A Escola tolera-se, mas não se deseja…
A Escola tem uma interacção perturbada e conturbada com os seus parceiros de relacionamento. Não existe nessa relação a serenidade e o apaziguamento necessários ao estabelecimento de compromissos efectivos, leais e justos entre as partes envolvidas.
A Escola é, muitas vezes, como aqueles parceiros de uma relação que abusam, agridem, manipulam e controlam os seus parceiros… Gritar, humilhar publicamente, culpar e acusar de forma despropositada e excessiva, ignorar o diálogo ou desferir críticas destrutivas são exemplos dos comportamentos manifestados pela Escola, dentro de cada escola… Por vezes, pede-se desculpa, permanece uma tranquilidade aparente por algum tempo, mas, fatalmente, o ciclo repete-se… A paz é falsa e simulada, a tranquilidade decorre apenas da inacção, do evitamento ou da indiferença…
A relação tóxica, muitas vezes estabelecida entre a Escola e os respectivos parceiros, ilustra bem a perturbação relacional existente.
A separação ou o divórcio entre a Escola e os seus parceiros parece inevitável: os que ainda permanecem na relação anseiam por poder sair dela o mais rapidamente possível e libertar-se da asfixia constante a que são sujeitos; grande parte dos eventuais novos parceiros desiste da relação, mesmos antes de a ter experimentado… Lidar com o desapego e o desencanto dos primeiros e com a rejeição explícita dos segundos talvez não seja fácil para a Escola, mas também não a faz mudar a atitude prepotente e deletéria, frequentemente observada…
A Escola trai, engana e ludibria os seus parceiros de relação. Também não os reconhece nem os valoriza. A infidelidade é prática comum e corrente. Os parceiros da Escola mais parecem, às vezes, parceiros “oficialmente encornados” (perdoe-se a rudeza e a deselegância do termo). Ou seja, parecem aqueles parceiros que sabem, aceitam e convivem com o facto de o seu consorte ter um “amante oficial”, conhecido de todos. Em suma, sujeitam-se à promiscuidade no relacionamento e alguns chegam mesmo a legitimá-la…
A Escola gosta de “flirtar”, mas não tem coragem para assumir e consumar algumas relações. Para a Escola, não há ninguém insubstituível nem amores incondicionais. Todos, num certo momento, podem ser descartados, rejeitados, preteridos ou trocados. E sobre isso não há qualquer ilusão ou engano…
A Escola não sabe namorar porque não consegue manter com os seus parceiros uma relação afectiva baseada no comprometimento, na cumplicidade e na confiança. Não há reciprocidade de sentimentos entre a Escola e os seus parceiros… A Escola perdeu a capacidade de seduzir e de atrair. A Escola tolera-se, mas não se deseja…
A Escola não leu, e se leu não reconheceu, o ensinamento dado pela Raposa ao Principezinho: “passas a ser responsável por aquilo que cativaste…” (Saint-Exupéry).
A Escola não quer saber de relações saudáveis nem de Ideais ou Princípios. Esses ficam apenas muito bem descritos e defendidos em compêndios teóricos, elaborados por “sábios” que nunca pisaram numa escola, a não ser, talvez, em ilustres cerimónias de inauguração ou em visitas previamente agendadas, sempre muito bem encenadas e artificiais, preparadas com todo o brilho e devoção…
A Escola rege-se por aquela desculpa esfarrapada, frequentemente utilizada para justificar o fim de um relacionamento e para esconder ou mascarar a rejeição: “o problema não és tu, sou eu…”.
Dessa forma, a Escola procura o indulto, ao mesmo tempo que assume uma postura profundamente egocêntrica, hipócrita e cobarde… Trata-se de uma estratégia ardilosa que, à primeira vista, pretende suavizar a culpa dos parceiros e retirar-lhes o ónus da responsabilidade da separação, mas, também, e intencionalmente, esvaziar de pertinência qualquer argumento apresentado com o objectivo de reverter a ruptura e o afastamento. Nessas condições, não há reatamento possível porque não há nada que os parceiros possam fazer para evitar a separação, a causa da mesma não é controlável por eles, está fora do seu alcance…
Mas a submissão que a Escola exige aos seus parceiros é tão intolerável quanto o é a inércia e a resignação destes últimos face a tal exigência…
A Escola, como um qualquer agressor, regozija-se e “esfrega as mãos de contente” pelo silêncio tácito dos que permanecem neutrais e conta com a sua irrevogável cumplicidade e conivência…
A Escola não é um parceiro de Bem e por isso não é recomendável… Mas essa condição também não impede que se estabeleça com ela uma espécie de relação amor-ódio, repleta de ambivalência emocional e de sentimentos contraditórios (positivos e negativos) que, naturalmente, tendem a entrar em conflito… O pior disso é se Balzac tiver razão: “o ódio tem melhor memória do que o amor”. Se tiver, o embaraço parece óbvio…
E depois de tantos lamentos e tanto queixume sobre os (des)amores da Escola, vem isto ao pensamento: “Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.” (Álvaro de Campos).
Nota: Este é um texto de ficção, metafórico e irónico, qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência. A não ser que não se acredite em coincidências…
(Matilde)
23 comentários
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Que maravilha de texto. Tirou, literalmente, as palavras do meu pensamento. E eu não acredito muito em coincidências.
Que texto/análise tão distorcido e desfocado do que se vive na escola, a nivel do que ela traduz daquilo que é um enorme esforço por parte de quem a constitui, debatendo-se constantemente com enormes obstáculos! Abaixo os detratores da escola pública mas que ñ conseguem viver sem ela!! Tenham tento nessa lingua viperina evenenosa!
Uma encornada que está numa relação que a encorna e não sai dela, pelo contrário passa o seu tempo a falar da mesma, sofre inequivocamente de uma síndrome clara e inequívoca.
Uma encornada que sabe que é encornada pelo encornador que torna a relação uma encornadela e não sai da encornação é uma encornada que é unicamente digna da nossa compaixão.
Desencorne, filha, desencorne!
“Mon truc antistress? Je stresse les autres!” 🙂
(Encontrado e roubado na net).
Respondi-lhe em russo, mas censuraram a coisa. Paciência!
Calna, seu Roberto. Tanta encornadura para quê? Você é encornado ou encorna?
Gosto de cornados e cornantes. Há algum mal?
Não, não há mal. Mas, encorne encorne, se faz favor. Esteja à vontade com as suas cornaduras.
Muito fraquinho, caro amigo! Limitado na linguagem, na hermenêutica do texto e nos valores! Respire fundo,, pense como qualquer humano e verá que é simples respeitar os outros!
Desejo-lhe tudo de bom Roberto Paulo!!!
Obrigado, Fernando! A cada cornante a sua cornadura!
Esteja sempre à vontade. Não há problema. Pode continuar a encornar que para mim está certo.
Estamos consonantes. A vida SEGUE.
O retrato da Matilde sobre a escola é fiel, infelizmente.
“A paz é falsa e simulada, a tranquilidade decorre apenas da inacção, do evitamento ou da indiferença… “, ora digam lá de vossa justiça se estas palavras não espelham a realidade que se vive nas escolas.
Pena não ter chamado os bois (ou as vacas) pelo nome, pois a escola não é uma entidade com vontade própria e não me consta que exista alguma relação entre entidades abstratas.
“Pena não ter chamado os bois (ou as vacas) pelo nome…”
Pirilau, temos que deixar um pouco à imaginação de cada um… 🙂
Não sou responsável pela tua imaginação…
Muito bom, Matilde!
Os próprios comentários de alguém (pela terminologia deve exercer outra digna profissão – se é docente, nunca o seria de um filho meu) reforçam bem a verdade do que a Matilde afirmou.
Continue com a sua clarividência e postura respeitosa … a educação agradece.
A ideologia dos que amam a sua profissão, será a que sempre foi … a do trabalho e formação humanista.
Bem haja!
Resumindo: uma classe, com muita pouca classe. Muitos parabéns pelo seu texto Matilde.
Na mouche.
Caro RP, não sou professor. Preocupe-se menos com a linguagem dos professores do seu filho e mais com o seu – seu, pai / mãe – uso deficitário da língua portuguesa.
Ó Roberto cum caraças, então não és professor o quê? Claro que és! Professor e cornante ao medmo tempo. Ora agora@
Cornante até posso ser, professor é que não, pelo menos no sentido formal, Fernand@.
Grande máquina, o nosso professor (in)formal … uma chávena de chá cura certos momentos 🙂
Continuação de um excelente dia, Roberto Paulo 🙂
Agradeço o seu voto RP2.