8 de Fevereiro de 2023 archive

Os professores são um problema – por João Cerqueira

À luz das mais modernas teorias educativas de implosão da escola, o professor foi colocado ao mesmo nível dos alunos  independentemente da idade ou grau académico.

Os professores são um problema

Os problemas com os professores vem de longe. Desde que no século V a.C. Sócrates começou a ensinar filosofia nas ruas, arrebanhando discípulos em cada esquina, que a profissão de professor se revelou problemática. O Ministério da Educação de Atenas considerou que ele não andava a cumprir as últimas Portarias e Regulamentos, que não apresentava relatórios, que não respeitava a ideologia de género e o banimento do chocolate nas cantinas, e vai daí condena-o à morte. Seria de esperar que depois deste desfecho mais ninguém quisesse ser professor. Mas, não, os seus discípulos não aprenderam a lição e continuaram a ensinar, a formar escolas e academias, e o número de professores não parou de aumentar.

Para se ter uma ideia do tipo de pessoas que se sentiram atraídos pela carreira de professor, eis o serial killer russo Andrei Chikatilo, o carniceiro de Rostov, responsável pela morte de cinquenta e duas pessoas. Nas horas vagas das matanças, dava aulas de literatura russa. Outro professor de idêntico calibre foi o americano Albert Fentress, condenado a prisão perpétua por matar e comer um aluno. E há muitos mais exemplos de gente estranha, ainda que não necessariamente canibal, a querer ser professor.

É realmente difícil de entender o que vai na cabeça de um ser humano que não advogue o extermínio de minorias étnicas, a escravatura ou o tráfico de bebés querer ser professor. Ter a veleidade de saber mais do que as crianças e os adolescentes, querer instruí-los e dar-lhes um rumo na vida. Só gente com um ego desmesurado e uma soberba doentia pode desejar tal profissão.

E é por isso mesmo que existe em Portugal o Ministério da Educação que, à semelhança do da Atenas de Sócrates, tem por missão acabar com os professores e implodir as escolas. Nos últimos anos, com Tiago Brandão e João Costa em grande, tem tido imenso sucesso. Ainda que as linhas programáticas já venham de trás, o principal objetivo do Ministério da Educação é impedir os professores de lecionar.

Ai julgai-vos muito sabichões e importantes? Ai quereis transmitir conhecimentos, princípios e valores aos alunos? Então, já ides ver o que vos acontece.

E o que lhes acontece é serem bombardeados com toneladas de burocracia, sob a forma de uma papelada esotérica que nunca mais acaba, mas que tem de ser preenchida, apesar de ninguém a ler e o seu destino ser a incineração ou o delete. Além disso, levam ainda com rajadas de decretos, portarias e outros textos mediúnicos que se anulam uns aos outros e cujo objetivo final é enlouquecer o professor.

Obviamente, no fim deste transe burocrático já muito poucos professores estão em condições de dar aulas.

Porém, para os que resistem, há outros tratos de polé: a legalização e o fomento da indisciplina. Se dantes era aceitável o professor bater no aluno, agora tornou-se normal o aluno, os pais do aluno e o cão da família atacarem os professores. O que a sociedade não aceita é que se bata no cão.

Desde há décadas que o Ministério da Educação tem vindo a acabar com esse conceito retrógrado e fascista chamado autoridade. O professor perdeu-a por completo. À luz das mais modernas teorias educativas de implosão da escola – que em Portugal encontram sempre pasto para devorar –, o professor foi colocado ao mesmo nível dos alunos – independentemente da idade ou grau académico. O professor é um gajo ou uma gaja. Assim sendo, é natural que quando um gajo ou uma gaja chateiam um aluno, este o mande para o c…, para a p… que o pariu ou lhe parta o focinho. E quando não há força para bater no gajo ou na gaja, liga-se para os paizinhos e vêm estes mais o cão dar uma lição pedagógica ao professor.

Porém, como a violência escolar é uma coisa desagradável e costuma aparecer na televisão, o Ministério da Educação arranjou uma maneira de mostrar que a condena mediante processos disciplinares. Mas o processo é complicado e lento, tornando-se assim em mais um fardo para o professor. Além disso, ainda que tenha sido insultado e agredido, o professor nunca deixa de ser suspeito de ter contribuído para o seu infortúnio. Algo semelhante à rapariga que vestiu uma minissaia e depois foi vítima do macho ibérico. Ou seja, se realmente aconteceu um ato grave de indisciplina na escola, a verdadeira causa não é a má criação do aluno, a demência dos pais ou os transtornos psiquiátricos do cão da família. Não. A culpa foi do professor.

Somando isto tudo, é realmente inexplicável que alguém queira ser professor em Portugal.

 

P.S. – Sou professor de História da Arte no IPVC

 

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O Projecto MAIA tem andado a “pregar aos peixes”?

Afinal, e contrariando muitas expectativas, os Exames Nacionais obrigatórios no Ensino Secundário não acabarão, antes pelo contrário…

Alegadamente, por pressões exercidas pelo Ensino Superior, o Ministro da Educação não terá tido outro remédio que não fosse o de decretar o regresso, em força, já no próximo Ano Lectivo, dos Exames Nacionais no Ensino Secundário…

Assim sendo, esses Exames recuperarão a sua antiga importância, ou seja, voltarão a ter um duplo efeito, que já existia previamente à pandemia, pelo que passarão a relevar para concluir o Ensino Secundário e para ingressar no Ensino Superior…

Além disso, todos os alunos terão que realizar três Exames: Português obrigatório e dois escolhidos por si…

A pergunta, irónica e sarcástica, que vem imediatamente ao pensamento é esta:

– E o Projecto MAIA saberá disto?

O Projeto MAIA tem emitido muitos documentos. Num deles, refere-se expressamente o seguinte (o negrito é meu):

As práticas de avaliação dominantes em contexto escolar assentam no uso de um único tipo de testes (os testes usados para classificar) que, nas suas opções fundamentais, segue o modelo do exame e da avaliação externa: é concebido com características psicométricas que procuram discriminar ao máximo as diferenças entre os alunos, são administrados de modo coletivo, simultâneo e uniforme e são restituídos sob a forma de uma classificação (e/ou através de uma menção qualitativa) de acordo com a escala adotada. De resto, este tipo de testes, com a ilusão de uma alegada objetividade, acaba por ser reforçado por sistemas educativos que sobrevalorizam os exames nacionais e que incutem um carácter altamente seletivo à escola e, por inerência, às práticas de avaliação, dando origem ao fenómeno de “ensinar para os testes”. (Projeto MAIA, Folha 13, páginas 8 e 9: Para uma abordagem pedagógica dos testes)…

Depreende-se do anterior que:

– O Projecto MAIA censura a prática dominante em contexto escolar dos “testes usados para classificar”, ao mesmo tempo que considera que esse tipo de testes cria a ilusão de objectividade e que também é típico dos Sistemas Educativos que sobrevalorizam os Exames Nacionais…

O Ministério da Educação, que tem sido um acérrimo defensor, e transmissor, da “doutrina” e da prédica do Projecto MAIA, vem, agora, contradizer-se de forma clamorosa, voltando a atribuir aos Exames Nacionais uma assinalável importância, ao que tudo indica, não reconhecida pelo Projecto MAIA que, ao invés disso, parece desaprová-la…

Plausivelmente, esta situação significará que o Ministério da Educação é susceptível de ser influenciado por determinadas pressões, neste caso exercidas pelo Ensino Superior, e que isso bastará para se instalarem incoerências e contradições, deitando “por terra” algo que parecia “intocável” e irrevogável…

Por outras palavras, lá se vão as “teorias” todas porque a prioridade, neste momento, será satisfazer certas vontades e coerções…

A “fragilidade” e a artificialidade das presentes medidas educativas ficou, assim, bem à vista de todos…

Como compatibilizar a “coabitação” dos argumentos do Projecto MAIA com a importância agora atribuída à avaliação externa, traduzida pelos Exames Nacionais de carácter obrigatório, tidos como indispensáveis pelo próprio Ministério da Educação?

Em resumo, parece observar-se isto:

– Andou tanto tempo o Projecto MAIA a perorar que os testes que não avaliam e que apenas classificam não são bons;

– Andou tanto tempo o Ministério da Educação a defender que o Projecto MAIA é que tinha razão e a promover os respectivos postulados;

– E, agora, de repente, vem o próprio Ministério da Educação dizer que, afinal, os testes que não avaliam e que apenas classificam é que são bons, parecendo “tirar o tapete” ao seu “parceiro de evangelização”…

Confuso? Incoerente? E intelectualmente desonesto?

Pois, parece que sim, sim e sim. Ou seja, estaremos, provavelmente, perante mais uma trapalhada made in Ministério da Educação, que tão depressa afirma como, a seguir, contradiz o que afirma…

Acresce-se, ainda, que a política do sucesso escolar fácil, “instantâneo” e artificial, difundida nos últimos anos e traduzida, muitas vezes, por taxas de progressão a rondar os 100% em termos de Classificações Internas Finais, talvez também não seja muito consonante com os resultados que vierem a ser obtidos nos Exames Nacionais, a não ser que o IAVE ajude o Ministério da Educação a resolver mais esse imbróglio, “regulando” a dificuldade dos Exames, tornando-os, se necessário, mais “acessíveis”…

No fim de tudo isto, fica-se com dúvidas sobre quem é que efectivamente tem andado a enganar e quem é que efectivamente tem sido enganado…

A única certeza é que, sobretudo, os alunos têm vindo a ser inegavelmente enganados por uma Escola que esconde e “branqueia” a Realidade, restringindo, dessa forma, a sua capacidade de auto-controle e de gerir a frustração, a ansiedade e a angústia, ao mesmo tempo que induz expectativas dificilmente concretizáveis…

E o que aqui está em discussão nem sequer é a defesa da abolição ou da continuidade dos Exames Nacionais…

O que aqui está verdadeiramente em causa é a falta de coerência e de validade das medidas educativas decretadas pelo Ministério da Educação, que se vão apresentando, cada vez mais, como inconsistentes e atabalhoadas…

E se o Projecto MAIA já anteriormente poderia ser considerado como um potencial fiasco, sobretudo por se traduzir por uma fantasia, fundamentada em pressupostos teóricos inconcretizáveis e sem benefícios perceptíveis em termos práticos, depois desta hipocrisia do Ministério da Educação, ficará irremediavelmente posto em causa, pelo menos se existir discernimento em ambas as partes…

No caso presente, talvez faça sentido perguntar:

– O Projecto MAIA tem andado a “pregar aos peixes”?

De forma caricata, aqui a figura dos “peixes” bem poderá ser representada pelo próprio Ministério da Educação…

 

(Paula Dias)   

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Pelo Porto, Hoje

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Os professores que organizaram uma caminhada de protesto em Oeiras, chamados pela PSP para serem identificados,

 

Os professores que organizaram, no passado mês de janeiro, uma caminhada de protesto em Oeiras – e que terminou frente à Câmara –, começaram a ser chamados pela PSP para serem identificados, na sequência de uma queixa feita ao MP contra a ação.

Professores que organizaram protesto em Oeiras chamados pela PSP para serem identificados por queixa no MP contra a ação

 

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Amanhã há greve dos Trabalhadores da Administração Pública e das IPSS e Misericórdias

Sem serviços mínimos.

 

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Dizia Ontem o Jornal de Notícias

 

E de facto isso praticamente aconteceu e até mesmo os alunos que tinham garantida a sua permanência na escola com os docentes em serviços mínimos foram muito poucos os que tiveram essa necessidade de acolhimento, pois achavam-se no direito a ser tratados de forma igual a todos os outros. (ao contrário do que faz esta nova escola inclusiva que segrega alunos pela sua condição física, social e intelectual).

Deu pena ver alunos com elevadas necessidades especiais a sentirem-se discriminados perante outros alunos a quem não estava garantida a permanência no espaço escolar. Ver chorar estes alunos a dizer que também querem ir para casa é a imagem de marca desta nova escola inclusiva.

 

E tal e qual um profeta acertei no número para hoje.

 

Porto encerra 18 dias de greves distritais com paralisação total: 99% de adesão!

 

Mais tarde a Fenprof retificou os dados para 98%

Porto encerra 18 dias de greves distritais com paralisação total: 98% de adesão!

 

 

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Agendado o próximo momento de negociação

 

Exmos. Senhores

Dando seguimento à negociação sindical em curso sobre o novo Regime de Gestão e Recrutamento de Pessoal Docente, serve o presente para identificar as datas seguintes para conclusão do processo negocial sobre a matéria citada. Assim, as reuniões são agendadas para os dias 15 e 17 de fevereiro, pelas 15 horas e 10 horas, respetivamente, nas instalações do Ministério da Educação sitas na Av. Infante Santo, 2.

Mais acrescentamos que em momento anterior à primeira reunião será enviada a documentação em apreço.

Sem outro assunto de momento, com os melhores cumprimentos

 

 

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Vamos pagar caro, no futuro, estes números

Número de diplomados em cursos de formação de professores 2003-2021. Uma carreira aliciante e privilegiada!

 

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Respeito é só isto – Carlos Santos

Hoje, pela manhã, reencontrei no espelho um jovem, que já não sou, sonhando com uma vida que nunca chegou. Uma vida que foi trazendo tantas rugas e cabelos brancos quantos os sonhos que foram roubados. Esta é a história de uma classe docente envelhecida, que viu a sua juventude esfumar-se à mesma velocidade com que se degradavam as suas condições de trabalho. Toda uma gente unida na mesma amargura e desencanto que, agora, já não tem margem para esperar mais tempo, nem para aceitar, de modo nenhum, mais perda de direitos, de qualidade de vida e de dignidade.
Assim, para se chegar a um acordo que devolva a honorabilidade que permita parar a greve, é forçoso que o governo aceite negociar com seriedade. E isso só será possível se, acima de tudo, começar a olhar para os professores com “Respeito”, o qual se traduz em poucas palavras facilmente elencadas:

-Concurso Interno por graduação profissional, com a disponibilização de vagas que respondam às reais necessidades das escolas;
-Posteriormente, abertura de vagas em Concurso Externo para todos os professores contratados que tenham 1095 dias de serviço até 31 de agosto, concorrendo a qualquer zona do país (sem mais condicionantes);
-Mobilidade Interna por graduação profissional (dando prioridade aos horários-zero para combater a precariedade e abusos sobre os professores), com saída dos resultados até final de julho (para os docentes terem o direito a férias “desligados” da escola), abrangendo as reais vagas existentes nas escolas, horários completos e incompletos (a serem sempre, posteriormente, completados com o imenso trabalho existente nas escolas);
-Reservas de Recrutamento para horários a partir de 8 tempos (a serem sempre completados pelas escolas);
-Atribuição de Mobilidade por Doença a todos os docentes a quem, segundo legislação em vigor, for reconhecida doença incapacitante (investigando-se os casos que levantem suspeitas, mas evitando as injustiças que já levaram professores a morrerem em serviço, com um fim de vida indigno);
-Ajudas de custo para professores, cujas deslocações para a escola, distem mais de 10 quilómetros da sua residência, para todas as deslocações entre escolas do mesmo agrupamento e para alojamento aos professores que tenham de arrendar casa no local de colocação (acabava-se a falta de professores em certas zonas do país);
-Fim das cotas nos 4º e 6º escalões, com reposição do tempo perdido aos docentes que ficaram retidos nesses escalões a aguardar vaga;
-Contagem integral dos 6 anos, 6 meses e 23 dias de serviço, a serem devolvidos nos próximos 6 anos, 6 meses e 23 dias (com a possibilidade de troca por tempo para a aposentação para os docentes que assim o desejarem);
-Redução gradual da idade da aposentação até chegar aos 62 anos de idade (devido ao elevado desgaste profissional), com diferenciação para a monodocência;
-Aumento salarial, pelo menos, igual ao da inflação de 2022 repondo o poder de compra (é imoral continuar a trabalhar para empobrecer, enquanto se distribuem regalias milionárias por quem mais tem);
-Aumento salarial extraordinário de 5% no próximo ano para mitigar a perda de quase 20% do poder de compra perdidos entre 2010 e 2022 (só com reconhecimento salarial se atraem jovens para a profissão);
-Gestão democrática das escolas, com a extinção da figura de “Diretor” substituída por um “Conselho diretivo/executivo” eleito por quem está, efetivamente, nas escolas;
-Fim do processo de municipalização da Educação, passando também o pessoal não docente para a tutela do ME;
-Reforço de técnicos especializados e pessoal não docente nas escolas, para assegurar maior acompanhamento e segurança aos alunos;
-Gratuidade total em todas as ações de formação que os professores frequentam (obrigatórias pela tutela para a progressão na carreira);
-Novo modelo de avaliação dos professores a ser negociado com os sindicatos;
-Disponibilização nas escolas de equipamentos e materiais que permitam aos professores realizarem grande parte do exercício das suas funções na escola, sem terem de recorrer aos meios materiais pessoais;
-Pagamento de trabalho extra e em período pós-laboral (ex. visitas de estudo, reuniões…) como horas extraordinárias;
-Auscultar os professores sobre o que querem ver eliminado/reestruturado para pôr fim a tanta burocracia, sobrando mais tempo para estar com os alunos a ensinar (a começar pelo fim do Projeto MAIA);
-Centralizar no aluno a responsabilidade pelos resultados escolares, com corresponsabilização das famílias;
-Reposição da verdade na avaliação mediante o aumento da exigência e do fim do facilitismo;
-Responsabilização dos alunos (e dos pais) nos casos de indisciplina e sansões pesadas para ambos em caso de agressão ou ameaças à integridade física e psicológica de todos os profissionais que trabalham nas escolas (a educação e os valores, se não vêm de casa, têm obrigatoriamente de ser respeitados no farol da sociedade – a escola);
-Redução do número de alunos por turma para um máximo de 24 e redução efetiva para 18 nas turmas com alunos com NEE (para possibilitar, verdadeiramente, a inclusão);
-Oferta formativa mais diversificada (com maior oferta de percursos profissionais bem estruturados, com condições materiais e parcerias, logo a partir do 7º ano de escolaridade e maior oferta no ensino politécnico);

(algumas medidas seriam implementadas faseadamente)

Como se pode ver, na verdade, tudo isto é tão fácil, sendo que a maioria das medidas tem custo zero para o Estado.
Por isso, fica a pergunta de retórica – A quem interessa, realmente, que a Escola Pública continue precária?
Redirecionando as prioridades erradas que desviam fundos, controlando ajustes diretos, derrapagens orçamentais e cortando nas verdadeiras gorduras do Estado (mordomias, o abusivo direito a motoristas e ajudas de custo, subvenções, indemnizações, prémios e bónus milionários), haveria dinheiro suficiente para a Educação, Saúde, Segurança e Justiça, pilares essenciais para uma sociedade democrática.
A profissão tornava-se atrativa para os jovens e acabaria a preocupante falta de professores que já está a acontecer.
Os professores, finalmente, teriam estabilidade, seriam valorizados e teriam condições condignas para trabalhar.
Os alunos teriam uma educação/formação de qualidade.
Os pais asseguravam o melhor para os filhos com a garantia destes nunca virem a ter falta de professores.
Traria paz social, ganhava a população e o país em qualidade de vida, progresso, produção de riqueza, cultura e civilidade. Ganhava a democracia.

Tomando em consideração ser tão fácil, então, porquê que não se consegue chegar a um acordo?
Falta o principal, boa-vontade e seriedade – duas características que, por natureza, são raras de encontrar na classe política –, aliado ao pequeno incómodo de terem a coragem de mexer num vasto número de interesses instalados.
Embora, a aceitação destes requisitos, não devolvesse os anos de sacrifícios selvagens exigidos a professores que viram os seus filhos crescerem à distância e o sofrimento trazido pelo desrespeito e agressões enquanto trabalhavam, pelo menos, repunham condições de trabalho e de vida dignas.
“Respeito” é só isto e, como se pode constatar, custa tão pouco.
Por tudo isto é que eu me recuso a parar de lutar; luto pelo “Respeito” que devo àquele jovem que, do outro lado do espelho, ainda me olha do passado sonhando com uma vida que acabou por nunca chegar.
Carlos Santos

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