INTRODUÇÃO ÀS FINANÇAS DA AVALIAÇÃO DOCENTE: estragar a farinha, com fantasias de poupar no farelo.

 

Acabei de receber a lista dos docentes avaliados e avaliadores do meu concelho. O centro de formação de Viana corresponde ao concelho. Por alto, contei uns 180 avaliados e uns 180 avaliadores.
Umas 360 pessoas vão gastar horas e horas, a avaliar-se uns aos outros, para dar uns excelentes e muito bons, que podem chegar a ser ou não, conforme o bambúrrio das quotas ou o tamanho das marteladas, que as listas levam, para tentar favorecer os amigos, ou aparentar que se endireita o que não tem emenda.
Imaginemos que, por baixo, são umas 35 horas de trabalho por cabeça. Isso dá 35 X 360 horas para as aulas observadas e respetivos papelórios, o que dá 12600 horas de trabalho docente no concelho de Viana.
Horas em que não se trabalha para os alunos, mas para uma fantasia distópica de “avaliação” que nem a criadora ainda perfilha.
Juntem-lhe uns 30% mais de tempo para outras papeladas conexas, fichas, ler as normas e circulares abstrusas, recursos e outras trapalhadas diversas associadas e ficam com 17640 horas. Arredondemos para 18 mil, por conta da net avariada e os computadores jurássicos.
18 mil horas, a um custo médio hora docente de 15 euros, dá um custo oculto estimado de 270 mil euros para fazer a ADD no concelho de Viana este ano letivo.
Nos próximos 4 anos, que é o tempo de um escalão, será mais de um milhão de euros. Como Viana vale menos de 1% do país, 100 vezes mais, são 1,8 milhões de horas e, em 4 anos, 100 milhões de euros.
Aceito discutir as contas aqui estimadas e até debato com os deslumbrados com a “chelencia” e o “mérito”, que acham bem esta despesona, mas, antes, têm de me explicar como somos assim tão ricos que desperdiçamos 100 milhões de euros nesta palermice.
E sem contar que são horas tiradas a apoios de alunos e outras tarefas produtivas e muitos envolvidos ainda perdoam ao Estado a cobrança das deslocações, que seriam devidas entre escolas, que não requerem.
Isto faz algum sentido, mesmo do ponto de vista económico? Não seria melhor poupar estes custos que, na verdade, são desperdício?
Luís S. Braga

 

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5 comentários

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    • António on 22 de Março de 2021 at 17:51
    • Responder

    Concordo plenamente! Tanta energia e custos gastos para nada! Sem esquecer as cotas!

    • Mic on 22 de Março de 2021 at 19:38
    • Responder

    Apoiado!!!

    • José Rui on 23 de Março de 2021 at 12:31
    • Responder

    Caro Luís Braga,
    lancei-lhe, em tempos, um desafio, elaborar uma petição pela democracia nas escolas…
    (Porquê a si? Porque tem estado envolvido em várias iniciativas do género, conhece os meandros, e penso concordar com os objetivos)
    Nunca tal aconteceu, é pena…

      • Luís Sottomaior Braga on 23 de Março de 2021 at 12:46
      • Responder

      Isto já não vai lá com petições….
      Ainda agora o Parlamento chumbou a alteração da lei de gestão proposta pelo PAN, Bloco e PCP.

      Talvez uma ILC…. Mas a última (das progressões), que foi a primeira que o parlamento recebeu integralmente digital, foi tão extenuante que me assusta meter-me noutra…

      Antes disso, estive em várias outras coisas do género.
      Como diria o Graciano, já na faculdade me metia nestas coisas……

      Mas afinal tenho vida, família, dou aulas todos os dias e tenho tanta obrigação como tantos outros…
      Há quem esteja dispensado de trabalhar no duro, para defender posições sobre os professores, mas que trabalha pouco….
      Faço o que posso, nas minhas circunstâncias, que, como não assumi, porque não procurei (nem procuro) nenhuma posição de representação coletiva, só a mim diz respeito.

      Mas nunca me furtei a ajudar boas causas. Não quero é ser líder delas, para lá do que é a minha vontade individual. Isto é chegar àquela posição em que, por conta do grupo, já não penso por mim e me vejo limitado no que posso dizer ou fazer.
      Algo que aprendi a estimar por conta de várias leituras, entre elas, Erasmo e a sua Aurea Mediocritas.

      Aliás, não quis nem quero ser dirigente sindical (fora de ser delegado de escola) porque, infelizmente, com a natureza da nossa classe, isso significava perda de liberdade de pensar e falar. E talvez ache com falta de modéstia que sou mais útil assim.

        • José Rui on 24 de Março de 2021 at 0:02
        • Responder

        Compreendo.
        Já agora quando foi esse chumbo de que quase ninguém deu conta?
        É que não basta apresentar uma proposta às escondidas (assim parece intencionalmente votada ao fracasso…).
        Seria necessária a divulgação, das razões da proposta, junto da opinião pública para todos perceberem o alcance e o que se está a passar nas escolas…
        Às escondidas, parece mais um serviço de bandeja (a habitual venda dos professores) a interesses ocultos…
        Quem pensam enganar o BE e o PCP?

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