Rui é apenas um dos muitos professores que sente na pele as consequências de estar a centenas de quilómetros de casa. O setor exige respostas do Governo para os problemas que a Educação enfrenta.
Eu vi, claramente visto, o desvario da Educação em Portugal.
Eu vi, claramente visto, o inverno gélido da Escola Pública que tarda em desabrochar em primavera florida.
Eu vi, claramente visto, o Ensino escolar actual de faz de conta, de ideologia e cultura facilitista, paralisante, embrutecedor da intelecção e da ilusão do virtual sucesso educativo.
Eu vi, claramente visto, o esfrangalhamento da pessoa humana dos educadores e professores portugueses sem autoridade e poder na escola.
É, eu tenho visto, claramente visto, a não assumpção de culpas de um poder político miserável, covarde, de menoridade e mediocridade intelectual histórica.
É, eu tenho visto, claramente visto, a irresponsabilidade, incompetência e leviandade da desgovernação que nos governa.
É, eu tenho visto, claramente visto, a “inimputabilidade” das políticas e reformas educativas de luminárias às escuras, tateando nas trevas e projectos.
É, eu tenho visto, claramente visto, a luta e o grito de revolta da dignidade, insubmissão, resiliência e resistência humana ao choque e à adversidade, contra a opressão e tirania “infra-humana” castigadora.
Sim, eu tenho visto, claramente visto, sorrisos que choram e lágrimas que sulcam rostos determinados pela razão a continuar a lutar, a lutar, a lutar.
Sim, eu tenho visto, claramente visto, a paixão docente, e das palavras a emoção e o sentimento de mulheres e homens que se sentem feridos por uma mágoa que magoa sem igual, num oceano de revolta enfurecida.
Sim, eu tenho visto, claramente visto, que os professores são a classe sócio-profissional mais fustigada pelo burnout, flagelada pelo esgotamento e massacrada pelo cansaço profissional.
É sim, eu tenho visto, claramente visto, a élite intelectual do país a dar um “monumental murro” na mesa, a dizer basta, chega de dor, sofrimento, perda e privação, e a exigir um ponto de ordem à mesa da negociação.
Sim, é mesmo, eu tenho visto, claramente visto, o medo e a covardia da politiquice que foge à responsabilidade do dever, obrigação, proposição, comprometimento e compromisso. Dizer presente na concertação. Boa-fé.
Sim, é mesmo, eu tenho visto, claramente visto, o trono da mentira, injustiça, discriminação, manipulação e toxicidade da opinião pública, em forma de propaganda política de (des)Governo, fugir ao empenho e entendimento com o professorado e os sindicatos; afinal, um ME que não presta contas nem protege os trabalhadores que tutela. Peca, sem lisura.
E sim, é verdade, eu tenho visto, claramente visto, a mão do punho fechado e da rosa espinhosa de Costa & Costa que empunha o chicote, marca com o verdugo, tem no olhar a “traição” e na acção o ferrete de “culpados”.
E sim, “É preciso dizer a verdade apenas a quem está disposto a ouvi-la”. (Séneca)
No início dos últimos anos letivos, um assunto tem ocupado as manchetes dos jornais e a abertura dos noticiários de estações de rádio e canais de televisão: a falta de professores. Também neste espaço, tem sido matéria de reflexão. Apesar de o seu efeito se fazer sentir de forma desigual no país, com graves efeitos na equidade e igualdade de oportunidades que a Escola Pública deve prover, no momento em que estamos, é difícil não regressar a este tema. A falta de professores anunciava-se há muitos anos, muito mais de dez. Várias organizações ligadas à Educação foram alertando para o que o futuro traria, se nada fosse feito, mas nada ou muito pouco foi feito. Pode até dizer-se que, em muitos aspetos, a situação se agravou. Os professores tiveram a sua carreira “congelada” por muitos anos, a profissão foi sendo desvalorizada socialmente e as condições de vida, principalmente nas grandes cidades, tornaram-se difíceis, se não impossíveis, de serem comportadas por quem inicia o exercício desta profissão.
Enquanto isto, e apesar de tudo isto, os professores portugueses foram fazendo crescer e melhorar a escola pública, contribuindo decisivamente para que a formação dos nossos alunos fosse atingindo um nível, de tal forma elevado, que os guindou para os lugares cimeiros dos estudos internacionais e os tornou motivo de admiração por essa Europa fora. Portugal passou a exportar mão-de-obra altamente especializada, com elevado nível de competências e com a qualidade da sua formação reconhecida. Entretanto, surge a pandemia e os professores portugueses enfrentaram o desafio de dar resposta a um confinamento inédito, com ensino a distância, apesar da escassez de formação e recursos para tal. Também após a pandemia, lhes foi colocado o repto de recuperar as aprendizagens dos alunos, perdidas nesses anos.
A todos os desafios, os professores portugueses deram resposta à altura. Apesar disso, nada melhorou quanto ao reconhecimento social, às condições de trabalho e à carreira docente. Mesmo o “descongelamento” da carreira provocou muitas situações de injustiça.
A profissão docente é, atualmente, pouco apelativa, com bloqueios que dificultam uma progressão na carreira que seja estimulante. Está “armadilhada” com quotas e vagas que impedem o acesso ao topo da carreira a uma grande parte dos docentes. Ao contrário do que se quer transmitir, esta carreira não valoriza o desempenho, antes penaliza muitos docentes de elevado mérito que desmoralizam com o retorno negativo que lhes é dado pelo esforço que dedicam à profissão e aos seus alunos.
Não será muito difícil encontrar professores com mais de 30 anos de carreira, a aproximar-se da idade de aposentação, situados, ainda, a meio da carreira docente, com um vencimento líquido pouco acima de 300€ superior ao que se vence no início da carreira. Isto significa que os muitos professores nestas circunstâncias tiveram uma valorização de cerca de 10€ por cada ano de carreira. Estes docentes têm uma perspetiva de progressão na carreira muito reduzida e sentem ter trabalhado uma vida inteira para acabar com uma reforma bem abaixo do que esperavam quando começaram a trabalhar. Esta realidade não seria motivadora para nenhuma carreira e explica muita da insatisfação e sentido de injustiça que motiva os professores portugueses para as diferentes formas de luta que têm vindo a assumir.
Com este enquadramento da profissão, é difícil aliciar jovens e menos jovens para abraçar esta carreira. Não nos podemos esquecer que todos os potenciais futuros professores já passaram pelo sistema educativo. Sabem bem o que é exigido a um professor, a exposição e o desgaste a que a docência obriga, as condições e o volume de trabalho com que lidam e o que recebem em troca. Para reverter o caminho para a erosão da profissão, urge tomar medidas: rever e valorizar a carreira e o estatuto remuneratório, desbloquear a progressão na carreira, alterar o sistema de avaliação de desempenho docente e os seus efeitos na carreira e melhorar as condições de trabalho dos professores e das escolas. Urgente seria retomar conversações para a recuperação do tempo de serviço, pela qual se trava uma das mais intensas lutas laborais de que há memória no nosso país.
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As escolas estão a receber cada vez mais computadores avariados que se vão amontoando em espaços improvisados, porque já estão fora da garantia e faltam técnicos informáticos que os possam arranjar, alertaram diretores.
No Agrupamento de Escolas Cego do Maio, no Porto, estão armazenados “mais de 70 computadores avariados”, contou à Lusa o diretor Arlindo Ferreira, mostrando fotografias de dezenas de mochilas amontoadas em prateleiras à espera de uma solução.
O presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, garantiu que este é um problema nacional:“Todos nós temos computadores já fora da garantia e há cada vez mais a avariar. Os computadores são cedidos pelo ministério e, quando não funcionam, os pais dirigem-se às escolas”.
Manuel Pereira, que é também diretor do Agrupamento General Serpa Pinto, em Cinfães, estima ter entre “30 a 40 computadores guardados nos sítios mais caricatos”.
No Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, em Vila Nova de Gaia, há outras três dezenas, segundo uma estimativa do diretor Filinto Lima, que é também presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).
Muitos destes equipamentos já perderam a garantia, sublinharam os diretores com quem a Lusa falou, lembrando que os primeiros ‘kits’ entregues aos alunos tinham uma garantia de dois anos, que terminou em 2022 e “os equipamentos da Fase 2 tinham uma garantia que acabou em abril 2023”, disse Arlindo Ferreira.
Fora da garantia, o custo do arranjo passa para as famílias que, muitas vezes, se recusam a pagar. Uma professora contou à Lusa o caso de um aluno que recebeu um computador e, passados poucos dias, a bateria deixou de funcionar: “Não foi mau uso e o pai sentiu que não deveria ser ele a pagar, uma vez que o equipamento deixou de funcionar logo após lhe ter sido entregue”.
O presidente da ANDE, que fez questão de salientar a importância do projeto de digitalização das escolas, defende que as garantias dos equipamentos deveriam ser alargadas e as escolas deveriam ter mecanismos que permitissem resolver rapidamente estes problemas.
À Lusa, a presidente da Associação Nacional de Professores de Informática (ANPRI) corrobora que há “casos de portáteis avariados que neste momento já não estão no prazo de validade da garantia” e que “as escolas aguardam indicações sobre como proceder”.
Arlindo Ferreira garantiu que a situação já foi reportada ao Ministério da Educação, que prometeu “uma extensão das garantias, mas até hoje ainda não aconteceu nada”.
Para os diretores, a falta de técnicos informáticos nas escolas também agrava o problema. Filinto Lima defendeu que a solução deveria passar por ter “um técnico informático em cada escola, para despistar pequenas avarias e evitar enviar para arranjo numa empresa”.
Quando os computadores perderam a garantia e as famílias se recusam a pagar o arranjo, algumas escolas arriscam e abrem os equipamentos na esperança de os conseguir arranjar, contou à Lusa uma professora.
“A escola não tem técnicos e, muitas vezes, é graças à carolice de uns professores e funcionários que conseguimos arranjar alguns computadores”, disse, explicando que evitam enviar para as empresas porque depois “ficam lá presos, os orçamentos são volumosos e os pais acham que não se justificam”.
“Também existem casos de alguns computadores avariados que foram enviados para os fornecedores e demoram a ser devolvidos”, acrescentou a presidente da ANPRI, Fernanda Ledesma.
Questionado pela Lusa sobre a não renovação das garantias caducadas, o Ministério da Educação referiu apenas que “na medida em que os equipamentos foram adquiridos em diferentes momentos, a vigência das garantias também é variável”.
Hoje, a Lusa ligou-me para tentar perceber a realidade das escolas no que respeita aos portáteis do alunos, professores e secretarias.
A notícia está apenas disponível para assinantes, mas em breve deve estar aberta noutros espaços noticiosos.
Mas de uma forma geral o que se passa nas escolas é um autêntico caos onde acumulam-se os portáteis avariados, sem garantia, e muito dificilmente haverá condições para que as provas digitais sejam realizadas nas escolas pelos alunos.
Convém desde já o IAVE preparar as provas finais do 9.º ano em papel porque praticamente metade dos computadores já estão avariados e não existe cobertura de garantia para os arranjar.
Lisboa, 25 set 2023 (Lusa) – As escolas estão a receber cada vez mais computadores avariados que se vão amontoando em espaços improvisados, porque já estão fora da garantia e faltam técnicos informáticos que os possam arranjar, alertaram diretores.
O envelhecimento dos professores em Portugal tem sido visível e os mais velhos são os do pré-escolar, alargando para mais de 50 anos a diferença que os separa dos alunos. Mas a realidade estende-se a todos os níveis de ensino: em 2015/16 os professores do 1.º ciclo tinham, em média, 46 anos e agora têm 50
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Os filhos dos professores são as vitimas inocentes do sistema de concursos de docentes. São os danos colaterais…
Como se explica a um filho que só vai poder ver o pai ou a mãe ao fim de semana? É quase como se os pais se divorciassem (e este sistema já levou a muitos divórcios). Pode-se tentar de várias maneiras, mas as crianças, as nossas crianças, vão acabar sempre por sofrer, no silêncio, a falta de um dos progenitores no seu dia-a-dia.
O que responder a um filho quando este nos pergunta: “Porque é que tens de ir?”; “Porque não arranjas outro trabalho?”; “A minha escola ainda não começou. Porque é que a tua começa mais cedo?” Tenta-se explicar, com lágrimas nos olhos, que a vida de um professor não é justa, para eles, é muito mais injusta.
Quando as crianças são pequenas, é difícil entender porque é que os “bruxos maus” fazem com que os pais vão para longe durante a semana e só voltam à sexta-feira, cansados, exaustos. Quando crescem, a revolta é bem maior
Mas os nossos filhos não são contabilizáveis. Não são peças no tabuleiro. São um problema que não é do sistema. Porquê? Porque um professor não é um pai como qualquer outro, tem “outros filhos” que o sistema põe à frente do seu “legado genético”. Como se os nossos filhos, não fossem eles próprios, filhos de “outros pais” tão iguais a nós próprios…