8 de Dezembro de 2021 archive

Eu queria ser professora, mas não me deixam……. A/C Sr. Ministro da Educação

 

Sr. Ministro,
Chamo-me XXXX XXXXXX, licenciada em Geografia no ano de 2004. Dada a dificuldade de emprego na área quando terminei o curso, fiz-me à vida e empreguei-me na área da saúde privada (para não andar a viver dos rendimentos mínimos…..). Trabalho lá há 15 anos. Dada a enorme e actual falta de professores e nomeadamente de Geografia, tenho andado a tentar a minha sorte nas contratações de escola e em 1 mês já fui chamada por 4 escolas (em 6 que me candidatei), 3 delas horário completo! Como já deve ter percebido, não sou profissionalizada, mas tenho muita vontade de agarrar o ensino!
Infelizmente, (mesmo muito infelizmente) as garantias são nenhumas…. como sabe, os contratos são mensais, e posso sair a qualquer momento, indo para o desemprego…. seria trocar o certo pelo incerto. Pese embora a vontade dos directores de escola seja grande, que até ligam para os docentes para tentar saber a previsão da duração da ausência, nunca há previsão de nada. Como deve calcular, vivo do meu trabalho, e relembro, não posso trocar o certo pelo incerto! Tenho uma filha e casa para pagar!
Numa das escolas, a professora (se calhar efectiva e profissionalizadíssima) nunca apareceu desde o início do ano! Mais, ninguém a conhece na escola!
É de facto muito triste, diria revoltante, haver licenciados, como eu, e falo exclusivamente por mim, a querer dar aulas, e a não ter segurança profissional nenhuma. Já pensou que parte da falta de professores pode ser explicada por isso?
Não sou profissionalizada, não poderei concorrer nos concursos nacionais; mas tenho muita vontade de dar aulas de Geografia. Tenho uma importante experiência em dar explicações e posso gabar-me dos meus “alunos” terem um excelente aproveitamento com as minhas aulas semanais. É como lhe digo, não sou profissionalizada (e por isso sou penalizada) mas tenho vontade e dom para ensinar, que muitos profissionalizados não o terão, acredite! Todos nós já fomos alunos e sabemos disso.  É preciso ser amiga, humana, exigente, reforçar positivamente, alertar quando necessário, dar “dois berros” quando for preciso, ser a irmã mais velha quando eles (alunos) precisam!
É como os médicos: todos o são, mas há uns que nasceram e têm o dom da medicina, já outros, nunca deveriam ter sequer pensado em seguir a carreira!
Pense nisso Sr. Ministro.
Eu, é como lhe digo, vontade, muito boa vontade não me falta; faltam-me garantias. E perante a actual falta de professores de Geografia, isso não se deveria admitir.
Grata por este bocadinho.
Ao dispor,

 

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Má notícia nos chega do largo do Rato

Esperemos que seja relegado, apenas, a deputado…

 

António Costa mantém Brandão Rodrigues como cabeça de lista 

 

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O que poucos decidem que Portugal seja é o que Portugal é – Santana Castilho

 

O aumento continuado das responsabilidades e exigências que caem sobre os professores, devido à acentuada transferência para eles de funções sociais que pertenciam anteriormente à comunidade social e às famílias, sem as necessárias adaptações organizacionais compensatórias, tornou extremamente penoso o exercício da profissão. Dizer que a profissão docente está em crise passou, assim, a lugar-comum, sendo que as respectivas condições de trabalho (violência, esgotamento físico e psicológico) são as causas que mais contribuem para o acentuar dessa crise. E dentro delas, o peso da burocracia ocupa, talvez, o lugar cimeiro. Quantos cidadãos terão uma noção aproximada da quantidade de planos e relatórios inúteis que os professores são obrigados a produzir, com enorme prejuízo da sua responsabilidade primeira, que é ensinar? Muito longe de ser exaustivo, porque há mesmo muito mais, deixo um pequeno registo exemplificativo: Plano Anual de Actividades (PAA); Plano Plurianual de Actividades (PPA); Projecto Educativo de Agrupamento (PEA); Plano de Acção Estratégica (PAE), no quadro do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar (PNPSE); Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital da Escola (PADDE); Projecto Curricular de Turma (PCT); Plano de Turma (PT); Plano Educativo Individual (PEI); Plano de Melhoria (PM); Plano de Recuperação de Aprendizagens (PRA); Relatório Técnico-Pedagógico (RTP); Relatório Individual das Provas de Aferição (RIPA); Relatório de Escola das Provas de Aferição (REPA); Relatório Crítico do Director de Turma (RCDT); Relatório Final de Execução de Actividades (RFEA). A última desta torrente pútrida de toleimas foi a moda da filosofia “Ubuntu”, alma mater de mais um plano: o Plano 21|23 Escola+. Cansados com esta amostra? Imaginem os professores, com a totalidade!
A malícia política que semeou obstáculos no trajecto profissional dos professores exprime bem a falta de decoro a que chegámos: cerca de cinco mil docentes, apesar de terem cumprido todas as exigências estatutárias (avaliação positiva, com observação directa de aulas, quando exigida, e formação contínua) estão impedidos de progredir aos 5.º e 7.º escalões, graças à existência das famigeradas quotas administrativas, que o Governo discricionariamente fixou. Muitos destes, por terem menções classificativas máximas, estariam a salvo do primeiro expediente arbitrário. Então, criou-se um segundo, mais miserável que o primeiro: em cada escola, só um limitado número de professores pode ter nota máxima; assim, concluído o processo, a classificação de muitos é aviltantemente reduzida, para cumprir a vontade de sucessivas pilecas políticas. Do mesmo passo, e na sequência da subtracção de vários anos de serviço efectivamente cumprido, temos hoje outros milhares de professores que já deveriam estar em escalões muito acima daqueles em que se encontram. Naturalmente que daqui resulta uma injusta penalização remuneratória, designadamente com considerável impacto negativo no cálculo das suas pensões de aposentação.
As análises que muitos fazem sobre a situação descrita, alegando que “nem todos podem chegar a generais”, ignoram que, enquanto são gritantemente diferentes as funções de um soldado e de um general, as funções de um professor do 1º escalão são exactamente iguais às funções de outro, do 10º. Fica assim actual, 120 anos depois, o que Eça de Queirós escreveu: “O que um pequeno número de jornalistas, de políticos, de banqueiros, de mundanos decide no Chiado que Portugal seja, é o que Portugal é.”
Faz-se muito e do melhor no sistema nacional de ensino. Infelizmente, sem o apoio de quem o governa. A dedicação, a entrega e o amor aos alunos são o apanágio dominante do espírito de missão da maioria dos professores. Apesar disso, são alvo de ataques sucessivos, como se a culpa do que corre mal lhes pudesse ser imputada.
Os professores estão saturados da natureza arrogante deste Governo, da incompetência do ministro da Educação, de obedecer à anormalidade normal, a ordens e modas imbecis, vindas ora do autoritarismo central, ora do caciquismo local. O sistema colapsará se não se alterarem drasticamente as políticas educativas.
In “Público” de 8.12,21

 

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Critérios de Avaliação por Domínios: uma trapalhada sem fim à vista…

 

Os Critérios de Avaliação por Domínios, essa admirável invenção do actual Ministério da Educação, parecem estar instalados em praticamente todos os Agrupamentos de Escolas…

 Se se fizer uma pesquisa pela Internet, percebe-se imediatamente que os inúmeros documentos relativos aos Critérios de Avaliação dos Alunos, publicados pelos Agrupamentos de Escolas, de Norte a Sul do país, são compostos por dezenas de páginas, algumas delas difíceis de decifrar e de descodificar…

 Perante a complexidade e a abundância de tais documentos, e passados poucos minutos de leitura, tende a ficar-se deveras perplexo e atordoado com a “operacionalização” deste novo Modelo de Avaliação:

 Muitos Domínios, muitos Subdomínios, muitos Temas, muitas Ponderações, muitos Instrumentos de Avaliação, muitos Instrumentos de Registo, muitos Descritores por Níveis de Desempenho em cada Domínio, muitas Tabelas para Operacionalização dos Critérios de Avaliação em cada Domínio, muitas Áreas de Competências, muitas Menções Qualitativas e Quantitativas, etc, etc, etc…

 Tudo isso cruzado com o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e com as Aprendizagens Essenciais, mais duas indizíveis “inovações” do actual Ministério da Educação, origina, em alguns casos, documentos cujo significado se torna praticamente inacessível…

 Inacessível, pela difícil interpretação e compreensão, sobretudo para grande parte dos alunos e dos pais/encarregados de educação, apesar de serem eles os principais destinatários desses documentos…

 Uns e outros, mostram-se muitas vezes confusos, “perdidos”, sem perceber bem qual será o resultado final de determinados momentos avaliativos ou que “contas” deverão ser feitas para se justificar a atribuição de um certo resultado…

 A Avaliação dos Alunos parece estar transformada numa enorme trapalhada, sem fim à vista…

 Os Critérios de Avaliação por Domínios, nos moldes actualmente impostos pelo Ministério da Educação, não passam de uma fantasia, fundamentada em pressupostos teóricos inconcretizáveis, em termos práticos…

 Sejamos honestos e realistas… Como pode um professor, muitas vezes com mais de cem alunos e cinco ou mais Turmas, ter disponibilidade temporal e mental para:

 – Nortear-se por uma visão holística, inclusiva, integradora e auto-reflexiva, tendo como objectivo a “reformulação/melhoraria das práticas, através da constante indagação, questionamento e investigação dessa mesma práxis e seus resultados”? (de acordo com o Projeto MAIA, Folha 14, Critérios de Avaliação: Questões de Operacionalização).

 – Conseguir olhar para cada um dos seus alunos, considerando cada um deles “como um ser singular, procurando observar e analisar os processos individuais de aprendizagem”? (de acordo com o Projeto MAIA, Folha 14, Critérios de Avaliação: Questões de Operacionalização).

 – Fazer uma “interpretação inteligente do currículo”, dedicando “tempo e inteligência à interpretação/reflexão/apropriação dos documentos curriculares”, acionando “mecanismos de feedback de qualidade, no sentido de melhorar o desempenho dos alunos”? (de acordo com o Projeto MAIA, Folha 14, Critérios de Avaliação: Questões de Operacionalização).

 Em resumo, nada se descomplicou, nada se descomplexificou, nada se simplificou, muito pelo contrário…Tanta prolixidade, incapaz de produzir efeitos práticos, por desconhecimento e/ou negação da realidade…

 De que serve a teoria subjacente à “avaliação criterial”, defendida pelo Projeto MAIA, se a mesma não tiver aplicabilidade prática? E se se constituir apenas como um sinónimo de carga burocrática acrescida?

 A “avaliação criterial” permite avaliar “melhor e de forma mais transparente e clara”, conforme defendido pelo Projeto MAIA? A subjectividade, intrínseca a qualquer processo avaliativo, diminuiu com a implementação de tal Projecto?

 A Educação parece estar a tornar-se num enorme conjunto de equívocos e de absurdos e isso fez-me lembrar deste texto, também ele repleto de desacerto, incoerência e alucinação:

 Do Capitão ao 1º Sargento

“Amanhã haverá um eclipse do Sol, o que não acontece todos os dias. Mande formar a Companhia, às 7 horas, em uniforme de instrução. Todos poderão, assim, observar o fenómeno, do qual darei explicações. Se chover nada se poderá ver e os homens farão a formação no alojamento, para a chamada.”

 Do 1º Sargento ao 2º Sargento

“Por ordem do Sr. Capitão, haverá um eclipse do Sol, amanhã. O Capitão dará explicações às 7 horas, o que não acontece todos os dias. Se chover, não haverá chamada lá fora. O eclipse será no alojamento.”

 Do 2º Sargento ao Cabo

“Amanhã, às 7 horas, virá ao quartel um eclipse do Sol, em uniforme de passeio. Se não chover, o fenómeno da chamada será lá fora e o Capitão dará as explicações no alojamento.”

 Do Cabo aos Soldados

“Atenção: Amanhã, às 7 horas, o Capitão vai fazer um eclipse do Sol, em uniforme de passeio. Ele dará todas as explicações no alojamento, fenómeno que não acontece todos os dias. Caso chova, não haverá chamada.”

 Entre Soldados

“O Cabo disse que amanhã o Sol, em uniforme de passeio, vai fazer um eclipse para o Capitão, que lhe pedirá explicações. O fenómeno é capaz de dar uma bela encrenca, dessas que não acontecem todos os dias. Deus queira que chova!”

 (Roubado da Internet, de autor desconhecido, com algumas adaptações minhas).

  O que resta? Resta a “apologia do absurdo”, afirmando em total solidariedade com os Soldados: Deus queira que chova!

 

(Matilde)

 

 

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Publicada a atualização das remunerações da Administração Pública

 

 

Decreto-Lei n.º 109-A/2021

 

 

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