21 de Setembro de 2022 archive

Tantos com o Mesmo Sentimento

Sofia Teixeira: “Se o tempo voltasse atrás eu nunca seria professora”

 

Sofia Teixeira é professora de português e inglês, desde 2004, e é também a voz de milhares de professores portugueses que, tal como ela, reclamam pela “valorização da profissão e efetivação de professores que lecionam há muitos anos”.

Com quase 20 anos de carreira, o que há para mudar está claro na perspetiva da professora, assim como a “incerteza. Ano após ano terminam as aulas, o nosso contrato acaba a 31 de agosto, e não sabemos para onde vamos. Ficamos dependentes  de um subsídio de desemprego, o que é muito grave, porque já devíamos  ter alguma estabilidade. Eu tenho 40 anos e estabilidade zero”, reclama.

Desde que começou a dar aulas até aos dias de hoje, Sofia Teixeira pertence à classe dos professores contratados “por escolha própria. Temos a opção de ficarmos longe de casa ou ficar perto e andar em várias escolas. Eu optei por não concorrer para longe, mas sim para onde sei que posso ir”. Uma opção que não deixa feliz, uma vez que fica “sujeita a horários temporários, ou seja, substituições. Aquilo que pode acontecer é corrermos várias escolas durante um ano letivo e não conseguimos organizar a nossa vida”.

Por isso, a motivação “não é a mesma” que tinha no início de carreira, “sem dúvida. O sonho e a magia de ser professor é o próprio Ministério da Educação que nos tira, com todas as manobras que faz. É impossível não ficarmos abalados com as situações que vivemos”, diz emocionada.

 

“O poder e respeito que tínhamos na sala de aula foi-nos roubado e isso trouxe falta de educação e desrespeito”

Uma insatisfação que leva Sofia Teixeira a afirmar que “se fosse hoje já não escolheria a profissão. Gosto muito do que faço, dos meus alunos, do contacto com os encarregados de educação, mas (o ministério da educação) tratam-nos muito mal e temos perdido muitos direitos. Se o tempo voltasse atrás eu nunca, mas nunca seria professora, por causa deste sistema que tem destruído a magia de ser professor”.

Muitas foram as mudanças na profissão ao longo dos anos. Burocracia é uma delas. “Todos os anos há uma novidade e temos de apresentar números e metas a cumprir, que o ministério nos traça. Somos torturados com trabalho burocrático”, descreve a professora que aponta também para a mudança de comportamento dos alunos nestes 20 anos de profissão. “O poder e respeito que tínhamos na sala de aula foi-nos roubado e isso trouxe falta de educação e desrespeito. A opinião pública vê a forma como somos tratados e isso faz com que os alunos nos venham a tratar da mesma forma. É uma bola de neve”.

Conciliar a profissão com a gestão familiar

Apesar de gostar de ser professora, Sofia Teixeira não tem dúvidas de que “gostar não é tudo”, é preciso, também, que sejam dadas “as condições e ferramentas para trabalhar e não temos nada disso”. No seu caso, mãe de uma menina com sete anos, garante que “não existe flexibilidade nenhuma. No ano passado, quando fiquei colocada, apresentaram-me um horário noturno. Tive de entrar numa luta com a direção, porque não me queria alterar o horário. Estou sozinha durante a semana com ela. o pai trabalha fora e é doente oncológico, está em remissão mas tem as suas dificuldades. Não foi nada fácil, porque foi uma luta que durou de setembro a fevereiro, só aí alteraram o horário. Tal como em todas as profissões temos direito a um horário flexível quando temos filhos menores de 12 anos, muitas vezes o pedido é negado e não compreensão”, conta.

“Não há falta de professores, há sim falta de condições para exercer a profissão”

Neste ano letivo, Sofia Teixeira ficou colocada numa escola em regime de substituição. É um futuro “incerto e desgastante psicologicamente. Gerir todas as emoções é muito complicado. Temos um horário, organizamos a vida familiar, as atividades dos nossos filhos de acordo com o horário. Passados dois meses, somos colocados noutro horário e temos de voltar a organizar novamente. Ninguém consegue viver assim”, partilha.

Quanto à falta de professores, a experiência de 20 anos de professora levam-na a afirmar que “não há falta de professores, há sim falta de condições para exercer a profissão. Chegamos a um ponto que não nos sujeitamos a qualquer coisa. Este ano, por exemplo, houve muito menos professores a concorrer para os horários de 8 e 14 horas. Temos de ter consciência que esses horários não dão um salário mínimo. Para uma pessoa que tem uma família, que tem de pagar deslocações, almoços, não dá”, frisa.

No futuro, a situação da carreira de professor “tem tendência a piorar” e, por isso, Sofia Teixeira está certa de que é preciso que todos “se revoltem contra a  falta de condições. Se nos unirmos, temos tudo para que a luta dê frutos. Caso contrário, vai piorar”.

Este é um cenário que a professora não quer rever no futuro da filha. “Espero que a minha filha nunca me diga que quer ser professora. Se me disser não vou deixar. Eu sei que devemos deixá-los seguir os seus sonhos, mas eu não a vou deixar seguir um sonho para ir ao caminho do sofrimento”.

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SNPL – Da Negociação Sindical com o Ministério da Educação

Da Negociação Sindical com o Ministério da Educação

 

 

O SNPL vê de bom grado esta negociação sindical, há muito reivindicada. Esperamos que esta vise uma alteração legislativa profunda e séria do regime concursal. Infelizmente, os governos anteriores, nunca
se debruçaram efetivamente sobre a situação de carência de docentes, descurando assim o futuro da Educação no nosso país.
O ano de 2021 viu quase 2.000 docentes aposentados, no entanto, o M.E. insiste que os docentes contratados que ocupam estes lugares são apenas necessidades temporárias.
Não são, e por essa razão deve ser ponderada a existência de um concurso interno anual, mas enquanto o Orçamento não comportar admite-se que poderá ser bienal.
A maioria dos professores, candidatos ao concurso, com muitos anos de serviço, ainda não vincularam, para não quebrarem laços familiares.
Aqueles que o fazem sujeitam-se a deslocações permanentes, longas e distantes do local de residência, num total desrespeito pelo direito constitucional à família, contemplado no artigo 36o da Constituição da República Portuguesa.
Outros são obrigados a criar uma estrutura paralela, arrendando uma segunda casa ou um quarto, em condições precárias, com os gastos inerentes.

E ainda há quem pergunte o porquê de existir carência de professores.
Com as condições com que estes se deparam nas Escolas, com o excesso de burocracia que dificulta o desempenho pleno da parte pedagógica, a constante falta de respeito pelo trabalho do professor na aplicação da componente não letiva, e os sucessivos impedimentos na atualização de conhecimentos impede-os de se focarem naquilo que realmente interessa, ou seja, no trabalho com as turmas e com os alunos.
É necessária a existência de uma estratégia de incentivos que tornem a carreira mais apelativa.
O SNPL considera prioritária a existência de incentivos para a deslocação para distâncias até 50 km e incentivos ao isolamento para distâncias superiores. Esta medida deverá ser aplicada a todos os professores.
Além dos incentivos devem ainda ter em consideração os aumentos salariais, assim como o fim das quotas de acesso ao 5o e 7o escalões, pois a classe docente não pode ser permanentemente fustigada por decisões economicistas.
Deverão ainda existir critérios específicos que fixem os professores na sua zona de residência.
Assim como deverá também ser diminuído o número de alunos por turma, algo há muito prometido pelo Ministério e nunca concretizado. Esta medida aliada a uma elaboração racional dos horários dos professores seria suficiente para a criação de horários por todo o país, principalmente no interior.

Foi proposto pelo SNPL a abolição dos QZP, que há muito cumpriram os objetivos para os quais foram criados.
Foi igualmente proposto que estes docentes sejam integrados, de imediato, nos Quadros de Escola/ENA.
Embora o SNPL considere de extrema importância todos os aspetos focados, foi relembrado, mais uma vez, ao Ministério da Educação que o atual Estatuto da Carreira Docente se encontra obsoleto e já não faz sentido nos dias de hoje e que é urgente e necessária uma revisão do mesmo.

Lisboa, 21 de setembro de 2022

A Direção Nacional

 

 

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Síntese da Reunião com o STOP

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O que vai ser negociado entre o ME e os Sindicatos?

Escolas podem escolher parte da equipa de acordo com critérios locais

O Ministério quer dar autonomia aos diretores para que possam selecionar parte dos professores, tendo em conta o perfil dos docentes e os projetos educativos da escola.

Os concursos nacionais de professores não desaparecem, mas as escolas podem escolher parte da equipa de acordo com critérios locais.

O Ministério quer também reduzir a dimensão dos Quadros de Zona Pedagógica (QZP) e que haja mais docentes vinculados a Quadros de Escola em vez de QZP.

Além disso, a tutela pretende que as vinculações sejam mais rápidas. Todos os anos, os sindicatos denunciam casos de professores que só se vincularam depois de mais de duas décadas de serviço.

O país está dividido em dez zonas, que são os dez Quadros de Zona Pedagógica (QZP). Por exemplo, um professor do QZP 10, no Algarve, pode, num ano, estar a dar aulas em Lagos e, no seguinte, em Vila Real de Santo António.

Mudanças no modelo pretendem reduzir casos de professores que andam com “a casa às costas”

Os professores começam por ser integrados em QZP, o que significa que uma zona do país pode ter os docentes necessários para responder às necessidades mas não estarem colocados nas escolas onde são necessários.

O Ministério quer reduzir a dimensão dos Quadros de Zona Pedagógica, aproximando os professores das escolas. Além disso, pretende que os professores estejam vinculados aos Quadros de Escola em vez dos QZP.

Para a tutela, estas mudanças iriam reduzir os casos de professores que andam com “a casa às costas”.

A revisão do modelo de recrutamento e colocação de professores é uma das principais reivindicações das estruturas sindicais nos últimos anos. Para os sindicatos, o atual regime é um fator de instabilidade e a revisão que resultar das negociações deve assegurar que as escolas conseguem satisfazer as suas necessidades.

Isso implica, por exemplo, a vinculação de mais professores em número semelhante ao dos professores contratados no início de cada ano letivo para horários anuais e completos e que, para os sindicatos, correspondem às necessidades permanentes dos estabelecimentos de ensino.

A integração deve ser, de preferência, nos quadros de escola, sendo que, à semelhança do Ministério da Educação, também os representantes dos professores defendem o aumento do número de QZP e a redução da sua dimensão.

Quanto aos concursos, os sindicatos já se manifestaram contra a possibilidade de as escolas contratarem diretamente tendo em conta o perfil dos docentes e os projetos educativos.

Em vez disso, defendem que se mantenham os concursos nacionais e a seriação dos professores por graduação profissional.

Recentemente, e na sequência da alteração dos requisitos das habilitações próprias para o ano letivo 2022-2023, os sindicatos defenderam também que as escolas deixem de poder contratar professores sem habilitação profissional, que atualmente implicam um mestrado em ensino.

Tutela e sindicatos entendem que o modelo de recrutamento e colocação de professores é um dos caminhos para se conseguir uma profissão com maior estabilidade e segurança, tornando-a mais atrativa.

Atualmente, os professores são uma classe envelhecida, prevendo-se que metade dos atuais docentes esteja reformada até 2030, sendo por isso atrair jovens para a profissão.

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Aviso de abertura de procedimento concursal simplificado por vacatura (local) – França

 

Aviso de abertura de procedimento concursal simplificado por vacatura (local) – França – horário RPA13H; RPA78H; RPA80H; STR02H

Informam-se todos os interessados que se encontra aberto um procedimento concursal simplificado (local) destinado ao recrutamento local de professores do ensino português no estrangeiro para o 3.º CEB e SEC – História (língua francesa), para prover, em regime de substituição, os horários: RPA13H; RPA78H; RPA80H; STR02H.

 

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Calendário de Reuniões ME/Sindicatos

Hoje começam as reuniões de negociação do Diploma de concursos entre o Ministério da Educação e as organizações sindicais.

Pela visita aos vários sites das organizações sindicais este é o calendário desta primeira fase negocial.

 

21 de setembro

 

14:30 – STOP

16:00 – SIPE

22 de setembro

16:00 – FENPROF

17:30 – FNE

 

Em atualização

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Ainda vale a pena lutar – Luís Sottomaior Braga

Quebrar o consenso da apatia. As vigílias são para isso. Conversar e levar à ação.

Ontem alguém observou, e com razão, que o facto de ser eu a divulgar e promover as vigílias de insatisfação na Educação, em Viana, estará a prejudicar o crescimento delas. Porque, ao serem associadas a mim, são associadas a alguém que não é consensual. (E eu acrescento, não é, nem quer ser).

Ontem, estivemos bastantes à volta dos bancos de pedra da praça a ter uma conversa franca e aberta sobre a educação e o que nos traz insatisfeitos. Que terminou quando consensualmente concluímos que era hora de ir descansar, porque hoje às 8h30 havia aulas.
E todos os que lá estiveram creio que dirão que foi tempo bem utilizado.

Há 2 consensos que retirei da conversa: estamos insatisfeitos e é preciso sair da apatia e tirar as pessoas dela.

A insatisfação até pode ser consensual no sentimento, mas não precisa de ser consensual na raiz, desde que gere ação comum.

E isso pode ser usar um símbolo comum (as resistências) ou o mero compromisso de mobilizar colegas para se juntarem.

E esses pequenos passos são bom caminho para coisas mais visíveis.

Todos podemos ter motivos diferentes para estar zangados com o Estado da Educação, mas, mesmo assim, conseguir juntar numa ação conjunta essa insatisfação para produzir efeito e ação.

Daí o símbolo das resistências.

E neste quadro geral, eu e o que digo, escrevo e faço não interessa realmente.
Na verdade, não quero nem nunca quis ser em momento algum da vida consensual.
Se quisesse, eu sei o que precisava para ser consensual, mas não quero.

Dizer-se que não sou consensual é, do meu prisma, elogio. A minha mãe e a minha avó ficariam felizes de saber que esse foi o resultado final da educação que puseram em prática.

E fico feliz se o pouco que tenho feito (mandar avisos para a câmara a comunicar concentrações na Praça) ajudar a quebrar o consenso apático.

Hoje vai seguir mais 1 porque os que estiveram ontem querem continuar e alargar como está a acontecer noutros sítios do país.

O nosso mal como classe docente é o consenso instalado em muitos de que “já não vale a pena”. Mas vale.

Mas para isso é preciso falar e dizer uns aos outros o que se pensa e não ficar no consenso paralisado.

 

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Se o tempo voltasse atrás eu nunca, mas nunca seria professora

 

O poder e respeito que tínhamos na sala de aula foi-nos roubado e isso trouxe falta de educação e desrespeito”

Uma insatisfação que leva Sofia Teixeira a afirmar que “se fosse hoje já não escolheria a profissão. Gosto muito do que faço, dos meus alunos, do contacto com os encarregados de educação, mas (o ministério da educação) tratam-nos muito mal e temos perdido muitos direitos. Se o tempo voltasse atrás eu nunca, mas nunca seria professora, por causa deste sistema que tem destruído a magia de ser professor”.

 

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