A escola básica de Moimenta de Maceira Dão, no concelho de Mangualde, não abre esta sexta-feira (16 de setembro), data-limite para o arranque do novo ano letivo, devido à falta de professores. A autarquia já garantiu que vai tentar resolver o problema com a tutela.
A garantia foi dada pelo presidente da Câmara, Marco Almeida (PS), depois de o PCP ter feito o alerta do fecho do estabelecimento frequentado por 39 alunos.
“A escola não foi aberta porque não tem professores. A parte pedagógica não compete ao Município, mas o vereador da Educação está em contacto com o Ministério para resolver o problema o mais rápido o possível”, confirmou o autarca de Mangualde em declarações ao Jornal do Centro.
Segundo Marco Almeida, os dois professores que estavam de serviço na escola pediram baixa médica. O responsável espera que a situação seja resolvida o quanto antes e que a escola de Moimenta de Maceira Dão “abra com toda a normalidade” nos próximos dias.
Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/09/falta-de-professores-impede-abertura-de-escola/
Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/09/professores-insatisfeitos-com-o-estado-da-educacao-fizeram-vigilia-noturna-em-aveiro/
Não. Mesmo quem ficou colocado o ano passado em Contratação de Escola (podendo não ser profissionalizado), não poderia renovar ao abrigo do Decreto-Lei n.º 48/2022, de 12 de julho, uma vez que a renovação seria possível “…desde que o docente seja titular de habilitação profissional…”
Por isso mesmo, seria expectável que todos os candidatos que renovaram constassem da lista de ordenação deste ano. Curiosamente, em 15 situações isso não se verifica, uma vez que os horários abaixo distribuídos foram objeto de renovação e os candidatos não constam na lista de ordenação.
Poderão estes candidatos ter renovado, sem possuírem habilitação profissional? Espero que não, mas se alguém conhecer alguma explicação para isto, pode deixá-la nos comentários.
Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/09/e-possivel-renovar-contrato-sem-habilitacao-profissional/
Milhares de alunos meses a fio sem professor a pelo menos uma disciplina, ou com constantes substituições dos precários que os ensinam, são sinais preocupantes para as democracias; por cá, tornaram-se indisfarçáveis desde 2017. Como se regista nos EUA, no RU e em vários países europeus (os nórdicos resistiram porque têm classes médias maioritárias e consistentes), é nos territórios com mais problemas sociais ou isolados, ou atingidos pela especulação imobiliária, que cresce a falta de professores.
Aliás, ser professor já só motiva uma minoria interessada na formação em educação básica. É o resultado das reformas neoliberais, sintonizadas com a OCDE, que visaram a sustentabilidade económica dos estados. A forte redução dos orçamentos da educação exigiu políticas de engenharia social que incluíram a descredibilização da escola pública e dos seus professores. Em regra, os governos seleccionaram uma forma de manipulação para popularizar as decisões: destaques mediáticos especulativos das estatísticas do absentismo dos professores e da sua massa salarial.
A bem dizer, Portugal chegou tarde a este processo. Mas acelerou-o a meio da década de 2000. Aplicou a eito, com pouca consistência teórica e sem estudos empíricos, um conjunto de políticas extremistas na carreira dos professores, e na sua avaliação, sustentadas por um modelo autocrático de gestão das escolas. As históricas contestações dos professores (2008 e 2013) – reconhecidas pelas oposições nas campanhas eleitorais, mas “esquecidas” logo que tomaram o poder -, anteciparam a crise vigente.
Acima de tudo, a inacção dos sucessivos governos desconvocou a esperança, instalou o desalento e eliminou a capacidade de contestação dos professores. Mas criou uma casta que se acomodou e que usa um argumentário que suaviza a consciência dos governos.
Para além disso, o marketing partidário manipulou os dados dos resultados dos alunos para certificar o caminho certo. A melhoria no PISA (OCDE), ou a “natural redução do abandono escolar” numa sociedade que se desenvolveu e escolarizou, serviu para discursos oportunistas nivelados pelas contendas sobre os rankings nacionais.
No essencial, as finanças passaram a supervisionar a educação. Como confessou Alexandra Leitão (teve pastas na AP e na Educação) ao Expresso de 19 de Agosto de 2022, “o sistema de avaliação da AP é injusto. Tentei modificá-lo e não consegui. Não houve abertura do Ministério das Finanças. Não vale a pena dizer outra coisa.”
De resto, estabeleceu-se um silêncio estrutural sobre uma organização que “adoecia os professores” e os mergulhava num tríptico bem documentado: exaustão, amargura e indignação. Até quem experimentou o exercício, identificou de imediato os procedimentos parciais e arbitrários.
Tudo isto foi fatal. Não só promoveu a fuga dos professores, como transformou as escolas em laboratórios de controlo social e favoráveis ao caciquismo local. Aliás, é já só neste universo que encontramos “dinossauros” a dirigir a mesma escola durante cerca de duas décadas, ou até três ou mais, e que ainda são aplaudidos pela corte do sistema que faz assim tábua rasa da mais elementar ética republicana.
Por isso, a comparação da actualidade com 2010, como fez o actual ministro da Educação, regista a subida do absentismo e da mobilidade por doença sem a necessidade de inundar os leitores com números. Há causas transversais à AP (exaustão, envelhecimento e milhares de aposentações na década de 2020 que os governos ignoraram) e é igualmente consensual o efeito devastador das políticas.
Em suma, as democracias estão numa encruzilhada e aumenta a apreensão com o crescimento das desigualdades educativas e das escolas para ricos.
E antes do mais, sublinhe-se que a aceleração do digital na pandemia demonstrou a imponderabilidade da substituição de professores por máquinas (ou por qualquer modelo de tele-escola) tão desejada pelos ministérios das finanças, pela OCDE e pelas gigantes tecnológicas.
“Uma mudança de políticas” permitiria, no mínimo, sonhar. Desde logo, tentar que o problema não se agrave e eternize. Recuperaria professores profissionalizados desistentes, revigoraria os que existem e oxigenaria a atractividade do exercício. Mas não há sinais nesse sentido; pelo contrário.
Nesta fase, a acção do Governo centra-se num recuo da lei das habilitações para algo semelhante ao que acontecia no início do milénio. Essa decisão provocou o tradicional debate sobre a melhor formação. Concorda-se com quem defende que a habilitação própria seja equivalente à que permite aceder ao mestrado profissionalizante essencial para a entrada nos quadros das escolas.
Resumidamente, não se ensina violino, basquetebol, gramática ou álgebra, sem se saber violino, basquetebol, gramática ou álgebra. Ajuda muito se se estudar Piaget, Freud, Hannoun, Erikson, Bruner, Ausubel, Sandel, Markovits e por aí fora. É também fundamental que a profissionalização seja em exercício nas escolas (plurianual de preferência) e não num apressado ensino à distância. Estes domínios são mais determinantes do que os debates que diminuem as pessoas porque se formaram depois de Bolonha, ao mesmo tempo que se omite a descida ocorrida com o absolutismo das Ciências da Educação.
E nunca é excessivo repetir que ensinar é difícil. Necessita de um clima de confiança e de boas condições de leccionação. Requer preparação e energia, e exige a desafiante adaptação da personalidade aos estilos de ensino. Inscreve estudo para a vida e convoca a esperança e o optimismo.
Acima de tudo, urge o regresso de tudo aquilo que as políticas vigentes anularam: professores satisfeitos com uma escolha profissional digna que não os esgota em burocracia e em procedimentos digitais repetidos e inúteis, livres para ensinar e aprender e com tempo para a cidadania.
Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/09/blogosfera-correntes-3/
“Com estas medidas, os professores de carreira não antecipariam a saída do sistema, os contratados veriam a luz ao fundo do túnel e os jovens olhariam para a profissão com outra perspetiva.”
“Dar autonomia às escolas para escolherem o seu corpo docente, ou parte dele, será uma revolução ao nível da da ‘flexibilidade curricular’. Mas não será, seguramente, uma ‘revolução silenciosa’.”
RESISTÊNCIAS: o pin improvisado que as dezenas de professores do Alto Minho, reunidos na vigília na Praça da República, em Viana do Castelo, esta noite, propõem como símbolo da insatisfação que todos sentimos com o estado da Educação em Portugal.
Quem quiser sinalizar o descontentamento pode usá-lo na lapela dos casacos, nos chapéus, onde lhe apetecer.
Os que usarem a resistência simbólica dão o passo inicial para dizer: “estou mobilizado para fazer alguma coisa para melhorar a situação da Educação.” E mostram isso aos outros. Porque os insatisfeitos e até zangados com o estado de coisas são a maioria e precisam saber uns dos outros.
O símbolo é barato, tem história como símbolo e é o esforço mínimo, que qualquer um pode fazer, para mostrar que está solidário com o descontentamento e se compromete a fazer alguma coisa.
Peçam aos colegas de eletrónica, se os houver na vossa escola, e usem e tirem fotos. Muitas fotos com resistências visíveis mostrarão de forma muito significativa a dimensão do desagrado.
E se houver outras formas de luta já sabemos todos uns dos outros.
A chuva molhou os presentes na vigília até aos ossos. Amanhã mostramos fotos da reunião e damos mais novidades.
Decidimos suspender a molha às 22 horas e marcar nova vigília com todos os descontentes que se queiram juntar no dia 20, no mesmo local, às 21.
E a insistir e a resistir, sem desistir.
Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/09/o-simbolo-para-resistir-a-apatia-luis-sottomaior-braga/