Caros colegas em monodocência:
A partir do momento em que os monodocentes, educadores de infância e professores do 1º ciclo, deixaram de usufruir de um regime especial de aposentação, tendo os restantes colegas do 2º, 3º e secundário, em pluridocência, mantido todas os direitos conferidos pelo Estatuto da Carreira Docente (ECD), a situação tornou-se confrangedora uma vez que os docentes, com o mesmo ECD, são tratados de forma desigual. Para ilustrar este facto, cita-se, como exemplo, a redução da carga horária letiva, em função da idade, nos 2º, 3º ciclos e secundário, assim como o número de horas efetivas, passadas na escola, também se mostra diferente, maior número de horas para educadores de infância e professores do 1º ciclo.
Em concreto, e retomando o horário docente, são atribuídos 1100 minutos, num horário completo dos colegas dos 2º, 3º ciclos e secundário, o que equivale a apenas a 18, 3 horas letivas, enquanto que os colegas, em monodocência, mantêm a carga de 25 horas letivas semanais, referindo que cada hora equivale, efetivamente, a 60 minutos.
Se, a estes 1100 minutos, adicionarmos as reduções que advêm da aplicação do artigo nº 79, do ECD, facilmente, se conclui que, entre docentes que se encontram num mesmo patamar, em termos de tempo de serviço, têm efetivamente uma carga letiva diferente conforme desempenham funções nos 2 º, 3º ciclos ou secundário em relação aos docentes que se encontram na educação pré-escolar e 1º ciclo. De facto, tudo isto acontece porque 2 tempos, atribuídos aos educadores e professores do 1º ciclo, equivalem a 120 minutos efetivos enquanto que para o 2º, 3º e secundário, esses 2 tempos, equivalem apenas a 90 minutos.
Essa desigualdade está, também, patente nas horas atribuídas à direção de turma. Os professores monodocentes, por inerência da função, são obrigatoriamente diretores da sua turma, uma vez que assumem as sete áreas curriculares, não lhes sendo atribuída qualquer redução horária, ao contrário dos colegas dos restantes ciclos.
Em termos de medidas compensatórias consignadas no ECD, encontra-se apenas, quando solicitada, a redução da componente letiva, em 5 horas letivas semanais aos monodocentes, que completam 60 anos de idade (art.º 70, nº 2). Esta medida, considera-se discriminatória e não compensa a desigualdade que se verifica ao longo da vida do profissional docente. Além de não repor qualquer igualdade no que se refere às condições de trabalho, apresenta também ambígua regulamentação, que permite o tratamento desigual, em situações arbitrárias como a substituição de docentes, consideradas por uns, atividades não letivas e, por outros não. De referir, ainda que, se o docente usufruir de um dia sem atividade letiva, poderá ser obrigado a repor essas (5) horas, ao longo dos restantes dias da semana.
Mencionam-se apenas exemplos, a lista seria longa, pois está sempre depende da gestão de cada diretor de agrupamento.
Até à data, desconhece-se qualquer esforço de sindicatos que tentassem alterar este estado de coisas, mas é objetivo o descontentamento existente entre a classe, desigualdade esta que tem vindo a ser perpetuada pela passividade e inércia de nós todos.
Há um tempo para tudo e, consideramos que é tempo de agir e repor a equidade consubstanciada no ECD, a todos os docentes.
Propõe-se, por isso, a mobilização da classe monodocente em torno das questões elencadas, no sentido de aferir, se existe de facto, um interesse real e nacional em trazer estas e outras questões, específicas da monodocência para a ordem dia, para um debate sério e honesto com a tutela.
Pretende-se formar um movimento que salvaguarde estes profissionais, possa encontrar respostas e dê sentido às preocupações reais deste grupo de docência.
Deseja-se tentar aferir, numa primeira fase, a sensibilidade dos interessados, recorrendo às redes sociais para que, posteriormente, se possam tomar outras medidas.
Assim, solicita-se que divulguem este texto pelos vossos contactos profissionais e deixem registada a vossa opinião.
Também podem entrar em contacto connosco através do email:
41 comentários
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É só desigualdades pois é e o que lucraram no passado ao ganharem o mesmo que os outros ao serem equiparados na tabela salarial e na carreira.
Esqueceram-se de mencionar que ensinar ao pré escolar e 1 ciclo é mto diferente de ensinar matemática, física,Química, Português. … . Além disso o desgaste ao ensinar adolescentes e jovens mais velhos não tem comparação. Isso ninguém fala.
Este estatuto da “carreira ” única” é “único” no mundo. Tudo nivela por baixo, tudo é igual .
Estes professores primários ( em Espanha chamam-se maestros, não professores) têm cá uma “lata” (perdoem-me)!!
Proponho que a “carreira única” vá do pré- escolar ao universitário – ” ou há moralidade ou comem todos”, certo? Quem me apoia na reivindicação ? É de aproveitar, na fase do “bírus”.
Cara colega, ensinar adolescente também eu já o fiz. Sou professor de variante e sei o que é ensinar a 2º ciclo e até 3º .
Se quiser aprender a ensinar, apareça no 1º ciclo e verá o que é vida dura. Não goze comigo.
Vamos pôr os pontos nos iii :
a) Se houve professores que aprendi a respeitar e admirei foram os meus saudosos professores primários. Os meus e os dos outros, pela sua dignidade , extraordinária e difícil missão. Mantenho.
b) Este nível de ensino reveste-se de uma enorme importância. Vou simplificar : “uma boa escola primária”, como se dizia em tempos , é a base para o sucesso ; pelo contrário, uma “má” poderá conduzir ao caos – crianças ou jovens que nunca mais recuperam devido à acumulação de lacunas.
Porém, não é forçoso que a carreira seja igual para todos. Como não é forçoso que o politécnico seja nivelado pelo secundário ou o universitário pelo politécnico . E todos são professores. E todos os níveis de ensino são dignos uns dos outros. Mas…
Não queria ser tua aluna.
Caro colega. Está muito enganado quando refere que ensinar ao secundário é mais desgastante. Fala isso porque não sabe o que é dar aulas o dia todo cinco dias por semana e com crianças que não são autónomas.
Com toda a razão Maria.
Ainda falta dizer que se estamos a comparar então também devemos comparar os cursos que se tiraram para lecionar nos ciclos. Uma licenciatura de matemática, Português, ciências, física. .. não tem nada a ver Com uma em educação pré escolar ou do 1 ciclo , sejamos honestos em tudo.
Parece haver uma ignorância muito grande quanto à formação dos profissionais do pré-escolar e do 1° ciclo e ao caráter funcional da profissão. Sou educadora de infância à quase 32 anos, sou licenciada por uma Universidade Pública em que tive que apresentar e defender uma tese publicamente. Estudei menos que os colegas do 2°, 3° ciclos?
Sabem por acaso que um profissional em monodocência abrange todas as áreas curriculares com a mesma exigência, profundidade e profissionalismo que os restantes docentes?
Sim, somos discriminados, infelizmente a começar pelos colegas!!!
Há 32 anos
Discriminadas, não! Quanto muito sentem-se complexadas. Há 32 anos estudou no magistério primário (bacharelato) e tirou o curso de professora primária. Depois para vencer os complexos e compor o vencimento, estudou numa universidade (licenciatura) e atingiu o estatuto de professora do 1.º ciclo. Outras nem isso, fizeram uns complementos no Piaget com 20 valores e ficaram equiparadas a licenciadas. Se quiser vencer os complexos, passe para o secundário, se estiver habilitada para isso. Não se esqueça que estudou numa universidade. Força! Até tem redução no horário e se calhar um dia livre, se a direção gostar de si.
Pois não, Carlos.
A vossa licenciatura, sem conhecimentos pedagógico-didáticos, nem deveria ter sido aceite para lecionação.
Por esse motivo, estamos hoje com uma juventude completamente desprovida de valores cívicos. Os seus professores foram técnicos e teóricos, mas não humanistas vocacionados para os valores sociais.
Maria, por favor, peço que não espalhe mentiras, que parece aquele da cara cor de laranja.
É falso que na licenciatura e mestrado não se adquira conhecimentos pedagógico-didáticos.
É falso que não se promovam todos os valores morais, sociais, culturais, éticos, etc, etc.
Sugiro uma dica: se o 2ºe 3º ciclo e secundário parece ser tão “difícil”, peça equivalências e venha para a pré e 1º ciclo, aplicar valores cívicos, humanistas, sociais … aos pais….
E reflicta… que valor lhe escapou a si, ao fazer estes comentários.
tudo de bom…
No comments para o Fernando, a não ser que talvez, esteja agora ( com 63 anos?) … a perder capacidades ….
Não é só no chat que o arlindo devia mediar/ bolquear/ eliminar, também devia fazer nos comentários com inexistência de valores pessoais: de verdade e rigor ( sobre os conhecimentos ) , de respeito ( por colegas da mesma profissão), de quase desprezo por uma função que muitos pais necessitam…( amas, babás , baby sitter, nannys, aupair ) .
enfim… todas as funções são necessárias à sociedade.
MAria, vá pro raio que a parta, ofender o pai natal! EStá agora a dizer que não temos conhecimentos?
A senhora é alguma enviada de algum partido político ou do governo com o objetivo de criar confusão.
Tenho mais conhecimentos científico-pedagógicos do que muitos colegas de ciclos superiores, aos quais já tenho dado boas lições.
Donde se conclui pela sua resposta que há professores de 1ª e 2ª ( cursos também , naturalmente). Não se percebe então que integrem um mesmo estatuto!!!!
De facto, existem Uns e os Outros, como bem refere!!!
Deixou clara a sua postura.
Nem vale a pena sublinhar que não há divisão na classe docente!!!!
Na minha opinião, estes comentários ” tristes” de …qual é a formação de base mais isto ou mais aquilo…ou então…qual é o ciclo de ensino onde há mais desgaste… e tal e tal…isso não nos leva a lado nenhum! Basta de comparações inúteis e fúteis para uma CLASSE que deveria ter mais classe nos comentários e sobretudo, na UNIÃO. Não acham que tenho razão? Vamos unir esforços para conseguirmos defender os nossos direitos e, sobretudo, vamos defender um final de carreira mais digno . Pelo menos isso…Ensinar até ao 66 anos…quase 67? Ensinar crianças e adolescentes? É contra natura…Trabalhar até tão tarde, nesta nossa profissão, merece maior atenção e mais união, da nossa parte!
Sim, têm razão…continuamos com docentes de primeira e docentes de segunda…e ainda faltam os contratados , porque esses nem são de primeira nem de segunda, são os tapa furos, que podem ficar vinte anos sem entrar na carreira, a deslocarem-se milhares de km e a ganhar sempre o ordenado base…quem se importa????
Por tudo isto continuamos a ficar para trás, não usamos a força que temos porque não somos uma classe unida!!!!
Só posso lamentar.
Estás enganado. Não há docentes de primeira e de segunda em Portugal.
Isso é em todos os outros países do mundo.
Em Portugal é só carreira única!
Concordo com tudo, menos com a afirmação sobre os sindicatos. É falso.
Francamente, custa-me ler semelhantes comentários de colegas. Tenho orgulho de pertencer à classe docente e sempre tentei tratar toda a gente com respeito e consideração. Os educadores trabalham e muito e como tal, merecem toda a consideração de colegas e não só.
Lamento que alguns colegas ainda pensem que são mais que outros.
Fátima Pombo
Se calhar era melhor iniciar o sistema educativo no 2° ciclo, assim ficava tudo bem! Para quê jardins de infância e escolas do 1° ciclo? Coisas menores e dispensáveis
Só não a mando para um certo sítio porque sou educada.
O seu desprezo pelo 1º ciclo mostra uma pessoa idiota. Um cérebro diminuto de alguém pertencente a um ciclo onde se armam em superiores. Dizer barbaridades que aparentam serem verdade é fácil. Também podia dizer que seu ciclo é sem qualidade, onde os professores se armam em fixes e porreiraços para os alunos, não sabem chegar ao nível deles e não sabem ensinar. Compreendo-a perfeitamente Maria.
Estamos a viver uma época única, assim espero, das nossas vidas. Não nos deixemos levar por conversas que levam a discussões, a desencontros e, bem mais grave, a divisões entre professores. Temos conseguido que a nossa imagem, perante a sociedade, seja aquela de que somos dignos pelo fruto do nosso trabalho. Não nos deixemos levar! Sejamos únicos pelo exemplo, assim se educa!
Únicos já somos na carreira única no mundo.
Ainda queres mais unicidade?
O artigo tem falsas notícias, 1100 minutos?
Conforme o Despacho ME os horários são constituídos por 1250 minutos de trabalho na Escola e 600 minutos de trabalho individual, prefazendo as 35 horas.
É isso mesmo. Ao ponto a que chegámos, andar a comparar minutos…
Os míseros intervalos, que deixaram de ser considerados trabalho, são muitas vezes passados na sala de aula, a atender alunos que nos procuram ou a esperar pelos últimos a acabar o teste. E quando isso não acontece, mal dão para ir de pavilhão em pavilhão e é preciso optar por passar na reprografia, tomar um café a correr ou ir à casa de banho. É isto que nos invejam?
Vamos lá fazer contas, então:
1250 minutos letivos + 600 minutos de trabalho na escola = 1850 minutos
1850 minutos : 60 minutos = 31 (aproximadamente) horas.
Não estou a ver onde é que estão as 35 horas!
Começar com determinadas contendas só serve quem despreza todos os docentes, mas façam como bem entenderem…Não dou um centavo para peditórios destes, seja qual for a mão que se estende…
Todas as idades requerem muito do professor e todas as matérias têm a sua complexidade. Cara colega, os seus argumentos são inválidos.
“Are you talking to me?” (Inspirado em Robert De Niro, in “Taxi Driver”)… 🙂
Realmente a monodocencia há muito que está esquecida e é mais que tempo de repormos a igualdade e justiça. Apoio este movimento.
E que tal também todos os professores dos outros ciclos começarem a reivindicar uma carreira como em todos os paises do mundo.
Já não gostavas, claro! Olha o meu!
Matilde
Bons e maus profissionais há em todas as profissões. O mesmo se passa com os professores independentemente do ciclo que lecionam.
Duilio, concordo consigo e isso também está implícito no último parágrafo do meu comentário…
Mas também acho que esse argumento não pode servir para branquear ou escamotear o problema. Até porque se, assim for, os principais prejudicados serão sempre os próprios docentes…
Reivindicação mais do que devida e vergonhosamente ignorada pela tutela e, pelos lamentáveis comentários no blog, também pelos nossos estimados “colegas” eles-os-professores. Que triste! Que vergonha a quantidade de “maçãs podres” dentro de uma classe onde não deveria haver umbiguismos e manias da grandeza. Pois a educação, a aprendizagem, o desenvolvimento do aluno-pessoa começa desde que se nasce e para isso contribuem TODOS os níveis de educação. Triste, mesmo…
Fui “censurada”???
Para onde foi o primeiro comentário que escrevi sobre este assunto e que constava logo a seguir ao comentário do Francesc Ferrer Y Guárdia Um Bocadinho Manco? Porque desapareceu esse comentário?
Se fui, gostaria de ser informada sobre o(s) motivo(s) que levaram a que tal sucedesse…
Também já constatei que foram apagados outros comentários. Quanto a esses não me pronuncio porque não me dizem respeito e não são da minha responsabilidade…
Reitero, contudo, o pedido já feito no sentido de me ser dada uma explicação que justifique o que se passou com o meu comentário porque, honestamente, não consigo encontrar qualquer motivo plausível para que o mesmo tivesse sido banido… Aguardo resposta.
Que diabo se passou nas duas horas em que estive ausente daqui? 🙂
Somos todos professores! Todos, sem exceção, com um papel importantíssimo na educação…
Não deveriam, nem tão pouco, existir estes pensamentos negativos e até ofensivos por parte de qualquer docente!! 😞
O Rui Cardoso volta e meia usa o lápis azul. Coisas do passado, métodos pidescos!
Lamento discussões destas entre colegas.
No entanto, entendo e constato discriminações entre os diferentes níveis de educação/ensino.
Sou educadora de Infância há 37 anos, com muito orgulho. Ser educador é muito mais do que a maior parte das pessoas imagina e, muitas vezes porque não tem interesse em saber: é bem mais do que ensinar. Por isso se chama “Educação pré escolar” e não “Ensino pré escolar”, o que muitos professores ainda desconhecem. É muito mais do que transmitir conhecimentos. Nesta faixa etária, é onde tudo o que é essencial á futura vida em sociedade se interioriza, nomeadamente valores fundamentais aos posteriores níveis de ensino; conhecimentos e competências também são adquiridos, mas de forma subtil, lúdica, o quê implica do educador um duplo papel. Juntandodo a dependência física e emocional das crianças, não é difícil entender o desgaste dos educadores.
Deixo uma pergunta no ar: quem já leu as “Orientações Curriculares para a Educação Pré escolar”???
Pois é…o Jardim de Infância não é só brincar! Fica o desafio para a leitura do documento.
Indo ao que agora verdadeiramente interessa, deixo a proposta que considero justa e urgente – reforma da monodocencia aos 60 anos.
A partir desta idade, por muita paixão e vontade de um educador, a qualidade da educação baixa, por falta de várias capacidades físicas e não só, dos educadores.
Concordo e estou disponível para subscrever documento que promova a equidade entre todos os docentes.