18 de Maio de 2021 archive

De que têm medo os professores?

 

Lisboa, 8 de março de 2008. Os meus olhos estão presos na televisão. Presos e embelezar o . A maior manifestação de professores está na rua. São cerca de 100 mil docentes a protestar contras as políticas do Governo para a Educação. Chamaram-lhe a marcha pela indignação. Professores, idos de todo o país, marcharam sobre Lisboa e foram mostrar ao Governo a sua indignação, face às políticas do executivo socialista, de José Sócrates, para a área da Educação. Naquele dia, senti o fascínio de quem está diante de um corpo unido e, assaz, defensor dos seus ideais. Sem medo, com convicção, com raça e, acima de tudo, com o respeito que o povo atribui às causas justas.
Os professores sabem e ensinam que dos fracos não reza a História e aqueles professores presentes na capital quiseram fazer História.
Passaram-se 13 anos. Os professores continuam a ser desvalorizados no seu mérito e ostracizados nos seus direitos. Aquilo que, naquela época, eram as principais reivindicações dos professores continuam por cumprir e, em alguns casos, sofreram, até, alguns agravamentos.
Os decisores políticos, mormente aqueles que estão, confortavelmente, instalados nos gabinetes do Ministério sabem que, no terreno, há sempre alguém capaz de ser mais papista do que o papa e apressar-se a replicar os seus infetados desígnios. Aqueles que não passam de peões do sistema, mas que, investidos de um cargo qualquer, se julgam reis do tabuleiro, mostram-se incansáveis nos ataques perpetrados aos interesses dos professores. Acresce que, muitas vezes, esses peões do sistema são, também eles, professores. E quando não perpetram ataques, dispensam-se de defender os direitos dos seus pares e, dessa forma, contribuem, na mesma medida, para o desprestígio e a divisão da classe e para o empobrecimento do setor.
O sistema de avaliação dos professores é um embuste que, para além de não reconhecer a justa medida do mérito, está sustentado numa opacidade que se revela um fator contributivo para a prática de amiguismos, protecionismos e caciquismos, desenvolvendo – naqueles professores cuja competência é, miseravelmente, desprezada – uma revolta que, face à sua natural impotência em corrigir o estado das coisas, desagua numa desmotivação, com consequências significativas para aqueles que mais necessitam de professores motivados – os alunos, obviamente -.
Um sistema opaco gera, sempre, suspeitas. A legitimidade em esconder informação que deveria ser pública pode “criar a ocasião que faz o ladrão”. Um bom exemplo é a não divulgação da lista nominal das menções de mérito atribuídas aos professores. A quem serve a não divulgação da lista?
Os professores não podem ter medo de pugnar por tudo aquilo que julgam ser decisivo para a justiça de um sistema que, já por si, está fundado em areias movediças.
Os professores, como qualquer outro profissional, não devem ter medo em denunciar tudo aquilo que levanta suspeitas e que se configura como nefasto a um ambiente de confiança entre professores e com a próprio tecido dirigente. Devem fazê-lo, independentemente da origem da situação suspeita. Qualquer inação, face a algo que levante suspeitas, tem um nome: cumplicidade.
A denúncia é uma instituição muito estimulada nos países do centro e do norte da Europa e com resultados muito animadores, no combate à corrupção, seja de pequena ou de grande envergadura. Só os prevaricadores não aprovam a denúncia.
Qualquer profissional competente não tem que ter medo. Os professores, por maioria de razão, também não devem ter medo e devem ser capazes de honrar aqueles que, no passado recente, mostraram a sua indignação, em pleno coração da capital.

Francisco José Pereira Gonçalves

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Até a Inteligência Artificial Se Espanta Com o Sistema Escolar Português – Paulo Prudêncio

 

Até a Inteligência Artificial Se Espanta Com o Sistema Escolar Português

Numa sociedade controlada pelo partido totalitário, Winston Smith não acompanhava devidamente, porque tossia, a aula matinal obrigatória de exercício físico emanada do telecrã. Até que: “ – Smith! – berrou a voz áspera do telecrã. – 6079 W. Smith! Sim, você! Curve-se mais, se faz favor! Consegue fazer melhor do que isso. Não se está a esforçar. Mais, por favor! Assim está melhor, camarada! Agora, todos à vontade e olhem para mim.” O que George Orwell imaginou em 1949 não aconteceu em 1984, mas concretizar-se-á no futuro próximo com um importante contributo português (e doutras nações com turmas numerosas).

Ou seja: a inteligência artificial (IA) reivindicará, à Google, melhorais contratuais por causa de Portugal. Os algoritmos não estavam preparados para tanta aceleração. A gigante tecnológica argumentará com a “inesperada” passividade do Governo. Resumindo, a IA espanta-se com os professores e a Google é grata com o que existe.

Para lá das ironias e ficções, constata-se a falta estrutural de professores e a inércia dos poderes. Já nem se trata do tempo de serviço, da carreira ou da avaliação kafkiana. Isso seria elementar. O que surpreende, ou talvez não, é a supressão de qualquer iniciativa para a frequência da formação inicial.

E enquanto isso, e daí o espanto da IA com a auto-flagelação, os professores fornecem gratuitamente os servidores da Google (nas plataformas drive, doc´s, classroom, gmail ou youtube) com conteúdos e testes planificados ao detalhe e prontos a utilizar. E a Google também absorverá as editoras com escolas virtuais que contratam professores construtores de manuais escolares com um elenco considerável de ligações digitais preparadíssimas para registar a pegada digital dos professores e calendarizar os procedimentos. Não tarda e a IA fará a avaliação dos professores com o preenchimento de cotas e vagas com “Youtubers” e “Classroom Influencers”. Até que lá virá o dia em que “berrará a voz áspera do telecrã”.

Dá ideia que os governos contam com a IA para reduzir o número de professores. Contratarão “guardadores” no “modelo-Uber”. Professores só nas escolas com propinas muito elevadas. Aí, os conteúdos digitais serão construídos na escola para evitar os homogeneizados, os alunos por turma serão decentes, o currículo será completo, haverá paridade entre as ciências e as letras, a avaliação será contínua, exigente, rigorosa e baseada na confiança nos professores e as regras disciplinares serão simples, sensatas e “ancestrais”.

Voltando ao início, as escolas de massas certificarão (também para as estatísticas internacionais) os obedientes “Winston Smith” e as de propinas elevadas formarão os dirigentes partidários de cúpula e afins. Dá ideia que pensou bem Niklas Luhmann (2001:14), em “A improbabilidade da comunicação”, ao considerar “uma viragem radical do pensamento político dominante que abandonou o modelo em que a posição central estava sempre reservada ao indivíduo”. Na sua opinião, o humano foi remetido para o exterior tornando-se uma causa para o aparecimento de problemas constantes e complexidades crescentes.

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CONCURSOS RAM – CALENDARIZAÇÄO

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