Não Resolve, Mas Ajuda e Muito a Resolver

E aceito perfeitamente a justificação que uma turma com 30 alunos pode ter muito mais rendimento que uma de 20 e que a capacidade de determinar o número de alunos por turma podia ser determinado internamente na escola,

O problema é que a régua e o esquadro para além de traçar linhas paralelas também servem para traçar linhas perpendiculares. E nesse caso um limite máximo menor do que existe actualmente é mais aconselhável do que dar essa capacidade de decisão a quem tem dificuldade em traçar estas linhas.

 

 

Redução de alunos por turma? Mudam-se os tempos, alteram-se os procedimentos!

 

 

Não se julgue que a redução do número de alunos por turma, por si só, resolverá os problemas.

 

 

Os partidos políticos com representação na Assembleia da República Os Verdes, o PCP e o BE, viram aprovadas, na generalidade, as respetivas iniciativas legislativas de redução do número de alunos por turma, criando-se um grupo de trabalho na Comissão de Educação e Ciência que irá apreciar, na especialidade, os Projetos de Lei procedendo à audição de entidades representativas das escolas, dos diretores e dos pais e encarregados de educação. Este procedimento parece-me acertado na medida em que ausculta os verdadeiros intervenientes no processo educativo, designadamente quem está todos os dias no centro da atividade pedagógica, direta e/ou indiretamente.

Os três Projetos de Lei são em tudo semelhantes e apresentam a mesma lacuna: tal como os diplomas criticados, as forças partidárias indicam um número máximo (embora menor, como é óbvio!) e mínimo, de crianças/alunos/formandos que devem compor uma sala/turma.

No meu entender, expresso há uns anos a esta parte, a tutela não deverá criar qualquer teto em relação ao número de alunos, antes, sim, acreditar na competência das suas escolas, e dos seus diretores (conhecedores das comunidades educativas), contrariando a tentação de tratar de modo uniforme o que é desigual e, muitas vezes, até é substancialmente distinto.

A solução, sem criar constrangimentos no erário público, e pedagogicamente coerente, deverá passar pela afetação de um número limite máximo de turmas por ano de escolaridade e, posteriormente, preenchê-las de acordo com critérios de cada uma, atendendo aos conhecimentos detidos pelos seus diretores e estruturas pedagógicas acerca da comunidade escolar e dos alunos. Assim, para além da pertinência pedagógica, os detratores desta medida não diriam que a pretensão é aumentar desmesuradamente o número de professores, nem os defensores da mesma poderiam ser acusados de aumentar a despesa na Educação.

Porém, não se julgue que a redução do número de alunos por turma, por si só, resolverá os problemas. Os grupos parlamentares, bem como os sindicatos devem ser proativos e manifestar preocupação em relação a duas questões, ambas de ordem laboral: exigir a definição clara e definitiva das funções dos docentes integradas na componente letiva mas, sobretudo, na componente não letiva e reavivar a luta em prol da redução da componente letiva dos professores após os 40 anos de idade (deixou de acontecer com Maria de Lurdes Rodrigues).

 

Não se entende a aparente(?) letargia de algumas forças que, preocupadas com assuntos de lana-caprina, esquecem-se de trazer para a agenda política situações referentes às condições de trabalho daqueles que devem defender e, ao mesmo tempo, no caso concreto, melhorando a qualidade pedagógica no ensino, em benefício claro dos nossos alunos/crianças/formandos. O cenário é de “muita parra e pouca uva”…

As providências cautelares, gastas e reiteradas, parecem ter caído em desuso. No passado, sob qualquer pretexto, alguns ameaçavam recorrer a este expediente legal, esquecendo-se de anunciar o resultado final (ou da ação principal de que depende), a maior parte das vezes desfavorável às suas pretensões. No entanto, se este mecanismo está na mó de baixo, surge outro que, embora de âmbito diferente, começa a ganhar uma mega dimensão: as petições. Também na Educação (mas não só!), algumas forças sindicais (e não só!) recorrem abusivamente a este estratagema constitucionalmente consagrado, dirigido à Assembleia da República, embora com uma eficácia duvidosa. Os instrumentos disponibilizados referentes a direitos, liberdades e garantias de participação política devem ser usados qb, sob pena de se banalizarem e perderem o desejado impacto.

Muitos reconhecem os sindicatos dos professores como nefastos; não é esta a minha opinião. Respeito os seus dirigentes que têm um trabalho árduo, e admiro-os pela forma coerente como defendem os seus representados. No entanto, a atual conjuntura política obriga(ria) a mais conquistas em favor dos professores, e não só as que levaram um dirigente sindical a dar nota positiva ao desempenho do Ministro da Educação, ao fim de algumas semanas em funções; independentemente da justeza desta avaliação, ela é de estranhar quando, relativamente aos outros, as críticas eram apresentadas logo conhecidos os seus nomes… Mudam-se os tempos, alteram-se os procedimentos!
Filinto Lima, Professor, director de escola

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3 comentários

    • Movimento on 30 de Janeiro de 2017 at 22:56
    • Responder

    Também não significa que com 30 alunos o ambiente de aprendizagem seja o melhor. Depende da turma. Com mais alunos, quando são perturbadores, é tudo mais difícil. Mas com menos, nomeadamente 20 alunos, ajuda os mais fracos. Na verdade, Arlindo, as turmas com bons alunos, explicações fora da escola, etc., até podem ter 30. Mas a realidade portuguesa não é feita só de bons alunos em turmas de 30.

    • Movimento on 30 de Janeiro de 2017 at 22:57
    • Responder

    Também não significa que com 30 alunos o ambiente de aprendizagem seja o
    melhor. Depende da turma. Com mais alunos, quando são perturbadores, é
    tudo mais difícil. Mas com menos, 20 alunos, criam-se melhores condições para poder ajudar os mais
    fracos. Na verdade, Arlindo, as turmas com bons alunos, explicações fora
    da escola, etc., até podem ter 30. Mas a realidade portuguesa não é
    feita só de bons alunos em turmas de 30.

    • Eli Rodrigues on 31 de Janeiro de 2017 at 19:51
    • Responder

    Sempre defendi que o trabalho rendia mais em turmas com menos alunos. Já tive várias experiências com turmas muito pequenas e o contrário, com vários anos (vários níveis de ensino também dentro do mesmo ano) e posso afirmar, com toda a certeza, que em turmas com um número menor de alunos o trabalho é completamente diferente. Falo de casos do 1○ Ciclo, mas obviamente que acredito que nos outros ciclos e mesmo no secundário haverá mais sucesso em turmas mais pequenas. Como sucesso entendo não só o escolar das aprendizagens efetivas dos conteúdos e desenvolvimento de competências, mas também na parte comportamental, porque sem esta, nada feito!

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