Não “esmorecer”, nem “cair no mar”…

 

Não se interprete este texto como se ele fosse um apelo à desunião dos Profissionais de Educação… Este texto poderá ser tudo, menos isso…

 

Este texto é uma forma de assumir que existe um problema grave, tornando-se imprescindível enfrentá-lo… Não há outra forma de o resolver e de o  ultrapassar…

 

No Sábado, estive 5 horas na Manifestação, sempre integrada no Sector destinado ao S.T.O.P….

 

Durante esse tempo, houve sempre alegria e boa-disposição, houve animação e houve espírito de camaradagem, por oposição ao vento gelado que amiúde soprava e contra a espera de 3 horas para sair do Marquês de Pombal…

 

Ao longo da Rua do Ouro, muitos outros manifestantes que já regressavam do Terreiro do Paço, iam parando no passeio para aplaudir o nosso entusiasmo…

Sobretudo nesses momentos, houve interacções (ainda mais) ruidosas, como se se tratasse de um cumprimento entre conhecidos de longa data… Foi bonito e fez-me arrepiar algumas vezes…

 

Outros desses manifestantes, deixaram transparecer no rosto uma espécie de desconforto, como se pedissem, subliminarmente, desculpa por alguma coisa…

 

Em alguns momentos, aquele percurso da Rua do Ouro até ao Terreiro do Paço tornou-se, por isso, em algo sui generis e estranho…

 

Confesso que, naquele momento, não compreendi bem aquela expressão em alguns rostos e que isso me causou uma certa perplexidade…

 

Compreendi, passado pouco tempo, o plausível porquê daquele comportamento:

 

Chegados, finalmente, ao Terreiro do Paço, não encontrámos aqueles que seria de esperar: muitos milhares de manifestantes, pretensamente nossos pares em tudo, menos em solidariedade…

 

Não nos deram outra alternativa que não fosse a de fazermos o fim de festa sozinhos, mas com o mesmo entusiasmo que nos caracterizou ao longo de todo o percurso da Manifestação…

 

As coisas más não desaparecem só porque se evita falar delas e este não pode ser um tema interdito ou um tabu, que não deva ser falado ou discutido, por poder causar algum tipo de melindre:

 

A entrada no Terreiro do Paço foi, metaforicamente, como levar com um balde de água fria…

 

Havia por ali algumas pessoas, poucas, e a FENPROF já lá não estava, tinha-se “evaporado” e demitido do seu papel de “anfitriã”…

 

Não houve o menor esforço por parte da organização da Manifestação em demonstrar solidariedade para com os milhares de “últimos”, que acabaram, de certa forma, por ser “atraiçoados” e completamente desrespeitados…

 

Porque não esperaram pela entrada de todos os profissionais de Educação no Terreiro do Paço? Acaso alguns profissionais valerão menos do que outros?

 

Foi muito feio e, com tristeza, fez-me sentir vergonha alheia pela FENPROF…

 

No Sábado, pelo que vi e senti, esgotou-se o que restava de alguma ilusão relativa à possibilidade de uma desejável, e imprescindível, união sindical…

 

Por isso, união dos profissionais de Educação? Sim, com certeza, mas não será certamente com o contributo de uma união sindical, que nunca chegará…

 

Fatalmente, há coisas que nunca mudam e o Velho Sindicalismo provou no Sábado que é uma delas…

 

E nem o facto de “todos os olhares” estarem postos nesta Manifestação, inibiu o comportamento anti-democrático, por parte da FENPROF…

 

Resta saber o que mais virá a seguir, em termos de eventuais entendimentos com o Ministério da Educação, acordos esses, potencialmente danosos para a maioria dos profissionais de Educação…

 

Acredito que os profissionais de Educação estarão, agora mais do que nunca, particularmente atentos ao que se passa entre as várias estruturas sindicais e a Tutela e que não perdoarão facilmente a repetição dos erros do passado ou serem “atraiçoados”, de forma indecorosa e com má-fé…

 

Lisboa, sempre Lisboa, essa cidade inigualável…

 

Na Sábado à noite, já em casa, ainda atordoada por algo que não queria ter vivido, vieram-me ao pensamento estes versos de Alexandre O´Neill (Poema A Gaivota), que ilustram bem a minha desilusão e o pessimismo, decorrentes do que se passou em Lisboa, num final de tarde pardacento:

 

“Nesse céu onde o olhar

É uma asa que não voa

Esmorece e cai no mar”.

 

Apesar do que se viu e sentiu não ter sido sempre agradável, não podemos “esmorecer”, nem “cair no mar”, ainda que se torne cada vez mais difícil resistir a tantas contrariedades…

 

(Paula Dias)   

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2023/02/nao-esmorecer-nem-cair-no-mar/

19 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

    • E on 13 de Fevereiro de 2023 at 8:27
    • Responder

    Só nos falta mesmo o apoio massivo dos diretores!

      • José Silva on 13 de Fevereiro de 2023 at 18:15
      • Responder

      Essa luta é outra. Perdemos a gestão democrática das escolas, isso só por si já foi grave pois permitiu a criação de uma classe à parte. uma classe de comissários políticos, ainda por cima sem limitação de mandatos. Deve ser o único País onde o diretor de uma escola passa a vida sem atividade letiva. É grave porque passa a ideia que ser promovido enquanto professor é deixar de dar aulas. Gravíssimo, mas conveniente à classe político partidária.

    • Natural on 13 de Fevereiro de 2023 at 8:47
    • Responder

    O velho Sindicalismo já teria assinado um acordo ruinoso como sempre, mas para eles aceitável pois já fizeram “prova de vida” e mostraram as fuças na TV, se não fosse a existência do STOP. “Eles” sabem que mesmo que assinem os tais acordos contra a nossa vontade, o STOP não tem problemas em continuar a lutar sozinho, aliás, sozinho não: terá o apoio da classe docente que deixou de acreditar em Fenprofs e quejandos. É natural que Nogueiras e companhia, olhem para o STOP com espuma na boca – o STOP veio estragar-lhes o esquema …

    • Bazófias on 13 de Fevereiro de 2023 at 10:12
    • Responder

    Deixei de ser sindicalizado no sindicato amorfo e bafiento do senhor “professor” Nogueira, Coloco professor entre aspas porque para se ser professor deve dar-se aulas, esse senhor nem de sindicalismos as sabe dar.. Estou em período de nojo, até porque ainda não se dignaram dar-me resposta….

    • Irene on 13 de Fevereiro de 2023 at 10:41
    • Responder

    Tem toda a razão !..
    E ainda não conseguimos nada porque a tutela espera que os ditos sindicatos assinem e fazem como em 2008 e 2018.
    Temos de ser mais fortes!…
    Esses já não representam os professores!…

    • Marcie on 13 de Fevereiro de 2023 at 13:33
    • Responder

    Na 1.ª manifestação de janeiro, promovida pelo STOP, sucedeu o mesmo. Os colegas a chegarem ao Terreiro do Paço e outros de regresso a casa.
    Independentemente das “guerras” entre sindicatos, muitos colegas com t-shirts do STOP, fizeram o percurso da marcha deste sábado, junto de colegas de outros sindicatos e/ou sem sindicatos. A luta é de todos nós e não de “cores” sindicais .

      • Lumi on 13 de Fevereiro de 2023 at 15:36
      • Responder

      Muito bem… Esta é a nossa luta. A luta de todo um abecedário.

        • Bazófias on 13 de Fevereiro de 2023 at 22:17
        • Responder

        Só temos uma resposta. Apelo aos sindicalizados na frenprof e Fne que se descindicalizem…Eu já o fiz e nem resposta tive. Já foi mail para o serviço de vencimentos do meu agrupamento. Nem mais um cêntimo para alimentar esse p_ _ _ s _ _ a

    • José Silva on 13 de Fevereiro de 2023 at 18:09
    • Responder

    Mário Nogueira sempre foi uma peça do PCP e só por isso é que esteve toda a vida sem dar aulas. Enquanto o PCP andou arredado do poder havia reivindicações e greves a sério.Quando o PCP fez parte da geringonça começou o faz de conta. Esse período foi terrível para a classe e Nogueira só saiu do sofá depois de perceber a pancada que estava a levar nas escolas com a dessindecalização da Fenprof em massa. Agora, depois de ver que mesmos os mais velhos, que sempre foram da Fenprof ,sairam da Fenprof para o Stop vem dizer que os professores não se podem reformar tão tarde, que isso é escandaloso e que sem haver cedências aqui não há acordo. Nogueira na manif usou os velhos truques do PCP, a manif foi da Fenprof, ele deitou os foguetes e os outros que apanhassem as canas. O costume…

    • José Correia on 13 de Fevereiro de 2023 at 23:32
    • Responder

    Talvez o pessoal do STOP deva explicar porque é que foi fazer manifestação no espaço das Outras Organizações, quando a manifestação não estava organizada por sindicatos, mas sim por concelhos. Como ficaram no final, por opção própria, pois podiam ter chegado ao Terreiro do Paço integrados nos respetivos concelhos (não deixavam de ser do STOP, como outros não deixaram de ser dos respetivos sindicatos ou de nenhum), à hora a que lá chegaram era previsível o que aconteceu. Se os outros sindicatos tivessem esperado tanto tempo para fazer os discursos, também acabariam por discursar para uma praça quase vazia. A verdade é que a manifestação deveria ter começado mais cedo, às 14:00 ou mesmo antes. O que aconteceu foi fruto de uma má decisão da organização quanto à hora de começo e de uma má decisão do STOP em querer fazer uma manifestação aparte, em vez de respeitar a organização por concelhos.

      • Bazófias on 13 de Fevereiro de 2023 at 23:40
      • Responder

      Pronto …espaço de outras organizações.???.. Essa conversa é a cassete dos dirigentes Sindicais do sindicato Bafiento da Frenprof,,, Faça como toca a sair desses sindicatos para_ _ _ _ s

        • José Correia on 14 de Fevereiro de 2023 at 0:25
        • Responder

        Talvez deva informar-se de como estava organizada a manifestação, não acha? Havia um croqui, com o posicionamento por concelhos e a ordem em que deviam entrar, havendo também um espaço para Outras Organizações, onde o STOP se foi colocar, suponho que por vontade própria.

          • Bazófias on 14 de Fevereiro de 2023 at 0:40

          Está muito bem informado …Deve fazer parte dessa organização Bafienta a que também pertenci durante 30 e muitos anos..

    • José Correia on 14 de Fevereiro de 2023 at 15:45
    • Responder

    Estou bem informado porque sou professor e participei na manifestação. Era minha obrigação estar bem informado sobre como ela estava organizada. Está muito preocupado com o sindicato a que pertenço. Pretende levar a discussão para o campo pessoal em vez de discutir ideias. O seu tom inquisitorial revela alguma falta de tolerância.

    • maloman on 14 de Fevereiro de 2023 at 16:47
    • Responder

    Não percebo uma coisa. Se os “professores do STOP” se tivessem diluído a manifestação ficaria menos extensa??? Quero crer que não havendo muitos espaços vazios, o STOP vir diluído ou atrás, não alteraria muito a dimensão global do movimento.

    Era de elementar bom senso esperar por TODOS!
    Os que vinham na “cauda” não eram STOP. Eram PROFESSORES!

    Talvez possa admitir que poderia o STOP não ter “forçado” essa agregação final, mas não foi isso que determinou o tempo de chegada, e nem é isso que invalida a tremenda “falta de ética” na atitude de quem assumiu a liderança da organização!

    Muito mau.

    • Dulce Pereira on 14 de Fevereiro de 2023 at 17:01
    • Responder

    Não sou sindicalizada, nem seguidora de nenhum sindicato, no entanto, eu era dos que ainda estava no Terreiro do Paço quando o S.T.O.P. chegou, e, ao contrário do que já ouvi e li, ainda lá estavam uns milhares. Como é normal, é impensável que colegas que abalaram das suas terras às 4 da manhã continuarem até ao fim.
    Quando o S.T.O.P. entrou ainda o Mário Nogueira falava, por isso não é verdade que não estivesse lá ninguém da FENPROF.
    Como disse no início, não sou sindicalizada, nem sequer seguidora de nenhum sindicato, só me desagrada imenso que esta guerra de “egos” esteja a desprestigiar e a denegrir a nossa LUTA.

    • Paula Dias on 14 de Fevereiro de 2023 at 18:44
    • Responder

    “Quando o S.T.O.P. entrou ainda o Mário Nogueira falava, por isso não é verdade que não estivesse lá ninguém da FENPROF.”

    Cara Dulce, lamento, mas não posso deixar de desmentir categorica e cabalmente esta sua afirmação.

    Quando alguns milhares de profissionais de Educação, identificados com o S.T.O.P. entraram no Terreiro do Paço, por volta das 19h, havia por ali algumas poucas pessoas, do Mário Nogueira nem sinal, só estavam acesas as poucas luzes da iluminação pública e o palco estava já a ser desmontado por vários trabalhadores.

    E isso poderá ser confirmado, e já foi confirmado, por muita, muita, gente, que como eu ia nesse grupo.

    A Dulce poderá ter visto outras pessoas, também identificadas com o S.T.O.P., mas não, de certeza, os milhares que saíram do Marquês de Pombal em último lugar.

      • CABB on 14 de Fevereiro de 2023 at 19:41
      • Responder

      Verdade! Eu também estava lá com o STOP (chegamos às 19h10min – vi a hora porque já tinha chegado ao Terreiro do Paço duas horas antes, com colegas do Norte – e olhei para as horas só para ver o desfasamento) e estava tudo vazio. O Mário Nogueira estava lá na esquina, do lado esquerdo, mas já não estava a falar.

    • Paulo Nifro Silva on 14 de Fevereiro de 2023 at 23:47
    • Responder

    Na minha opinião, o colega Rui não está a querer ser sério. Convém salientar que não estou aqui a defender nenhum sindicato, mas também não quero atacar.

    Estive no Marquês entre as 12h30m e as 16h. Sim, vi os autocarros chegarem e deixarem os colegas. Vi as formações intersindicais agruparem-se por zonas (distritos). E aí, os únicos que não o fizeram foram os do STOP. Ficaram junto ao André Pestana.

    Por volta das 16h decidi arrancar em direção ao Terreiro do Paço e garanto-vos que a Av. da Liberdade e todas as ruas seguintes até ao Terreiro, era um mar de gente. Cheguei lá por volta das 17h30m. Vi o Terreiro ficar quase cheio. Só faltava a malta do STOP. Por esse motivo fiquei um pouco desapontado, pois fui do Algarve até Lisboa. Eram 19h30m, tinha ouvido todos os discursos dos dirigentes sindicais lá presentes. Contava ouvir também o André, mas fiquei com a sensação que ele se encantou no seu recente protagonismo, esquecendo-se um Terreiro do Paço cheio o impacto era, e de que maneira, outro. Esqueceu-se que havia milhares de colegas oriundos do Algarve, Trás-os-Montes e outras zonas, que não Lisboa, e que tinham saído de casa às 7h da manhã para chegarem à 1h do dia seguinte, como foi o meu caso.

    Fiquei desiludido, mas de alma cheia para continuar na luta.
    Quando se fala de união sindical não podemos pensar que os outros estão todos errados e eu é que estou certo.
    Bem hajam colegas, vamos em frente que atrás vem gente.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

WP2Social Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
Seguir

Recebe os novos artigos no teu email

Junta-te a outros seguidores: