Ao longo da história das nações o ensino tem assumido um papel preponderante na sociedade. Como tal, aos professores têm sido colocadas diversas exigências profissionais consoante as épocas e os regimes vigentes. Em Portugal, nos últimos 20 anos a profissão docente tem sido desvalorizada de modo acentuado: as reformas fazem-se e desfazem-se sem avaliar resultados, importando e tentando implementar modelos estrangeiros já obsoletos, sendo a burocracia uma constante há mais de 40 anos.
Neste contexto, um estudo de 2018 realizado pela equipa de Raquel Varela, com trabalhos no âmbito da formação de professores, que evidencia o elevado número de professores com exaustão emocional devido à burocracia e à indisciplina nas escolas. Estes números não parecem surpreender no mundo docente, contudo discordo da interpretação do psicólogo Eduardo Sá, porque os professores portugueses ainda desmotivados conseguem mesmo motivar os seus alunos, muitas vezes às custas do seu próprio bem estar e saúde, pois o seu nivel de stress é comprovadamente dos mais elevados da europa (2021).
Na minha opinião, o stress desregula o nosso sistema natural de alerta para a presença de perigo à nossa volta. Assim, o sistema de descontração natural não é suficientemente utilizado, surgindo no nosso organismo efeitos cumulativos da adaptação a circunstâncias desconfortáveis e preocupações excessivas.
Enquanto professora numa sociedade em mudança crescente, parece-me que “corremos com uma armadura vestida” (McKenna) e o tempo é escasso para tudo nos é exigido: documentos mais ou menos extensos, ficheiros com mais ou menos grelhas, formulários com mais ou menos cruzes, atas com mais ou menos linhas, recursos e plataformas digitais mais ou menos inovadores, disponibilidade plena, talento inequívoco, infalibilidade… Somos professores, seres humanos, não somos ainda robôs desprovidos de sentimentos e estamos a sentir que controlam não apenas cada movimento, mas também a nossa própria respiração! Como tal, nós, professores, no nosso quotidiano, conscientemente ou não, ficamos angustiados, sem vínculo laboral durante décadas, tratados por muitos como mão de obra barata, a trabalhar em diferentes ambientes e locais, deslocalizados e contactando com problemáticas distintas e mesmo surpreendentes. Não é por acaso que professores cada vez mais novos já sentem o desgaste profissional de anos de prática educativa. Contudo, apelamos à muito invocada resiliência, que tudo soluciona por estes dias, cientes de que continuamos a ter um papel preponderante para concretizar o sonho inicial de um mundo melhor construído pelas crianças e adolescentes que ensinamos! Como dizia Sebastião da Gama, “pelo sonho é que vamos” e com José Régio reafirmo “Não sei por onde vou, não sei para onde vou, sei que não vou por aí!”
Com os melhores cumprimentos, a professora de biologia.