora ao Tribunal Europeu de Justiça após a intimação de Julho passado, e tapar os buracos abertos pela falta de professores, adivinhada há mais de uma década.
      Num emaranhado de contradições, apoiando-se numa alienante e diabólica máquina de Propaganda, promove a definitiva proletarização e precarização da classe docente. É uma Lei coerciva e que castiga, prelúdio de um desastre anunciado. Não respeita os Princípios da Liberdade, Equidade e Justiça e não serve o Interesse Público.
      A vinculação dinâmica é agora apresentada como uma oferenda generosa, como se fosse algo que a lei não exigisse há anos. É um Concurso injusto onde impera a arbitrariedade. Não atende à idade de quem concorre na moderação das obrigações, o que faz com que os que envelheceram a concorrer (correndo o país durante anos e anos), o vão fazer com regras para novos. Atira definitivamente milhares de professores, contra a sua vontade, para longe das suas residências sem esperança de poderem regressar às suas famílias, porque se dificulta ainda mais os mecanismos de aproximação. Um desastre que acarretará graves problemas sociais (da desestruturação das famílias aos idosos a quem faltarão os cuidadores).
      Cara colega, os resultados das suas acções de luta (esperemos pelo que ainda vem a caminho) estão à vista de todos.

    • Paulo Anjo Santos on 27 de Março de 2023 at 23:24
    • Responder

    Na verdade não concordo totalmente com o texto, os professores contratados, sobretudo os do norte do país, vão continuar com a casa às costas, se quiserem lecionar, sobretudo se quiserem vincular. São obrigados a concorrer ao país todo, mas isso é já o que a grande maioria tem de fazer para conseguir colocação, não estou a ver que haja grande diferença. Reparem que ficam colocados na zona onde estão neste momento, mas uma grande parte destes está já muito longe da sua área de residência. A única diferença estará naqueles que preferem ficar perto de casa mesmo que tenham de esperar mais tempo para ser colocados e ficarem muitas vezes em horários de substituição. Só estes deverão não concorrer à vinculação dinâmica, os que já estão longe de casa e estão dispostos a manter-se longe de casa para terem um contrato de trabalho, acho claramente preferível entrarem na carreira já pela vinculação dinâmica. Depois dependerá de cada um e de cada grupo de recrutamento, uns terão possibilidade de aproximação nos anos seguintes, outros isso será mais difícil… terão de ser opções pessoais!

    • José Silva on 28 de Março de 2023 at 1:12
    • Responder

    Agora é tarde. Quando se falava dos concursos, só se queria saber de outras coisas…
    Os sindicatos também vão carregar a cruz da educação. Daqui a uma dúzia de anos os danos serão bem visíveis.

    • Profdoquadro on 28 de Março de 2023 at 9:31
    • Responder

    Ser professor do quadro não é sinónimo de estabilidade. Sou professora do quadro há dezoito anos, que dista da minha área 150 km, o que me obriga a fazer 300km diariame.
    Trabalho há 28 estou no 4.°escalão. Continuo longe da minha área de residência e com estas medidas a serem implementadas dificilmente me consigo aproximar. O 10.°escalão é uma utopia.
    Durante estes anos também passei por muitas escolas e diferentes localidades. Com a agravante de levar 2 filhos que só viam o pai e os avós ao fim de semana.
    Sim ser do quadro e sinónimo de estabilidade!!!

    • mario silva on 29 de Março de 2023 at 1:07
    • Responder

    A vinculação dinâmica é uma falácia e um presente envenenado mas é injusto dizer que não se luta pelos profs contratados. Se assim fosse, nem a norma travão teriam ou a portaria do reposicionamento (que confere mais vantagem do que a quem é do quadro).

    • PTC on 29 de Março de 2023 at 19:12
    • Responder

    O texto de Fernando Almeida é vago e algo mal amanhado, contudo verdadeiro em dois pontos essenciais: a falácia do diploma de Concursos e a demissão dos sindicatos na representação dos Contratados.
    O Governo aprovou um normativo que só piora o que já estava em vigor, recuando 20 anos em matéria de Concursos.
    Na sua elaboração, com falta de lisura de processos e sem honestidade, prevaleceram duas ideias: fugir em última hora ao Tribunal Europeu de Justiça após a intimação de Julho passado, e tapar os buracos abertos pela falta de professores, adivinhada há mais de uma década.
    Num emaranhado de contradições, apoiando-se numa alienante e diabólica máquina de Propaganda, promove a definitiva proletarização e precarização da classe docente. É uma Lei coerciva e que castiga, prelúdio de um desastre anunciado. Não respeita os Princípios da Liberdade, Equidade e Justiça e não serve o Interesse Público.
    A vinculação dinâmica é agora apresentada como uma oferenda generosa, como se fosse algo que a lei não exigisse há anos. É um Concurso injusto onde impera a arbitrariedade. Não atende à idade de quem concorre na moderação das obrigações, o que faz com que os que envelheceram a concorrer (correndo o país durante anos e anos), o vão fazer com regras para novos. Atira definitivamente milhares de professores, contra a sua vontade, para longe das suas residências sem esperança de poderem regressar às suas famílias, porque se dificulta ainda mais os mecanismos de aproximação. Um desastre que acarretará graves problemas sociais (da desestruturação das famílias aos idosos a quem faltarão os cuidadores).

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