“As escolas já estão a arder?”

 O Ministro da Educação começou a mostrar ao que efectivamente veio e tem explicitado, de forma inequívoca, a sua indisposição para melhorar as condições existentes na Carreira Docente e torná-la mais atractiva, parecendo, antes, mover-se por um certo prazer sádico, ao enveredar obstinadamente pelas “soluções” mais tortuosas, desleais, injustas e perversas…

O Ministro parece até evidenciar um certo esgar de regozijo, divertimento e gáudio, ao apresentar propostas que, pelo seu teor, causarão um expectável sofrimento físico e psicológico a terceiros, como ele próprio certamente saberá…

E não pode deixar de se considerar tal cenário com perplexidade, mas também como algo iminentemente perturbador…

As recentes propostas apresentadas pelo Ministro, relativas à mobilidade por doença e à renovação de contratos dos Professores, constituem-se como o mais flagrante exemplo de “soluções” tortuosas, desleais, injustas e perversas…

Sem se pretender esmiuçar cada uma dessas propostas, refere-se apenas isto: se, pelo silêncio e pela inacção dos Sindicatos e dos Professores, tais planos se concretizarem, nada mais restará à Classe Docente a não ser “calar-se para sempre” e resignar-se perante toda e qualquer agressão ou desrespeito perpetrados contra si, tal a magnitude das presentes bizarrias…

Se existem suspeitas de que a mobilidade por doença esteja a ser utilizada de forma abusiva e fraudulenta por alguns, são esses alguns que devem ser chamados a comprovar cabalmente a condição que lhes permitiu usufruir dessa prerrogativa… E o mesmo procedimento deverá observar-se com todos os futuros candidatos a essa forma de mobilidade…

Mas isso, obviamente, significaria também implicar os Médicos que atestaram determinados quadros clínicos e aí é que o problema “pia mais fino” porque com os Médicos “não se brinca”… Não se pode afrontar alguns Médicos, mas pode hostilizar-se milhares de Profissionais de Educação, muitos deles com situações devidamente fundamentadas…

Claro está que o “pacto de não agressão”, apenas respeitante aos Médicos, também decorre da capacidade de união de classe, de reivindicação e da conquista do respeito por essa via, que umas corporações profissionais têm e outras não, diferença essa bem realçada ao longo dos últimos anos…

Impor quotas e raios de quilómetros para eliminar os supostos abusos, ou ignorar as mais elementares regras de graduação dos Concursos, permitindo e fomentando ultrapassagens injustas e injustificáveis, só poderá fazer sentido em algumas mentes insanas e insensatas…

Perante tanto despautério fica-se na dúvida se se trata de incompetência, sadismo ou algo muito pior…

Sem qualquer pejo em utilizar os Alunos como arma de arremesso para justificar propostas absurdas e perversas, ilustrado pela declaração no Parlamento em 6 de Maio passado: “não nos preocupa que as regras sejam diferentes. O que interessa é que os alunos tenham aulas”, o Ministro da Educação tem vindo a demonstrar que estará disposto a tudo para fazer prevalecer os seus intentos, inclusive enveredar pela “política de terra queimada”, tão típica dos déspotas da História…

O objectivo mais recôndito e perverso talvez seja mesmo “incendiar” as escolas públicas com medidas tirânicas e discricionárias, tendo como derradeira intenção colocar todos contra todos e acelerar por essa via a destruição da Escola Pública…

Uns beneficiados, outros prejudicados; uns doentes, outros saudáveis; uns novos, outros velhos, a todos serão dados motivos para esgrimir argumentos contra alguém…

Se a derradeira intenção for essa, lamentavelmente, parece já estar a surtir o efeito desejado… E, nesse contexto, torna-se, ainda mais fácil, impor barbaridades, desrespeitar e insultar…

O insulto à inteligência de cada um parece, aliás, ter assumido proporções nunca antes vistas, aliado a um certo “cinismo pretensamente afectuoso”, que é o pior dos cinismos…

O que mais aí virá, será para “ter medo, muito medo”… Sobre isso já não restará qualquer dúvida…

O “medo”, nesse caso, advirá do facto de, quando se pensa que pior será impossível, eis que nada parece impeditivo para a actual Tutela…

As escolas já estão a arder?”, talvez alguém esteja ansioso por perguntar…

Paris, ditosamente, não ardeu… Espera-se o mesmo das escolas…

Mas para isso, forçosamente, os Professores terão que se fazer ver e ouvir… Ou então aceitar, de vez, serem enxovalhados e tratados como imbecis, por aqueles que, com notável hipocrisia e cinismo, governam a Educação…

Que outra classe profissional aceitaria fazer parte de um “folhetim” rocambolesco, deprimente e humilhante, como o que se tem vindo a assistir nos últimos dias e, ao que tudo indica, ainda prolongável por mais alguns “episódios”?

Ficar satisfeito (e agradecido!) por o raio de quilómetros ter diminuído para metade, face à anterior proposta, é aceitar e validar explicitamente esse critério que, pelo seu carácter absurdo e grotesco, deveria ter sido rejeitado de forma categórica e incisiva, logo quando se conheceu a proposta inicial…

Em vez de uma oposição contundente, alimentam-se discussões supérfluas e inúteis sobre o tamanho do raio de quilómetros e aceitam-se todas as “migalhas” que, perversamente vão sendo atiradas pelo Ministério, deixando-se enredar num “jogo viciado” desde o início…

(Matilde)

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17 comentários

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    • Atento on 21 de Maio de 2022 at 10:14
    • Responder

    Esta criatura é muito pior que a mlr. Essa era/é a incarnação do mal, mas percebia-se/ percebeu-se em cada palavra e em cada gesto. Este, além de mau-caráter, é sonso e dissimulado.

    • Afonso on 21 de Maio de 2022 at 10:20
    • Responder

    Fui brutalmente penalizado com as medidas tomadas a 29 de abril, pois impedem a acumulação a quem está colocado com 7h letivas ou mais. Ainda não parei de reclamar tremenda injustiça, mas infelizmente pareço caso único.

    • Eis a questão on 21 de Maio de 2022 at 10:22
    • Responder

    Só temos tido inimigos dos professores no governo. MLR, Crato e agora este aparente sonso que quer calar os pais dos alunos sem aulas com a precariedade a todo o custo do docentes.
    Merece que os professores e sindicatos lhe decretem imediatamente a demissão das funções que exerce!

    Vá brincar com a vida das pessoas ao car(v)alho!

    • Contas on 21 de Maio de 2022 at 14:45
    • Responder

    Afinal o que queriam?
    O regabofe do costume?
    Escolas com mais de 100 profs em MPD?
    Anos a fio a ganhar sem fazerem a ponta de um corno?
    Docentes com 1 ou 2 turmas e muitos sem 1 turma sequer?
    Trabalhem como os outros. Não querem? Saiam da profissão!


    1. “Sair da profissão”. Já assim fazemos!🤣🤣
      Ainda não percebeste?
      Vão contratar aos palops ou fiquem com os filhos em casa!

    • Henrique on 21 de Maio de 2022 at 16:06
    • Responder

    O Partido Socialista tem um ódio patológico pelos professores.

      • Camões on 21 de Maio de 2022 at 21:52
      • Responder

      .
      Meu caro, o Convento tem que ser colocado em ordem.
      Os CONTRIBUINTES (SIM, aqueles que dão no batente 40 Horas por semana nas empresas que geram riqueza para o País e que pagam IMPOSTOS para obterem Serviços Publicos de qualidade estão fartos de CHULOS, isto é deSITÔRAS e SITÔRES da Treta que tem horários de 14 a 22 horas semanais, 7 artigos 102º por ano para faltarem á tripa forra……..

      E ainda tem MPDês para irem para escolas junto de casa COÇAR ESQUINAS.

      Nas Empresas Privadas não Há MPDês. Entendes????????????????????????????????
      .

    • Professor on 21 de Maio de 2022 at 17:21
    • Responder

    “O Partido Socialista tem um ódio patológico pelos professores.”
    Eu digo: Há que mudar o voto….

    Quanto ao artigo, EXCELENTE!!
    Não somos NADA para o governo. Somos números e não seres humanos.

    • Professor on 21 de Maio de 2022 at 17:27
    • Responder

    Contas: “Anos a fio a ganhar sem fazerem a ponta de um corno?”
    Engraçado, se calhar está a falar de experiência própria ou não é professor.
    Se for professor é uma vergonha ainda ser do tempo que se dizia que “os professores não fazem nada”.

    Contas: “Docentes com 1 ou 2 turmas e muitos sem 1 turma sequer?”
    – Se calhar têm motivos para isso. Doenças incapacitantes… Mas já vi que, felizmente, não sabe o que isso é.
    Não desejo mal a ninguém mas não percebo como são capazes de dizer estas atrocidades. Existem professores excelentes que foram obrigados, ao fim de muitos anos, a pedir MPD, agora devem-se despedir?? Por favor….

    • Luísa on 21 de Maio de 2022 at 18:06
    • Responder

    Matilde, subscrevo as suas palavras.

    Quanto à frase “Mas para isso, forçosamente, os Professores terão que se fazer ver e ouvir… “, entendo que, perante o absurdo e a falta de respeito a que temos assistido, a luta não poderá passar apenas pelas palavras. Não acredito que as “negociações” e os “pareceres” de que se tem falado levem a alguma mudança positiva. Além disso, o que está a ser “cozinhado” pelo Ministério da Educação terá efeitos já a curto prazo. Por esses e outros motivos, penso que deveríamos considerar a greve e a manifestação como formas de luta. Caso contrário, terminarão as atividades letivas, terão lugar os Conselhos de Turma de Avaliação e os Exames e, depois disso, como poderemos marcar a nossa posição?! Como resposta à afirmação “Não nos preocupa que as regras sejam diferentes. O que interessa é que os alunos tenham aulas.”, resta-nos demonstrar que com greve não há aulas, sendo que o direito à greve está consagrado na lei.
    Se nada for alterado para melhor, eu deixo o ensino. Gosto muito de “dar aulas”, mas o ambiente que está a formar-se e tende a piorar colide com a dignidade e com o respeito por direitos elementares…

      • Luísa on 22 de Maio de 2022 at 9:46
      • Responder

      Professor Karamba, a sério, se eu dissesse que é muito inteligente, também iria fazer “copy” e “paste” daquilo que tem guardado a ganhar mofo?!
      Na sua frase «És do PIAGET formada naqueles Cursecos da Tanga??????????????????”», até se esqueceu de tirar as aspas após os pontos de interrogação. Consulte novamente a sua bola de cristal, porque nem a dar palpites é bom! Ou então talvez tenha tido formação “naqueles Cursecos da Tanga” e ande a “MAMAR”, ou, simplesmente, a sua cabecinha não dá para mais…
      Por mim, pode continuar a descer de nível, até onde lhe for possível…

      • Bazofias on 22 de Maio de 2022 at 10:29
      • Responder

      Professor da m… é o que tu és pangaio


  1. Parabéns Matilde
    Excelente artigo como sempre.
    Só pondo as escolas a arder, com greves a doer nos nossos bolsos, mas a fazê-los a eles de palhaços.
    Quanto ao “Contas” faça contas à vida e não diga asneiras, não sabe o que está a dizer, coitadito!!!
    Tenho mais de 30 anos de serviço sempre fui professora e formadora, não sei fazer mais nada pois dediquei toda a minha vida aos alunos, à pesquisa, às formações para melhor servir as intencionalidades educativas, e agora vou para onde?
    Vá o “Contas” fazer de conta que faz alguma coisa, pelos vistos fala por ele.
    Nunca pedi MPD, mas percebo a falta que esses professores nos vão fazer para apoiar os alunos.
    Lamento estar sempre a ver comentários de energúmenos, que aqui vêm despejar tanto ódio, maledicência. Pensam que nunca vão ficar doentes? Tive um irmão que entrou no hospital com o covid na quinta e morreu na sexta, comecem a pensar que não acontece só aos outros.

    • Mário Rodrigues on 21 de Maio de 2022 at 19:41
    • Responder

    O objectivo de toda a pandilha costista é destruir a escola pública!
    Há um claríssimo projecto de domínio social, político e económico da espécie de partido que é uma espécie de misto de máfia e de maçonaria!
    A falta de professores faz parte deste plano!…


  2. Creio firmemente que está na hora de fazer uma grande manifestação e uma greve a todas as atividades de avaliação com mapa de rotatividade bem delineado. Tal como em 2018 com o Stop a portar-se bem até ao fim.


    1. AG, concordo.
      Sem quórum, os Conselhos de Turma serão adiados.

    • Anónimo on 23 de Maio de 2022 at 14:30
    • Responder

    As escolas já arderam, assim como os professores. Só falta mesmo arder o ministério da (des)educação.

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