TAP E Educação, Que Não Haja Confusão!

 

Pelo menos na última semana, o assunto TAP tem feito manchetes atrás de manchetes nos vários meios de comunicação social. Os números apresentados são, altos, muito altos, estamos na casa dos mil milhões! Quem paga? O contribuinte.

É indiscutível, que a TAP seja uma empresa estratégica. Indiscutível por todo o dinheiro que gera, direta e indiretamente no país assim como o facto de ser um dos maiores exportadores nacionais. Sabemos todos as dificuldades que o país tem em equilibrar a balança das exportações e importações e por isso até podemos compreender a importância de não a deixar cair.

O que não se compreende é a forma ligeira com que se falam em milhões para TAP(ar) buracos causados sobretudo por má gestão, seja ela privada, que não nos interessaria se depois não viessem pedir ao contribuinte, ou pública, que torna as coisas muito complicadas para este governo que insistiu em nacionalizar a empresa!

Finalmente estão a atacar o problema, identificaram bem o problema e vão atacá-lo. Espero que o façam, sem medos, sem receios e sem hesitações ou recuos. É o dinheiro de todos nós que está em causa.

O maior problema de gestão da TAP, e aquilo que a prejudica há anos, é o “acordo de empresa” que por lá prolifera que torna a operação dispendiosa e ineficiente.

A título de exemplo só pelo simples facto de um Comissários/Hospedeira de bordo entrar no avião é lhe pago um “X” que depende da sua antiguidade na empresa… Sabemos também que o número de comissários por voo era sempre superior ao exigido pela lei europeia de aviação (IATA). Ou seja, enquanto no A321 na Air France são necessários 4 comissários/Hospedeiras, na TAP são 5. Este acordo de empresa prevê também que os descansos da tripulação seja muito acima dos recomendados, fazendo com que um comissário na TAP seja menos produtivo que um comissário na Air France ou Lufthansa pois não pode ser “utilizado” com a mesma frequência. Juntando os altos níveis de abstencionismo, justificado também por não haver quebra de rendimento nos três primeiros dias, temos os ingredientes todos para uma empresa de difícil gestão.

Não é difícil perceber a dificuldade que esta empresa tem em competir financeiramente com as congéneres.

Não pode voar tantas horas se quiser cumprir o acordo de empresa, mas pode trabalhar mais horas, e ganhar como horas extras, se quiser cumprir a lei da aviação civil. Se isto não é pernicioso e sinal de má gestão o que será?

Se formos ler alguns pontos do acordo de empresa dos comandantes então a situação só piora no que toca a gastos extremos onde o mais escandaloso são as chamadas “vendas de folgas” por valores irreais. Sim isso mesmo que ouviu. Mas isto só é possível porque o descanso em acordo de empresa os permite trabalhar para a Lei da Aviação Civil, mas no caso com rendimentos muito superiores.

Nada disto teria interesse nenhum, se estivéssemos a falar de uma empresa totalmente privada. Só que não. Estamos perante uma empresa que recorre ao contribuinte para se salvar.

Será justo que, por falta de verbas, nas escolas por esse Portugal haja racionalização de papel higiénico, cópias, recursos dos mais básicos que possa imaginar?

Será justo que a maioria das salas de aulas sejam iguais há 30 anos?

Será justo que a tecnologia que “entra” nas salas de aula seja muitas vezes adquirida pelos próprios professores?

Será justo que aos Professores lhes tenham sido negados os direitos mais básicos que seria a contabilização para progressão de carreira do tempo de serviço, efetivamente, trabalhado?

Será justo que faltem professores a mais de 30 mil alunos por falta de dinheiro para os contratar decentemente?

Será justo professores Licenciados, Mestrados e mesmo Doutorados receberem durante os primeiros 20 anos, entre contratado e entrada na carreira 1500€ brutos que não poucas vezes não paga o trabalho?

Ainda se lembram do valor, que o governo dizia que não tinha, que seria necessário para a contabilização do tempo de serviço?

Lembram-se da ameaça de demissão do Primeiro Ministro?

Lembram-se da palhaçada que foi essa encenação?

Estávamos a falar de  567 milhões, 1/6 do que nos pedem para a TAP, correspondentes a uma reposição de justiça e não de excessos, como é o caso.

Perante isto, pergunto eu: O que se poderia fazer na Educação com este orçamento?

Será que a Educação não é estratégia o suficiente para o país?

Olhemos para os países desenvolvidos e percebamos como nas prioridades nacionais a valorização da Educação lhes é transversal. Com consequências! Sinto-me envergonhado com um país que despreza a Educação, mas não pestaneja quando se trata de tudo o resto!

Vergonha!

Emanuel Vicente

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9 comentários

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    • Terra das Lágrimas on 11 de Dezembro de 2020 at 23:22
    • Responder

    “Será justo professores Licenciados, Mestrados e mesmo Doutorados receberem durante os primeiros 20 anos, entre contratado e entrada na carreira 1500€ brutos que não poucas vezes não paga o trabalho?”
    A resposta à pergunta é: obviamente, não! Porém, continuam os analistas a esquecer os 11 mil docentes bacharéis que com 36, 37 ou 38 anos de serviço, em que fazendo o mesmo que os licenciados, mestrados e doutores, apenas estão no 4ºescalão. Isso terá a ver com justiça/injustiça ou com uma carreira mal estruturada? Ou será falta de respeito?

      • Fernando, el peligroso de kas verdades. Humm... on 12 de Dezembro de 2020 at 2:09
      • Responder

      Pois… compreendo. Mas era preciso teres estudado como devia ser no teu tempo. Ou seja, devias ter tirado a licenciatura e não teres ficado por… se calhar nem bacharel… porque a estes foi possível terem tirado uma coisa que deu equivalência à licenciatura para efeitos de carreira. Contudo, havia docentes com uns cursos manhosos que não eram bacharelato, coisas de escolas de arraiolos, coisas de desenhos não sei de quê…etc.
      Temos pena!

      • Atento on 12 de Dezembro de 2020 at 13:02
      • Responder

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      Justos são os Salarios pagos na TAP:

      – Comandante com 10 anos de voo = 12.000,00 EUROS por Mês;

      – Comandante com 20 anos de voo = 19.000,00 Euros por Mês.

      – Ordenados iguais ou inferiores a 900,00 Euros por mês é RESIDUAL na TAP.

      – A TAP deu sempre prejuizo ao longo dos Anos, logo é uma Empresa FALIDA que é sustentada pelos Impostos pagos pelos CONTRIBUINTES.

      Relembro que no Ensino existem Professores (Licenciados, Mestres e Doutores) com ordenado inferior a 600,00 Euros por Mês com Horários Incompletos.

      É este REGABOFE nas empresas públicas – TAP, RTP….. – (sustentadas pelo Dinheiro dos CONTRIBUINTES) – que não permite aumentos salariais para os Desgraçados desta Vida Miserável.

      O Governo vai colocar na TAP cerca de 4 MIL MILHÕES de Euros na TAP do Dinheiro dos CONTRIBUINTES.

      NOJO!….VERGONHA!…….

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      ——————————

    • Artur Arlindo Macedo da Cunha on 12 de Dezembro de 2020 at 0:04
    • Responder

    Subscrevo totalmente. Parabéns.

    • maria on 12 de Dezembro de 2020 at 1:02
    • Responder

    Bacharéis ? Qual bacharéis ? Esse grau académico foi, infelizmente , há muito tempo extinto da nossa Universidade.

    Não sei se , confundindo, o leitor se refere a uns cursos rápidos , profissionalizantes (chamados médios, não superiores ) ministrados nos extintos institutos industriais ( agentes técnicos) ; nos institutos comerciais ( contabilistas) ; nas antigas escolas agrícolas (regentes agrícolas) ; nos antigos Magistérios ( professores primários ) ; nas antigas escolas de educadoras (educadoras de infância). Estas escolas não conferiam qualquer grau académico, pois não era ensino superior. Mas há quem confunda, como será o caso…

    • Alecrom on 12 de Dezembro de 2020 at 9:32
    • Responder

    Em relação à TAP,
    penso que se deve aproveitar a oportunidade para fazermos (aquilo é nosso) o mesmo que fizemos na CGD (também nossa):

    – rescisões migáveis e (sempre que justificável) milionárias;
    – reformas antecipadas sem qualquer penalização.

    Depois,
    penso que era importante renacionalizar os CTT e aplicar a mesma política.

    Quanto ao excesso de trabalho que atualmente se verifica no setor da saúde,
    apesar dos recordes dos valores em horas extra continuarem a ser batidos todos os meses,
    penso que se deveria apostar ainda mais nesta modalidade remuneratória do trabalho de enfermeiros e médicos,

    por uma questão de comparação e equidade relativamente ao que temos nas escolas.

    Não sejam egoístas!

    • Curioso on 12 de Dezembro de 2020 at 11:14
    • Responder

    Texto com grande lucidez que demonstra com factos as opções tomadas pelo governo e com o aval de mais alguns.

    • N. Ribeiro. on 12 de Dezembro de 2020 at 11:15
    • Responder

    Gestores, políticos lavam as mãos… responsabilidade 0.
    Mas a culpa é dos funcionários públicos, esses é que lesam a república.

    Corroboro uma verdadeira vergonha.

    • Terra das Lágrimas on 12 de Dezembro de 2020 at 19:00
    • Responder

    … a sociedade civil tem pena de ter docentes superiores e peligrosos que desconhecem muita coisa e falam do que não sabem revelando a tal sobranceria que um qualquer grau académico não lhes confere mas que se acham no direito de discriminar quem muitas vezes lhes dá a mão e desprezar a sua experiência ou Marias que se julgam possuidoras de muita sabedoria relativamente a instituições que desconhecem. Um exemplo de colegas! Pobre classe docente!

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