Da Impiedade do ME

Sou professora de português, licenciada no curso de Português/Inglês (ensino de) pela Universidade do Minho em 2002 e com anos de experiência dentro da sala de aula. 

 
Devido a uma situação familiar e um erro de minha parte na consulta das listas de colocação a 1 de Setembro, não vi o meu nome e não me apercebi que tinha sido colocada na RR1 num agrupamento de escolas de Oeiras. Uma colega ligou-me no dia seguinte ao prazo de aceitação do horário na plataforma. Fiz imediatamente uma audição escrita nos prazos legais e enviei um pedido de levantamento da penalização por esta via. Falei com a DGAE por telefone dentro das 48 horas após ter terminado o prazo e pedi encarecidamente que me deixassem aceitar o horário  para que me pudesse apresentar na escola e começar a trabalhar. 
 
Todos os pedidos foram indeferidos. 
 
Dirigi-me pessoalmente ao ME pedindo que me deixassem trabalhar, já que não recusei o horário, apenas não o aceitei em tempo útil. Disseram que a minha penalização se estendia até 31 de Agosto de 2024 e que, como eu, estão centenas de docentes penalizados por erros cometidos na aceitação de horários. (Que grande feito por parte da tutela!!!!)
 
Ontem fui contactada por cinco escolas de Lisboa para aceitar horários completos de português. 
 
Hoje mais uma (o dia vai a meio).
 
Hoje dirigi-me a uma delas para me apresentar tal como me foi solicitado por telefone no dia de ontem. Escola essa onde vários meios de comunicação social já estiveram a fazer reportagens e que estão a  sofrer uma carência de professores gravíssima, tendo turmas sem professores até 4 disciplinas. 
 
Já na escola deparei-me com a impossibilidade de celebrar o contrato devido à penalização. A Diretora contactou a DGAE, expôs a situação e manifestou a sua elevada preocupação, tendo sido instruída para continuar a chamar outros candidatos. Eu estou na lista em 4º lugar, os candidatos posicionados acima de mim foram contactados e não aceitaram. Os que se seguem têm habilitações suficientes (cursos que ou não estão ligados ao ensino nem à disciplina de português ou não estão completos, respeitando apenas o critério de créditos suficientes). Incluindo este horário uma turma de 9ºo ano e implicando exame nacional, a direção vê com elevada preocupação a preparação dos seguintes candidatos para assumir o cargo, ainda mais quando tem perante si uma candidata qualificada e disponível. O ME, de forma intransigente, disse que as regras são para cumprir. 
 
Dá-se preferência a pessoas sem qualificações científicas ou pedagógicas para não levantar a penalização a centenas de docentes que estão impedidos de trabalhar por meras falhas  administrativas. 
 
No ano passado e depois de milhares de alunos estarem sem professores a uma ou mais disciplinas, o ministério decidiu levantar todas as penalizações, sem mais, em Abril (sendo a época de exames em Junho/Julho já podemos deduzir a pertinência e eficácia de tal medida). 
 
 Eu já recorri a todos os instrumentos ao meu alcance, já apelei a todas as entidades. As escolas que me contactam manifestam todas a mesma preocupação: a falta de preparação (tanto científica como pedagógica) dos candidatos para assumir os horários. 
 
Continuo desesperada a tentar contornar a situação e a não conseguir compreender como se dá prioridade a pessoas menos qualificadas para assumir turmas de uma disciplina como é o português, a levantar uma penalização meramente burocrática e que prejudica gravemente a escola pública. Isto é digno de ser exposto na comunicação social e talvez assim o ME possa ser mais claro na defesa desta abordagem ao grave problema que está a assolar todo o ensino público. 
 
Talvez vocês consigam uma explicação plausível do ministério.
 
P.S. eu continuo a candidatar-me e a ser impedida de celebrar contrato embora esteja a ser selecionada por todas as escolas a que me candidatei até agora. Serei selecionada quando não houver absolutamente mais ninguém para o lugar. Antes de mim, serão colocadas pessoas com carências científicas e pedagógicas. Manter penalizações é mais importante do que ter pessoal qualificado na formação de milhares de crianças e adolescentes. 
 
Sem mais assunto de momento, espero que possam lançar este apelo e consigam ajudar pessoas, que como eu, querem trabalhar mas estão impedidos de o fazer pelo ME. 

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27 comentários

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    • Maria on 22 de Setembro de 2023 at 22:02
    • Responder

    Simplesmente uma vergonha!
    Mas se tivesse roubado alguma fortuna e com nome sonante, tudo seria levantado.
    Vivemos numa administração corrupta camuflada de gente que finge que segue regras.

    • Professor do Quadro on 22 de Setembro de 2023 at 23:03
    • Responder

    A penalização neste contexto tem graves repercussões para os alunos que ficam privados de uma docente com qualificações científicas e pedagógicas, e eventualmente terão um docente com apenas 90 créditos em língua portuguesa, lamentável
    Creio que já é penalização suficiente a angustia da colega que não consegue superar a implacável máquina administrativa do ME e continuar nesse calvário, até que o Sr Ministro se condoa com a situação e despache favoravelmente

      • Irresponsável on 23 de Setembro de 2023 at 8:49
      • Responder

      A começar pelos alunos da escola que a colega “não aceitou” em tempo útil que podem estar sem um professor com qualificações científicas e pedagógicas porque alguem com qualificações científicas e pedagógicas foi irresponsável.

    • Luluzinha! on 22 de Setembro de 2023 at 23:15
    • Responder

    É o que está na lei. São as regras. Tivesse cumprido com as suas obrigações. Não tem razão alguma para reclamar.

      • Cecília Silva on 23 de Setembro de 2023 at 0:36
      • Responder

      Que intransigência!
      Oxalá que nunca lhe aconteça algo do género!!!…

      • José on 23 de Setembro de 2023 at 11:51
      • Responder

      Tenho conhecime6nto de alguém que não aceitou a colocação no quadro, por lapso, a Dgae permitiu posteriormente.

    • Cecília on 23 de Setembro de 2023 at 1:02
    • Responder

    A colega que exponha a situação ao provedor da justiça, anexando doc.s que a sustentem .
    Boa sorte!

      • antonio on 23 de Setembro de 2023 at 9:45
      • Responder

      Passado um ano terá uma resposta, do género AS LEIS DESTE PAÍS SÃO PARA CUMPRIR, caso contrário temos a arbitrariedade e penso que isso ninguém quer pois muita gente tornará esses enganos (esquecimentos) propositados especialmente quando a escola não convém.

    • Pf on 23 de Setembro de 2023 at 10:35
    • Responder

    A próxima vez que o António e a luluzinha ultrapassarem os 50 km/h numa localidade eles certamente vão dirigir se ao posto da polícia entregar a carta.
    Sim a Lei é para cumprir mas todos nós conhecemos Lei injustas e esta é uma delas.

    • Hélder Ramos on 23 de Setembro de 2023 at 10:57
    • Responder

    É nisto que podemos ver a prepotência dos que mandam no sistema, mas não passam de caixas de ressonância, como tantas e tantas direções, que, para alijar as responsabilidades das funções que ocupam, pedem e pedem pareceres à tutela, como se não soubessem (previamente) as respostas esperadas. E é aqui que o ME sente que ganha força, por ter os rebanhos presos ao curto, quendo, nas reuniões para as quais são convocados, entram mudos e saem calados… Coordenam (afirmam!) escolas e até comunidades educativas, mas nunca governaram um quiosque. Como podem depois assumir uma posição firme e favorável ao contexto humano e profissional que afirmam compenetradamente representar? E o que fazem os conselhos gerais no meio deste lodaçal? Dizem «sim» aos pastores, que o são porque logo brandem o cajado temeroso da ação disciplinar. Gente mísera, que não vê o que nunca esteve tão às claras.

    • Miguel on 23 de Setembro de 2023 at 10:57
    • Responder

    Os Antónios e as Luluzinhas deviam estar calados.
    São vergonhoso os comentários destas criaturas. Acham sempre que os outros são incompetentes, ignorantes e eles são os sabichões e os donos da verdade.
    Ninguém está livre de lhe acontecer uma destasou parecida.
    Estejam mas é caladinhos e não cuspam para cima que lhes pode cair na cara.

    • Ajudante on 23 de Setembro de 2023 at 11:59
    • Responder

    “Tenho conhecimento de alguém que não aceitou a colocação no quadro, por lapso, a Dgae permitiu posteriormente…”

    Ajude a colega informando-a dessa situação para ela poder contra-argumentar.

    • Moi on 23 de Setembro de 2023 at 12:38
    • Responder

    A certa altura vão ser obrigados a despenalizá-la por falta de professores.

    • Bacalhau com Broa on 23 de Setembro de 2023 at 13:15
    • Responder

    O ponto de vista da colega de Português é válido, é horrível a situação que está a passar. A colega quer muito e pura simplesmente trabalhar. Não quer tirar nada a ninguém, nem quer viver de subsídios.
    Tb entendo de certo modo a posição do ME, penso que a ideia passa por evitar “xico-espertismos” e não estou a ver como é que a colega poderá demonstrar que não é o caso,
    Talvez alguém dentro do ME, com bom-senso, perceber que cada caso é um caso e que não se pode cair em generalizações.
    Acho que é de uma hipocrisia enorme dizer que “regras são para cumprir” quando todos sabemos que as Direções das escolas preocupam-se em dar horários aos amigos assim como as avaliações de MUITO BOM e EXCELENTE.

    • Jf on 23 de Setembro de 2023 at 15:20
    • Responder

    Se a colega fosse efetiva num QZP, então apenas sofreria um processo disciplinar, por não ter aceite a afetação a essa escola, mas pelo texto infere- se que é contratada e essa penalização visa Prevenir escolhas a lá carte talvez com a escassez de docentes qualificados haja uma reversão da decisao

    • Help on 23 de Setembro de 2023 at 15:46
    • Responder

    Não deixa de ser a lei mas este tipo de penalização no ano passado foi levantada em Abril/Maio. Poderá acontecer que ainda possa concorrer este ano letivo quando esta penalização for levantada.

    • Ana on 24 de Setembro de 2023 at 0:20
    • Responder

    Uma professora tão distraida e ainda nem começou o ano… Com professoras destas, mais vale ficarem sem aulas, pelo menos não desaprendem.

    • Pedagogia on 24 de Setembro de 2023 at 0:36
    • Responder

    Depois de ler estes comentários (alguns) denota-se claramente um “sadismo” implícito nas palavras inerente à natureza de alguns “professores” que por aqui passam e responderam de forma até cruel ao desepero de uma docente! Como pode esta gente se intitular PROFESSOR/A sendo que não demonstram nenhuma EMPATIA ! A culpa não está na professora e sim da Escola que devia enviar um contacto ou email a avisar que esta se encontra colocada! Pois imagine-se que esta se encontra num lugar sem Internet como é que sabia? As Escolas têm os contactos e bastava um telefonema. Faça apelo ao Ministro pois ele tem o poder de mudar a situação mas na sua carta não desvirtua as qualificações dos outros em comparações com as suas, não seja arrogante.

      • Ana on 24 de Setembro de 2023 at 11:51
      • Responder

      O desespero é cumprir as regras, com custos pessoais e familiares quando uma espertalhona quer dar o golpe. Ou então é incapacitada. Há tanta coleguinha nas escolas como a “Pedagogia”, que parece que vivem numa realidade paralela.

        • Karma on 24 de Setembro de 2023 at 13:10
        • Responder

        «Dar o golpe…» que linguagem tão rasca…e não faz qualquer sentido. Se for docente, coitados dos alunos, mas espera-se que um dia se veja confrontada com uma situação semelhante que seja efetiva ou não! O karma é “lixado”…nunca se esqueça disto!

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