Transformação digital na Educação – Com o regresso às aulas presenciais, em que ponto ficámos? Ana Balcão Reis

Transformação digital na Educação – Com o regresso às aulas presenciais, em que ponto ficámos?

A passagem forçada ao online abriu portas pelas quais é importante avançar. E há muitas experiências de combinação de online com presencial que estão a ser feitas com muito bons resultados.

Com o fecho forçado das escolas em todos os níveis de ensino em março passado houve uma passagem forçada ao ensino remoto. Isto levou, por um lado, à descoberta das possibilidades oferecidas pelo digital, mas, por outro lado, à constatação dos seus limites.

Digo descoberta porque, mesmo que se soubéssemos que era possível, ser forçados a experimentar ajuda-nos a perceber o que funciona ou não funciona e as possibilidades existentes que afinal, nalguns casos, não são assim tão complicadas de usar. Percebemos também os limites da utilização do ensino online, sendo estes limites diferentes nos vários níveis de ensino.

Ficou também patente a grande desigualdade no acesso aos meios online. No inquérito aos professores que o Centro de Economia da Educação da Nova SBE realizou entre março e abril, com mais de 1500 respostas, uma grande percentagem de professores reportou que os seus alunos não tinham acesso aos meios necessários para seguir as aulas a distância. Porém, com enormes diferenças, mesmo quando nos focamos apenas nas escolas públicas: alguns professores reportavam que mais de 90% dos seus alunos conseguiam usar um computador com acesso à internet para seguir as aulas, enquanto outros professores responderam que a enorme maioria dos seus alunos não o conseguia fazer. Quando repetimos o inquérito após as férias da Páscoa constatámos que, apesar de um aumento no número de alunos com acesso a computador com internet, as desigualdades mantinham-se. (resultados aqui).

E esta é apenas a desigualdade no acesso aos meios informáticos, mas existe ainda a desigualdade decorrente de, no ensino primário, os alunos não serem autónomos. Por isso, a diferente capacidade e disponibilidade para apoiar das famílias agrava fortemente as desigualdades existentes. Para avaliar como o encerramento das escolas afetou a aprendizagem dos diferentes alunos, está agora a decorrer uma terceira vaga do inquérito aos professores onde perguntamos como voltaram os alunos para a escola depois deste tempo de aulas à distância (se é professor pode responder neste link).

Se digital quisesse apenas dizer ensino a distância, provavelmente só o queríamos usar em casos de absoluta necessidade, como durante a pandemia. Com tantos estudos a mostrar a importância das soft skills, tais como saber comunicar, trabalhar em equipa, socializar, não se pode pensar que as aulas online substituam a aprendizagem presencial.

Mas o digital pode ser mais do que isto, pode ser usado em sala de aula, com o apoio e proximidade de professor e colegas para aceder a conteúdos de grande qualidade que melhoram efetivamente a aprendizagem. As possibilidades de iteração e de adaptação do ritmo de aprendizagem às necessidades individuais que o digital oferece são também grandes. Mas, para isso, precisamos que todas as escolas tenham internet (apenas 32% dos diretores das escolas portuguesas no inquérito PISA diz que a rapidez do acesso à internet nas escolas é satisfatória, versus 67% na média da OCDE). É também preciso que os professores tenham a possibilidade de integrar nas suas metodologias de ensino a utilização destes recursos. Isso exige tempo de preparação e formação, além dos recursos tecnológicos.

No ensino superior, o espaço para usar o digital é certamente maior, dado o maior nível de autonomia dos alunos. Mesmo assim, o ensino presencial continua a ser fundamental. Os nossos alunos, na Nova SBE, disseram-nos claramente no inquérito que fizemos que preferiam que a passagem para online fosse apenas parcial, que não eliminássemos a experiência presencial. Mas a passagem forçada ao online abriu portas pelas quais é importante avançar. E há muitas experiências de combinação de online com presencial que estão a ser feitas com muito bons resultados.

Na Nova SBE estamos a fazer algumas experiências quer na Licenciatura, quer nos Mestrados, tirando partido do empurrão dado pela pandemia. Nalgumas cadeiras, os professores gravaram vídeos onde apresentam os conteúdos teóricos. As aulas presenciais partem desses conteúdos disponibilizados online para uma discussão e aplicação prática desses conteúdos. Outros exemplos usam o digital durante as aulas presenciais para fazer pequenos testes de escolha múltipla que permitem perceber rapidamente a apreensão dos conceitos expostos. Estes são alguns exemplos da complementaridade entre elementos presenciais e elementos online e de como o digital pode melhorar a experiência de aprendizagem.

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2020/12/transformacao-digital-na-educacao-com-o-regresso-as-aulas-presenciais-em-que-ponto-ficamos-ana-balcao-reis/

1 comentário

    • Francesc Ferrer Y Guárdia Um Bocadinho Manco on 2 de Dezembro de 2020 at 21:13
    • Responder

    Há um assalto desenfreado dos capitalistas digitais para que tudo rode nas suas mãos… A pressão para arrimar computadores para as escolas é um avanço contra os professores. Num futuro próximo, serão umas espécie de babás , pagos a cêntimo , quando todos os meios serão fornecidos num mundo desconectado com a realidade… Acabarão com os livros, com o que chamam de ”conhecimento enciclopédico”: criarão brutos agarrados a teclas. É tudo uma questão de milhões e de poder: ninguém aqui quer combater desigualdades nenhumas… Nivelar por baixo e tornar os docentes num proletariado, perdão, colaboradores prescindíveis… a qualquer momento… é isto a que chamam, futuro, progresso, inovação….

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