Ainda que haja quem, não cumprindo o seu papel parental para com os filhos, não tenha compreendido que, lá fora, um dia, o mundo irá recebê-los a todos, existem muitas exceções.
Se são demasiados os pais irresponsáveis que se comportam como crianças, implicando que, tanto eles como a sua prole, dificultem a vida dos profissionais de ensino, outros há que são um exemplo e merecem ser notados. Encarregados de educação que – contrariamente aos que acreditam que, por algum milagre, as escolas farão o seu trabalho –, têm a consciência de que a educação dos filhos é sua responsabilidade dá-la em casa.
Não diria que, atualmente, é fácil «pôr-se» uma criança no mundo. Há que reconhecer que, nos dias de hoje, em muitos aspetos, é mais difícil ser pai do que há algumas décadas. As crianças estão mais difíceis devido a uma indústria mercantilista selvagem que publicita e lhes “enche a cabeça” com todo o género de produtos, estando constantemente a aliciá-los. Basta repararmos na publicidade que, noutros tempos, quase só anunciava artigos para adultos e que, na atualidade, está virada para os menores. Isto obriga os adultos a um trabalho muito mais intenso na educação dos filhos sobre aquilo que é essencial e o que é supérfluo, sobre as prioridades, o preço das coisas e a importância dos valores acima dos objetos, assim como a compreensão de que não se pode ter tudo o que se quer.
Felizmente, embora haja pais a quem este trabalho passe ao lado, preferindo comprar o seu principezinho com tecnologia que o mantenha entretido para não dar trabalho, muitos outros cumprem muito bem o seu papel, conversando com os filhos, dando-lhes algo muito mais valioso do que qualquer brinquedo – dando-lhes educação, a maior de todas as heranças, que fica para o resto da vida.
Não ouso negar que, num mundo cada vez mais tecnológico, cheio de miúdos amarrados a telemóveis que trazem consigo no bolso, nas mãos e que até levam para cama, não é fácil controlar os riscos do mundo que entra pelos seus olhos através da internet e das redes sociais. Perigos de diversa ordem, o bullying e a insegurança a que estão expostos, tomam conta da mente dos pais mais conscientes que, mesmo estando alertas, não estão livres de preocupações.
Se, a tudo isto, juntarmos o facto de nos termos tornado escravos do trabalho, já de si composto por horários selvagens que tornam o quotidiano alucinante, com a maioria dos casais em que ambos trabalham, sobrando pouco tempo para estar com os filhos, nem sempre se trona fácil ser-se pai. Então, nestes tempos difíceis de crise económica, com uma inflação altíssima, juros, prestações, rendas e créditos com valores insustentáveis, são estes pais que fazem um excelente trabalho para que não falte o essencial aos seus filhos, que merecem uma louvação. Pais que se sacrificam, muitas vezes passando por necessidades de cuidados pessoais e, até, fome, que tudo fazem para esconder dos filhos as dificuldades extremas, para que não os afetem. Há fome e dificuldades escondidas de pais que desabam em lágrimas, nas nossas salas de diretores de turma, pelas complicações da vida, muitos deles, com filhos de uma educação e higiene acima de qualquer reparo.
Porém, mesmo em situação nada fácil, ainda vão aparecendo estes pais atentos que fazem um trabalho excecional na educação dos seus filhos, acompanhando-os, conversando, sabendo dizer “não” na hora certa explicando o motivo, incutindo-lhes valores, responsabilidade e a importância de terem atenção e diligência para com os outros; que, de modo algum, aceitam que os filhos faltem ao respeito a alguém, sendo os primeiros a solicitar à escola para que, sempre que haja alguma situação de comportamento impróprio dos seus educandos, que os chamem, porque não admitem falta de educação, realçando que, quando haja uma falha da parte do adulto, resolverão a situação de modo a que este não perca a autoridade e a postura perante a criança.
Lamentavelmente, num ensino vocacionado para se ocupar daqueles que se portam mal, que absorvem todo o tempo dos professores, os mais educados são claramente penalizados pelo pouco tempo que sobra para lhes darem a devida atenção.
Mas são estas crianças educadas que nos fazem acreditar que ainda há fé na humanidade, as quais faço questão de elogiar e de enaltecer os seus pais perante os demais, pela educação que dão aos seus educandos.
Carlos Santos