À luz das mais modernas teorias educativas de implosão da escola, o professor foi colocado ao mesmo nível dos alunos independentemente da idade ou grau académico.
Os professores são um problema
Os problemas com os professores vem de longe. Desde que no século V a.C. Sócrates começou a ensinar filosofia nas ruas, arrebanhando discípulos em cada esquina, que a profissão de professor se revelou problemática. O Ministério da Educação de Atenas considerou que ele não andava a cumprir as últimas Portarias e Regulamentos, que não apresentava relatórios, que não respeitava a ideologia de género e o banimento do chocolate nas cantinas, e vai daí condena-o à morte. Seria de esperar que depois deste desfecho mais ninguém quisesse ser professor. Mas, não, os seus discípulos não aprenderam a lição e continuaram a ensinar, a formar escolas e academias, e o número de professores não parou de aumentar.
Para se ter uma ideia do tipo de pessoas que se sentiram atraídos pela carreira de professor, eis o serial killer russo Andrei Chikatilo, o carniceiro de Rostov, responsável pela morte de cinquenta e duas pessoas. Nas horas vagas das matanças, dava aulas de literatura russa. Outro professor de idêntico calibre foi o americano Albert Fentress, condenado a prisão perpétua por matar e comer um aluno. E há muitos mais exemplos de gente estranha, ainda que não necessariamente canibal, a querer ser professor.
É realmente difícil de entender o que vai na cabeça de um ser humano que não advogue o extermínio de minorias étnicas, a escravatura ou o tráfico de bebés querer ser professor. Ter a veleidade de saber mais do que as crianças e os adolescentes, querer instruí-los e dar-lhes um rumo na vida. Só gente com um ego desmesurado e uma soberba doentia pode desejar tal profissão.
Ai julgai-vos muito sabichões e importantes? Ai quereis transmitir conhecimentos, princípios e valores aos alunos? Então, já ides ver o que vos acontece.
E o que lhes acontece é serem bombardeados com toneladas de burocracia, sob a forma de uma papelada esotérica que nunca mais acaba, mas que tem de ser preenchida, apesar de ninguém a ler e o seu destino ser a incineração ou o delete. Além disso, levam ainda com rajadas de decretos, portarias e outros textos mediúnicos que se anulam uns aos outros e cujo objetivo final é enlouquecer o professor.
Obviamente, no fim deste transe burocrático já muito poucos professores estão em condições de dar aulas.
Desde há décadas que o Ministério da Educação tem vindo a acabar com esse conceito retrógrado e fascista chamado autoridade. O professor perdeu-a por completo. À luz das mais modernas teorias educativas de implosão da escola – que em Portugal encontram sempre pasto para devorar –, o professor foi colocado ao mesmo nível dos alunos – independentemente da idade ou grau académico. O professor é um gajo ou uma gaja. Assim sendo, é natural que quando um gajo ou uma gaja chateiam um aluno, este o mande para o c…, para a p… que o pariu ou lhe parta o focinho. E quando não há força para bater no gajo ou na gaja, liga-se para os paizinhos e vêm estes mais o cão dar uma lição pedagógica ao professor.
Porém, como a violência escolar é uma coisa desagradável e costuma aparecer na televisão, o Ministério da Educação arranjou uma maneira de mostrar que a condena mediante processos disciplinares. Mas o processo é complicado e lento, tornando-se assim em mais um fardo para o professor. Além disso, ainda que tenha sido insultado e agredido, o professor nunca deixa de ser suspeito de ter contribuído para o seu infortúnio. Algo semelhante à rapariga que vestiu uma minissaia e depois foi vítima do macho ibérico. Ou seja, se realmente aconteceu um ato grave de indisciplina na escola, a verdadeira causa não é a má criação do aluno, a demência dos pais ou os transtornos psiquiátricos do cão da família. Não. A culpa foi do professor.
Somando isto tudo, é realmente inexplicável que alguém queira ser professor em Portugal.
P.S. – Sou professor de História da Arte no IPVC