15 de Fevereiro de 2023 archive

Comunicado do S.TO.P – Reação ao Parecer da PGR

Após tomada de conhecimento do Parecer da PGR sobre a greve decretada pelo S.TO.P, vimos esclarecer que:
1. Pela sua natureza, o Parecer da PGR é apenas o Parecer de um órgão consultivo que não vincula os Tribunais, não podendo, por isso, determinar se uma greve é legal ou ilegal.
2. O atual Parecer não vem dar cobertura às acusações efetuadas pelo ME, limitando-se, em grande medida, a produzir generalidades teóricas sobre o exercício do direito à greve.
3. No concreto, concluiu o Parecer que:
i) Conclusão 22ª: “No entanto, atentos os factos indicados na informação fornecida, este Conselho Consultivo não pode concluir, dada essa exiguidade factual, a existência de «greve abusiva», tanto mais que o apuramento e comprovação da matéria de facto e a consequente aplicação do direito constitui um labor que, em concreto, extravasa as suas competências, constituindo, sim, tarefa da função judicial”.
ii) Conclusão 23ª: “Não estabelecendo a lei um limite máximo de prejuízo que a greve pode causar, não é invocável, a este propósito, um princípio de proporcionalidade como fundamento da ilicitude”.
4. Daqui se conclui que, ao contrário do que o comunicado de imprensa do ME pretendeu difundir, esta greve é lícita e não é abusiva.
5. Resulta ainda, da conclusão 11ª do mesmo Parecer, que os trabalhadores têm direito de adesão e revogação da sua decisão de adesão à greve, “pois os trabalhadores podem aderir à greve e revogar a sua decisão, nos termos da lei”, como foi, aliás, sempre sustentado pelo nosso Departamento Jurídico.
6. O Parecer não se pronuncia quanto à propalada ilegalidade de atos de solidariedade entre trabalhadores aderentes à greve, tal como o ME e alguma Comunicação Social quiseram fazer crer. Tratou-se, portanto, de uma tentativa de desmobilização da luta dos trabalhadores através da calúnia e da intimidação.
Finalmente:
O atraso deliberado na divulgação deste Parecer, pronto desde o dia 9 de fevereiro, apenas revelado pelo ME em dia de reunião negocial, pode ser lido como uma tentativa de condicionar a negociação. Porém, entendemos que este documento não vem retirar qualquer fundamento às justas razões dos Profissionais da Educação nem tão pouco condicionar as suas legítimas formas de luta.
A Direção do S.TO.P.

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Entrevista a Luís Sottomaior Braga – Professores em greve. Protestos dos pais? “A CONFAP que diga quanto recebe do Estado”

(…)

Continua aqui:

Professores em greve. Protestos dos pais? “A CONFAP que diga quanto recebe do Estado”

 

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TRUQUES FRAQUINHOS DE BOYS QUE TÊM DE ESTUDAR MAIS….. (Luís Braga)

TRUQUES FRAQUINHOS DE BOYS QUE TÊM DE ESTUDAR MAIS…..

No meio daquela desgraça, pode parecer que estes detalhes que vou apontar são irrelevantes. Mas não são.
Têm importância e mostram mais que simbolicamente a manhosice, a má fé e tendência para o truque baixo de quem produz coisas assim.
Ou isso, ou ignorância (e não sei o que é pior).
O artigo 27º da proposta de DL dos concursos prevê os malfadados e lamentáveis conselhos de QZP.
Nada mais há a dizer sobre a criação da figura e o que representa.
Mas, depois de criar o monstro, o Governo decide alindá-lo nas normas com ainda mais arbitrariedade.
O texto do artigo proposto (que é todo para saltar fora, do ponto de vista de sindicatos que tenham juízo) diz assim:
Artigo 27.º
Conselho de Quadro de Zona Pedagógica
1 – O conselho de QZP é composto pelos diretores dos AE/EnA inseridos na área geográfica do QZP.
2 – Compete ao conselho de QZP:
a) Proceder à distribuição inicial de serviço aos docentes mencionados no nº 1 do artigo anterior.
b) Elaborar horários compostos por serviço letivo a prestar em dois AE/EnA, pertencentes ao mesmo QZP, obedecendo a regras a definir por DESPACHO DO MEMBRO DO GOVERNO RESPONSÁVEL pela área da educação;
c) Proceder à distribuição de serviço resultante de necessidades temporárias que surjam no decurso do ano escolar aos docentes mencionados no n.º 1 do artigo anterior que permanecem com insuficiência de componente letiva.
3 – O funcionamento do conselho de QZP é regulado por REGIMENTO INTERNO.
Chamo a atenção para a alínea 2, b) . As regras a definir por despacho do membro do Governo responsável pela área da educação não podem ser deixadas à arbitrariedade de um despacho de membro do Governo.
Elas também têm de ser objeto de negociação coletiva (o despacho vai redundar na bandalheira e no espremer até sangrar de quem estiver nessa situação).
Mas o que me irrita mais, porque é mais insidioso e se aproveita da ignorância alheia, é OUTRA COISA.
Criado o órgão, tenta-se colocar as normas internas fora do escrutínio público.
No nº 3 diz-se:
“3 – O funcionamento do conselho de QZP é regulado por regimento interno.”
A expressão Regimento interno não é inocente.
Se dissesse “Regulamento” (sem o adjetivo interno, porque não é um regulamento interno), o documento regulador do funcionamento do dito Conselho teria de ser sujeito a Consulta Pública alargada (ou pelo menos audiência de interessados), nos termos do CPA, porque o que o Conselho vai fazer tem impacto em terceiros (os professores, externos ao órgão).
Com este truque linguístico (temos de andar atentos às palavras, porque os membros do Governo são ambos de Letras e manhosos), o Governo entrega aos Diretores a auto-regulação do seu clube, que passa a ser privado, porque os regimentos são feitos pelo próprio órgão.
Se disser “regulamento” tem de haver consulta pública e podia alguém colocar a questão de que outros órgãos das escolas (conselho pedagógico e conselho geral) podiam intervir nisto e fazer as normas internas (com impacto externo) do clube.
Já agora, o mesmo se passa com os Regulamentos Internos das escolas que todos deviam ser sujeitos a Consulta Pública (que não são umas conversas nos departamentos, ok?, são coisa mais complexa).
Aliás, por não serem, são todos nulos (o que teria grandes efeitos, por exemplo sobre a ADD, que ninguém aproveita).
Só que não é por lhe chamarem “Regimento” (ou até Regulamento INTERNO) que uma coisa passa a sê-lo se materialmente não o for (O Direito não é um jogo de palavras é ação sobre o real e regulação dele).
Fica já prometido:
– se miseravelmente criarem o órgão e isto ficar escrito assim, no meu QZP, como interessado afetado pelas competências do órgão, irei impugnar individualmente este ponto em tribunal, custe o que custar e demore o que demorar.
E, com alguns recursos, estou em condições de garantir que o Conselho de Diretores do meu QZP vai ter grandes dificuldades em sequer ser instalado.
Aos boys assessores do Governo aconselho que se informem melhor sobre o que escrevem e que se informem bem sobre quem está a fazer a promessa.
Há 15 anos, houve uma lei sobre gestão escolar que mudou por causa de um processo meu que foi até ao Supremo Tribunal Administrativo (que se ganhou em todas as instâncias).
Contra a vontade do Governo e DREN da altura fui presidente de um conselho executivo.
E, aos 51 anos, estou ainda com mais ânimo para lutar contra estas habilidades violadoras de direitos, promovidas por gente que não merece um cêntimo dos que lhes pagamos para nos governar ou assessorar quem nos governa.
Na verdade, nada tenho a perder, só a ganhar. Puseram-me nessa posição, agora aguentem.

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Manipulações pseudo-juridicas… Luís Sottomaior Braga

 

Perdi algum tempo da minha vida a ler o parecer da PGR e as suas mais de 80 páginas (que li todo). A conclusão do comunicado do Ministério é um abuso indigno de um linguista.

E quem fez o comunicado, ou não leu tudo o que recebeu, ou confunde as perguntas e seus pressupostos com a conclusão….

Basta para tal ler (entre outras) a conclusão 22 do parecer (página 81) que diz taxativamente:

“No entanto, atentos os factos indicados na informação fornecida este Conselho Consultivo não pode concluir, dada essa exiguidade factual, a existência de “greve abusiva” tanto mais que o apuramento e comprovação da matéria de facto e a consequente aplicação do direito constitui um labor que, em concreto, extravasa as suas competências, constituindo, sim, tarefa da função judicial.”

Assim, o CC da PGR aos autos da “ilegalidade” disse nada e até houve uma Conselheira Maria Cação Rodrigues Cavaleira que, com uma escrita cristalina e simplificadora (no meio da palha enevoada das 80 e tal páginas) diz tudo.

O comunicado do Ministério é uma mistificação e num país a sério seria inadmissível um tal grau de manipulação.

Muito triste todo este episódio. E a conclusão é que com este ministro isto não vai melhorar, só piora.

Por mim, parava a greve e recomeçava, depois do Carnaval, sem estes serviços mínimos e em dias alternados para acabar o falacioso da greve contínua.

 

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Pela Póvoa de Varzim

Os professores entraram no Correntes D’Escritas.

 

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Terminou a Reunião ME/Sindicatos

A reunião entre o ME e os Sindicatos terminou pouco depois das 20 horas, sem direito a pizas, e será retomada dia 17 de fevereiro (sexta-feira).

Mário Nogueira após a reunião disse que ficou agendada a última reunião para o dia 23 de fevereiro, pelo que só após essa reunião final poderá ser solicitada a reunião suplementar.

Alegou que os pareceres podem ser dados até 30 dias após o conhecimento do documento, mas que estaria disponível para o fazer antes de cumprido esse prazo.

A reunião de hoje parece que apenas chegou ao artigo 24.º da nova proposta da revisão do diploma de concursos.

Por este andar vamos entrar na primavera sem qualquer proposta para as principais exigências dos professores, e assim vai o governo esmorecendo a luta dos professores que entram amanhã em serviços mínimos no seu máximo.

 

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Hora das Pizas, Perdão, do Jantar…

Demora a reunião a terminar….

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Parecer da PGR sobre a greve docente

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Nota à Comunicação Social do Parecer da PGR

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Um Novo Concurso de “Mochila às Costas”

Pedro Barreiros, na SIC Notícias disse no que se vai transformar este novo diploma de concursos.

Se o ME quer acabar com “a casa às costas“, Pedro Barreiros, da FNE, disse que o ME vai criar um novo modelo de concursos que se vai definir como um concurso de “mochila às costas“.

E é isto o que irá acontecer com imensos professores dos quadros que terão de acumular funções em mais do que uma escola dentro do mesmo QZP.

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Paulo Prudêncio – Queremos regressar às décadas de 1980 e 1990 como se fez em 2013 e se quis recuperar em 2022?

Queremos regressar às décadas de 1980 e 1990 como se fez em 2013 e se quis recuperar em 2022?

 

 

A base de dados do concurso centralizado de professores é tão moderna como a do multibanco ou da via verde. Abdicar disso será, como se comprovou em 2013 com a BCE, caótico.

É só pensar um bocado o que seria, e em nome da educação dos consumidores ou da redução das emissões de carbono, prescindir do multibanco ou da via verde.

Precarizar professores (em 130 mil só 80 mil é que são do quadro de uma escola ou do desmiolo dos agrupamentos) é que gera toda a tortuosidade procedimental que historicamente nos atrasa e que terá hoje mais um episódio tragicómico como se fosse uma negociação.

E depois, há o detalhe de termos mais 40 quadros de divisão administrativa em vez de apenas 1 como seria moderno e razoável; e esse estado caótico impede uma organização decente e civilizada da rede escolar e dificulta tudo. Mas acima de tudo, impressiona o desconhecimento até da história mais recente; e já nem se sabe se se mistura com obsessão ou impreparação.

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E Isto Lá É um Recuo…

A proposta apresentada ontem não é um recuo às posições dos sindicatos, mas apenas uma proposta que visa os interesses da gestão dos recursos humanos por parte do Ministério da Educação.

Permitir o concurso interno anual e colocar em pé de igualdade os docentes QZ e QZP, impedindo os QZP de se movimentarem para a sua zona de residência não é do interesse dos professores, mas sim de quem gere os recursos humanos, mantendo os professores presos aos QZP de vinculação (ou adjacentes).

 

Ministério recua: professores do quadro também vão poder mudar de escola todos os anos

 

Nova proposta do ME acaba com os concursos internos de quatro em quatro anos. Graduação profissional será também aplicada nas colocações a nível local.

Todos os concursos de professores vão voltar a realizar-se a um ritmo anual, incluindo o que se destina apenas à movimentação de docentes do quadro (concurso interno). Esta é uma das principais novidades da proposta de diploma do Ministério da Educação, a que o PÚBLICO teve acesso, sobre o novo regime de gestão e recrutamento de docentes, enviada nesta terça-feira aos sindicatos de professores e que estará em negociação nas rondas marcadas para esta quarta e sexta-feira.

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Se não agora, quando?

Se não agora, quando?

 

Em protesto contra um vasto número de questões que se foram acumulando, sem resposta, ao longo de sucessivos governos e anos, há mais de dois meses que estão activas greves no sector da Educação. Neste período, ocorreram quatro grandes manifestações em Lisboa e muitas mais por todo o país. Analisando o fenómeno, não importa sob que ângulo, é forçoso reconhecer que ele só é explicável por haver uma genuína, verdadeiramente espontânea rejeição dos professores relativamente às políticas que lhes têm sido impostas.
Se descermos ao detalhe, as causas mais próximas são, entre outras, uma crescente falta de professores, de professores de educação especial e psicólogos, de pessoal não docente, queixas relativas ao facilitismo e à indisciplina galopantes, ao aumento exponencial da inútil sucata burocrática, à precariedade, às regras abusivas que dificultam a progressão na carreira, ao desadequado e iníquo modelo de avaliação do desempenho, à extorsão de tempo de serviço, a salários baixos, ao tratamento desumano dispensado aos professores velhos e doentes e ao menosprezo pelos alunos mais vulneráveis, em nome de uma “inclusão” que exclui.
Se virmos de cima, é afinal a escola mínima, amputada de conhecimento e orientada para formar cidadãos disponíveis para aceitar trabalho apenas remunerado com salário mínimo, que os professores contestam. É este ensino público para os pobres, enquanto os ricos fogem para os melhores colégios privados, que os professores rejeitam.
Com efeito, passaram-se sete anos sob influência de uma ideologia pedagógica que reduziu os professores a meros receptores de directivas para produzir sucesso martelado e certificar a ignorância. Sete anos de uma propaganda que fala da geração mais preparada de sempre, quando apenas se trata, coisa bem diferente, da geração que mais tempo permaneceu, obrigatoriamente, na escola. Ora se houvesse dúvidas sobre a determinação dos professores em romper com o estado a que chegou o sistema de ensino, elas foram varridas pela gigantesca manifestação de sábado passado.
Aqui chegados, subsiste a dúvida maior: estará, finalmente, o Governo consciente de que tem de negociar ou, outrossim, continuará com a esperança, como maliciosamente o Presidente da República sugeriu, em que “há um momento em que a simpatia, que de facto há na opinião pública em relação à causa dos professores, pode virar-se contra eles”?
Se prevalecer a primeira hipótese, que me parece imperiosa e a única admissível, o Governo tem de negociar com seriedade, remover o seu descolamento da realidade, até aqui patenteado, corrigir a inércia para responder à crise e aceitar que o problema da recuperação do tempo de serviço não pode ser iludido. Tem custos? Naturalmente que sim. Mas os sindicatos já se manifestaram receptíveis a dilui-los ao longo de vários anos e a soluções parciais, para quem por elas opte, de traduzir parte deles em tempo válido para efeito de reforma. Tudo por forma a não prejudicar o equilíbrio das contas públicas. Por outro lado, importa recordar que, já em 2019, a Unidade Técnica de Apoio Orçamental da Assembleia da República disse ser essa uma falsa questão, apresentando custos para a recuperação total de todo o tempo de serviço de todas as carreiras especiais da função pública bem inferiores aos que o Ministério das Finanças invoca.
A propósito do decantado “equilíbrio das nossas contas públicas”, Fernando Medina, em entrevista à TVI, disse recentemente: “O país não tem só professores”. Fernando Medina tem razão. O país não tem só os professores. Tem o escândalo da TAP (3.200 milhões) para pagar, os desmandos dos bancos (22.049 milhões, segundo números recentes do Tribunal de Contas) para amortizar, a Jornada Mundial da Juventude (80 milhões) para organizar, a Brisa (140 milhões) para compensar, a Ucrânia (250 milhões) para ajudar, mais, entre tantas outras “liberalidades”, os politicamente muito convenientes aumentos dos magistrados e juízes, de 2019, e as milionárias e imorais indemnizações de agora e do futuro, para continuar a “honrar”.
Mas, se não agora, quando perceberia o Governo que tem de fazer justiça?
In “Público” de 15.2.23

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Raiva, cortar às escondidas e um mito da Monarquia: a perspectiva de um professoR

Luís Sottomaior é professor de história do segundo ciclo mas, mais do que isso, é sub-director no Agrupamento de Escolas da Abelheira – Viana do Castelo. Foi director e estudou gestão escolar.

Sabe mais do dia-a-dia de uma escola do que os governantes, segundo o próprio. Assim falou com o ZAP, não só verbalizando a sua experiência individual enquanto professor, mas também como alguém que está há muito tempo dentro do universo da administração escolar.

A conversa com o Luís decorreu dois dias depois de nova manifestação nacional de professores em Lisboa, que no sábado passado terá juntado cerca de 150 mil pessoas.

E antes de deixar outras críticas: “Em relação à Segurança Social, há pessoas que não podem estar doentes porque, se ficarem, vão ser indigentes. Há professores a dormir em rulotes. Outros ficam durante uma semana, ou mais, a dormir no carro – porque é difícil arranjar alojamento”.

Outra situação “absolutamente chocante” é a dos professores que não têm subsídio de desemprego por não terem horários completos, alertou.

“Reformados pobres”

Há um “clima de comunhão” entre os docentes. As opiniões divergem, como sempre, mas sentem que esta é a última oportunidade para se fazer uma viragemdos problemas.

Porque há que pensar mais além: “Se os professores não tiverem solução para os seus problemas de carreira, vão ser reformados pobres. Eu próprio penso nisso.

Falta devolver aos docentes seis anos de serviço e falar sobre isso, “mais do que salário, é falar sobre aposentação”.

O custo da recuperação integral das carreiras dos professores custaria ao Estado 331 milhões de euros por ano, segundo os cálculos do Ministério das Finanças. “O que é uma gorjeta”.

“O Governo tem dinheiro para pagar salários mas não quer repor a justiça salarial em termos de reforma. E esse valor até seria maior, mas houve professores que já se reformaram, por isso vai custar menos”

Depois, um aviso sobre o que, considera este docente, o Executivo socialista anda a esconder: “O que este Governo está a fazer, em relação aos professores, é o que o Governo de Passos Coelho queria fazer às claras: cortar nas reformas – algo que foi recusado. Agora o Governo está a cortar às escondidas. E não se tem falado sobre isso, na comunicação social”.

“Desta vez é a sério”

O ZAP já tem escutado a frase “desta vez é a sério”, quando se fala nas greves, nas manifestações, nos protestos dos professores.

O que mudou na postura agora? Luís responde: “Quando uma coisa é muito espremida, chega o momento em que não há mais nada a espremer. Salta a mola”.

Ao longo dos últimos 15 anos os problemas acumularam-se. As pessoas estão mais velhas, havia expectativas de melhoria de carreira e a carreira piorou, no acordo com Isabel Alçada (ministra da educação, em 2010) sobre o estatuto da carreira de docente as pessoas não perceberam o que ia acontecer. Agora perceberam e não estão a gostar”.

Em resumo: “O quadro é muito pior, condições de trabalho pioraram, o centralismo do ministério aumentou, a burocracia representa uma carga maior… As pessoas reagem”.

A transição da gestão escolar para as Câmaras Municipais não resulta, avisa o professor. Porque é um mito: “A municipalização é um mito político português, ainda dos tempos da Monarquia Constitucional, que a República agravou. Os municípios não são todos iguais, a estrutura e a capacidade de gestão divergem muito”

Em França, por exemplo, e num processo que provavelmente vai chegar a Portugal, a municipalização gera desigualdades porque as políticas municipais não são iguais em todo o lado.

“As pessoas acham que o sistema educativo nacional é muito grande… Não é. Há muitas ideias feitas erradas sobre este assunto. É um mito político que visa sobretudo desorçamentar: o Governo quer entregar as despesas às Câmaras Municipais, mas muitas vezes não quer entregar os recursos para fazer essas despesas. Devíamos ter feito outra reflexão antes de entrar neste mito”.

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Sobre a alegação de que se “fechou” o Terreiro do Paço

Na sequência de um post publicado ontem aqui e que só hoje vi, alegando que no final da Manifestação deste sábado não se esperou no Terreiro do Paço por todos os colegas que nela vinham, gostaria de dar o meu testemunho factual.

Nos cartazes convocadores da Manifestação sempre constou as 15h para o seu inícioFoi em função dessa hora que se organizaram os autocarros, mas há sempre alguns que param para almoçar ou por qualquer outra razão podem chegar com algum atraso. Também o pessoal de Lisboa que era o 1º Distrito a desfilar, por ter sido o 1º a iniciar a Greve por Distritos, só chega em pleno passado um “bocadinho”…

Não tomei nota da hora exata em que a marcha arrancou, mas nós, os 9 presidentes das entidades promotoras, às 15h já estávamos a agarrar na faixa que abriu o desfile, faltavam os Bombos à nossa frente que, entretanto formaram; vieram de seguida uma série de canais televisivos, rádios, imensos fotógrafos e muitos jornalistas de outros meios de comunicação colocar questões aos organizadores, fazer perguntas, ouvir as respostas e arrancámos de seguida, deviam ser 15h20m ou 15h30m, o habitual nestas situações.

Descemos a Av. da Liberdade, amplas praças e ruas sempre ladeados por milhares de pessoas que saudavam a enorme MarchaFinalmente, a faixa da frente Em defesa da Profissão Docente deu entrada no Terreiro do Paço e estacionou junto ao palco, por nós contratado para o efeito.

Depois de muitas dezenas de milhares de colegas terem chegado e permanecido no Terreiro dos Professores, com palavras de ordem, animação de palco por dirigentes dos vários sindicatos convocantes e atuaçãode agrupamentos musicais escolares, esperámos VÁRIAS HORAS (até voltámos a chamar ao palco um grupo musical de uma escola de T. Vedras) pela chegada dos muitos milhares de colegas que ainda se encontravam em marcha.


Entretanto, ANOITECEU e quando começou a chuva (que depois parou), nós que estávamos no palco a adiar as 9 intervenções, víamos recrusceder a deslocação de milhares de colegas, muitos deles com bandeiras dos diversos sindicatos, em direção aos autocarros fretados, metro, barcos e comboios.

Foi só após toda esta factualidade que a PRÓ-ORDEM usou da palavra aos microfones, bem como, os presidentes das restantes organizações sindicais promotoras desta iniciativa. Aliás, comecei por referir na minha intervenção que tínhamos estado ali a adiar as intervenções finais, fazendo um compasso de espera (foi esta expressão que usei, está gravado) para que TODOS os colegas chegassem, mas dadas as circunstâncias não podíamos adiar mais.

O “problema” é que uma manifestação com cerca de 150 mil pessoas leva largas horas a chegar ao local da concentração e quando chegam os últimos os primeiros já se cansaram de esperar, querem ouvir rapidamente os discursos dos organizadores e regressarem a suas casas: nestas circunstâncias, não há uma solução óptima

Todavia, o mais importante é que foi a maior manifestação desde o primeiro 1º de Maio de 1974, participaram nela, por exemplo, os colegas André (do STOP e do MAS), os colegas Gabriel Mithá Ribeiro (Deputado do Chega) e TODOS os que nela quiseram participar. 

Filipe do Paulo, Presidente da PRÓ-ORDEM

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