Professores, heróis em tempo de pandemia – Hélder Sousa Silva

 

Professores, heróis em tempo de pandemia

Durante este último ano, o país prestou tributo, e bem, aos profissionais de saúde, aos bombeiros, às forças de segurança, às autarquias e aos trabalhadores da designada “linha da frente” pela forma como responderam à pandemia. Passados mais de 365 dias desde a primeira experiência de confinamento, falta agradecer aos educadores e aos professores – esses heróis que são merecedores do reconhecimento público!

Porque os heróis são aqueles que têm a capacidade de se reinventar. Quando o terceiro período letivo se iniciou, a 14 de abril de 2020, no regime de ensino à distância e após mais de um mês de suspensão das atividades letivas, os docentes responderam à falta de meios com muita vontade e criatividade: atualizaram-se profissionalmente com recurso às novas tecnologias, repensaram métodos de ensino e despenderam horas a recriar tarefas.

Porque os heróis são aqueles com quem podemos contar. Pese embora o esforço das famílias e o apoio prestado pelas autarquias de Norte a Sul do país, nomeadamente na cedência de computadores e de equipamentos para acesso à Internet, nesta primeira fase do confinamento nem todos os alunos tiveram condições mínimas no acesso ao ensino à distância. Não obstante, os educadores e professores fizeram o possível por continuar a ser uma presença assídua na educação de milhares de crianças e jovens, que guardarão para sempre os seus significativos gestos de disponibilidade.

Porque os heróis são aqueles que honram o serviço público, privado e cooperativo. Já em contexto de atividade letiva presencial, e à medida que o primeiro período do ano letivo 2020/2021 se foi aproximando do fim, o número de turmas em isolamento e de casos positivos de Covid-19 (alunos, docentes e auxiliares) foi aumentando de forma preocupante. Novamente, os docentes demonstraram a sua resiliência.

Porque os heróis são aqueles que não desistem perante a adversidade. Já em 2021, quando o Governo decidiu tardiamente (afirmo, de forma convicta!) suspender a atividade letiva presencial e, com ela, iniciar um novo período de confinamento, os educadores e os professores voltaram a ser o recurso imprescindível do sistema educativo, perante a incapacidade do mesmo Governo que, pese embora as reiteradas e infundadas promessas, não garantiu os necessários meios informáticos para que todos os alunos, sem exceção, tivessem igualdade de oportunidades no acesso à educação.

Porque os heróis são aqueles que dizem sempre… presente! Chamados “às pressas” para retomar a atividade letiva presencial, sem testes nem vacinas, mais uma vez os docentes comprovaram ser feitos dessa fibra que distingue os homens e as mulheres que, perante a grandeza da missão, têm a coragem de perseverar.

Por tudo isto, todas as palavras serão sempre poucas para expressar este merecido agradecimento. Contudo, não tenho dúvidas de que os nossos docentes facilmente prescindiriam de tais palavras se lhes fossem garantidas as devidas condições para o exercício do seu trabalho. Essa é a melhor homenagem que lhes podemos fazer!

Perante a falta de preparação e de planeamento de um Governo que se limita a repetir os mesmos erros ao longo da pandemia, os educadores e os professores foram obrigados a um autêntico exercício sobre-humano. Não é suposto ter superpoderes para exercer a nobre missão de ensinar!

Poderá o Governo ainda aprender esta lição?

 

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12 comentários

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  1. Para mim, já não se trata de reconhecimento, mas apenas de um agradecimento…

    • Falar verdade on 25 de Março de 2021 at 12:02
    • Responder

    Concordo com todo o conteúdo.

    Penso que pensem em algo muito “simples”: imaginem o que é dar aula de máscara, desde das 08h00 até às 17h30 com salas cheias de alunos (27 e 30), sem a distância aconselhada?!

    Mas não adianta reforçar a heroicidade dos professores, pois este ministério tem fomentado uma péssima visão da classe docente, não aponta o mérito, não altera a lei que vem abafando a criatividade e a motivação na escola, pois estamos sobre um regime ditatorial, em que a maioria dos docentes não pode escolher o seu Diretor, mas um Conselho Geral, com uma boa percentagem de elementos que não conhece a escola. Tudo subjugado às diretivas de um Diretor, com receio da avaliação e a fazer de conta que faz. Diretores que não dão mérito aos seus docentes, e vivem com a porta aberta aos pais/encarregados de educação, não no sentido de participarem nas atividades da escola, mas de fazerem queixa de quem está com verdade na educação e para ensinar.
    Lamentável.

    1. Concordo com tudo o que diz.

    • Francisco Trindade on 25 de Março de 2021 at 12:48
    • Responder

    Não quero que me chamem herói! Não quero pancadinhas nas costas, até porque não preciso! O que eu quero é que me contem o tempo de serviço que descaradamente me roubaram e que me posicionem no escalão onde devia estar há muitos anos! Isso é o que eu quero!…Deixemo-nos de mariquices. Farto desta mentalidade do coitadinho!…

      • Maria on 25 de Março de 2021 at 18:49
      • Responder

      Concordo.

    • Helder on 25 de Março de 2021 at 13:36
    • Responder

    É uma parvoíce bimba, chamar ou achar que alguém que faz o seu trabalho e tem um salário é um herói.
    Nem médicos, nem professores, nem empregado de supermercado, são heróis.

    São apenas PAGOS para fazerem o seu trabalho. Os outros não devem agradecer.

      • Lembrado on 25 de Março de 2021 at 20:26
      • Responder

      Gratidão é uma virtude e uma prova de humanismo, desde que feita com honestidade e seriedade. É um sinal de elevação! Mas não é a dar palmadinhas nas costas artificiosas e cheias de manhas. Não se faz com salários miseráveis, nem com avaliação falaciosa, ou gestão pidesca e de humilhação feita para agradar aos partidos que estão no poder, sejam eles quais forem. Quando se agradece nestas circunstâncias está-se apenas a ser cínico e a defender esclavagismos que nada dignificam ou contribuem para o bem geral.
      Em questões de dínamos das sociedades democráticas :The size metters! Estes são os grandes profissionais. Estes são os que realmente mantêm isto tudo a funcionar, enquanto os maiorais se escondem e colocam interesses e mesquinhez à frente do bem comum. Não se pode passar uma esponja nas mortes e na dor que ocorreram nos meses de Janeiro e de Fevereiro. Os mandantes têm as mãos sujas e bem sujas! Os outros profissionais, comparados com estes, também importam principalmente se trabalharem com honestidade e se (pesarosamente para todos) também pagarem uma carga de impostos tão carregada como a que estes pagam.

    • Kita on 25 de Março de 2021 at 16:56
    • Responder

    Não somos heróis coisa nenhuma. Tal como não é um bombeiro que apaga o fogo ou o médico que salva alguém. O herói é aquele que, estoicamente e nada tendo a ver com a sua profissão, comete um ato de bravura pondo a vida dos outros em primeiro lugar.
    Confunde-se tudo hoje em dia e usam-se termos com demasiada leveza. O que os professores pedem é tão somente o reconhecimento que lhe foi tirado à décadas, a dignidade, o respeito e o estatuto, não excluindo, claro, a compensação pelo seu trabalho, pois ninguém trabalha de grau. Não sou voluntária de ensino, sou profissional de ensino. Como tal, devo ser paga em proporção da responsabilidade e não com migalhinhas aumento zero. Quero o que de direito mereço e que o Estado me deve. Se fosse ao contrário já tinha recebido ameaças via CTT por atrasos no pagamento e aplicavam juros. Como é o Estado, pode… vergonha. No fim, quem fica com menos dignidade são eles…

    • Kita on 25 de Março de 2021 at 16:58
    • Responder

    Umas gralhas no texto… peço desculpa

    • !!! on 25 de Março de 2021 at 20:19
    • Responder

    Depois de quase duas décadas de PIDE nas escolas e comportamentos salazarentos dos responsáveis, só faltava mesmo chamarem-nos heróis!!!!
    Heróis?! Um louvor????
    Os heróis estão todos mortos…

    • Lina on 26 de Março de 2021 at 10:01
    • Responder

    Não, tenham lá paciência, não somos heróis. Somos profissionais que deram o seu melhor, como se espera, quando as condições ficaram adversas. Todas as profissões o fizeram . Esta lamechice constante da parte de alguns colegas é deveras irritante, desculpem o desabafo. Sugiro que canalizam essa energia para sublinhar o que nos é devido, como a devolução do tempo roubado, e sublinho roubado, o retorno à democracia nas escolas., concursos nacionais com um mínimo de coerência e de justiça, condições pedagógicas mais efetivas como pararem de vomitar legislação a toda a hora e reduzirem de uma vez por todas o número de alunos por turma, etc, etc…

    • Rafael Pessoa on 26 de Março de 2021 at 14:58
    • Responder

    Eu tenho curiosidade em saber que tipo de professores tiveram estes profissionais da politica, em ação governativa, para que agora revelem tão falta de respeito para com a nossa classe. Obviamente que quando observamos outras áreas profissionais a serem elogiadas por tão prontas e dedicadas respostas à pandemia e sobre os professores praticamente nada se diz oficialmente, é natural que percebamos que estamos votados ao esquecimento. Como já foi referido por um colega não precisamos de títulos ocos na essência, mas também não me digam que não tivemos que fazer um esforço adicional, nunca antes ensaiado, para desempenharmos as nossas funções com a paixão que nos caracteriza.
    Porque é que nos roubaram o “bife”? Quando congelo um bife durante dias ou meses e depois o descongelo o bife não diminuiu de tamanho. Pode ter perdido qualidades nutricionais mas o tamanho mantém-se. Quando a classe politica decisora ou até mesmo nós falamos que houve um descongelamento na verdade estamos a faltar à verdade. Não houve um descongelamento, houve um roubo! O bife não tinha o tamanho original. Se o problema fosse a falta de verbas, o que se revelou uma mentira descarada, teriam uma postura decente e mostravam ter uma vontade clara de no futuro reporem o bife por completo, mesmo que isso implicasse “perdas nutricionais” para nós.
    A culpa será só dos governantes? Dos sindicalistas que se eternizam mal nos cargos? E nós? Quantos colegas nas escolas criticam o Ministério e quando podem fazer diferente na sua pequena esfera ainda são mais tiranos com os seus pares, olhando apenas para o seu umbigo? Felizmente no meu agrupamento o conselho geral que não é refém do Sr. Diretor defende o melhor para o agrupamento mesmo que isso possa implicar não cair em graça. Sabem porque é isso possível? Porque reuniu-se um conjunto de professores com um sentido altruísta e mais preocupado com a qualidade do agrupamento do que nos seus interesses carreiristas. Quem é que pode garantir a um professor que com uma atitude de submissão cega terá um Muito Bom ou Excelente em escalões com quotas? Porque é disto que estamos a falar. já assisti a muitas surpresas desagradáveis. Podem nos roubar tudo mas a nossa consciência NUNCA!

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