Uma das questões que surge neste momento é, se os docentes vão ou não conseguir obter vaga para acederem a uma menção de Muito Bom ou Excelente. Para que não haja dúvidas ficam aqui as fórmulas, para os diferentes universos de docentes, a aplicar.
(Arredondar por excesso)
Universo – Docentes contratados n.º de docentes avaliados X 0,25 = Muito bom
Universo – Docentes de carreira n.º de docentes avaliados x 0,05 = Excelente n.º de docentes avaliados x 0,20 = Muito bom
Universo – Coordenadores n.º de docentes avaliados x 0,05 = Muito bom ou excelente
Universo – Avaliadores internos n.º de docentes avaliados x 0,05 = Muito bom ou excelente
Focando apenas nas aprendizagens, retirando da equação a assiduidade e o comportamento, temos, hoje, em Portugal, alunos a transitar ou a serem aprovados com 5, 6, 7 negativas.
Parece-me que começa a ser óbvio para todos que o que se assiste diariamente no ensino, sobretudo nesta altura de final de ano letivo onde se avaliam os alunos e se decide se transitam ou são retidos ou ainda se estão aprovados ou não para o ciclo seguinte, é uma verdadeira farsa.
Não são poucos os testemunhos que se vão lendo pelas redes sociais de professores que se queixam de terem de alterar ou de verem diretores alterar as notas dadas. A constatação desta realidade torna todo o sistema de ensino numa verdadeira farsa, onde em nome da inclusão e da flexibilidade se deve transitar todos, esforcem-se ou não, saibam ou não, tenham estado presentes, ou não, nas aulas.
Pelos últimos Normativos Legais dados a conhecer pelo Ministério da Educação, a Escola parece estar a transformar-se, a passos largos, num espectáculo de entretenimento e os profissionais que nela trabalham correm o sério risco de se verem obrigados a tornar-se numa espécie de “entertainers”, que é como quem diz numa espécie de “artistas” ou de “animadores”, cuja principal função é promover a distracção e o divertimento…
Espera-se deles que consigam entreter crianças e jovens, recorrendo às mais flexíveis, diversificadas, transversais e holísticas estratégias, que podem ir desde actuações mais ao estilo de um “Cirque du Soleil” até a actuações menos sofisticadas e despretensiosas, mais ao estilo de “Saltimbancos de Estrada”…
Todas as anteriores concepções de Escola serão para esquecer, sobretudo as que contradigam aquilo que parece ser o paradigma actual – a Escola Centrada no Poder da Diversão e do Passatempo – pois quem não o fizer arrisca-se, previsivelmente, a ser considerado como “persona non grata”, “desmancha prazeres” ou ainda como “Velho do Restelo”…
Adivinha-se, até, a proliferação futura de Acções de Formação com temáticas tão valorosas quanto estas: “Como motivar os alunos de qualquer nível de ensino recorrendo ao Canto e ao Sapateado” ou “A importância das Artes Performativas no ensino de qualquer Disciplina” ou ainda “A influência da Música Tradicional Portuguesa na gestão de sala de aula”…
Futuramente, a Formação apostará, certamente, na capacitação dos profissionais de Educação como prestadores de um serviço de entretenimento, sem nunca esquecer que “o cliente tem sempre razão” (H.G. Selfridge) e que a satisfação dos “consumidores”/”público” é o principal objectivo…
Cada um poderá, no entanto, escolher entre um género de representação mais dramático ou mais humorista, mas sempre norteado pela ideia de que um “verdadeiro artista” não desilude o seu público, nem defrauda as suas expectativas…
O “verdadeiro artista” também não desiste do seu público, mesmo que, em determinados momentos, seja vaiado ou pateado por ele…
O público manda, é aguentar e “cara alegre”…
Para os que quiserem levar isto mais a sério, estas palavras de Salvador Dali talvez possam servir como uma referência: “Um verdadeiro artista não é aquele que é inspirado, mas aquele que inspira os outros”…
Os que, descaradamente, preferirem “blasfemar” contra o problema, talvez, possam apreciar mais e procurar alguma inspiração nas ímpares composições musicais de Serafim Saudade – O Verdadeiro Artista…
Em qualquer caso, convém não esquecer que, aconteça o que acontecer, “the show must go on”…
O Ministério da Educação apreciará e reconhecerá, por certo, a perseverança e a dedicação de cada profissional de Educação a tão nobre causa…
Desconhecem-se, no entanto, os efeitos resultantes desta nova abordagem, em termos de benefícios/prejuízos, ao nível do desenvolvimento pessoal e social das crianças e dos jovens…
Este artigo vem modificar o artigo anterior porque a ordenação dos candidatos que entraram através do concurso externo tinha o tempo de serviço considerado até 31/08/2021 o que lhes aumentava 1 valor na graduação do concurso da Mobilidade Interna 2021/2022.
Apesar disso os números não são muito diferentes e em vez poderem estar 7 docentes do concurso externo no topo da próxima lista da Mobilidade Interna, estão apenas 6.
Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2021/07/docentes-que-entraram-no-quadro-e-vao-ficar-no-topo-da-lista-na-mobilidade-interna-2/
Encontra-se disponível a aplicação eletrónica que permite aos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas procederem à indicação da componente letiva (I), das 10:00 horas do dia 12 de julho até às 18:00 horas do dia 14 de julho de 2021 (hora de Portugal continental).
Num tempo em que tanta gente escreve sobre a Educação e verte lágrimas de dor pela Escola Pública e pelos mais desfavorecidos, seria importante que entendesse o que esta lógica de Educação Mínima representa para a Escola Pública: a sua redução a um currículo de trivialidades, em que tudo o que não é “essencial” é apelidado de “enciclopédico”.
Enquanto o ano lectivo terminava, os exames nacionais do secundário arrancavam e se discutia quando sairiam as listas de colocação do concurso de professores, eis que é publicado de forma quase despercebida o despacho n.º 6605-A/2021. Os menos atentos pensarão: mais um despacho, não deve ser nada de relevante, mais um diploma a juntar a tantos, nem sequer é um decreto.
No entanto, apesar de escrito naquele tipo de linguagem algo circular que os leigos têm dificuldade em compreender, o sumário do dito despacho deixa alguns sinais de não ser um daqueles diplomas menores, que apenas pretendem “operacionalizar” ou “clarificar” um dado ponto de outro diploma que deixou espaços por preencher. Diz-nos o sumário do despacho 6605-A/2021 que “procede à definição dos referenciais curriculares das várias dimensões do desenvolvimento curricular, incluindo a avaliação externa”. Como de referenciais (e guiões ou guias) andamos nós mais do que repletos, porque os há de todos os formatos para os mais variados temas (basta uma rápida pesquisa online para os descobrirmos para a Saúde, mas de igual modo para o Desenvolvimento, para a Educação Financeira, para o Mundo do Trabalho, para a Educação Ambiental, até mesmo para o Empreendedorismo), a primeira reacção pode ser a de indiferença. Só que sob a superfície, conhecendo-se o modo operatório do actual poder na Educação, há campainhas de alarme logo sob a superfície. O primeiro deles é que num diploma com menos de 8000 caracteres, mais de 6500 são de preâmbulo explicativo. O que, mesmo para quem é moderadamente iniciado nestas andanças, significa que está ali uma justificação demasiado longa para ser inocente ou tratar-se de matéria pouco importante. Introduções deste tipo, que em muito ultrapassam o articulado, significam que não estamos perante um despacho qualquer.
Fica sempre bem dizer que nenhuma escola deve estar orientada para médias e rankings e que a aprendizagem é muito mais do que uma pauta de classificações. Na hora da verdade, fruto do modelo de acesso ao Ensino Superior em vigor, para quem ambiciona cursos com vagas restritas o Secundário é um tempo de ansiedade e de muitas contas, em que um deslize ou um valor a menos podem fazer toda a diferença.
Essa pressão contribui para práticas reiteradas de inflação de notas, mais comuns entre colégios do que em escolas públicas. De acordo com os investigadores Gil Nata e Tiago Neves, que estudaram em profundidade as consequências deste fenómeno, uma média inflacionada em um valor percentual permite ao aluno, num curso de topo como Medicina, saltar 90% dos lugares na lista de ingresso. Nos cursos menos competitivos, o impacto ronda os 30%.
Depois de anos de notícias sobre fiscalização de colégios, foi conhecida a suspensão, por um ano, da diretora pedagógica do externato Ribadouro, um dos mais procurados no Porto. E é essencial que sejam conhecidos mais resultados e conclusões detalhadas das investigações, porque a inflação das notas internas põe em risco a justiça social e distorce o trabalho efetivo de milhares de jovens.
Curioso é perceber que o que começa por parecer uma vantagem para os alunos injustamente beneficiados esconde, a médio e longo prazo, problemas e consequências perversas dessa distorção. Uma investigação do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde concluiu que alunos provenientes de escolas que inflacionavam muito as notas tinham pior desempenho no Ensino Superior do que os de escolas secundárias que não inflacionavam.
Se pensarmos mais longe, existirão ainda mais danos colaterais de uma cultura obcecada pela média. Porque a obsessão esconde o que deveria ser evidente, mas não é realmente interiorizado por pais, alunos e docentes que se sentem permanentemente avaliados por resultados. Um aluno com boas notas não é, só por isso, mais capaz de pensar, criar e decidir. E muito menos, só por isso, um profissional competente e realizado naquilo que vier a fazer. Uma escola que veja mais longe chegará mais perto das potencialidades de cada um.