Lisboa, 8 de março de 2008. Os meus olhos estão presos na televisão. Presos e embelezar o . A maior manifestação de professores está na rua. São cerca de 100 mil docentes a protestar contras as políticas do Governo para a Educação. Chamaram-lhe a marcha pela indignação. Professores, idos de todo o país, marcharam sobre Lisboa e foram mostrar ao Governo a sua indignação, face às políticas do executivo socialista, de José Sócrates, para a área da Educação. Naquele dia, senti o fascínio de quem está diante de um corpo unido e, assaz, defensor dos seus ideais. Sem medo, com convicção, com raça e, acima de tudo, com o respeito que o povo atribui às causas justas.
Os professores sabem e ensinam que dos fracos não reza a História e aqueles professores presentes na capital quiseram fazer História.
Passaram-se 13 anos. Os professores continuam a ser desvalorizados no seu mérito e ostracizados nos seus direitos. Aquilo que, naquela época, eram as principais reivindicações dos professores continuam por cumprir e, em alguns casos, sofreram, até, alguns agravamentos.
Os decisores políticos, mormente aqueles que estão, confortavelmente, instalados nos gabinetes do Ministério sabem que, no terreno, há sempre alguém capaz de ser mais papista do que o papa e apressar-se a replicar os seus infetados desígnios. Aqueles que não passam de peões do sistema, mas que, investidos de um cargo qualquer, se julgam reis do tabuleiro, mostram-se incansáveis nos ataques perpetrados aos interesses dos professores. Acresce que, muitas vezes, esses peões do sistema são, também eles, professores. E quando não perpetram ataques, dispensam-se de defender os direitos dos seus pares e, dessa forma, contribuem, na mesma medida, para o desprestígio e a divisão da classe e para o empobrecimento do setor.
O sistema de avaliação dos professores é um embuste que, para além de não reconhecer a justa medida do mérito, está sustentado numa opacidade que se revela um fator contributivo para a prática de amiguismos, protecionismos e caciquismos, desenvolvendo – naqueles professores cuja competência é, miseravelmente, desprezada – uma revolta que, face à sua natural impotência em corrigir o estado das coisas, desagua numa desmotivação, com consequências significativas para aqueles que mais necessitam de professores motivados – os alunos, obviamente -.
Um sistema opaco gera, sempre, suspeitas. A legitimidade em esconder informação que deveria ser pública pode “criar a ocasião que faz o ladrão”. Um bom exemplo é a não divulgação da lista nominal das menções de mérito atribuídas aos professores. A quem serve a não divulgação da lista?
Os professores não podem ter medo de pugnar por tudo aquilo que julgam ser decisivo para a justiça de um sistema que, já por si, está fundado em areias movediças.
Os professores, como qualquer outro profissional, não devem ter medo em denunciar tudo aquilo que levanta suspeitas e que se configura como nefasto a um ambiente de confiança entre professores e com a próprio tecido dirigente. Devem fazê-lo, independentemente da origem da situação suspeita. Qualquer inação, face a algo que levante suspeitas, tem um nome: cumplicidade.
A denúncia é uma instituição muito estimulada nos países do centro e do norte da Europa e com resultados muito animadores, no combate à corrupção, seja de pequena ou de grande envergadura. Só os prevaricadores não aprovam a denúncia.
Qualquer profissional competente não tem que ter medo. Os professores, por maioria de razão, também não devem ter medo e devem ser capazes de honrar aqueles que, no passado recente, mostraram a sua indignação, em pleno coração da capital.
Francisco José Pereira Gonçalves