Numa altura de rankings (que para mim, mais não são do que um exercício de humilhação da escola pública) nem me quero alongar sobre o nada que dizem a respeito da qualidade do ensino.
O vídeo abaixo apresenta os dados relativos à evolução da media dos exames nacionais do básico e secundário desde 2008 até 2019… e mais do que perceber a qualidade do ensino, percebe-se o contexto político e a consequência das orientações emanadas da tutela.
Pergunta: Não considera muito penalizador para os jovens realizar exames nestas condições?
Resposta: “As nossas comunidades educativas responderão a esse problema de forma adequada.”
Pergunta: Ainda a pensar no ânimo dos jovens, o que acha do momento escolhido, tão em cima dos exames, para a publicação de rankings de escolas?
Resposta: “As nossas comunidades educativas responderão a esse problema de forma adequada.”
Pergunta: No dia em que se publicam rankings, um dos SE da educação pública um texto contra os rankings. O que acha disso?
Resposta: “As nossas comunidades educativas responderão a esse problema de forma adequada.”
Pergunta: Houve quem defendesse o final do ano lectivo no 2º período para evitar tanto descontrole emocional. Por que é que o Governo decidiu doutro modo?
Resposta: “As nossas comunidades educativas responderão a esse problema de forma adequada.”
Pergunta: Sabe-se há muito que o índice sócio-económico das famílias é determinante nos resultados escolares. O que acha disso?
Resposta: “As nossas comunidades educativas responderão a esse problema de forma adequada.”
Pergunta: Foram os interesses privados, que querem rankings para publicidade e este acesso ao superior para controlarem os numerus clausus, quem exigiu o que se vai assistindo. O que acha disso?
Resposta: “As nossas comunidades educativas responderão a esse problema de forma adequada.”
Pergunta: Um SE da Educação declarou em Espanha que a flexibilidade curricular preparou melhor as nossas escolas para o êxito do ensino a distância. Concorda e acha mesmo que houve êxito?
Resposta: “As nossas comunidades educativas responderão a esse problema de forma adequada.”
Pergunta: Como é que sabe o que pensam as mais de 800 comunidades educativas e o que é exactamente uma comunidade educativa?
Resposta: “As nossas comunidades educativas responderão a esse problema de forma adequada.”
Nota: esta entrevista é uma ficção do autor do blogue.
O próximo ano escolar será muito duro. Para todos. Quando retomarem as aulas, os alunos da mesma turma estarão em níveis muito diferentes. Porque o ensino a distância desequilibrou aprendizagens.
Esse desnivelamento não constitui o problema mais difícil de resolver. O maior tormento será criar condições que protejam a comunidade escolar da permanente ameaça de sucessivos focos de covid-19.
O sistema de ensino, do pré-escolar ao universitário, não está preparado para enfrentar uma pandemia, como esta que poderá continuar a ameaçar-nos. Fazer regressar os estudantes às aulas impõe-se no contexto de uma nova normalidade, mas isso pressupõe outra organização das turmas, ajustamentos horários e planos de contingência suficientemente flexíveis para se adaptarem a situações inimagináveis no presente. É obra.
Com o distanciamento físico que a covid-19 impõe, é preciso desdobrar turmas. Não é simples. A multiplicação de grupos exige mais salas e mais professores. Há escolas sem esse espaço extra. Por outro lado, não será fácil acomodar em orçamentos contidos mais despesa com recursos humanos. Poder-se-á dividir uma turma em dois grupos e fazê-los circular pelo mesmo professor, reduzindo assim a carga horária presencial, preenchendo o restante tempo letivo com o ensino a distância. Talvez essa alternativa não suscite entusiasmo dos professores e dos pais, mas convém ter presente dois dados: há uma aprendizagem tecnológica que deve ser continuada e é preciso acautelar novos surtos que poderão atirar para casa vários estudantes por tempo indeterminado. E, nesses casos, a escola não poderá ser suspensa.
Há também o problema dos horários. Começar e terminar as aulas à mesma hora implica juntar no mesmo espaço muita gente. O arranque das manhãs e das tardes terá de ser faseado. Também os intervalos não podem ser coincidentes. Se assim fosse, quando a meteorologia se tornar mais agreste, teríamos numerosos grupos em espaços cobertos e pouco ventilados. O funcionamento das cantinas também tem de ser desencontrado e os bares devem ser organizados de outra forma.
Será com muita precaução que regressaremos à escola em setembro. Nos primeiros anos de ensino, todos devem ter presente que os avós são o apoio de muitos netos que, por sua vez, poderão ser veículos de transmissão do vírus para os mais velhos. Esses mesmo que tanto quisemos proteger em estado de emergência. É preciso, pois, planear, planear, planear. E acreditar sempre que conseguimos.
A Associação de Professores de Teatro-Educação tem vindo a debater, com alguns sindicatos, a situação dos professores professores (“técnicos especializados para formação”) que se candidataram ao PREVPAP.
Este questionário é anónimo, tem o intuito de recolher dados estatísticos (que não serão utilizados para outros fins) e destina-se apenas a professores (“técnicos especializados para formação”) que se candidataram ao PREVPAP.
Solicitamos que responda até 28/06/2020.
“Ele anda numa boa escola”. Qual o significado desta frase? Não tenho a menor hesitação em responder. A escola boa é a que tem poder transformador, por receber todos e levar todos por um caminho de desenvolvimento pessoal e humano, em que o conhecimento, a arte, a cultura, a cidadania e o bem-estar são o instrumento para um sucesso pleno.
A escola boa não seleciona alunos à entrada. Acolhe todos e gosta de todos. A escola boa é um lugar vivo, em que as paredes com as produções dos alunos refletem o envolvimento de todos. A escola boa é a que estimula pensamento e curiosidade, a que ajuda a saber fazer perguntas antes de procurar se as respostas estão certas. É a que estabelece relações positivas com os que chegam sem acreditar em si próprios, vestindo demasiado cedo a camisola da incapacidade. É também uma escola em que há entreajuda à frente da competição desmesurada. Em que a presença do aluno com dificuldades ou problemas sociais é vista como uma responsabilidade de todos os alunos e de todas as famílias e não como uma questão só dele.
E eis que, no ano em que se tornam mais absurdos, nos aparecem os rankings. Se acha que refletem uma avaliação clara da qualidade da escola, desengane-se.
Os rankings são o resultado de uma lista ordenada a partir dos resultados dos exames nacionais. Ponto. É mesmo só isto.
Se procura qual a escola que mais consegue prevenir o abandono de crianças ciganas, não a vai encontrar no topo da lista. É, contudo, geralmente das que mais trabalha.
Se procura qual a escola que investe na saúde mental e harmonia como instrumento para a aprendizagem, não sabemos onde está na lista.
Se procura qual a escola em que se consegue cativar pais para a valorização do saber, inclusive trazendo-os para a formação nos Centro Qualifica, também não sabemos onde está.
Se procura a escola em que os alunos mais se desenvolvem na criatividade, pela arte, pelo desenvolvimento da sensibilidade estética, continuamos sem saber onde está.
Se procura a escola que desenvolve projetos de intervenção comunitária, formando verdadeiros cidadãos participativos e esclarecidos, aquele número que aparece em frente ao nome da escola não está a dizer nada sobre isso.
Se procura uma lista que não espelhe assimetrias territoriais e socioeconómicas, também não é esta a lista certa.
Se procura saber a qualidade do trabalho desenvolvido nos Cursos Profissionais, estas listas tendem a ser omissas.
Avaliar uma escola e o seu desempenho é muito mais do que ordenar um ficheiro Excel por ordem descendente de resultados.
O Ministério da Educação tem vindo a disponibilizar um manancial de informação, presente no Infoescolas, que permite olhares muito mais abrangentes e esclarecidos. Refiro o indicador Percursos Diretos de Sucesso, que compara realidades comparáveis e mede o progresso efetivo dos alunos, não construindo avaliações que anulam o ponto de partida. Os vários estudos produzidos pela Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência, muitos deles sob a responsabilidade do Doutor João Baptista, permitem estabelecer correlações entre sucesso e qualificações, mostrar que a pobreza não é uma fatalidade, detetar assimetrias regionais, medir o desempenho dos cursos profissionais, perceber assimetrias entre escolas dentro do mesmo agrupamento, conhecer o perfil de resultados de todas as disciplinas.
Os relatórios individuais e de escola das provas de aferição dão informação detalhada, descritiva e qualitativa, sobre desempenhos e têm servido de base ao desenho de respostas em função das dificuldades específicas.
O Programa Nacional para a Promoção do Sucesso Escolar tem divulgado estudos de eficácia de estratégias pedagógicas que permitem a melhoria sustentada de resultados.
A Rede de Bibliotecas Escolares avalia e disponibiliza os dados das suas intervenções, centrando-se no impacto dos seus programas.
Todos estes instrumentos permitiram construir, ao longo dos dois últimos anos, um novo referencial para a Avaliação Externa das Escolas, que tem sido reconhecida nacional e internacionalmente como um dos fatores que tem possibilitado a melhoria do nosso sistema educativo.
O novo referencial não descarta resultados, mas inclui vários outros domínios que se traduzem em respostas a perguntas como: Quão inclusiva é a escola? Que resultados consegue a escola na mobilidade social dos alunos? Como se estabelece a relação construtiva com as famílias? Que projetos e instrumentos se promovem para que as aprendizagens sejam perenes?
Estas são as perguntas que ajudam o sistema educativo a crescer. Muito mais do que a glória fútil de ser a número um da lista ou o olhar paternalista e desmobilizador sobre a escola do fundo da lista.
Quer saber o faz uma boa escola? Visite-a. Fale com os alunos, veja-a como um todo. Se não quer que o seu filho se transforme numa média, aposte numa educação centrada no humanismo e na valorização de todos. Porque é isso e não uma centésima o que lhe dará asas para chegar mais longe.
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Vale a pena, em plena pandemia, dizer que estas listas não honram o trabalho feito nas escolas. As melhores escolas do país — não hesito em afirmá-lo — foram aquelas que, em bairros problemáticos, mantiveram todos os alunos ligados, foram aquelas em que a proteção contra a violência e negligência nunca falhou, foram aquelas em que a proximidade potenciou aprendizagem.
Os últimos meses, em que o vocabulário da educação se alterou, passando a incluir palavras como distanciamento, síncrono, Zoom ou a fazer renascer outras como telescola, foram pontuados — e ainda bem — por preocupações em notícia ou comentário com aquele que é o principal papel da escola: promover a mobilidade social através do conhecimento e da cultura. Esta terrível crise acelerou desigualdades, apesar do esforço de todos. Os vulneráveis ficaram ainda mais vulneráveis.
Foram meses de trabalho intenso. Os professores reinventaram-se para tentar não perder os alunos. As escolas reconfiguraram-se para garantir refeições, terapias, acolhimento aos mais desprotegidos. Os municípios foram parceiros da inclusão. O Ministério da Educação trabalhou em conjunto com as escolas, disponibilizando orientações, recursos, estabelecendo parcerias nesta corrida injusta em que a aprendizagem se viu mais comprometida.
Todos comentámos as principais dificuldades e conquistas e abrimos os olhos para aspetos fundamentais do sistema educativo: a proximidade, a proteção, o apoio, a relação estabelecida.
O PÚBLICO em parceria com a Católica Porto Business School disponibiliza um conjunto de dados sobre as escolas do ensino básico e secundário. Saiba aqui que lugar ocupam no ranking dos exames, como estão no ranking do sucesso, a que contexto socioeconómico pertencem e em que disciplinas têm melhores desempenhos.