O aumento continuado das responsabilidades e exigências que caem sobre os professores, devido à acentuada transferência para eles de funções sociais que pertenciam anteriormente à comunidade social e às famílias, sem as necessárias adaptações organizacionais compensatórias, tornou extremamente penoso o exercício da profissão. Dizer que a profissão docente está em crise passou, assim, a lugar-comum, sendo que as respectivas condições de trabalho (violência, esgotamento físico e psicológico) são as causas que mais contribuem para o acentuar dessa crise. E dentro delas, o peso da burocracia ocupa, talvez, o lugar cimeiro. Quantos cidadãos terão uma noção aproximada da quantidade de planos e relatórios inúteis que os professores são obrigados a produzir, com enorme prejuízo da sua responsabilidade primeira, que é ensinar? Muito longe de ser exaustivo, porque há mesmo muito mais, deixo um pequeno registo exemplificativo: Plano Anual de Actividades (PAA); Plano Plurianual de Actividades (PPA); Projecto Educativo de Agrupamento (PEA); Plano de Acção Estratégica (PAE), no quadro do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar (PNPSE); Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital da Escola (PADDE); Projecto Curricular de Turma (PCT); Plano de Turma (PT); Plano Educativo Individual (PEI); Plano de Melhoria (PM); Plano de Recuperação de Aprendizagens (PRA); Relatório Técnico-Pedagógico (RTP); Relatório Individual das Provas de Aferição (RIPA); Relatório de Escola das Provas de Aferição (REPA); Relatório Crítico do Director de Turma (RCDT); Relatório Final de Execução de Actividades (RFEA). A última desta torrente pútrida de toleimas foi a moda da filosofia “Ubuntu”, alma mater de mais um plano: o Plano 21|23 Escola+. Cansados com esta amostra? Imaginem os professores, com a totalidade!
A malícia política que semeou obstáculos no trajecto profissional dos professores exprime bem a falta de decoro a que chegámos: cerca de cinco mil docentes, apesar de terem cumprido todas as exigências estatutárias (avaliação positiva, com observação directa de aulas, quando exigida, e formação contínua) estão impedidos de progredir aos 5.º e 7.º escalões, graças à existência das famigeradas quotas administrativas, que o Governo discricionariamente fixou. Muitos destes, por terem menções classificativas máximas, estariam a salvo do primeiro expediente arbitrário. Então, criou-se um segundo, mais miserável que o primeiro: em cada escola, só um limitado número de professores pode ter nota máxima; assim, concluído o processo, a classificação de muitos é aviltantemente reduzida, para cumprir a vontade de sucessivas pilecas políticas. Do mesmo passo, e na sequência da subtracção de vários anos de serviço efectivamente cumprido, temos hoje outros milhares de professores que já deveriam estar em escalões muito acima daqueles em que se encontram. Naturalmente que daqui resulta uma injusta penalização remuneratória, designadamente com considerável impacto negativo no cálculo das suas pensões de aposentação.
As análises que muitos fazem sobre a situação descrita, alegando que “nem todos podem chegar a generais”, ignoram que, enquanto são gritantemente diferentes as funções de um soldado e de um general, as funções de um professor do 1º escalão são exactamente iguais às funções de outro, do 10º. Fica assim actual, 120 anos depois, o que Eça de Queirós escreveu: “O que um pequeno número de jornalistas, de políticos, de banqueiros, de mundanos decide no Chiado que Portugal seja, é o que Portugal é.”
Faz-se muito e do melhor no sistema nacional de ensino. Infelizmente, sem o apoio de quem o governa. A dedicação, a entrega e o amor aos alunos são o apanágio dominante do espírito de missão da maioria dos professores. Apesar disso, são alvo de ataques sucessivos, como se a culpa do que corre mal lhes pudesse ser imputada.
Os professores estão saturados da natureza arrogante deste Governo, da incompetência do ministro da Educação, de obedecer à anormalidade normal, a ordens e modas imbecis, vindas ora do autoritarismo central, ora do caciquismo local. O sistema colapsará se não se alterarem drasticamente as políticas educativas.
In “Público” de 8.12,21
6 comentários
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“Os professores estão saturados […] de obedecer à anormalidade normal, a ordens e modas imbecis[…]”,
Nem mais, nem menos!
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Atualmente, os “professores” na verdeira acepção da palavra já praticamente não existem na Latrina Pública. O que lá existe são ENTRETEINERES (falsamente apelidados de Sitôras e Sitôres da Tanga) deformados á BOLONHESA, isto é, ás 3 Pancadas nos PIAGEtes, nas ESEs, ISMAIs, Escola Superior de Inducação João de Deus, instituto de estudos superiores de Fafe, Escola superior de Inducação Paula Franxineti e outras TASCAS Privadas de má frequência……….para manterem os ARMAZÉNS Abertos (digo, escola publica)…..
Foi nisto que deu a dita “Carreira Unica” em que gente Licenciada em UNIVERSIDADES se viu misturada com gentalha oriunda daquelas Tascas ……………
A ABRILADA espelhada no rosto de Mário Nojeira deu nisto………
Portugal é hoje o unico País da Europa em que existe “Carreira Unica” o que provoca a fuga de gente Licenciada em Universidades a não se querer misturar nesta CONSPURCAÇÃO chamada de carreira (IN)Docente……….
Dizem aqui no BLOG que há falta de professores em determinadas áreas!……e que areas são essas?????????????
Resposta:
– LICENCIADOS POR UNIVERSIDADES (apenas)………Informática, Economia, Linguas, Geografia, Fisica, Biologia………….
Não!……….Não falta gente (DE)FORMADA em TASCAS PRIVADAS mal frequentadas………….
Não!……..Não Faltam Bábás (ex-Amas e agora educadoras das infancias)….também não falo dos ex-Regentes Escolares (Professores Primários e agora Sitôres do 1º Ciclo)….também não falo dos professores de Ginástica (agora professores das educações do fisico) que fazem uns Cursecos de 3 Aninhos á Bolonhesa (nos Piagetes, ISMAIs e outras Tascas Privadas e ESEs….) ….. coisa muito trabalhos….meus amigos disto HÁ aos PONTAPÉS….. até se atropelam para arranjar um lugarzinho no Estado……onde são PAGOS PRINCIPESCAMENTE para as competencias que possuem……….
Dia 30 de Janeiro é a grande oportunidade de colocar um Ponto Final a este ESTADO DE PODRIDÃO da Latrina Pública………………..
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Ó Camões, será que és tão burro que ainda não reparaste que és um BÁCORO ?
Excelente, como sempre! (Refiro-me, obviamente ao artigo do Público).
Este “Camões” travestido de “Pardal” ou de outro nickname ,por vezes ´chega a ser ordinário ,mas também diz algumas verdades que alguns não gostarão de ouvir.
Eu como muitos, sou um soldado raso no vencimento, mas com habilitações literárias de um general de 5⭐ e, no entanto, muito dificilmente chegará a oficial.
O Camões (Karamba, Atento, Pensador, Pintelho, sempre o mesmo) é um patife português bácoro. Agora, depois de ter comprado o Sardão versão V55.7, está sempre a delirar depois do avianço na sardoaria com o dito.