Porque razões temos uma má escola… António Galopim de Carvalho

“A ESCOLA NÃO É MÁ PORQUE TEM ALUNOS MAUS, OS ALUNOS SÃO MAUS PORQUE A ESCOLA É MÁ”, escreveu Raquel Varela, aqui, na sua página, do passado dia 21.

Subscrevo e retomo esta frase da destacada professora e investigadora da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, da Universidade Nova de Lisboa, porque ela vai ao encontro do que aqui e noutros locais tenho dito e escrito, repetidamente, de há muitos anos a esta parte, e que não é demais relembrar.
Não vou debater as razões que assistem às tão grandes diferenças nas classificações (os ditos “rankings”) das escolas públicas e privadas, nem os porquês da existência “alunos maus”. São por demais conhecidas e têm a ver com o modelo de sociedade que temos. Uma coisa é certa, desta última, como noutras classificações, fica claro que escolas públicas más e alunos maus, em quantidade preocupante, são, entre nós, uma vergonhosa realidade.

A escola é má por múltiplas razões e a primeira é a inexistência de uma política de educação consertada entre governos e oposições, pensada a duas, três ou mais legislaturas, que envolva a escolha criteriosa dos titulares da respectiva pasta.

É má porque a este sector da sociedade nunca foram atribuídas as dotações orçamentais necessárias.

É má porque a formação dos professores deixa muito a desejar e porque o sistema de avaliações, praticamente, nada avalia. Lembre-se que propostas de avaliações a sério têm sido rejeitadas por parte dos muitos que não querem (ou receiam) serem avaliados.

É má porque a imensa maioria dos professores é prisioneira de múltiplas obrigações administrativas e outras que nada têm a ver com o acto de ensinar.

É má porque os professores são uma classe desacarinhada, desprotegida e mal paga, a quem a democracia retirou o respeito e a consideração que já tiveram no tecido social. Consideração e respeito que lhes são devidos como agentes da mais importante profissão de qualquer sociedade.

É má porque, em termos de educação, não temos estado a formar a maioria dos jovens que a democratização do ensino trouxe às nossas escolas. Temos estado, sim, e continuamos a estar focalizados nas estatísticas e, nessa óptica, os professores são como que obrigados a amestrarem os alunos a acertarem nas questões que irão encontrar nos exames finais.

É ainda má no que concerne a política desastrosa da chamada “inclusão”, que nos levou a “andar de cavalo para burro” no então chamado “ensino especial” para crianças, algumas a roçarem a adolescência ou já nela entradas, com necessidades educativas especiais, mais concretamente, com problemas na aprendizagem, na sociabilização e outros.
Hoje, a pretexto da dita «inclusão», integram-se alunos com problemas sérios em turmas de outros sem dificuldades de aprendizagem, exigindo-se aos professores que individualizem o ensino, com o apoio de alguns técnicos que, na maior parte dos casos, não lhes conseguem facilitar o trabalho.
Já o disse e volto a dizer: Quando, em 2015, no começo do seu mandato, o Primeiro-Ministro António Costa afirmou que o nosso maior défice era o da Educação, deu-me razão, mas já passaram seis anos e nada de verdadeiramente importante aconteceu. “Os rankings deixam a nu anos de políticas desastrosas”. Disse, neste seu artigo, Raquel Varela, outra afirmação que subscrevo na íntegra.

Todos sabemos que há boas e excelentes escolas públicas, que há bons e excelentes professores, mas o essencial do problema que aqui aflora reside na quantidade preocupante de escolas más e alunos maus. “Não se está a debater as pontas de excelência,… O que conta é a média, a média é cada vez mais baixa, mesmo contando com a desnatação dos programas e a facilidade dos exames”, como afirma referida professora e investigadora. Basta atentar nas expressões “desnatação dos programas” e “facilidade dos exames” para ver aqui uma pequena parte das citadas Políticas desastrosas.

Tenho sido um crítico, não tão activo como deveria e, ao mesmo tempo, como é público, um defensor tenaz dos educadores e professores dos ensinos pré-escolar, básico e secundário, formadores de cidadãos que deviam estar (e, desgraçada e infelizmente não têm estado) entre as primeiras preocupações dos governantes neste quase meio século de democracia.

Todos sabemos que há professores sem qualidade ou vocação para exercerem essa missão (sim, porque é de uma missão que se trata e não de um qualquer emprego), mas não é aqui que reside o essencial do problema. O essencial foram e, infelizmente continuam a ser as atrás referidas políticas desastrosas.

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25 comentários

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    • Phill on 25 de Maio de 2021 at 19:07
    • Responder

    Qual o problema com a formação de professores? Ela segue os moldes de Bolonha em Portugal desde 2008: mestrados de 2 anos, com didáticas específicas e prática pedagógica supervisionada. Talvez o problema tenha sido as profissionalizqções em serviço da Universidade Aberta, modelo EAD para desenrascar.

    E a velha estória do ensino como missão, herdada dos missionários jesuítas nas colónias, só desvaloriza a nossa profissão. Um missionário não recebe salário, porque é um mártir salvador de alminhas, e o impulso divino o alimentará. Somos profissionais, formados cientificamente, e somos pagos por isso.

    • maria on 25 de Maio de 2021 at 20:21
    • Responder

    910 -” educação especial”

    Mal sabe o Prof. Galopim de Carvalho a paródia ou inutilidade que lá reina. Não por culpa dos “professores”.
    Mal sabe o Prof. os milhões e milhões que se derretem para pagar avantajados ordenados a 6.000 almas que por lá vagueiam, mais umas larguíssimas centenas de baixas médicas . Para nada.
    Mal sabe o Professor Galopim o que essas criaturas fazem quando se deslocam semanalmente às escolas primárias. Nada. Para o pouquíssimo que poderiam (poderiam !) fazer, lá estarão os prof. primários e educadoras, muito mais apetrechados.
    Mas tudo isto passa despercebido , Prof. Galopim! O pior é que todos temos de pagar a festa.

      • Pensador on 25 de Maio de 2021 at 22:04
      • Responder

      Muito bem dito maria.

      O grupo 910 – educação especial é uma ABERRAÇÃO.

      Estes 6000 artistas foi a forma de terem um emprego na Função Publica com Cursos de 6 meses tirados, muitos feles, em Tascas Privadas para a infiltração no Estado ser mais rápida.

      Esta gente faz de conta que anda lá a fazer alguma coisa… andam no funfo a enganar meninos e respetivas familias.

      Esta pouca vergonha não ocorre no ensino privado.

      Mas feixemos esta VERGONHA e NOJO de parte.

      Falemos das mais de 11.000 BAIXAS MÉDICAS de longa duração anualmente.

      Falemos dos milhares de professores sem vocação que encontraram no ensino a unica saida profissional para comerem a sopa.

      ……..

      Falemos da pouca vergonha das cifadanias, educacoes sexuais, desporto, biciclete……

      Falemos da rabaldariade indisciplina que é a dita escola publica….

      Falemos da dita “CARREIRA UNICA”…….

      UMA VERGONHA

      Nojento

      .

        • maria on 25 de Maio de 2021 at 22:44
        • Responder

        Voltando ao 910

        Faltou dizer, caro Prof, Galopim , que nos outros níveis ( 2º, 3º e sec. ) o regabofe é igual. Os destemidos “professores” limitam-se (limitam-se !) a acompanhar os NEE às disciplinas curriculares desses ciclos. Missão : evitar que aqueles não chateiem demasiado os que estão lá para aprender. Apenas e só. Repito que a culpa não é desses “professores”, antes de quem nos (des)governa. Mas a ignomínia custa-nos muito dinheiro.
        Haverá por aí quem me desminta?

        • Fernando, el peligroso de kas verdades. on 25 de Maio de 2021 at 22:59
        • Responder

        A vocação deste é o avianço habitual. Mas ele é sempre o aviado, não avia porque não tem vocação.

    • Copiado on 25 de Maio de 2021 at 20:34
    • Responder

    Os sucessivos MEs têm sido os grandes destruidores da escola pública. Eles têm-na triturado com requintes de malvadez.
    A avaliação moeu, a dicotomia titulares e não titulares foi a única que mexeu, o modelo de gestão moeu e fez um belo embrulho com lacerote, a inclusão moeu, a flexibilização moeu e devagarinho os concursos também moem.
    A quem interessa isto?
    Aos alunos não, aos professores não. Então, a quem?
    Aos diretores, ao poder e aos seus boys, aos privados que todos os anos sobem à custa da deterioração do público.
    Não é segredo: há anos que os familiares do poder dominam grupos privados de educação.
    Os sindicatos calam tudo isto porquê? Recebem contrapartidas num país pequeno de compadres?
    A oposição ignora de educação porquê? Também come? Ou acha que é mesmo um assunto menor?
    Da educação depende o futuro! O que lhe estão a fazer?
    Criar elitismos propositadamente?
    Porque razão não há gente realmente competente no ME?
    Estão a cumprir servilmente a função de acabar com a escola triturando até ao tutano?!

  1. Se os professores quisessem ser missionários tinham
    licenciatura em Teologia e a estas horas estavam em África, na Ásia ou na América do Sul. A “missão” do professor é ser bom profissional, tal como é essa a missão de todos os que trabalham. Temos de dar tempo para ver os maravilhosos resultados que estão para vir.

    • Alecrom on 25 de Maio de 2021 at 21:54
    • Responder

    A docência não é uma missão.
    Temos uma missão,
    mas não somos missionários, lol.

    Andamos a amestrar alunos para “acertarem nas questões que irão encontrar nos exames finais”?
    Com balelas destas nos ofendem (não sabe o que diz).

    E então quando se junta a vocação
    (“vocação para exercerem essa missão”),
    já estamos no plano da tontaria.

    Chapéus há muitos!

  2. Não tenho tempo nem este é o melhor espaço para se comentar quer o texto da drª Raquel Varela, quer este de António Galopim de Carvalho.
    Apenas digo que são ambos cheios “pontas por onde se lhe pegar”.
    O princípio do texto “a escola é má” é uma generalização abusiva; o meio “Temos estado, sim, e continuamos a estar focalizados nas estatísticas e, nessa óptica, os professores são como que obrigados a amestrarem os alunos a acertarem nas questões que irão encontrar nos exames finais.”, remete para os rankings que não quer debater. Por fim, fala-nos na “missão” dos professores.
    O que entretanto vai referindo para uma melhoria da escola é reconhecida pela esmagadora maioria dos professores e alunos.
    Mas tudo isto misturado com outras ideias que já referi, cria uma entropia desgraçada. E para entropia já temos que baste.

    • Sandra on 25 de Maio de 2021 at 22:10
    • Responder

    Excelente texto!

      • Mirtha on 25 de Maio de 2021 at 23:34
      • Responder

      100% apoiado

    • João on 25 de Maio de 2021 at 22:33
    • Responder

    A massificação do ensino exige que o currículo se ajuste às necessidades e skills de cada aluno. Mas, isso é uma Utopia. Não basta falar em más escolas e maus alunos. O problema está a montante da escola. Uma escola como se requer custa muito dinheiro e solicita outro tipo de turmas, de espaços e recursos humanos que vão além dos professores e dos assistentes operacionais…

      • Roberto Paulo on 25 de Maio de 2021 at 22:36
      • Responder

      Esse pensamento é estúpido. Se adaptar o ensino às «skills», então os alunos não evoluirão, porque só lhes exigirão o que eles sabem fazer. Repito: isso é estúpido.

      • Roberto Paulo on 26 de Maio de 2021 at 1:14
      • Responder

      Comentário est…úpi…do. Se o currículo se ajusta às «skills» de cada aluno, esteve nunca evoluirá, pois só lhe pedirão aquilo que ele consegue fazer. Ideia est…ú…pida.

    • Roberto Paulo on 25 de Maio de 2021 at 22:33
    • Responder

    Então não há alunos maus? A sério?

    Os alunos maus estudam? Os traficantes de droga disfarçados de alunos são bons? Os criminosos que se passeiam pelas escolas deste país são delinquentes porque a escola é má?

    A dr..ª Raquel nunca reprovou um aluno? Nesse caso, poderemos concluir que esse aluno não era mau, mas sim a faculdade que frequentava?

    O mundo está cheio de idiotas. O problema é darem-lhes relevância e plataforma. Ficavam só com a plataforma.

    1. Qual é a sua definição de skils?!!!

  3. A partir do momento que governo e Direções pressionam os professores do ensino público para passar toda a gente e não penaliza agressões e indisciplina estamos falados…
    O resto são balelas.

      • Alecrom on 26 de Maio de 2021 at 8:30
      • Responder

      Aquilo que para ti é uma agressão ou indisciplina,
      para outro pode ser entendido como a manifestação de carinho ou de amizade.

      Mesmo uma facada é ato que devemos relativizar. Não havendo mortes ou ferimentos graves, podemos até estar perante importantes lições de vida.

      Mas, enfim,
      agressões, indisciplina ou facadas são coisas que podemos considera praticamente extintas nas nossas escolas.

    • Mirtha on 25 de Maio de 2021 at 23:31
    • Responder

    Acho tanta piada que quando lhes é apontado o dedo, ou posto o dedo nas feridas dos armados em professores, respigam que até dá nojo, mas quando lhes impõem regras, burocracias e remendos de currículos já de si remendados e desatualizados, os mesmo se calam e aceitam tudo sem pestanejar cobardemente.
    Se os professores nunca se unirem e remarem em conjunto para o mesmo lado, vamos continuar a assistir à caminhada a passos largos para o abismo. Chega a ser frustrante e bastante desanimador olhar para o estado lastimável em que se encontra o Ensino Público em Portugal. Só estou a 5/6 anos da aposentação do estado português… depois viro as costas a esta porcaria toda e nunca mais quero saber nada disto. Presente degradante, futuro negro, mais negro que um negro breu!!!

      • Mirtha on 26 de Maio de 2021 at 20:24
      • Responder

      jajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajaja jajajajajajajajajajajajajajajjajajajajajajajajajaj

      Não me conhece, nem sabe de que país sul americano c muitas maiores dificuldades do que cá sou originária…

      Vcs tugas choram de barriga cheia. Pior classe trabalhora que existe neste terceiro mundista país da Comunidade europeia q só pertence a ela graças a Espanha!

    • Tenho dito! on 26 de Maio de 2021 at 7:44
    • Responder

    A escola é má porque os alunos sabem que passam sem estudar.
    A escola é má porque os pais se metem no nosso trabalho e as direções ainda agradece.
    A escola é má porque as escolas permitem tudo, são um antro de má educação e violência.

      • Mirtha on 26 de Maio de 2021 at 20:20
      • Responder

      SEm papas na língua! !00% de acordo!!!

  4. Primeiro a Dr Raquel lança o mote sem razão nenhuma, mas era só o que faltava, depois um Galopim, mentalmente destituído mas vaidoso com a ladainha de sempre do PS tem um único objetivo rebaixar para autopromover-se. No final, os professores, basta ler alguns comentários, para ver como se acusam uns aos outros, dão a facada final neles próprios. Se estes não têm o que merecem têm o quê?

    • P.daSilva on 26 de Maio de 2021 at 9:11
    • Responder

    O País é um Titanic à espera de se afundar. Anda tudo manso e os “ranquingues” apenas servem para distrair as massas mansas.
    Neste País bater na Escola Pública equivale a pontapear aquele mendigo que teve a infelicidade de ser cruzado por um grupo de betos alcoolizados após uma noite de copos no Bairro Alto.
    Bater na Escola Pública só é bom para os negócios da escola privada e defensores do cheque-ensino.
    Bater na Escola Pública é acabar com o único elevador social que temos neste País.
    Bater na Escola Pública é fácil e interessa a Governos que querem poupar com os “pobres” para gastar nas “Tapes” e Bancos de Ladrões Engravatados
    Bater na Escola Pública é defender as elites aforradas, vorazes e gananciosas que gostam de esmifrar os parcos recursos públicos destinados aos desfavorecidos.
    A Escola Pública tem problemas? Tem, e muitos! A começar na formação desigual dos que lá trabalham. Mas a Escola Pública não discrimina, não exclui, aceita todos por igual. E a Privada? Das duas, qual é a mais parecida com a Democracia com que estes e estas iluminados/as e plataformistas enchem a boca todos os dias? A Hipocrisia reinante, do Governo à Comunicação social, continuará a arrebanhar os mansos até ao afundar final do Titanic. A Hipocrisia e os compadres têm botes de salvação garantidos… o resto vai ao mar!

    • Falar Verdade on 27 de Maio de 2021 at 9:45
    • Responder

    Enquanto na escolas entrarem ideologias e políticas há de ser sempre má. Não se elogia o mérito nem se chega por mérito a cargos de direção ou gestão, apenas por cor política. O mesmo se passa com a suposta IGEC que fecha os olhos a tudo, não contribui para uma escola de qualidade, transparente e séria.

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