Depois do caso de Famalicão, em que um encarregado de educação optou pela não frequência dos seus educandos da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, gostaríamos de saber a opinião de professores e encarregados de educação sobre o tema.
Basta que o candidato em 2020, tenha vinculado no concurso PREVPAV numa escola, para que outra Escola ou Agrupamento interessado possa pedir a sua mobilidade na plataforma SIGRHE. Escolas e Agrupamentos entendam de uma vez que, só têm a ganhar com a sua presença. Se o candidato contacta a vossa escola para mobilidade, não achem sempre que a vossa Escola/Agrupamento é o exemplo e que não têm casos de alunos ou famílias que possam necessitar de acompanhamento social. No momento que o país e o mundo atravessa, o A.S. é uma mais valia para contactar alunos, famílias e professores. Há muito desemprego nas famílias dos alunos, muita fome, muita violência doméstica, muita necessidade de apoio sociopsicológico entre outras mais problemáticas. Ter a resolução destas problemáticas, com a intervenção do A.S. através dos contatos que estabelece com os parceiros locais (segurança social, banco alimentar, IPSS, câmaras municipais, juntas de freguesia, tribunais, equipas no terreno de RSI, hospitais, etc) é essencial e vital. Se o A.S. ou outro TE contactar a vossa Escola/Agrupamento para falar da possibilidade de vossa Exas solicitarem a sua mobilidade na plataforma SIGRHE, não o humilhem, não se achem donos da razão ao afirmarem que a vossa Escola ou Agrupamento é um exemplo que tem zero casos de alunos ou famílias a precisarem de intervenção social. Não passem a imagem da Escola/Agrupamento perfeito, isso não existe, ninguém acredita! É pura utopia! Já pensaram nos imensos alunos, famílias que deixam de ser ajudados ou de ter intervenção social por causa do vosso capricho? Se o A.S. ou outro TE vos contacta já pensaram que também ele pode precisar que vocês Escolas deem o primeiro passo e reconheçam, antes de fazerem juízos de valor, que será uma mais valia para ambas as partes, trabalharem mutuamente, lado a lado? É preciso que vocês Escolas compreendam que por vezes, também é difícil o A.S. ou outro TE estabelecer esse primeiro contacto com vocês, expor-se, mostrar todo o seu trabalho ao longo dos anos, com o seu currículo, explicar-vos o motivo porque quer vir a trabalhar com vocês, e ás vezes ele pode ter um motivo extremamente forte, ter no seu agregado familiar um membro doente a necessitar de ficar mais perto para lhe dar assistência, entre tantos outros motivos. Antes de fazerem juízos de valor, será que conseguem uma vez na vida, colocar-se no seu lugar? Se ele fosse um professor, por iniciativa própria pediria a sua mobilidade diretamente ao Ministério da Educação e vocês Escolas/Agrupamentos tinham de o aceitar, sem poderem questionar e sem acharem que não precisam dele!!! Teriam de recebê-lo sem achar que dirigem uma Escola ou Agrupamento fantástico, sem casos a necessitar de intervenção da área social!! Pensem nisso!
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Eu nem comento a proposta de colocar os “alunos de costas uns para os outros”, só de alguém que não tem a mínima noção do que é uma sala de aula ou sequer uma escola…
O Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco, em Vila Nova de Famalicão, não pode para já chumbar os dois alunos por excesso de faltas na sequência de os pais os terem impedido de frequentar aulas da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, evocando para tal o direito à objecção de consciência.
Assistentes operacionais, mais do que um termo, uma profissão. Por Rui Inácio
Ao longo de todo o ano planeiam-se atividades à medida de cada grupo, definem-se horas, sem fim, de planificações, de momentos que se consideram ricos em oportunidades para as crianças, que valorizam cada interesse, dificuldade, conquista, momentos que se constroem e que se pensam através de uma relação existente em sala. Sabendo que surgem de um modo intencional, pedagógico, é extremamente importante sublinhar o peso que as pessoas que nos acompanham tem na sua concretização.
Os nomes são vários para esta profissão, mas mais do que um nome, um termo, é a sua disponibilidade para se aventurarem todos os dias nos abraços, nos toques, nas relações, nas tristezas, nas alegrias surgindo, quase, como se de um casamento se tratasse. Apoiam sem medida, todos aqueles com quem criaram uma aliança no início do ano, uma aliança que valoriza o afeto, a atenção, o respeito e o caminho conjunto a seguir.
As metas definem-se em equipa, o modus operandi, baseado nas prioridades, na vivência, mas mais do que isso, na necessidade de respeitar cada criança que terão à sua responsabilidade. E, tal como os educadores de infância, os assistentes operacionais, os ajudantes de auxiliar de ação educativa, os auxiliares de ação educativa, empenham-se, da melhor forma, por permitir que os mais pequenos sejam felizes a cada dia que passa.
É, sem dúvida, uma profissão que por vezes é desvalorizada.
É, por vezes, uma profissão pouco reconhecida pelos encarregados de educação e comunidade educativa. Mas atenção, é, sem dúvida, uma profissão de extrema importância para o bom funcionamento de uma sala de uma creche, de jardim-de-infância e de uma escola.
Com estes profissionais, as crianças estabelecem relações que os tornam confidentes, que os tornam exemplos a seguir e os olham como adultos preocupados pelo seu crescimento. Esse trabalho, cooperativo com os docentes, justifica-se numa parceria que prevê a valorização de todos aqueles que se entregam à sua profissão, que ajudam dentro e fora da sala, que apoiam, que brincam com os mais pequenos.
Porque ser esta profissão, é mais do que ser um sinónimo de limpeza como tantas vezes, é olhada. É mais do que ser reconhecida como alguém que se preocupa com o pó, com a comida, com as idas à casa de banho. De facto, há tanto para dizer em relação a estes companheiros de viagem dos educadores de infância e dos professores.
Há, de facto, muito a dizer.
A cada ano que passa, estes profissionais adaptam-se a novos docentes e esforçam-se para compreender o seu trabalho, a sua perspetiva da educação. Seguem-nos sem os conhecer, porque a prioridade são as crianças que estão junto deles, a prioridade é o bom relacionamento entre os adultos. Adaptam-se e, eles próprios, sujeitam-se às mudanças, mesmo que, muitas vezes, não concordem com o que lhes vai sendo exigido. porque tal como os docentes que os acompanham, estes reconhecem as prioridades das crianças e olham como elementos capazes de se envolverem, de crescer, de gostar e de criar laços.
São profissionais que acompanham o dia-a-dia dos mais pequenos em momentos, que a grande maioria dos educadores e dos professores não acompanham. Sabem o que comem, o que gostam e não gostam, o tempo que demoram a almoçar, a lanchar, o apoio que necessitam de dar e, a contra-relógio, fazem-no como verdadeiras máquinas, de modo a que o espaço fique liberto para os que ocuparão cada cadeira no turno seguinte. Mas, mais do que se apressarem por esse propósito, apoiam cada um e valorizam a necessidade de se aproveitar o tempo que resta para poderem brincar no exterior.
Nas idas à casa-de-banho, é uma verdade, acabam por acompanhá-los de um modo constante, quando necessário, mas incentivam os mais pequenos a seguirem o seu sentir, a sua autonomia, porque mesmo não sendo docentes, reconhecem a importância da autonomia, do crescimento e de que, as idas à casa-de-banho, são momentos de aprendizagem.
Estes profissionais acolhem de braços abertos, sentem as feridas que os pequenos lhes trazem, sentem as quedas que os pequenos dão, sentem cada sentimento dos mais pequenos como uma partilha de emoções, como uma forma de crescimento e de respeito comum, são companheiros diários e, para isso, despem-se de opiniões, de preconceitos e vestem-se de relação, construída com os mais pequenos e com os adultos com quem trabalham.
Esta profissão é uma profissão de respeito, que valoriza o que é feito pelos docentes, que se torna fundamental no dia-a-dia de uma sala, de um parque exterior. São elementos que sentem, que brincam, que se envolvem, que constroem, que chegados ao final do ano, sentem a concretização de tantos pensamentos que, em conjunto com a equipa de sala ou de escola, levaram a bom porto aqueles pequenos marinheiros que embarcaram no seu barco.
Esta profissão, mesmo não sendo os comandantes de navios, são os que se encontram lado a lado, que cooperam, que choram, que riem, que abraçam. Quantas vezes engolem as palavras porque o sentimento de inferiorização se alastra pelos membros, pela mente e toca-lhes na tristeza das palavras, levando a que eles próprios esqueçam o valor que têm para os educadores e para os professores que acompanham.
O final do ano não se atinge sem que todos se envolvam.
O final do ano não se torna de sucesso apenas com o trabalho do educador, do professor, ou do monitor.
O final do ano é de sucesso, quando ao longo do tempo, cada um encontrou o seu lugar, o seu espaço e soube respeitar quem com ele caminhou, quem valorizou cada decisão, quem apoiou, ainda que nem sempre de acordo, a concretizou.
O final do ano leva ao abraço de felicidade, quando todos souberam dizer obrigado, quando todos souberam dizer desculpa, quando todos souberam perguntar, como posso ajudar?
Se chegados ao fim de mais um ano letivo, ou prestes a chegar, olhamos para trás e reconhecemos que o caminho não se fez sozinho, é de louvar estes profissionais que abraçam a sua profissão e que caminham, tantas vezes, na sombra, a nosso lado.
É louvar o empenho que tem com as crianças, porque as crianças também criam boas relações com eles.
Se em algumas situações alguém nos desorientou, nos levou a que perdêssemos o rumo, mesmo que por breves instantes, eles continuaram do nosso lado e continuam a suportar o peso que decidimos carregar ao longo de todo o tempo, amparam-nos nas quedas, para que o barco não se afunde, cooperam.
Estes profissionais deram-nos a mão, dão-nos a mão, e fazem com que cada dia se torne mais fácil de acontecer, porque tal como nós, educadores, são sensíveis ao outro, às crianças e dão-se sem medida. Carregam nos ombros os problemas dos mais pequenos, partilham, connosco, ansiedades, situações, alegrias e tristezas das crianças que temos a nosso cargo.
Estes profissionais não são menos do que nós, são como nós, empenhados, sensíveis, preocupados, lutadores, responsáveis, disponíveis, seres humanos.
É uma profissão que recebe pouco, para os problemas com que lida diariamente, porque a exigência é grande! Para fazer parte desta profissão é preciso gostar, é preciso saber ser profissional de educação, é preciso trabalhar e ser equipa.
É certo que podemos dar um pouco mais de nós. É certo que, tal como em todas as profissões, existem os que estão de coração e os que estão por obrigação, e isso é notório. É certo que, tal como na maioria das profissões, é importante reconhecer a vocação, o fazer por gosto e não porque é imposto.
Aos pais, que tantas vezes falam sem pensar, a roupa está suja, o filho queixou-se, ou simplesmente, não fizeram o que os pais lhes pediram, pensem apenas, estes profissionais recebem os filhos, os vossos filhos, tranquilizam-nos quando precisam, acolhem-nos de braços abertos, mesmo quando falam de um modo mais rude para eles, porque sabem quais são as suas responsabilidades, mesmo que estejam magoados com as palavras que saíram pouco pensadas. Reconheçam-nas como elementos chave neste processo a que chamam educação, porque mesmo assim, eles dão-se, transportam consigo os medos e os problemas que os vossos filhos transmitem, partilham, e, em conjunto com os docentes, constroem pontes, que só beneficiam os vossos filhos, porque tal como os docentes, a sua maior preocupação é o bem-estar dos vossos filhos. Pensem, apenas, e agradeçam.
Mas, esta profissão é engrandecida por gestos e o gesto mais simples, de agradecimento, veste-se de abraço, veste-se da palavra, obrigado. Veste-se de relação, de conquista, de valorização.
Esta profissão de ação, veste-se da simplicidade que a caracteriza, mas ao mesmo tempo a torna complexa na sua prática, porque mesmo assim, não se encontra impedida de refletir no seu dia-a-dia e na luta pela melhoria da sua prática. É um dever, uma obrigação, pensar nos nossos atos, na nossa forma de estar.
Esta profissão é mais do que um termo, é um sentir, é aventura, é entrega, é ser equipa.
Por isso, a todos estes profissionais que acolhem de braços abertos esta profissão, fica um singelo obrigado, pela vossa disponibilidade em ser e em fazer para que a educação, em conjunto com os docentes, aconteça. Sem cada um de vós, o fardo seria mais difícil de carregar, o barco levaria mais tempo a chegar.
E, para terminar, sejam profissionais de educação,
em que, tal como numa reflexão anterior, permitam semear, para que se possa colher no futuro, porque também semeiam, porque também colhem, porque também devem refletir na prática e torna-la melhor todos os dias.