11 de Dezembro de 2024 archive

Tolerância de Ponto

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Diagnósticos há muitos, o que não há são soluções credíveis…

Em 9 de Dezembro passado, foram divulgados os resultados de um Estudo realizado pelo Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar, versando sobre a qualidade da Saúde Mental dos Alunos e dos Professores…

Os principais resultados desse Estudo parecem confirmaraquilo que se adivinhava há muito tempo:

A exposição aos telemóveis/ecrãs por parte dos Alunos parece assumir-se como uma dependência… Apesar de a Saúde Psicológica dos discentes ter, alegadamente, melhorado em relação a 2022, uma quarta parte dos mesmos refere alguns sintomas psicológicos preocupantes como irritação, nervosismo, perturbações relativas à higiene do sono e um nível de satisfação com a escola e com a vida que vai diminuindo ao longo dos anos (TVI Notícias, em 9 de Dezembro de 2024);

Metade dos Professores alega sintomas de mal-estar psicológico, entre os quais, nervosismo, tristeza, irritabilidade e dificuldades ao nível do sono, sendo que uma parte significativa dos mesmos refere que já experimentou perturbações psicológicas compatíveis com depressão, stress e ansiedade (TVI Notícias, em 9 de Dezembro de 2024)

Mas o dado mais curioso e sintomático deste Estudo, talvez seja este:

– Menos de 400 Professores mostraram-se disponíveis para avaliar o bem-estar e saúde psicológica (TVI Notícias, em 9 de Dezembro de 2024)

Decorrente do anterior dado numérico:

Os resultados deste Estudo relativos aos Professores serão fiáveis, tendo em consideração o tamanho da amostra e o número muito elevado de indivíduos que fazem parte do universo Docente? A amostra de menos de 400 indivíduos será realmente significativa?  

Segundo a TVI Notícias em 9 de Dezembro passado, os próprios autores deste Estudo apresentaram algumas reservas quanto aos dados disponibilizados…

E, agora, a pergunta obrigatória, que não pode deixar de se colocar:

– Porque motivo(s) tão poucos Professores se disponibilizaram para participar no referido Estudo?

Alvitram-se como possíveis explicações:

Muitos Professores estarão cansados de responder a frequentes Inquéritos/Questionários que diagnosticam muito bem os problemas existentes, mas que acabam por não ter qualquer repercussão ou efeito prático, em termos de resolução das contrariedades sentidas

Diagnósticos há muitos, soluções para os problemas tem havido poucas, portanto, para uma parte significativa da Classe Docente, não valerá a pena ter o trabalho de responder a mais um Inquérito/Questionário, que previsivelmente não terá consequências visíveis;

– Muitos Professores desistiram de “falar”, optando por ficar “calados”, conscientes de que, na verdade, têm sido muito pouco ouvidos ou, até mesmo, convictos de que ninguém os ouve…

Deixou de fazer sentidofalar”, depois de se verificar que, recorrentemente, não se registaram alterações significativas na realidade que rodeia os Professores

Se as opiniões dos Docentes não são tidas em consideração, no sentido de se procurarem as melhores soluções para os problemas por si apontados, o natural é que acabem por se abster…

Em resumo, os problemas são identificados, são bem diagnosticados, mas raramente se passa disso…

Diagnósticos há muitos, mas não soluções credíveis para os problemas identificados

Atacar os problemas na sua origem e adoptar medidas que tendencialmente os eliminem, não costuma fazer parte das medidas de política educativa há muitos anos

O actual Ministro da Educação também parece encaminhar-se para essa linha de actuação:

– Medidas estruturais que tornem a Carreira Docente efectivamente atractiva, como forma de combater a falta de Professores? Não há

Medidas concretas que aliviem o esgotamento físico, mental e emocional que afecta parte considerável da Classe Docente? Não há

– Medidas concretas que aliviem o volume astronómico de trabalho docente, frequentemente gerado por insanas tarefas burocráticas e administrativas que, na maior parte das vezes, não têm relação directa com a leccionação? Não há

– Medidas concretas que impeçam a eventual existência de lideranças autocráticas nas escolas? Não há

Então, afinal, o que é que há como soluções para os problemas?

Bom, existirá sempre a possibilidade de fazer medicação antidepressiva, ansiolítica, hipnótica e/ou sedativa por tempo indeterminado e contribuir, dessa forma, para o consumo desmesurado de psicofármacos em Portugal

Em alternativa, ou concomitantemente, também se poderão frequentar muitas Formações na área da Saúde Emocional, na ânsia de se adquirirem competências socioemocionais e no âmbito do autocuidado psicológico, que permitam aguentar o inferno em que se transformou a vida profissional de muitos milhares de Professores

A chatice é que uma e outra “solução” não passarão depaliativas…

Seja-se, ou não, Médico ou Psicólogo, há que dizê-lo com toda a frontalidade e honestidade:

São paliativas, na medida em que não resolvem os problemas, apenas permitem atenuá-los e adiar a sua resolução. Apenas isso.

Enquanto os problemas não forem debelados na sua origem, enquanto as causas dos problemas não forem eliminadas, tudo o resto serão paliativos…

Não se resolvem os problemas estruturais, de fundo, existentes na profissão docente, mas haverá sempre à disposição um comprimido pretensamente milagroso e/ou alguma “mentoria muito criativa, cujo lema, sarcasticamente, bem poderia ser este:

– Os problemas são nossos amigos, só temos que os conseguir compreender e aceitar!

Concluindo, diagnósticos há muitos, o que não há sãosoluções credíveis, que tenham como principal objectivo eliminar os problemas

Creio que os Professores estão cansados de diagnósticosacerca da sua Saúde Mental… O que querem são soluções concretas e credíveis para os problemas que os afectam…

E a formação inicial de Professores, assim como a formação ao longo da vida profissional, deve incluir a promoção de competências socioemocionais e de autocuidado psicológico?

Deve Deve, desde que não se crie a ilusão e a fantasia de que isso, por si mesmo, basta para resolver os problemas graves que impedem os Professores de se sentirem tranquilos, satisfeitos, focados na função de ensinar e de poderemdesfrutar de uma boa Saúde Mental…

Paula Dias

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