14 de Fevereiro de 2022 archive

Logo, a escola privada é boa e a escola pública não presta ou, pelo menos, está em decadência

 

Mais uma vez assistimos a um jornalismo sensacionalista no que a assuntos da Educação diz respeito. Já estamos habituados, mas longe vai o tempo em que, de imediato, o poder da Educação punha cobro a intenções destrutivas.

Da manipulação noticiosa – verdades, não verdades e subentendidos

O Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou, a 3 de fevereiro, o relatório “Estado da Educação 2020”, que, além de dados estatísticos sobre a situação educativa portuguesa (e.g. demografia, número de alunos, literacia, recursos humanos, investimentos, etc.), inclui um capítulo sobre a gestão da pandemia, dois com depoimentos de especialistas em educação e um glossário.

A publicação fez notícia nos meios de comunicação, que destacaram aspetos diferentes do relatório (denotando a quantidade e diversidade de informação deste), em títulos como: “Escolas perderam 322 mil alunos numa década, revela Conselho Nacional da Educação” (Lusa e RTP), “Escolas perderam 322 mil alunos numa década” (Público), “Portugal em risco de ter poucos professores habilitados ‘num futuro próximo'” (DN), “Educação: pela primeira vez, mais de metade dos homens completou o ensino secundário em Portugal” (Expresso), “Menos procura de formação de adultos, divulga um relatório do CNE” (Observador).

A notícia publicada na página da Rádio Renascença (RR): reporta a preocupação do CNE pelo facto de se prever que a escola pública perca “quase 20 mil professores nos próximos sete anos”, devido ao decréscimo demográfico e ao envelhecimento da população, pois estes atingem os alunos (menos 300 mil na última década) e os professores; destaca a falta de atratividade da profissão docente, com palavras da Presidente do CNE, que é citada no título; dá conta de algumas propostas do CNE para obviar ao problema; refere uma entrevista com o secretário geral da Federação Nacional de Educação.

O título da peça noticiosa é “Escola pública perdeu mais de 300 mil alunos. “As pessoas não querem ir para professores””.

Este título constitui uma descarada manipulação da informação que, putativamente, pretende veicular.

O relatório do CNE não estabelece distinção entre a escola pública e a privada nem no que respeita à perda de alunos nem à falta de atratividade da profissão docente. O relatório destaca o setor privado relativamente ao ensino pré-escolar (para dar conta de que a maioria das crianças do pré-escolar frequentam escolas privadas), estabelece comparações entre os dois setores quanto ao ensino universitário e vai estabelecendo comparações pontuais (e.g. computadores disponíveis, acesso à internet, investimentos). Nenhuma relação é, pois, estabelecida entre perda de alunos e falta de atratividades da profissão, por um lado, e setor público ou privado, por outro; e, no entanto, a notícia da RR estabelece descarada e falaciosamente a relação entre estes aspetos negativos e a escola pública, o que leva o leitor (que geralmente mais não lê do que o título das notícias) a subentender que:

– na escola privada estes fatores negativos não se verificam (não há quebra do número de alunos e os professores estão satisfeitos),

– logo, a escola privada é boa e a escola pública não presta ou, pelo menos, está em decadência.

Os propósitos visados são óbvios: convencer o leitor de que a privatização do ensino (e.g. incremento dos apoios ao setor privado, com ou sem prejuízo do ensino público, atribuição de cheques-ensino para subsidiar as famílias que escolhem escolas privadas) é o caminho a seguir, como rezam as cartilhas de alguns partidos políticos.

É legítimo defender estas ideias, com clareza, transparência; vivemos em democracia. Inaceitável e pouco honesto é venderem-nos doutrina disfarçada de informação, qualquer que seja o vendedor.

Temos mesmo que ler melhor e mais criticamente.

 

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/02/logo-a-escola-privada-e-boa-e-a-escola-publica-nao-presta-ou-pelo-menos-esta-em-decadencia/

2ª Feira – Os velhos e novos professores, os biscateiros, o (des))mérito e as vistas curtas

 

2ª Feira

Os velhos deviam reformar-se e dar lugar aos novos. Os velhos não podem reformar-se porque não há novos. Os velhos deveriam ter redução para permitir a entrada no quadro de sangue novo. Os velhos não deveriam ter reduções porque há alunos sem aulas. Há demasiados candidatos a professores, é necessário fechar ou reduzir os cursos de formação inicial. Há falta de professores, é necessário abrir ou aumentar os cursos de formação de professores. Os professores têm demasiados privilégios e ganham muito bem, é necessário dificultar-lhes a carreira e reduzir os salários. Os professores enfrentam demasiadas dificuldades e ganham pouco, é necessário facilitar-lhes o acesso a uma carreira com melhores condições.

O problema de quem não pensa além do prazo curto e da conveniência particular é que diz uma coisa e o seu contrário com muito pouco tempo de intervalo e escasso decoro. As circunstâncias não mudaram. Era tudo previsível. Não se desculpem com troikas. E, antes disso, não se justifiquem, alegando teorias da treta sobre “mérito” e coisas assim. Como se pode ver, o que conseguiram ao limitar o horizonte de carreira foi afastar candidatos à docência e ter de recorrer de novo a quem acaba por andar a fazer “biscates” à moda dos tempos em que alguns jornalistas deram um par de anos de aulas. Afinal, quase tudo se baseou apenas em preconceitos e numa enorme desresponsabilização sucessiva de decisores de vistas curtas e escassa “integridade”.

 

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/02/2a-feira-os-velhos-e-novos-professores-os-biscateiros-o-desmerito-e-as-vistas-curtas/

A organização do ano letivo em dois semestres tem cada vez mais “adeptos”.

 

​​​​​ São já cerca de 330 mil alunos (quase um terço do total) que estudam de acordo com este modelo que reestrutura o funcionamento das escolas, da avaliação ao serviço docente, mas não só. O impacto vai além dos portões dos estabelecimentos: os pais, por exemplo, têm de se adaptar a novos períodos de pausas letivas, tal como centros de atividades de tempos livres (ATL) ou atividades de enriquecimento curricular (AEC). É uma revolução em curso sem imposição legal.

 

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2022/02/a-organizacao-do-ano-letivo-em-dois-semestres-tem-cada-vez-mais-adeptos/

WP2Social Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
Seguir

Recebe os novos artigos no teu email

Junta-te a outros seguidores: