Ora, a verdade é que os professores são responsáveis por poupanças milionárias, dispensando o Estado, ou seja, o patrão, de gastar dinheiro que deveria ser da sua responsabilidade. Passemos a alguns exemplos.
Os professores pagam do seu bolso as deslocações e/ou o alojamento necessários ao desempenho das suas funções. O carro de um professor, quando o leva até à escola onde trabalha, está ao serviço do Estado sem que este desembolse um único tostão, algo que não acontece no privado ou, a acontecer, está errado. O quarto ou o apartamento que o professor arrenda, para suprir necessidades do Estado, é pago pelo empregado, sem o mínimo apoio do patrão.
No que se refere, ainda, a estas questões de alojamento e de deslocação, realce-se que são os professores contratados ou em início de carreira que estão mais sujeitos a estes gastos, por não conseguirem colocação perto de casa, o que não os torna, contudo, desnecessários ao sistema. Entre os professores, são os que menos ganham que ainda financiam mais o patrão.
Os professores pagam do seu bolso muitas despesas relacionadas com a formação contínua. Note-se que um professor nunca está completamente formado ou informado. Uma licenciatura e um estágio pedagógico são pontos de partida decerto fundamentais, mas não esgotam a formação que deve ser, exactamente, contínua. O professor, ao longo da sua vida profissional, será sempre um estudante, terá de comprar livros, frequentar eventos que, de modo mais ou menos directo, servirão para o tornar mais culto e, portanto, mais capaz.
O sistema de formação contínua formal, assente nos centros de formação espalhados pelo país, tem sido sujeito a uma pressão que sobrevaloriza o comoensinar, relegando para uma quase extinção a formação científica e as didácticas específicas. Os professores, preocupados em compensar esta enorme falha do sistema, ficam obrigados a recorrer a formação paga, quando essa formação deveria ser fornecida pelos centros de formação. Mais uma vez, são os professores a tirar do seu salário o que deveria ser investimento do patrão.
Entretanto, os professores que são artificialmente impedidos de progredir na carreira, mesmo quando reúnem as condições suficientes ou necessárias para tal, ficam a marcar passo, continuando a receber menos do que deveriam, o que permite ao patrão meter mais dinheiro ao bolso ou meter mais dinheiro nos bolsos errados. Ao mesmo tempo, todos os professores do continente continuam a aguardar a reposição de tempo de serviço sonegado, o que corresponde, na prática, a um empréstimo que o Estado não quer pagar.
Os professores que são chamados para classificar exames de secundário estão quase sempre a trabalhar para o ensino superior, desempenhando funções que não lhes pertencem. Esse facto foi reconhecido durante muito tempo, quando eram pagos para classificar os referidos exames. A dada altura, de um ano para o outro, o Estado decidiu deixar de pagar, recorrendo a um outsourcing sem necessidade de despesas, explorando os mesmos funcionários a quem dantes pagava. Relembre-se que este é um serviço de aceitação obrigatória.
Tal como os automóveis privados dos docentes, muito do material dos professores está ao serviço do Estado, sem que este contribua com um cêntimo. Foi, por exemplo, graças aos computadores dos professores que, durante a pandemia, foi possível, apesar de tudo, manter as escolas em funcionamento. Os gastos com diverso tipo de material mantêm-se, poupando ao patrão a simples obrigação de fornecer uma simples esferográfica ao funcionário.
Até há cerca de vinte anos, os cargos de coordenação ou de orientação de estágio implicavam a redução do horário lectivo, o que correspondia, claro, ao pagamento desses cargos. Neste momento, esses cargos obrigam os professores a dispor do seu tempo, mesmo que se recorra ao subterfúgio de usar horas não lectivas. Na prática, e mais uma vez, há professores que têm trabalho e responsabilidades acrescidas e que não são pagos para isso, poupando mais dinheiro ao patrão.
Os exemplos poderiam continuar, mas seria interessante fazer as contas relativamente àquilo que professores são coagidos a poupar a um Estado que é um péssimo patrão. Fica, no entanto, uma certeza: os professores são credores de muito dinheiro.
As escolas têm, ainda, muitos problemas para além destes e é frequente acusar-se os professores de corporativismo, mas, na verdade, o corporativismo está para as classes profissionais como o instinto de sobrevivência está para o indivíduo. A luta dos professores é justíssima e, de tão espoliados, talvez até seja branda. O Portugal democrático conseguiu criar um país em que os alunos e os encarregados de educação são respeitados. Falta fazer o mesmo com os professores e isso implica dinheiro, sem dúvida.
8 comentários
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Parabéns pela análise clara, precisa, objetiva, isenta de um discurso sentimentaloide, miserabilista e contaminado de insuportável subjetividade (infelizmente tão aplaudido e comum neste blog). Muito bem!
Deixo este texto :
RADICALIZAÇÃO DA LUTA – NÃO HÁ OUTRA SAÍDA
O sonso do nosso ministro da educação e os seus acólitos estão, literalmente, a gozar com a nossa cara, nesta autêntica farsa a que chamam rondas negociais, em que praticamente nada do que reivindicamos é discutido, e através das ordens que dão aos seus caciques de serviço, nas escolas (sei que não são todos, mas a maior parte é), tentando, assim, com o envenenamento da democracia, anular os efeitos da nossa luta, ridicularizar-nos aos olhos da sociedade e desautorizar-nos definitivamente. É um nojo, de alto a baixo. Não vamos permitir tamanha humilhação.
Perante tanto cinismo, tanta afronta, acalentada localmente com um lamaçal de baixezas, só nos resta uma saída: a radicalização da luta. Se essa não resultar, teremos de dar o passo seguinte: a desobediência coletiva. Se não nos respeitam a bem, têm de nos respeitar a mal.
A Constituição da República e o Código do Trabalho são claros. Atuemos, pois, à sua luz. Marquemos uma greve previsível, com absoluta coerência entre o pré-aviso e a sua execução, mas a doer. A doer, mesmo. Cinco dias, sugiro eu, para início de conversa. E não tenhamos medo de enfrentar o Governo nem os seus truques baixos, mesquinhos e ignóbeis. Desafiemo-lo a impor-nos as sanções que entender e a vencer-nos em Tribunal, não com pareceres vindos daqui e dali. Olhemos para a Lei, atuemos sob a sua égide e não temamos os tiques autoritários deste Inquisidor-Mor e de quem o acolita. Se necessário for, não cumpramos estes ignóbeis serviços mínimos, que atentam contra a democracia, que desafiam a nossa razão, que nos inferiorizam, nos ridicularizam e fazem parecer tolos, no burlesco palco em que estão a transformar as nossas escolas e a nossa luta.
Dizemos, por aí, que quem dá asas não pode rastejar. Pois, não rastejemos! Nunca rastejemos! Porém, não rastejar é insuficiente. Quem dá asas também tem de saber voar. E, para voar, precisamos de saber descolar do chão, de desafiar a gravidade, de fazer a força necessária para que as nossas asas se agitem energicamente e nos elevem às alturas. E temos de estar dispostos a aceitar todos os riscos inerentes ao voo. Sem isso, não passaremos de galinhas sonhadoras que já não sabem por que motivo pertencem ao reino das aves. E teremos, uma vez mais, o costumeiro destino desta espécie.
Colegas de todo o país,
agora, mais do que nunca, precisamos de voar como voam, no verão, aqueles gigantescos bandos de aves, ou como “voam”, nas águas, aqueles enormes cardumes: como um só corpo, uno, íntegro, ágil, absolutamente impressionante. Neste momento, temos de pôr de lado os nossos medos, de deixar de exacerbar os riscos e de perder tempo com quem não luta. Temos de reforçar a nossa união, de acreditar, de confiar em quem luta ao nosso lado e em quem vai à frente a definir o voo. Mais do que nunca, precisamos de agir como um corpo só. Onde vai. um vamos todos (os que lutam, claro). Não parar, nesta fase que se avizinha, também já não basta. É preciso adotar formas de luta mais sérias. Ou isso ou nada feito! E nada feito… é o adeus definitivo ao graal do RESPEITO.
(Luís Costa)
A Lutar é Força dos Professores…. Não deixar intimidar.
Tem Carradas de razão. Infelizmente parece que até o STOP se deixou contagiar pela “mania das marchas” e a cada atentado do ministro, convoca uma nova marcha e parece ficar-se por aí …
Bom artigo!👍
Lembrando o Caso Cabrita na ocupação ilegalmente um complexo turístico ….. E à sua maneira e o PM foi um acto legal ..
– E se fizessem o mesmo, ocupar os imóveis do PM em Lisboa. Já que é difícil arranjar casas a preços acessíveis para Professores…..E assim seria legal com a mesma atitude do caso ( Cabrita) .
Então o ( Costa ) e certos seus Ministros tem casas para alugar ….
– Então o PM em vez de estar obrigar agora com novas leis, de vários proprietários optarem por rendas acessíveis ?
– O PM e seus Ministros, poderiam começar por eles . E porém rendas acessíveis dos seus imóveis para Professores, médicos, polícias.. Terem um trabalho digno em Lisboa e renda acessíveis.
https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fwww.publico.pt%2Ffuncionarios-publicos-habitacao&h=AT39gt_OlQ40f_SHjvwpwhu3d6b4YcEQN9yDbW9MtLrsJGTmDLmWYFAyKfcUD-5y4u7C921hsNk2vaVFK9nF9l_HirQ8dbe1EzW91zhbaWfoaqK-J16s2zLRQgiOeJLhp0QLqJ7V6WTK1DYvH5bg&s=1
Este Governo e seu PM se tem financiado nos seus interesses.
Tem alguns do seu Governo tem se financiado nos seus interesses , e já foram muitos apanhados com dinheiros públicos.
Tem casos nem pagam às Finanças e continuam ao serviço do Estado Português.
E no fim prejudicando os Professores , no seus anos de serviço . E para Educação não tem dinheiro.
É a realidade deste PM , como Governa o País.
Acordar, Lutar ,é a forma de não deixar embalar pelas palavras e palavras deste Governo.
Afinal é um Costa e muito interessado em Imóveis ….
E deve ter interesse com lei ( à Costa de Vasco Gonçalves) .. E
se apoderar de varios Imóveis em Portugal….. amigo do alheio
– E tem depois os amigos ….
https://www.cmjornal.pt/politica/detalhe/antonio-costa-tem-cinco-casas-e-vai-comprar-outra
Afinal é um Costa e muito interessado em Imóveis ….
E deve ter interesse com lei ( à Costa de Vasco Gonçalves) .. E
se apoderar de varios Imóveis em Portugal….. amigo do alheio
– E tem depois os amigos ….
https://www.cmjornal.pt/politica/detalhe/antonio-costa-tem-cinco-casas-e-vai-comprar-outra
https://eco.sapo.pt/2023/02/17/proprietarios-e-inquilinos-de-vasco-goncalves-a-cristas/
Também os Professores tem Imóveis e permanente….
Mas com as leis das deslocações para outras Escolas e fora do perímetro das Habitações Permanente ? E que este Governo está a querer optar….. Um dia com as novas leis à ( Costa e Medina) …. vem querer ficar com as Habitações Permanente.
Está a ficar um Governo Imperialismo Ditadura Socialismo…. A fazer leis e tomar posse dos bens dos Portugueses.
Além os seus Ministros tem se governado e apanhados com boca da Botija.. e no fim vem este ( PM ) e seu ( Ministro das Finanças) tirar em impostos exagerados a quem trabalha arduamente.
Desde que o Medina, é Ministro das Finanças, tem aparecido impostos por tudo e por nada . É para tirar aos Portugueses Trabalhadores e para pagar as dívidas da ( TAP, Novo Banco, Premios Chorudos, etc ) , e também os buracos financeiros de várias Câmaras Socialistas e seus Presidentes etc .
Pois eu não gosto de falar de Familiares do Governo…
Mas deste tenho que falar !!!!
– A mulher do Medina entrou para a TAP em 2018 …
– E porque razão, teve direito de receber um prémio desempenho chorudo em 2019 ?
– Quando a empresa estaria a receber dinheiro público, para pagar o buraco financeiro desta Companhia.
– Sendo assim vem o Medina dizer que não tem dinheiro para os Professores, mas para um familiar já tem . Quando os Professores trabalharam msis de 30 anos e nunca tiveram prémio de mérito, muito menos pagar os anos árduos pelo seu trabalho.
– Este Medina é perigo para a Nação Portuguesa.
– É necessário estar atento e alerta..
bANDO DE COMPETENTES, MAS A ROUBAR.