12 de Setembro de 2022 archive

Experiências Europeias Sobre a Escola a Tempo Inteiro

Nos últimos anos tenho acompanhado alguns grupos Erasmus+ em vários países europeus e já percebi que o conceito “Escola a Tempo Inteiro” é uma invenção exclusivamente portuguesa. Talvez a sua avó  terá sido  a famosa Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que não terá tempo para cuidar dos seus netos (se os tiver) porque anda demasiada ocupada com formas de chegar aos lugares de topo, sem avaliação e que continua a gostar de dar as suas opiniões quando todos esperavam que estivesse calada e muito bem calada.

Em nenhum país por onde tenho passado existe este conceito de escola a tempo inteiro.

Em praticamente todos eles a escola funciona apenas durante a manhã, na Grécia nem cantinas existem nas escolas para os alunos almoçarem.

Nos países mais desenvolvidos (frança, Espanha, Alemanha, e mais alguns, certamente) ainda existem espaços na escola para os alunos almoçarem, mas a atividade letiva de tarde pura e simplesmente não existe. Nem existem atividades não letivas!

Os alunos entram geralmente cedo e terminam as aulas pelas 14 horas, ficando com o resto do tempo livre para outras atividades fora da escola.

Nos países mais desenvolvidos, a ida dos alunos para a escola ou o seu regresso a casa é feito geralmente em veículo próprio do aluno (bicicleta) e não em carros próprio da família ou autocarros à porta da escola.

Mas como gostamos de ser diferentes e acharmos que ser desenvolvidos é ter uma escola em funcionamento das 8 da manhã às 8 da noite, agora também já se pretende que o arranque do ano letivo seja no dia 1 de setembro e que as férias se reduzam ao mês de agosto.

Isto chama-se subdesenvolvimento e não desenvolvimento de uma sociedade.

Mas devem haver alguns estudos no ISCTE sobre isto, não sei.

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A Escola como “fiel depositário” de crianças e jovens?

A Escola como “fiel depositário” de crianças e jovens?

 

Não satisfeita com a abominável “escola a tempo inteiro”, e como se isso não fosse já suficientemente sufocante e enclausurante para as crianças e jovens abrangidos pela escolaridade obrigatória, a Confederação Nacional de Associações de Pais (CNAP) veio agora, também, afirmar a pretensão de antecipar o reinício das aulas para o dia 1 de Setembro, reduzindo as denominadas Férias de Verão…

Perante o anterior, não pode deixar de se perguntar:

– Se o problema que justifica tal intenção for a falta de recursos humanos e/ou materiais que não permitam às famílias providenciar os cuidados necessários às suas crianças e jovens durante os períodos de Férias Escolares, porque não se exigem à Tutela apoios e medidas de protecção específicos para as interrupções lectivas, assumindo publicamente a existência dessas limitações?

– Desde que os filhos possam ser “depositados” numa escola, estará tudo bem para muitas famílias?

À falta de exigências concretas e conhecidas, dirigidas ao Governo, para colmatar a plausível falta de apoios e de protecção, parece ter-se preferido enveredar por uma proposta de encurtamento do período de Férias, o que poderá induzir a conjectura de que uma parte significativa das famílias possa pretender “ver-se livre” das suas crianças e jovens, com a maior brevidade possível…

Se não for assim e se a hipótese anterior estiver completamente errada, podendo mesmo traduzir-se por um juízo tremendamente injusto em relação a muitas famílias, como conceber que as mesmas não reclamem nem exijam mais apoios e protecção?

Porque se remetem ao silêncio as Associações que supostamente as representam?

A denominada “escola a tempo inteiro” não pode deixar de ser vista como um “crime” perpetrado contra as crianças e jovens e também não pode deixar de ser considerada como uma violência e um atentado à saúde física e mental das crianças e dos jovens…

Obrigar crianças e jovens a ficarem confinados ao espaço de uma sala de aula durante a maior parte do seu dia, será física e mentalmente saudável para quem?

Para as crianças e jovens não o será certamente…

A “escola a tempo inteiro” tem servido, sobretudo, para desresponsabilizar e demitir as famílias de algumas incumbências…

A “escola a tempo inteiro” tem permitido a difusão da ideia perniciosa e perversa de que as famílias poderão ser dispensadas de assumir e de praticar algumas das suas principais competências e atribuições…

A pandemia trouxe à ribalta, em muitas crianças e jovens, quadros depressivos e crises de ansiedade, sintomáticos de estados emocionais negativos, frequentemente pautados pela tristeza, pela sensação de abandono e de solidão e pelo descontrole emocional…

A pandemia terá agravado o problema do isolamento social das crianças e jovens, dando-lhe maior visibilidade e tornando a sua existência mais consciente, mas não o criou… Esse problema já existia anteriormente e também já assumia proporções notórias e inquietantes…

Cada vez mais, o comportamento das crianças e jovens é o reflexo do que se passa no seio de muitas famílias e a forma como as famílias funcionam vê-se, comummente, nessa conduta…

A percentagem significativa de crianças e jovens que passa a maior parte do tempo entregue a si próprio, desprovida de apoio e de acompanhamento familiar ilustra, muitas vezes, esse funcionamento, assim como a ausência de comunicação, de partilha, de negociação e, sobretudo, de vinculação afectiva com as respectivas figuras parentais…

A “escola a tempo inteiro” parece ter “oficializado” e “legitimado” a diminuição do tempo disponível para a existência de possíveis interacções significativas entre as crianças/jovens e as respectivas famílias, o que só por si já seria manifestamente mau…

Mas o que dizer quando os próprios pais defendem que se deve ir além dessa “escola a tempo inteiro”, propondo, adicionalmente, a diminuição do período de Férias dos seus filhos?

A escola até pode ser o melhor que muitas crianças e jovens têm, mas isso não pode servir como justificação ou desculpa para, à partida, se aceitar como “natural” a demissão de muitas famílias, a sua desresponsabilização ou o alheamento face à vida dos seus filhos, em particular a desatenção respeitante à sua conduta e ao seu desempenho em contexto escolar…

As competências e atribuições da Família ao nível da Educação e Formação das crianças e jovens não são substituíveis pelas da Escola, mas antes deverão ser complementares…

Confundir, consciente ou inconscientemente, Família com Escola é, quase sempre, meio caminho andado para a negligência e para o abandono… Ainda que o abandono possa não ser físico…

A Escola não pode cair na tentação de se transformar num “fiel depositário” de crianças e jovens e deixar as famílias muito descansadas e de consciência muito tranquila…

(Matilde)

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Não senhor… não há alunos sem professor.

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Vigília pela Educação

Colegas, mobilizemo-nos!
Organizem nas vossas cidades. Dizer que não adianta é que de certeza não nos leva a lado nenhum.
Estamos juntos!

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“Professores sem habilitações para ensinar são um retrocesso”

Santana Castilho antecipa um ano letivo mau e critica soluções do Governo. A última é o despacho publicado esta semana que baixa a fasquia quando faltam professores. Se fosse ministro, não poria um secretário de Estado a assiná-lo como fez João Costa: ‘É uma cobardia’.
Além do pacote de apoio às famílias, a semana fica marcada pela garantia do ministro da Educação de um regresso às aulas tranquilo, mas sem ilusões. É tranquilizador?
Os Costas são dois artistas. O Costa chefe, manipulador, prestidigitador exímio, e o Costa ministro da Educação, menos do que ele, mas que tem a mesma atitude perante os problemas. Portanto as palavras de João Costa não me surpreendem. Se formos analisar em detalhe, a atuação política do ministro tem sido de ignorância dos problemas da educação e procura de soluções, umas mais escabrosas do que outras, para gerir o dia a dia. Deu uma conferência de imprensa em agosto onde disse que 97% dos horários pedidos já estavam preenchidos.
O número de baixas médicas nas escolas tem a ver com o envelhecimento dos professores ou, como sugeriu o pedido de 7500 juntas médicas por parte do Governo, há um aproveitamento indevido desse mecanismo, até para resolver por exemplo a instabilidade das colocações?
Não há só uma causa certamente. A maior será o envelhecimento dos professores, mas por cima dessa está sempre o quão difícil e causticante se tornou a profissão de professor. No último concurso tivemos casos em que os professores finalmente entraram no quadro para se ir reformar na semana a seguir ou no mês a seguir. Imagina o que é, com a sua família, viver 27 anos, como eu conheço alguns docentes, com a mulher num sítio, o marido noutro, a terem de alugar duas casas, não poderem estar com os filhos? No ano passado tive conhecimento do caso de uma colega que vivia aqui em Lisboa, dormia num sofá numa sala pelo qual pagava 10 euros diários. Não tinha dinheiro sequer para alugar um quarto. Todas estas coisas se acumulam e dão um desgaste enorme aos professores.
O que está a dizer é que sugerir que há uma fraude generalizada passa por cima desse contexto, que por isso só pode contribuir para maior mau estar.
Obviamente que esse é um discurso demagógico. Os professores que metem baixa médica e que fruíam deste estatuto de mobilidade por doença são pessoas com doença grave ou que prestam assistência a familiares com esses problemas. Para fazerem isso passam um processo complexo de apresentar testemunho para a situação em que estão. O que fazem é usar um mecanismo legal e que está vigiado medicamente. Se há fraude, então tenha-se a coragem de dizer quem comete a fraude e a lei previu desde sempre mecanismos para isso. Estas 7500 juntas médicas que o ministro agora apregoa são um ato de má fé: lança um anátema sobre todos os professores. Já escrevi sobre muitos casos verdadeiramente macabros, pessoas com cancros em fase terminal que morreram na escola porque foram obrigadas a regressar por juntas médicas, essas sim fraudulentas.

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